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Na terceira parte deste trabalho, analisei quantitativamente os pronomes pessoais. Conforme discutido no segundo capítulo, além dos substantivos, pronomes também ocorrem como núcleo de SN e, geralmente, sem modificação. Os pronomes que são modificados com maior frequência são os indefinidos e são, geralmente, pós-modificados com orações relativas finitas, não finitas e adjetivos. Tendo em vista a não modificação dessas unidades, o SN com núcleo realizado por pronome pessoal foi, então, considerado de complexidade 0 no presente estudo.

Tabela 8: Frequência dos pronomes pessoais por 10 mil palavras

No total, os aprendizes produziram mais pronomes pessoais (344) por 10 mil palavras do que os nativos (300). Contudo, o teste qui-quadrado indica que não há diferenças estatisticamente relevantes quando comparamos o total de pronomes de sujeito e objeto entre aprendizes e nativos,já que o valor de p é igual a 0,5615. E, de fato, os aprendizes e nativos não apresentam diferenças no que se refere à frequência dos SNs realizados por pronomes pessoais de objeto. A maior diferença ocorreu entre os pronomes pessoais de sujeito, conforme mostrado na Tabela 8.

Quando a frequência de cada pronome pessoal de sujeito produzida pelos aprendizes é comparada com a frequência da produção dos nativos, é possível identificar quais pronomes são mais utilizados. Ao se analisarem esses pronomes mais frequentes a partir do contexto expandido de alguns ensaios produzidos por aprendizes, também é possível identificar uma provável sobre utilização desses pronomes.

O gráfico 13 mostra a frequência de cada pronome pessoal de sujeito por 10 mil palavras.

Gráfico 13: Relação dos pronomes pessoais de sujeito por 10 mil palavras

O teste qui-quadrado, aplicado com a frequência dos pronomes pessoais de sujeito, indica diferenças significativas, já que o valor de p é p < 0,00001. Conforme mostrado no Gráfico 13, os pronomes pessoais de sujeito produzidos em maior frequência pelos aprendizes (em comparação aos nativos) foram os pronomes it (106 por parte dos aprendizes e 77 por parte dos nativos), they (88 por parte dos aprendizes e 64 por parte dos nativos), we (64 por parte dos aprendizes e 29 por parte dos nativos) e you (26 por parte dos aprendizes e 17 por parte dos nativos).

Em relação aos pronomes pessoais de objeto, os aprendizes e nativos não apresentam muitas diferenças na frequência produzida. O teste qui-quadrado aplicado com a frequência dos pronomes pessoais de sujeito não indica diferenças significativas, já que o valor de p é p = 0,3243. O gráfico 14 mostra a frequência dos pronomes pessoais de objeto por 10 mil palavras.

Gráfico 14: Relação dos pronomes pessoais de objeto por 10 mil palavras

De acordo com a frequência dos pronomes pessoais de objeto mostrados no Gráfico 14, os aprendizes e nativos apresentam diferenças menores do que as diferenças apresentadas com os pronomes pessoais de sujeito. Em geral, os aprendizes produziram quantidade semelhante de pronomes pessoais de objeto (85 por 10 mil palavras) em comparação com os produzidos pelos nativos (89 por 10 mil palavras). O único pronome pessoal de objeto que parece ser mais sobre utilizado pelos aprendizes é them, com frequência de 29 casos por 10 mil palavras por parte dos aprendizes e 18 por 10 mil por parte dos nativos.

Em análise do contexto de algumas ocorrências dos pronomes utilizados pelos aprendizes, foi verificado que, em alguns ensaios, o pronome realmente é sobre utilizado por aprendizes. Esse é o caso do it, que, em alguns ensaios, foi utilizado tantas vezes que o referente acabou se perdendo, formando um texto confuso, como no trecho do exemplo (139).

(139) The better thing that can happen in the woman life is she has a baby, but if she does not agree with it, it becomes the worse thing, mainly when it is a rape.

Note que, no exemplo (139), o pronome it foi usado três vezes, possivelmente referindo-se a elementos diferentes do trecho em destaque, tornando o período confuso.

Já no exemplo (140), temos um trecho de um texto mais bem estruturado, porém com um problema semelhante ao trecho (139) no que se refere ao uso do pronome it.

(140) The changing of technology in a fast pace, however, has also its negative effects in human lives. Firstly, in what concerns to childhood, technology plays a very important role in the way it changes. Children do not use their imagination anymore.

No trecho do exemplo 140, temos o pronome it em negrito na terceira linha. No início do trecho, o texto fala sobre a mudança da tecnologia, com o SN the changing of technology in a fast pace. Na oração seguinte, ele fala de infância, com o SN childhood. Em seguida, é afirmado que a tecnologia tem um papel importante na forma como algo (it) muda. Esse pronome it pode estar se referindo a qualquer um dos dois SNs mencionados (the changing of technology e childhood). Na próxima oração, quando o aprendiz menciona que as crianças não usam mais a imaginação, essa ambiguidade fica ainda mais evidente. Por isso, não se sabe o que mudou: a tecnologia ou a infância.

O mesmo ocorre com o pronome we nos ensaios dos aprendizes brasileiros. Em muitos deles, esse pronome parece ser sobre utilizado. No trecho (141), a seguir, nota-se que we foi utilizado 10 vezes.

(141) The teacher besides not being valorized, is still a good example of how the learning university is rather theorical. When we go out the school, we think that we are ready to teach our students. We think that it will be easy because we are profissional, we have our certificate. But the frustration is big, when we begining our work. We are alone in front of the class with fourty different pupils. Each one with different personality, different knowledge. This moment, you realize that we don't know to do this. Which procedure take? The university don't teach us what to do in front of situations that will appear. Each situation is unique and we have to be resolved. This situation could happen in all jobs, because surprises always happen and especially when we work with humans.

No trecho (141), o aprendiz escreve um ensaio sobre como a universidade é mais teórica que prática. Para ilustrar seu ponto de vista, o aprendiz dá como exemplo a formação acadêmica de um professor. Uma explicação para a alta frequência de we pode ser uma questão de estilística. Carter e McCarthy (2015,

2006) argumentam que o pronome pessoal we pode ser utilizado na escrita acadêmica como uma forma de conduzir o leitor em um argumento ou como uma forma de se criar um senso de comunidade dividida com todos os participantes do discurso.

Por fim, a frequência geral e o contexto em que os pronomes pessoais de sujeito se encontram também mostrou que o pronome they é utilizado em frequência alta. O trecho (142) é de um ensaio sobre imaginação no mundo moderno industrializado.

(142) Fallowing this further, we may think of scientists as the artists of reality. They've created lots of utilities to make our lives easier and longer, and they also disclose some of the world's mysteries that kept humanity awake for a long time thinking of it's meanings. These scientific idealizations, so this argument goes, do not only popped up in the air for them to catch it and use it, they had to think about it for a long time, to plan, to use their imagination. Furthermore, so many scientific theories came up from dreams or scientists imagination, before they could create the theory or the thesis to explain that. They had to think about other theories or formulas, they had to use their imagination to think about new ones. Moreover, theories are just dreams and imagination, because they can not be proved yet, and even when they are reality nobody can erase the fact they were a dream one time.

No exemplo (142), o pronome pessoal they é utilizado 9 vezes no mesmo parágrafo, juntamente com vários outros pronomes pessoais, como it e them. O pronome they faz referência a SNs diferentes no desenvolver do parágrafo. Embora seja possível encontrar os referentes dos pronomes pelo contexto, a leitura do trecho fica prejudicada por causa de tantos pronomes utilizados ao mesmo tempo. Essa sobre utilização de pronomes acaba tornando o texto ambíguo.

5.5 Os complementos dos sintagmas preposicionados modificadores de SNs