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Utilização de metodologias ativas no Ensino em Saúde

Capítulo 2 Ensino em Saúde

2.3. Utilização de metodologias ativas no Ensino em Saúde

O planejamento do processo de ensino e aprendizagem converge cada vez mais ao contexto das metodologias ativas, as quais levam o estudante ao centro do seu próprio aprendizado e torna o professor um facilitador desse processo. Esse planejamento ainda representa um grande desafio para o docente, uma vez que ele precisa desenvolver novas

habilidades que não eram exigidas, tampouco dominadas anteriormente no formato tradicional de ensino. É de fundamental importância que o professor não só transmita os conteúdos de forma clara aos estudantes, mas, sim, consiga motivá-los no processo de aprendizado, utilizando métodos diversificados e alinhados aos objetivos das disciplinas (Valle et al., 2015).

Um estudo sobre a eficácia da teleducação em procedimentos de ressuscitação neonatal evidenciou bons resultados de retenção de aprendizagem, reforçando assim a

importância da adoção de estratégias modernas e alternativas de ensino na área de saúde (Jain, Agarwal, Chawla, Paul & Deorari, 2010). O curso de Licenciatura em Enfermagem da Escola de Enfermagem da Universidade de São Paulo já utiliza tecnologias digitais de informação e comunicação no ensino, buscando proporcionar experiências inovadoras aos futuros

professores, bem como variados modelos didáticos que possam ser utilizados nas práticas docentes (Parigi et al., 2015).

Alguns cursos de Enfermagem já adotam metodologias de problem based learning (PBL), visando desenvolver nos estudantes as habilidades utilizadas por profissionais de Enfermagem (Applin, Williams, Day & Buro, 2011). Ainda segundo os mesmos autores, o PBL é um método de ensino focado no estudante, que tem como princípio norteador a resolução de problemas referentes à realidade da profissão.

No entanto, não só os cursos de Medicina e Enfermagem estão adotando PBL. De acordo com Berbel (2012), o método PBL tem como inspiração os princípios de uma Escola Ativa, que propõe a integração de conteúdo, de ciclos de estudo e de diferentes áreas de conhecimento. O respectivo método está sendo fortemente apoiado por outras profissões de ciências da saúde (ex: Odontologia e Farmácia). Autores como Andrews e Jones (1996) defendem já há muitos anos que a adoção do PBL na Enfermagem vem contribuindo para a integração da teoria, prática e pesquisa. Esse discurso converge com as pesquisas realizadas

nos últimos anos, que apontam efetividade no ensino em programas que utilizam PBL, quando comparado a aqueles que utilizam métodos de ensino tradicionais (Applin et al., 2011).

O relatório anual denominado NMC Horizon Report - Higher Education Edition (2017) é outro veículo documental que apresenta diversas estratégias de ensino inovadoras, centradas na resolução de problemas e trabalhos cooperativos, mediadas por novas

tecnologias da informação e comunicação. Além disso, o relatório discute a efetividade do uso de metodologias ativas, tais como gamificação, simulações realísticas, robótica, inteligência artificial, e-learning, mobile learning PBL, internet das coisas, dentre outras estratégias, sobretudo, em cenários práticos (reais e simulados) em saúde.

Dessa forma, esses educadores da área de saúde necessitam desenvolver competências e habilidades cada vez mais complexas, que envolvem solução de problemas e trabalhos em equipes inter, multi e transprofissionais, com e sem mediação de novas tecnologias da informação e comunicação. Faz-se necessário compreender se os estudantes estão

experienciando esse tipo de formação ou ainda estão sujeitos ao ensino disciplinar tradicional, meramente voltado à transmissão de conteúdos e à segregação unidisciplinar de práticas em saúde. A educação permanente, sobretudo em serviço ou em cenários reais e simulados, é descrita na literatura como essencial, tendo em vista a possibilidade de restruturação dos modelos de gerenciamento, ensino e práticas assistenciais (Abbad et al., 2016; Peduzzi et al., 2015).

Com a eclosão da revolução digital, torna-se cada vez mais rápido e fácil o acesso dos estudantes às informações, fazendo com que o papel do professor se modifique no processo de construção do conhecimento. Os professores de Medicina, por exemplo, que durante muito tempo foram vistos como gurus e com uma sabedoria inabalável, hoje estão sendo

A dependência total do ensino aos pacientes reais tem uma forte tendência a reduzir, a medida que o uso de simulações realísticas de alta fidelidade adentra os cenários de prática no ensino (Benor, 2000).

O hospital tende a tornar-se um ambiente crucial ao ensino na saúde, sobretudo com o crescente investimento nos laboratórios e equipamentos de simulação no ensino. Em

contrapartida, estas transformações exigem novas competências dos professores, os quais precisarão se atualizar continuamente e dominar tecnologias e sistemas de informação que os serviços de saúde estão utilizando. Consequentemente, eleva-se também o número de

especializações e subespecializações, visando ao desenvolvimento de competências em um cenário cercado de procedimentos clínicos e técnicas inovadoras de diagnóstico, cuidado e assistência ao paciente (Benor, 2000).

Com o crescimento do nível de especialização e dos recursos tecnológicos, o profissional de saúde não conseguirá gerenciar sozinho todas essas exigências, o que demandará, portanto, apoio, comunicação e cooperação com profissionais de outras áreas e disciplinas. Eis que surge a valorização da educação multidisciplinar e interdisciplinar e transdisciplinar em saúde, reconhecendo-a também como crucial na formação de novos profissionais. Desta maneira, o professor precisará compartilhar não só o seu saber técnico, disciplinar e instrumental, mas, sim, ensinar o estudante a se relacionar com profissionais de outras áreas, comunicando-se de forma eficaz e respeitosa, visando solucionar problemas e promover a saúde.

O ensino, ao que parecem indicar as pesquisas e análises de contexto anterioremente referidas, não terá mais um lugar fixo e associado fielmente a uma sala de aula ou a um hospital, tampouco restrito ao diálogo entre profissionais da mesma formação. O advento da tecnologia amplia e complexifica as possibilidades de aprendizagem, impulsionando os

educadores a uma constante revisão crítica sobre seus saberes e práticas docentes (Peduzzi et al., 2015; Reeves et al., 2013; Thistlethwaite & Moran, 2010).