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PARTE II COMPONENTE EMPÍRICA

CAPITULO 4 Metodologia da Investigação

5. Opção metodológica: a Investigação Ação (IA)

5.2. Validade do estudo

A questão da qualidade científica da investigação segundo o paradigma qualitativo, também designado na literatura por hermenêutico, interpretativo ou naturalista (Coutinho, 2008), é uma preocupação de quem investiga sobretudo no campo das Ciências Sociais e

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Humanas (no qual se incluem as Ciências da Arte e as Ciências da Educação) e cujo objetivo central é compreender os fenómenos sociais do ponto de vista dos intervenientes.

A ameaça da falta de fiabilidade e validade no âmbito da IA decorre da postura epistemológica sustentada pela conceção da natureza subjetiva do conhecimento acerca dos fenómenos sociais, sobre a qual se afirma que «a complexidade do mundo social apresenta permanentes mudanças e é impossível estabelecer leis semelhantes às das Ciências Naturais» (ibid,p.6). Em contraste, e face ao modelo de investigação de cariz quantitativo (positivista e normativo) encontrado frequentemente no âmbito da investigação realizada nas Ciências Naturais e Exatas, encontramos no seio da comunidade científica, desde há várias décadas, esta polémica sobre o rigor da investigação, questionando-se os critérios de cientificidade adotados nos estudos de problemáticas com forte pendor interpretativo, inscritos numa epistemologia subjetivista.

Contudo, não obstante estas dificuldades, «é fundamental que todo o investigador em educação se preocupe com a questão da fiabilidade e validade dos métodos a que recorre sejam eles de cariz quantitativo ou qualitativo, porque (…), sem rigor a investigação não tem valor, torna-se ficção e perde a sua utilidade» (Coutinho,2008:5)53.

Sabemos que a validade de uma investigação é dividida em validade externa e interna. A validade externa está ligada à possibilidade de os resultados poderem ser generalizáveis ou aplicáveis fora do enquadramento experimental, e assim poderem aplicar- se a grupos alvo ou ambientes diferentes (validade ecológica).

Este nível de validade externa não é procurada pela IA, que pela sua natureza da abordagem indutiva visa construir progressivamente aproximações à compreensão da realidade problemática, as quais não dependem de variáveis ou de categorias de análise estabelecidas à priori, e segundo a qual se presume «que o conhecimento profundo de um fenómeno e dos seus resultados só podem ser obtidos com “insights” sobre as experiências pessoais dos intervenientes/participantes» (Coutinho, ibid,p.7).

53 Fonte: artigo de Clara Pereira Coutinho (2008): A qualidade da investigação educativa de natureza

qualitativa: questões relativas à fidelidade e validade. Disponível em

«https://repositorium.sdum.uminho.pt/bitstream/1822/7884/1/005a015_ART01_Coutinho%5Brev_OK%5D.p df» [Consult:10/01/2015].

Na pesquisa qualitativa, o «nível ontológico (natureza da realidade) e epistemológico (relação do investigador com o objeto ou sujeito de estudo) originam uma postura metodológica distinta» (ibidem), determinante nas decisões tomadas pelo investigador, quer relativamente à planificação da intervenção, quer relativamente às técnicas escolhidas para recolha de dados e seu tratamento. A aplicação destas técnicas, quando realizada corretamente irá conferir coerência entre as conclusões de um estudo e a realidade, certificando o investigador da certeza de que os resultados podem ser aceites com base no desenho de investigação proposto – a sua confiabilidade.54

Segundo afirma Nieveen (1999, citado por Nunes, 2012) para se assegurar a validade dos estudos e, por conseguinte a qualidade da intervenção, é importante considerar quatro critérios gerais:

«i) Relevância ou validade do conteúdo: implica alicerçar os componentes da intervenção no estado da arte em que o conhecimento se encontra; ii) consistência ou validade do constructo: a intervenção é planeada de uma forma lógica, onde todos os componentes se relacionam uns com os outros; iii) praticabilidade: exige que os utilizadores finais considerem a intervenção útil nos contextos em que os materiais ou as estratégias foram planeadas e desenvolvidas, e que seja compatível com as intenções de quem desenvolveu o estudo; iv) eficácia: implica que a intervenção seja efetiva e os resultados desejados sejam alcançados. Se a intervenção cumprir estes requisitos é considerada válida».55

Os quatro critérios elencados remeteram-nos para cada uma das fases da investigação, pois incidem sobre momentos diferentes ao longo do processo da IA, na qual se procurou um alinhamento entre teoria e prática, muito exigente inicialmente pela revisão da literatura e a construção crítica e reflexiva do Estado da Arte com referência ao que se tem descoberto sobre o assunto pesquisado, clarificando conceitos e paradigmas.

54 Segundo Clara Coutinho, o temo rigor é usado pelo paradigma quantitativo, enquanto trustworththiness (confiabilidade) é termo paralelo proposto para o paradigma qualitativo e que, segundo os autores, nos dá como que uma medida do quanto podemos confiar/acreditar nos resultados obtidos na pesquisa interpretativa (p.8). 55 Fonte: Nunes, C. (2012). Apoio a pais e docentes de alunos com multideficiência: Conceção e

desenvolvimento de um ambiente virtual de aprendizagem. Tese de doutoramento. Instituto de Educação UL,

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Ao interrelacionar referenciais teóricos provindos de autores basilares, foi possível consolidar/sistematizar um enquadramento cuja força argumentativa alcançada através da congruência entre a formulação das questões de investigação e a revisão de literatura, permitiram avançar para fases posteriores de planeamento da investigação empírica.

Consideramos também que os critérios apropriados capazes de demonstrar a qualidade científica se vinculam à “praticabilidade” na área do estudo, que reconheceu consensos, quer a montante da intervenção (revisão da literatura de autores nos diversos campos disciplinares), quer a jusante (a escola, os professores, os alunos e encarregados de educação) sobre a utilidade, pertinência e premência da temática pesquisada e abordada.

No que concerne ao quarto critério, reconhecemos que a eficácia da investigação se prende com a concreção da intencionalidade transformadora, espelhada na melhoria dos aspetos relacionados com a atividade e cognição artística, participação, interação, aprendizagem e inclusão dos sujeitos de estudo, através da operacionalização de um plano de intervenção coerente e consistente.

Diante do exposto, cremos que a eficácia e validade do estudo são corroboradas pela análise e interpretação dos dados recolhidos e triangulados através das diferentes fontes de evidência, disponíveis nos planos de investigação concebidos (ponto 6 deste capítulo). Neles procurámos a «combinação de pontos de vista, métodos e materiais empíricos diversificados suscetíveis de “constituírem uma estratégia capaz de acrescentar rigor, amplitude e profundidade à investigação» (Denzin e Lincoln, 2000 cit. Coutinho, 2008:9). De acordo com o postulado por Stake (2012) recorremos a “protocolos de triangulação” através de:

a) triangulação de fontes de dados (cruzamento de dados provenientes de várias fontes, técnicas e instrumentos como as notas de campo, os registos escritos, as produções de natureza reflexiva, documentos oficiais como PEI e CEI, e os portfólios de trabalhos organizados para cada aluno)56.

56 A fim de complementar este estudo e, com o intuito de poder realizar-se uma triangulação técnica de recolha de dados quantitativos, planificámos inicialmente a introdução do estudo sociométrico (a aplicar na turma, na aula de ET no final do ano letivo). Os dados decorrentes deste instrumento (inquérito) visavam a compreensão das relações sociais (redes) existentes no grupo-turma, pois consistia em pedir a cada elemento de um grupo

b) triangulação metodológica, em que para aumentar a confiança nas suas interpretações o investigador procede a múltiplas combinações “inter metodológicas” (o estudo de caso como complemento da abordagem metodológica da Investigação-ação).

c) triangulação da teoria, utilizando diferentes perspetivas para interpretar o conjunto de dados (a revisão da literatura e referenciais teóricos de autores e pedagogos como Schaeffer-Simmern, Dewey, Arnheim, entre outros, permitiu uma triangulação teórica, dado que orientaram a interpretação dos dados obtidos na investigação);

d) triangulação interdisciplinar, utilizando áreas de conhecimento distintas para informar a investigação (foram trianguladas referências/ princípios orientadores relativos às matrizes disciplinares da Educação Artística e da Educação Especial. A especificação dos momentos e dos processos de triangulação descritos serão assinalados ao longo do estudo, nos pontos relativos a cada plano de investigação.

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