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3. VALORES

3.3. Valores

O conceito de valor faz parte dos fundamentos da filosofia. A axiologia – do grego axiós, valor, de axiou, eu aprecio - é o ramo da filosofia que estuda os valores ontologicamente, buscando reconhecer o verdadeiro, o belo, o bem, etc. Contudo, o valor também é estudado em outros campos, como na economia, na matemática e na física, onde o significado de valor liga-se a uma apreciação meramente estimativa, de medida.

Durante muito tempo, os filósofos não chegavam num consenso se o valor está no sujeito, sendo este quem atribui o valor (subjetivismo) ou o valor está no objeto, como se este valesse por si mesmo, independentemente do sujeito, sendo o objeto detentor de valores (objetivismo). Hoje a maioria das correntes entende que o valor se descobre na relação (objetividade) (López Quintaz, 1999). É na relação pessoa-seres que os valores surgem. Considerando-se que o ser humano se constrói e é construído na sociedade, através de uma relação de dupla interferência, o seu “fazer-se” dá-se com base nos valores da cultura nos quais acredita. Desta forma, López Quintaz (1999) destaca que os valores pessoais são descobertos, isto é, criam-se valores a partir das relações que são estabelecidas com as mais diferentes realidades. De acordo com o autor, os valores podem ser positivos (valores) e negativos (contravalores); cada valor possui o seu correspondente, como por

exemplo: amor - ódio, bom - mau, belo - feio, etc. O sistema de valores de uma pessoa irá se estabelecer através de uma hierarquia de valores, dos mais aos menos importantes.

Numa outra perspectiva, Morris (1978), propõe que a axiologia, como estudo do valor, fosse considerada como o estudo do “comportamento preferencial”, pela possibilidade do mesmo ser estudado objetivamente. Embora ele não desconsidere a possibilidade da abordagem baseada nas informações do pesquisado, acredita que em muitos casos as informações coletadas correspondam vagamente ou erradamente aos valores existentes. O autor também destaca a importância de distinguir valores sociais dos individuais. Os valores sociais seriam aqueles compartilhados por cidadãos de um país, por exemplo, ou por grupos menores, como as organizações de trabalho, pessoas da mesma profissão, membros de uma organização religiosa, de uma família, que têm o seu próprio conjunto distintivo de valores sociais. Já os valores individuais, seriam os comportamentos preferenciais de cada indivíduo em relação a outras pessoas, objetos, idéias e tipos de vida. Assim, considera que uma situação de valor pode ser qualquer situação onde ocorra o comportamento preferencial. Uma situação de valor, assim entendida, é inerentemente relacional, uma vez que implica um comportamento preferencial (positivo ou negativo) realizada por um agente em relação a alguma coisa ou a outro agente. Concebidos assim, os valores são objetivamente relativos, isto é, são propriedades do objeto (no sentido mais vasto do termo) relativo a um sujeito (que se concebe como respondendo por meio do comportamento preferencial).

Morente (1976) propõe uma outra concepção para os valores. Para o mesmo, os valores não são nem coisas, nem impressões subjetivas, porque os valores não são, eles não têm categoria própria dos objetos reais e dos objetos ideais. O autor recorre ao filósofo alemão Lotze para enunciar que os valores não são, mas valem. Como o valor não é um ser, ele é sempre algo que adere a alguma coisa e, portanto, é uma qualidade. Quando se diz que algo vale, não se diz nada do seu ser, mas se diz que não é indiferente. A não-indiferença é, dessa maneira, a essência do valor. Esta característica revela que todo valor possui polaridades negativa e positiva. A última característica descrita por Morente é a hierarquia. Os valores são organizados a partir de um ponto de indiferença, convencionalmente

designado como zero. Os valores, seguindo sua polaridade, agrupam-se à direita ou esquerda deste ponto, ficando mais próximos do ponto central os valores secundários e mais distantes os valores importantes (principais).

Santos (1964) sintetiza da seguinte forma as condições das diferentes abordagens axiológicas.

* Há uma objetividade nos valores. Estes não dependem apenas das apreciações subjetivas.

* Vinculação dos valores ao ser. Os valores são predicações do ser, não entidades à parte.

* Polaridade. Neste ponto todas as abordagens concordam, os valores se apresentam em polaridades.

* Os valores são qualidade e não quantidades. Não se estabelecem relações quantitativas entre os valores, são qualidades puras.

* Hierarquia. É matéria pacífica que os valores permitem construir hierarquias.

* Classificação. Os valores são classificados em inúmeras ordens, como religiosos, éticos, estéticos, vitais, utilitários, econômicos, místicos, espirituais, lógicos, morais, etc. Essas classificações variam segundo os diversos autores.

No campo da psicologia e em especial na psicologia social, os valores são definidos, de acordo com Tamayo (1997), como princípios transituacionais, organizados hierarquicamente, relativos a estados de existência ou modelos de comportamento desejáveis, que orientam a vida do indivíduo. São metas que o indivíduo fixa a si próprio, relativas a estados de existência (valores terminais) ou a modelos de comportamentos desejáveis (valores instrumentais). A sua raiz é de ordem motivacional, já que expressam interesses e desejos de tipo individual, coletivo ou misto. A psicologia considera os valores

como um dos motores que iniciam, orientam e controlam o comportamento humano. Eles constituem um projeto de vida e um esforço para atingir metas de tipo individual ou coletivo (Tamayo, 1997). Quem primeiro designou os valores como instrumentais e terminais, com a função de estabelecer padrões de conduta e motivacional foi Rokeach (citado por Reich, 1977). Segundo este autor, um valor é uma crença duradoura em que um modo específico de conduta ou estado definitivo de existência é pessoal ou socialmente preferível a um modo inverso ou oposto de conduta ou estado definitivo de existência.

É no processo de interação dos homens com seu meio social que os valores tanto individuais quanto coletivos são construídos. Quanto à fonte dos valores, Tamayo (1997) sugere que a origem dos valores relaciona-se a três exigências universais do ser humano. A primeira está vinculada às necessidades biológicas dos organismos, a segunda a necessidades sociais relativas à regulação das interações interpessoais e a última a necessidades socioinstitucionais referentes à sobrevivência e bem estar dos grupos. O indivíduo, para poder dar conta da realidade, tem que reconhecer essas necessidades e planejar, criar ou aprender respostas apropriadas para a sua satisfação. Esta satisfação, porém, deve acontecer através de formas aceitáveis para o resto do grupo.

Considerando que o conceito de valores e suas características já foram explorados, no próximo tópico irá se ressaltar algumas formas pelas quais a ciência psicológica investiga os valores humanos.