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Parte II- Prática Pedagógica

Capítulo 5- Contextualização do Ambiente Educativo

6.3.1 Vamos Representar uma História

Segundo Kot-Kotecki (2014), “a educação pela arte é parte integrante dos currículos em diferentes níveis de ensino”, ou seja, “é reconhecida como componente essencial ao processo educacional” de qualquer indivíduo. Neste sentido, integrar os objetivos das expressões na formação de cidadãos cultos, críticos e conscientes da realidade que os rodeias consiste, atualmente, num desafio que requer, do docente, uma grande capacidade de imaginação e criatividade (p. 72).

Apesar das expressões integrarem diversas modalidades (Expressão Físico- Motora, Expressão Musical, Expressão Dramática e Expressão Plástica), a autora esclarece que a Expressão Dramática acaba por assegurar uma evidente perceção do eu, do outro e das relações que poderão ser estabelecidas em situações de cooperação e de dinâmica de grupo. Além do referido, a Expressão Dramática favorece o desenvolvimento de qualquer criança, através de atividades lúdicas que permitem uma maior consciência das suas caraterísticas e necessidades individuais, ou seja, da sua própria personalidade. Ao longo da prática pedagógica desenvolvida no contexto da EPE foram várias as atividades que procurei propor tendo presente a necessidade de integrar o lúdico pois, de acordo com Silva, Marques, Mata e Rosa (2016), o brincar é uma estratégia que assegura o “elevado envolvimento da criança, demostrado através de sinais como prazer, concentração, persistência e empenhamento”, condições que, a meu ver, são essenciais para promover o desenvolvimento e a aprendizagem (p. 11).

Assim sendo, atendendo que o brincar não corresponde, apenas, a uma forma de entretenimento, considero ter proposto atividades significativas para a formação de todas as crianças do grupo com o qual desenvolvi a minha ação pedagógica, pelo facto de ter

conseguido atribuir, ao mesmo, uma intencionalidade educativa que foi ao encontro dos diversos objetivos da Expressão Dramática.

Como exemplo do mencionado, descata-se a atividade que consistiu em dramatizar a história de Heidi Howarth, A Magia da Estrela do Outono, uma história que possibilitou contextualizar o tema do Outono. Saliento que esta foi uma atividade que tinha como objetivo desenvolver competências ao nível das relações interpessoais, assim como um conjunto de competências e capacidades que são enunciadas em algumas das áreas de conteúdo das OCEPE.

Tal como planificado, comecei por informar que as crianças iriam ter a oportunidade de organizar uma simples peça de teatro acerca da história de Heidi Howarth. Importa esclarecer que, de forma imediata, todos os elementos do grupo manifestaram um enorme entusiasmo relativamente à concretização desta tarefa. Assim sendo, sugeri que se formassem dois grupos de cinco elementos e dois de seis elementos, grupos esses que se dispuseram em áreas diferentes da sala da Fantasia. Cada grupo planeou, então, a sua própria peça de teatro, ou seja, efetuou a distribuição das personagens, determinou alguns diálogos entre essas mesmas personagens e selecionou quais os momentos do enredo que seriam destacados. Neste momento da atividade, saliento que procurei auxiliar todos os grupos no planeamento e na organização das suas dramatizações, respeitando sempre a autonomia, as caraterísticas e as necessidades individuais de todas as crianças.

Depois de ter orientado cada grupo, solicitei o retorno à área do tapete, com o intuito de se iniciar apresentações. Após ter dado sinal para que o primeiro grupo iniciasse a respetiva performance, verifiquei que as crianças ficaram um pouco intimidadas, uma situação que me levou a tecer um conjunto de incentivos e estímulos de encorajamento. Contudo, constatei que esta estratégia não possibilitou a concretização dos meus objetivos, uma vez que o dito grupo não alterou a sua postura. Neste sentido, achei necessário atribuir a responsabilidade de dar início às apresentações a um outro grupo.

Para meu desânimo, este segundo grupou voltou a demonstrar uma certa hesitação e insegurança aquando do momento de iniciar a apresentação da peça de teatro. Deste modo, achei fundamental adotar uma postura que me possibilitou refletir acerca de possíveis estratégias que permitissem contornar este fator que estava a pôr em causa o sucesso da atividade proposta.

Assim, depois de avaliar diferentes formas para resolver este entrave, optei por desempenhar o papel de narrador da história que estava a ser trabalhada. Para meu alívio, pude constatar que as crianças deste grupo começaram a interagir e a desempenhar o papel esperado, ou seja, começaram a corresponder aos objetivos por mim delineados aquando da planificação desta atividade. Na minha opinião, esta situação ocorreu graças ao facto de eu ter orientado a ação de cada criança, sem nunca ter colocado em causa a atitude espontânea e criativa das mesmas. Neste sentido, dado o sucesso da minha participação na performance deste grupo, saliento que esta foi uma estratégia eficaz para a apresentação das peças de teatro organizadas e ensaiadas pelos restantes grupos.

Figura 12- Performance dos grupos

Durante a vivência das etapas que integraram esta atividade, procurei assegurar que as crianças fossem as protagonistas da ação pois, de acordo com Malaguzzi, referido por Edwards, Gandini e Forman (1999), estas, quando desempenham um papel dinâmico num contexto de interação, são capazes de extrair e atribuir, de forma autónoma, significado às suas experiências. Por este motivo, considero que esta foi uma condição que permitiu assegurar que as competências subjacentes à atividade explorada fossem adquiridas com significado.

Todavia, importa esclarecer que, após ter refletido acerca dos momentos que integraram esta atividade, pude constatar que a hesitação expressa inicialmente ocorreu como uma consequência desta ter correspondido a uma prática que era pouco usual na vida do grupo. Assim sendo, considero que os pareceres obtidos por meio da observação das atitudes manifestadas por cada criança acabaram por me possibilitar a adoção de uma postura que assegurou, de facto, o sucesso da atividade.

Segundo Silva, Marques, Mata e Rosa (2016), a observação proveniente do contato com a criança acaba por permitir, ao educador, a recolha de informações que sejam suficientes para ajustar a sua ação pedagógica ao grupo e à evolução de cada uma das crianças. Deste modo, acredito que o facto de ter adotado uma postura de permanente observação e reflexão possibilitou uma evidente evolução da qualidade da minha ação, dado ter conseguido ajustá-la às dificuldades e às necessidades expressas pelos dois grupos.

Assim, considero ter alcançado os objetivos estipulados pois, para além de tudo o que já foi mencionado, consegui dar a oportunidade das crianças determinarem, de forma autónoma, quais os papéis que gostavam de desempenhar, quais as falas que iriam ser estabelecidas e quais os momentos que seriam representados, uma condição que possibilitou o desenvolvimento de um conjunto de relações interpessoais que resultaram na anulação de possíveis conflitos internos a cada grupo. Além disso, o sucesso desta atividade foi assegurado pelo facto de ter conseguido proporcionar, às crianças da sala da Fantasia, um momento de expressão que resultou no desenvolvimento de um conjunto de competências e capacidades fundamentais à formação integral de qualquer criança.

6.3.2 A Mistura de Água com Areia e a Mistura de Água com Arroz