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3. A aprendizagem cooperativa

3.7. Vantagens e desvantagens da aprendizagem cooperativa

A aprendizagem cooperativa é uma proposta de atividade que possibilita uma “dinâmica enriquecedora dos processos de aprendizagem que visam o desenvolvimento de capacidades e atitudes” (Pato, 1995, p. 18). Lopes e Silva (2009) referem que é evidente a “eficácia da aprendizagem cooperativa na aquisição, pelos alunos de todos os níveis de ensino, de competências sociais a par da realização de aprendizagens cognitivas” (p. 10).

Neste sentido, Freitas e Freitas (2003) apresentam algumas das vantagens relativamente à aprendizagem cooperativa

1. Melhoria das aprendizagens na escola; 2. Melhoria das relações interpessoais; 3. Melhoria da auto-estima;

4. Melhoria das competências no pensamento crítico; 5. Maior capacidade em aceitar as perspectivas dos outros; 6. Maior motivação intrínseca;

7. Maior número de atitudes positivas para com as disciplinas estudadas, a escola, professores e colegas; 8. Menos problemas disciplinares, dado existirem mais tentativas de resolver os problemas de conflitos pessoais;

9. Aquisição de competências necessárias para trabalhar com os outros; 10. Menos tendência para faltar à escola. (p. 21)

De uma forma mais aprofundada, Lopes & Silva (2009) referem os benefícios da aprendizagem cooperativa segundo as seguintes categorias: sociais, psicológicos, académicos e de avaliação, que se apresentam de uma forma sintetizada no Quadro 6 - Benefícios da aprendizagem cooperativa.

Quadro 6 – Benefícios da aprendizagem cooperativa

Categorias Dimensões

Benefícios sociais

Estimula e desenvolve as relações interpessoais;

Promove respostas sociais positivas em relação aos problemas e estimula um ambiente de apoio à gestão de resolução de conflitos;

Cria um sistema de apoio social mais forte; Encoraja a responsabilidade pelos outros;

Desenvolve um maior número de relações heterogéneas positivas; Encoraja a compreensão da diversidade;

Encoraja uma maior capacidade dos alunos para verem as situações, assumindo as perspectivas dos outros (desenvolvimento da empatia);

Estabelece uma atmosfera de cooperação e ajuda em toda a escola; Os alunos são ensinados como criticar ideias, não pessoas;

As salas de aula cooperativas podem ser usadas para modelar ou exemplificar comportamentos sociais desejáveis necessários a situações de emprego em que se utilizam

equipas e grupos;

Os alunos praticam a modelagem social e os papéis relacionados com o trabalho; Fomenta o espírito de constituição de equipa e a abordagem da equipa para a resolução de

problemas ao mesmo tempo que mantém a responsabilidade individual; Fomenta a prática do desenvolvimento de competências de liderança;

Aumenta as competências de liderança dos alunos;

Proporciona os fundamentos para o desenvolvimento de comunidades de aprendizagem nas instituições e nos cursos;

Ajuda os professores a deixarem de ser o centro do processo de ensino para se tornarem facilitadores de aprendizagem, permitindo passar da aprendizagem centrada no professor

para a aprendizagem centrada no aluno.

Benefícios psicológicos

Promove o aumento da autoestima;

Melhora a satisfação do aluno com as experiências de aprendizagem; Encoraja os alunos a procurar ajuda e a aceitar a tutoria dos outros colegas; A ansiedade na sala de aula é significativamente reduzida com a aprendizagem cooperativa;

A ansiedade nos testes é significativamente reduzida;

Cria uma atitude mais positiva dos alunos em relação aos professores, elementos do conselho executivo e outros agentes educativos e uma atitude mais positiva dos professores

em relação aos seus alunos;

Estabelece elevadas expectativas para alunos e professores.

Benefícios académicos

Desenvolve competências de pensamento de nível superior;

Estimula o pensamento crítico e ajuda os alunos a clarificar as ideias através da discussão e do debate;

O desenvolvimento das competências e da prática podem ser melhoradas e tornarem-se menos aborrecidas por meio das atividades de aprendizagem cooperativa dentro e fora da

aula;

Desenvolve as competências de comunicação oral; Fomenta as competências metacognitivas dos alunos;

As discussões cooperativas melhoram a recordação do conteúdo do texto por parte dos alunos;

Cria um ambiente de aprendizagem ativo, envolvente e investigativo; Proporciona treino sobre as estratégias de ensino eficazes para a próxima geração de

professores;

Ajuda os alunos a deixarem de considerar os professores como as únicas fontes de conhecimento e saberes;

Promove os objetivos de aprendizagem em vez dos objetivos de desempenho; Permite aos alunos exercitarem um sentimento de controlo sobre a tarefa;

Melhora o rendimento escolar dos alunos e a assiduidade às aulas;

Contribui para o desenvolvimento de uma atitude mais positiva em relação às matérias escolares;

bem-sucedidos na conclusão dos mesmos;

Os alunos permanecem mais tempo na tarefa e apresentam menos problemas disciplinares;

Promove a inovação nas técnicas de ensino na sala de aula;

Desenvolve a demonstração ou exemplificação de técnicas de resolução de problemas pelos colegas;

Permite a atribuição de tarefas mais desafiadoras sem tornar a carga de trabalho excessiva; Os alunos mais fracos melhoram o seu desempenho quando se juntam com colegas que

têm melhor rendimento escolar;

Proporciona aos alunos que têm melhores notas a compreensão mais profunda que apenas resulta de ensinarem a matéria aos outros;

Leva à produção de mais e melhores questões na aula;

Os alunos exploram soluções alternativas para os problemas num ambiente seguro; Permite atender às diferenças de estilos de aprendizagem dos alunos; Enquadra-se bem na abordagem construtivista do ensino-aprendizagem. Benefícios na

avaliação

Proporciona formas de avaliação alternativas tais como a observação de grupos, avaliação do espírito do grupo e avaliações individuais escritas curtas;

Proporciona feedback imediato aos alunos e ao professor sobre a eficácia de cada turma e sobre o progresso dos alunos, a partir da observação do trabalho individual e em grupo;

Os grupos são mais fáceis de supervisionar do que os alunos individualmente. Fonte: (Lopes & Silva, 2009, pp. 50-51) (adaptado)

Contudo, o professor deve evitar certos riscos que possam comprometer as potencialidades da aprendizagem cooperativa. Se os métodos de aprendizagem cooperativa não forem implementados de forma adequada, podem surgir alguns constrangimentos. Slavin (1999, citado por Lopes & Silva, 2009) identifica um problema denominado por “dispersão da responsabilidade” (p. 49). Este problema refere-se às situações em que os alunos não participam na tarefa, pois sabem que os colegas irão terminá-la mesmo que o aluno não participe, e a situações em que as ideias dos alunos considerados mais fracos são ignoradas pelos colegas considerados mais fortes. Para evitar este problema, é importante que cada membro do grupo seja responsável por uma parte da atividade (por exemplo, no método da aprendizagem cooperativa Jigsaw), apesar de corrermos o risco de os alunos aprenderem muito sobre a parte em que trabalharam e não sobre o resto da matéria, ou atribuir responsabilidade individual aos alunos pelos resultados da sua aprendizagem (como acontece no método STAD), isto é, para que o trabalho de grupo seja concluído é necessário que todos os membros participem (Lopes & Silva, 2009).

Por outro lado, McCaslin e Good (1996), Battistich, Solomon e Delucci (1993) e Cohen (1986), citados por Lopes e Silva (2009), apresentam algumas desvantagens da aprendizagem em grupo, tais como:

Os alunos valorizam muitas vezes o processo ou os procedimentos em detrimento da aprendizagem, o fazer depressa e o acabar a tarefa sobrepõem-se à reflexão e à aprendizagem;

Em vez de reestruturarem as concepções alternativas, os alunos podem reforçá-las;

Os alunos podem simplesmente mudar a dependência do professor para a dependência do “perito” do grupo – a aprendizagem é igualmente passiva e o que é aprendido pode não ser correcto;

Pode haver um aumento, em vez de uma diminuição, dos estatutos dentro do grupo. Alguns alunos aprendem a “andar à pala dos outros”, porque o grupo progride com ou sem as suas contribuições. Outros chegam mesmo a convencer-se que não são capazes de compreender as coisas sem o apoio do grupo. (p. 52)

Segundo Lopes e Silva (2009), se não houver um “planeamento e controle cuidadosos por parte do professor, as interacções do grupo podem ser um obstáculo à aprendizagem e deteriorar, em vez de melhorar, as relações sociais na turma” (p. 52). Contudo, se a aprendizagem cooperativa for implementada de forma adequada possui vantagens, não só no que se refere ao reforço de “relações mais positivas e sentimentos recíprocos de obrigação e ajuda que se estendem aos professores e à instituição escolar”, mas também em relação ao desempenho académico, nomeadamente no que se refere à produtividade e resolução de problemas (Monereo & Gisbert, 2002). Assim, Solé (1997), citado por Monereo e Gisbert (2002) refere que “o trabalho em grupo dos alunos é entendido como uma das modalidades de interação educativa que está no âmago dos processos de ensino e aprendizagem e que explica que o progresso pessoal é inseparável da relação interpessoal” (p. 12).

C

APÍTULO

IIIP

LANO

G

ERAL DE

I

NTERVENÇÃO