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DA ERA VARGAS A JUSCELINO KUBITSCHEK

No documento PENSAR, CONSTRUIR E VIVER A CIDADE (páginas 49-55)

TEORIA E MÉTODO

CAPÍTULO 1 – PENSAR A CIDADE

1.1. CIDADE NA CONTEMPORANEIDADE O projeto da cidade contemporânea, de acordo com Secchi (2012), explora

1.1.1. DA ERA VARGAS A JUSCELINO KUBITSCHEK

A Segunda Guerra Mundial (1939-1945) foi um evento de caráter global que marcou profundamente não apenas a história da humanidade, como no mesmo contexto, marcou indubitavelmente o Brasil, principalmente em suas transformações urbanas, sociais e políticas.

O final da Guerra, de acordo com Moreno (2001), marca na Europa a reconstrução de cidades como Frankfurt, Roterdã, Le Havre e Conventry, utilizando-se dos princípios do urbanismo modernista refletidos pela Carta de Atenas de 1933 que estabelece uma cidade funcional de acordo com as funções de habitar, trabalhar, cultivar o corpo e o espírito e circular. No Brasil, apenas com a construção de Brasília, elabora-se um projeto de cidade baseada nesses princípios.

Antes da Segunda Guerra Mundial, o país era, essencialmente, e porque não dizer exclusivamente, um país dependente das suas funções rurais, vivíamos em uma sociedade econômica e socialmente rural. De acordo com Maricato (2011), no ano de 1900, apenas 10% da população do Brasil vivia nas cidades. Até a Revolução de 1930, ocorria um período que foi chamado inclusive de República do Café com Leite (República Velha), em que o poder político era alternado entre os Estados de São Paulo e Minas Gerais, maiores produtores no país, respectivamente, de café e leite.

Com a ascensão de Getúlio Vargas à Presidência da República, a estrutura do Estado brasileiro se modifica profundamente, adaptando-se às novas necessidades econômicas e sociais do país. Em 1934 é promulgada uma nova constituição, e, posteriormente, em 1937, outra constituição foi promulgada, marcando uma nova fase do país, que começava a expandir as atividades urbanas, deslocando o eixo produtivo da agricultura para a indústria. A chamada Era Vargas dura 15 anos, até 1945, ano que marca também o fim da Segunda Guerra Mundial.

Nesse período, a partir de 1930,

[...] transformações de cunho político e organizacional permitiram outro impulso na urbanização brasileira, devido à intensificação do processo de industrialização nacional e ao estabelecimento de seu mercado interno. A elite brasileira, de discurso nacionalista e modernizador, impulsionou o estabelecimento de uma nova lógica econômica (a industrial) e territorial (a integração nacional), lançando as bases para o processo recente de urbanização brasileira, pautado pela mecanização do território, pela fluidez, pelo predomínio do urbano e pelo crescente papel da iniciativa privada nas diversas áreas da sociedade (ALVES, 2013, p. 172).

A guerra marca o Brasil que vive então um grande crescimento industrial, já que a Europa estava sendo devastada e o país aproveita desse momento pra iniciar o primeiro período de industrialização significativa em sua história. Surgem também, nesse momento, as primeiras leis trabalhistas da história do país, nos moldes que conhecemos hoje, e o deslocamento do eixo produtivo do campo para as cidades marca o

grande êxodo da população brasileira do campo em direção às grandes metrópoles brasileiras. Inicia-se um momento sem igual na história do país, através do intenso crescimento da população urbana no país. As taxas de urbanização se multiplicam a partir desse período. De acordo com Maricato (1987), a população urbana brasileira passa de 31% na década de 1940 para 67% na década de 1990.

As desigualdades sociais e econômicas são evidenciadas nesse momento, quando a cidade de São Paulo, por exemplo, se consolida como centro econômico do país e atrai população principalmente de imigrantes vindos das regiões mais pobres do interior do Brasil, como da região nordeste. A população do campo diminui enquanto a população urbana aumenta consideravelmente. Isso não significa, necessariamente, a consolidação de uma sociedade industrial em meio urbano, já que as atividades agrícolas permanecem como as principais atividades econômicas do país. Essas atividades passam a necessitar de uma população menor para seu desenvolvimento, em função da mecanização do campo, e a consequência é a migração dessa população rural principalmente para as grandes cidades brasileiras.

Com o fim da Era Vargas em 1945 (Estado Novo), o país promulga em 1946 uma nova constituição, que foi conhecida por ser um documento liberal, comparado coma constituição anterior e que estabelecia, dentre outros, a democracia como regime político, o voto secreto e obrigatório, a manutenção dos direitos trabalhistas adquiridos na Era Vargas, o direito de greve e os direitos individuais, como a liberdade de pensamento, religião e expressão são garantidos pelo documento.

Globalmente, inicia-se a Guerra Fria que foi consequência do fim da Segunda Guerra, bipolarizando o mundo entre os vencedores Estados Unidos da América (EUA) e União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS), consolidando também a bipolarização ideológica entre os sistemas capitalista, representado pelos Estados Unidos e socialista, representado pela URSS.

Alguns fatos gerais marcam esse período pós-guerra e são consequências observadas até os tempos atuais. Em 1949 ocorre a fundação da República Popular da China, através de uma revolução comunista que implantou um regime autoritário apoiado pelos soviéticos. Em 1955 inicia uma guerra entre o Vietnã do Norte (apoiado pela URSS e seus aliados) e o Vietnã do Sul (apoiado pelos EUA e seus aliados) que perdurou 20 anos e termina com a vitória dos aliados soviéticos. A Revolução Cubana ocorreu no ano de 1959 e implantou no país um regime autoritário, também com apoio

soviético, nos moldes do comunismo. Apenas por esses três eventos ocorridos no período da Guerra Fria podemos perceber a tensão existente entre os EUA e a URSS em diversas partes do mundo.

No contexto interno do Brasil, notamos a consolidação do país como aliado dos EUA. A economia se abre ao mercado externo e o nacionalismo com relação à indústria local não tem mais importância. Apenas com o retorno de Vargas em 1951, retorna a preocupação com o desenvolvimento da indústria do país, do protecionismo interno e um visível descontentamento dos Estados Unidos em relação às políticas internas adotadas por Vargas.

No período entre as décadas de 1930 e 1950, Villaça (2010, p. 210-11) afirma que a classe dominante brasileira ainda tinha condições de liderança na esfera urbana para executar [...] algumas obras de seu interesse e integrantes de planos antigos. Eram fundamentalmente obras que atendiam às partes da cidade que a ela interessavam . Ainda de acordo com o autor, nesse período, houve diversas obras de remodelação urbana, tais como as de Prestes Maia em São Paulo, Alberto Bins em Porto Alegre, Ulhoa Cintra em Recife, no Rio de Janeiro, as obras de remodelação que ocorreram no Castelo, Aeroporto Santos Dumont e Avenida Brasil.

Entretanto, os planos não eram repostos na proporção em que eram consumidos. Estudos foram feitos, mas não saíram dos gabinetes municipais nem foram publicamente assumidos pelos governantes. Pouco ou nada foi apresentado à sociedade como proposta urbana da classe dominante e assumida pelas administrações municipais, como haviam sido os planos (com esse nome ou não) de Agache e Prestes Maia (VILLAÇA, 2010, p. 211).

Getúlio Vargas suicida-se em 1954 e, no ano seguinte, é eleito presidente do Brasil o mineiro Juscelino Kubitschek (1955-1960). O seu lema era progredir 50 anos em 5 . E um dos seus grandes feitos nesse período foi a construção da nova capital federal, a cidade de Brasília (Imagem 04, página 52), no centro do país, inaugurada em 1960. A construção dessa cidade marca um novo vetor de crescimento do Brasil, deslocando-se do litoral para um novo eixo de desenvolvimento localizado no centro do país. Nesse contexto, beneficia-se a região do Triângulo Mineiro e, consequentemente, a cidade de Uberlândia, localizada, estrategicamente, entre a cidade de São Paulo, principal centro econômico do país, e Brasília, a nova capital federal.

Imagem 04: Construção de Brasília-DF.

Fonte: http://www.brasil247.com/pt/247/brasilia247/66052/Mostra-de-filmes-retrata-hist%C3%B3ria-de-Bras%C3%ADlia.htm. Acessado em 06/07/2015.

O governo de Kubitschek implanta um projeto conhecido como Plano de Metas que tinha em seu objetivo um programa para industrializar e modernizar o Brasil. Esse período marca o investimento do Governo Federal na indústria automobilística e na construção de novas estradas no país, principalmente, interligando a nova capital federal ao restante do Brasil, inclusive a construção da Rodovia Belém-Brasília, que marca o incentivo federal do governo em explorar e ocupar a região amazônica.

As pequenas cidades do interior começam a crescer em função, principalmente, do deslocamento da capital federal para o centro do país. Os custos desses gastos de investimentos na industrialização do país e na construção de estradas e outros investimentos estatais, estabelecidos pelo Plano de Metas, geraram um grande endividamento nacional e a atração de investimentos estrangeiros para o Brasil. Segundo Rohter (2012), a dívida externa brasileira aumentou 67 por cento, chegando a 3,8 bilhões de dólares. Já a inflação nesse período, segundo a autora, era de 25 por cento em 1960, 43 por cento em 1961 e de 55 por cento em 1962 e 81 por cento em 1963. Em 1990, a inflação chegou a 80 por cento em um único mês.

Enquanto o Brasil constrói a modernista cidade de Brasília, surge nos EUA, de acordo com Moreno (2001), o que chamamos de Novo Urbanismo. Este conceito, de acordo com o autor, reabilita a cidade tradicional das ruas com calçadas, dos quarteirões com edifícios mistos, do pequeno comércio e da vida comunitária. Esse tema é tratado no livro de Jacobs (2011) denominado Morte e Vida de Grandes Cidades, lançado no ano de 1961.

O incentivo à industria automobilística no país teve graves impactos nas cidades brasileiras. Na cidade de São Paulo estima-se que 90% da poluição é causada pelos carros, segundo dados da Companhia Ambiental do Estado de São Paulo (CETESB). E ainda, segundo o laboratório de poluição atmosférica da Universidade de São Paulo (USP), os paulistanos vivem em média dois anos a menos por causa dessa poluição, que mata quase 20 pessoas por dia.

Outros problemas, além da poluição, podem ser notados nas grandes cidades brasileiras com constante incentivo ao transporte individual, sendo o congestionamento o mais óbvio deles. Notam-se filas inclusive dentro de estacionamentos, como garagens de edifícios e shoppings centers.

Os espaços públicos, desde então, são cada vez mais tomados pelo automóvel. Cada alargamento ou extensão de avenida, cada nova ponte e viaduto, cada túnel dedicado aos automóveis acaba por incentivar ainda mais o uso do carro, aumentando o congestionamento das vias, depois de um curto período de alívio ilusório causado pela inauguração dessas obras. Na Imagem 05, podemos observar a região do Vale do Anhangabaú, visto do Viaduto Santa Efigênia, entre 1969/1970, com trânsito já caótico.

Imagem 05: Vale do Anhangabaú visto de cima do Viaduto Santa Efigênia – SP (1969/1970).

Fonte: http://www.fashionbubbles.com/historia-da-moda/fotos-da-sao-paulo-antiga-homenagem-ao-aniversario-da-cidade/ Acessado em 06/07/2015.

A seguir vamos tratar de período compreendido pelo Governo Militar que inicia a partir do Golpe de 1964.

No documento PENSAR, CONSTRUIR E VIVER A CIDADE (páginas 49-55)