4. CASOS ESTUDADOS
4.1. Associação A – APEMB
4.1.1. Variáveis de análise de comércio justo conforme FLO
a) Organização dos produtores em cooperativas e associações. A organização é uma associação.
b) Pagamento de preços justos aos pequenos produtores.
Conforme o entrevistado, o preço da saca de café é bem menor que o preço em outras regiões do país. O preço da saca de café custa em torno de 300 reais. Em outras regiões, como a região Sul, por exemplo, o preço da saca custa em torno de 450 reais.
c) Redução da intermediação especulativa, até chegar à sua eliminação. Quanto mais forte e direta for a ligação entre produtor e consumidor, melhores serão os resultados.
Os produtos são vendidos em feiras e pontos de vendas em Fortaleza, mesmo assim, ainda existem atravessadores. Geralmente o atravessador entra em cena na época da colheita do café, onde o agricultor não tem dinheiro e não tem como pegar dinheiro com o banco.
d) Relações duradouras tanto de compra e venda como de contratos.
Existem alguns compradores que vem comprando café há bastante tempo, mas não são vendas de contratos. A venda de contrato existiu há algum tempo atrás com a prefeitura, porém isso, no momento, não acontece.
e) Pagamento no ato do recebimento do produto. Não é admitida a venda em consignação, na qual o produtor só recebe do vendedor ou do intermediário o valor referente ao que foi vendido.
Na venda para o consumidor final é assim, com os atravessadores também funciona dessa forma; já na época que possuíam contrato com a prefeitura não funcionava dessa forma.
f) Pagamento de bônus ou Premium. A palavra tem, neste caso, o sentido de algo extra. Não se trata de um estímulo dado apenas a quem, individualmente, produziu mais e se destacou. No Comércio Justo, além de pagar o preço combinado, o comprador oferece um bônus, uma quantia que deve ser
aplicada em algo que vá beneficiar toda a comunidade produtora em iniciativas que ela mesma decidir. Esta é uma das principais diferenças em relação ao comércio tradicional.
Na época em que o café havia sido certificado, segundo o entrevistado, os produtores recebiam esse pagamento Premium; como o café não continuou com a certificação, devido a problemas financeiros também, o pagamento Premium deixou de existir.
g) Rejeição à discriminação de raça, gênero e religião nas relações comerciais, mulheres não devem receber menos do que os homens, quando executam a mesma tarefa, por exemplo. E trabalhadores indígenas ou negros não devem receber menos do que os brancos.
Os produtores já estão na região há bastante tempo. Entre eles foi relatado a questão da discriminação, porém foi mencionado o preconceito e a discriminação que existe entre o homem da cidade com o homem do campo.
h) Rejeição ao trabalho infantil. A participação de crianças no trabalho só é admitida quando não prejudica seu bem-estar, sua segurança, sua frequência na escola e seu tempo para o lazer.
Na colheita do café, jovens também participam no trabalho. i) Rejeição ao trabalho escravo.
Não foi verificado, nem relatado a respeito de trabalho escravo na associação. j) Prioridade na preservação da saúde tanto do produtor como do consumidor,
durante todo o processo produtivo.
A parte onde se tem mais cuidado é com a máquina de beneficiamento do café e não foi relatada a respeito de nenhum acidente com nenhum agricultor; no campo a preocupação geralmente é o sol quente.
k) Preocupação com a conservação dos recursos naturais e com a busca pelo desenvolvimento sustentável.
Existe um decréscimo na questão ambiental ano após ano, principalmente devido à especulação imobiliária e ao desmatamento.
l) Respeito aos direitos trabalhistas de produtores e vendedores, de acordo com padrões estabelecidos pela Organização Internacional do Trabalho (OIT).
39 Quando existe a possibilidade de se contratar mão-de-obra de fora da comunidade, não há respeito aos direitos trabalhistas, eles são pagos apenas por produção.
m) Demandas de longo prazo e uma política de relações éticas que vai desde a contratação de uma compra até a entrega final do produto.
Tudo que é produzido é colocado à venda, as demandas de longo prazo demandariam mais investimentos e mão de obra.
n) Corresponsabilidade entre os diversos elos da cadeia produtiva. Um gerente de loja e um colhedor de palha de palmeira têm a mesma importância profissional.
Dentre os poucos elos da cadeia produtiva que existem, não existe distinção de importância na cadeia produtiva.
o) Financiamento de produção ou do plantio, ou a antecipação do pagamento da safra, quando necessário. Com isso, o comprador procura garantir o fluxo do fornecimento e o produtor tem mais condições de atendê-lo de maneira continuada.
Existe acesso a financiamento, principalmente através do PRONAF.
p) Respeito à legislação e às normas nacionais e internacionais referentes à qualidade do produto.
É um produto de qualidade, e não são usados agrotóxicos nos alimentos.
q) Garantia de segurança e um ambiente de trabalho seguro para todos os participantes. Isso inclui uso de equipamentos adequados para a execução das tarefas e para prevenção de acidentes.
Não foi observado uso de equipamento de proteção individual na operação da máquina de beneficiamento de café.
A análise das variáveis ou requisitos exigidos para certificação FLO para Comércio Justo pode ser representada no Quadro 4:
Quadro 4 - Análise dos requisitos de comércio justo da APEMB
REQUISITOS SIM NÃO RELATADO OU
IDENTIFICADO NÃO a) Associação X b) Pagamento justo X c) Atravessadores X d) Relações duradouras X e) Pagamento à vista X f) Bônus X g) Discriminação X h) Trabalho infantil X i) Trabalho escravo X
j) Saúde do produtor e do cliente X
k) Desenvolvimento sustentável X l) Direitos trabalhistas X m) Relações éticas X n) Corresponsabilidade produtiva X o) Financiamento da produção X p) Qualidade do produto X
q) Segurança no trabalho EPI X
Fonte: Elaborado pelo Autor.
Com isto, comprova-se que muito dos requisitos necessários para a participação no Comércio Justo ainda não são atendidos pela Associação dos Produtores Ecológicos do Maciço de Baturité (APEMB).