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VARIÁVEIS EXTRALINGÜÍSTICAS

5 O MÉTODO

5.8 VARIÁVEIS EXTRALINGÜÍSTICAS

Uma pesquisa que se denomina sociolingüística deve buscar fatores sociais que interfiram no condicionamento das variantes, pois os estudos variacionistas realizados nos últimos anos têm demonstrado, de forma sistemática e científica, que os fatores sociais atuam de maneira probabilística na variação lingüística, (cf.Silva-Corvalán, 1988, p. 68). Nesta pesquisa, selecionaram-se os seguintes grupos de fatores socais:

i) faixa etária; ii) gênero;

iii) estada fora da comunidade; iv) comunidades.

5.8.1 A faixa etária

Nesta pesquisa de caráter sincrônico, busca-se reconstituir a dimensão temporal por meio do recurso do tempo aparente, segundo o modelo laboviano. O tempo aparente busca, através da distribuição da idade dos informantes, constituir faixas que, de certa maneira,

representem momentos passados, a fim de que se possa saber se o fenômeno variável analisado se encontra num estágio de variação estável ou se está num processo de mudança em curso. Seguindo o modelo da pesquisa sociolingüística, os dados analisados nesta pesquisa, foram distribuídos em três faixas etárias:

i) faixa I – de 20 a 40 anos; ii) faixa II – de 41 a 60 anos; iii) faixa III – mais de 60 anos.

5.8.2 O gênero

Os estudos variacionistas fundamentam-se, principalmente, no fato de ser a língua um fenômeno social. Desta forma, todos os fatores sociais distintivos interferem na linguagem. Como homens e mulheres exercem papéis socialmente diferenciados desde a sociedade antiga, naturalmente, a maneira como eles empregam a língua reflete a sua posição. Alguns estudos mostram que as mulheres são mais conservadoras, uma vez que exercendo papéis inferiores aos dos homens são sensíveis às formas de prestígio, sendo mais afetados pelos padrões que regulem o comportamento social. Pode-se ainda acrescentar o fato de as mulheres não terem o papel de mantenedoras do lar, cabendo tal função ao homem, o que circunscreve as mulheres a situações comunicativas mais restritas, das quais variantes inovadoras não fazem parte. A postura que a sociedade cobra de seus membros reforça também a distância que existe entre a fala das mulheres e a dos homens: às mulheres cabe a cortesia, a delicadeza, um comportamento conservador, conseqüentemente, a correção lingüística; do homem, a sociedade exige virilidade, rusticidade, o que favorece o uso da variante não-padrão.

Entretanto, esse não é um comportamento regular em todas as comunidades. Contrariamente à posição conservadora da mulher, Labov (1983, p. 371) aponta que os resultados de Gauchat (1905), que estudou a variação do patois de Charmey, vão de encontro à postura conservadora da mulher, visto que, na comunidade analisada, o pesquisador descobriu que as formas inovadoras são mais utilizadas pelas mulheres, portanto são elas as propulsoras da mudança nessa comunidade. Labov (1983, p. 372) reforça esse comportamento apresentando resultados de suas pesquisas que mostram que, na cidade de Nova Iorque, as

mulheres apresentam maior freqüência na realização da variante fonética inovadora estudada, comportamento também refletido em Detroit e Chicago. Porém, ao estudar o dialeto da ilha de Martha’s Vineyard, Labov encontra uma tendência inversa à encontrada em Nova Iorque, Detroit e Chicago. Nessa ilha, são os homens os propulsores da mudança lingüística, os responsáveis pela implementação da variante inovadora.

Não se deve, portanto, estabelecer um padrão lingüístico no que se refere ao gênero dos informantes, uma vez que não há padrão definido nem para os homens, nem para as mulheres. O que determina o comportamento lingüístico dos falantes, na verdade, é o papel que exercem na sociedade onde estão inseridos.

A hipótese a ser verificada aqui, ao se estabelecer a variável de gênero, é a de que em comunidades rurais, são as mulheres mais conservadoras que os homens, tendo em vista que estes, a fim de prover o lar, saiam da comunidade com mais freqüência, entrando em contado com variantes distintas das de seu dialeto, conforme aponta Lucchesi (2000, p. 290).

5.8.3 Estada fora da comunidade

Como o resultado de um estudo dos fatos lingüísticos variáveis de um língua aponta, ou para um quadro de variação estável, ou para um processo de mudança em curso, a inclusão dessa variável tem um relevante papel, principalmente, no caso de os resultados indicarem para o processo de mudança. Através desse fator pode-se descobrir qual é a origem da variante inovadora: se foi implementada na própria comunidade, ou se foi introduzida por influência do contato com diferentes dialetos, resultado de estadas fora da comunidade. Segundo Lucchesi (2000, p. 290), as eventuais mudanças em direção ao padrão urbano vêm de fora são introduzidas por membros que viveram algum tempo fora da comunidade, portanto lideram esse processo.

Como já foi visto em 4.3, foram selecionadas quatro comunidades, que apresentam semelhanças sócio-históricas, buscando formar um corpus amplo das comunidades rurais constituídas por afro-descendentes e cuja formação seja remanescente de quilombos, ou de grupos de ex-escravos que receberam terras como pagamento ou que, por opção, preferiram manter-se na região, após a decadência das propriedades rurais de sue senhores.

Foram analisadas as seguintes comunidades:

a) Cinzento (CZ): devido ao difícil acesso, essa comunidade não mantém contato permanente com outros dialetos, o que indica que, nessa comunidade, sejam preservados costumes lingüísticos antigos;

b) Helvécia (HV): estudos sobre alguns aspectos de sua gramática já comprovaram que a comunidade possui características crioulizantes; porém, nessa comunidade, os homens, a fim de buscar sustento para a família, saem da comunidade, inclusive para outros estados, entrando em contato com outros dialetos;

c) Rio de Contas (RC): apesar da origem quilombola das comunidades que constituem o corpus de Rio de Contas, o turismo é uma atividade na região, o que pode estar influenciando na fala dessas comunidades;

d) Sapé (SP): acredita-se que, por causa do isolamento dessa região, na fala dessa comunidade sejam encontrados registros de processos de mudança induzidos pelo contato entre línguas.