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4. METODOLOGIA

4.5 As variáveis independentes analisadas

Após a realização das entrevistas, partimos para a codificação dos dados. Em uma primeira etapa, foram consideradas doze variáveis independentes, cujas características foram descritas no capítulo 3: nove variáveis internas – as linguísticas – e três externas – as sociais, listadas a seguir.

As variáveis linguísticas consideradas foram:

I – Próprias do verbo

1. Tipo de verbo em função da saliência do par indicativo/subjuntivo 2. Número de sílabas do verbo

3. Verbo como marcador ou não marcador discursivo

II – Próprias da estrutura

4. Polaridade da estrutura / posição da partícula negativa / tipo de pronome no contexto

5. Presença/ausência e tipo de pronome átono 6. Presença/ausência e localização do vocativo 7. Âncoras discursivas ou modalizadores

8. Posição do verbo na oração (início, meio, fim)

III - Próprias do discurso

9. Paralelismo discursivo

As variáveis não-linguísticas consideradas foram:

I - Próprias do falante

10. Gênero 11. Faixa etária

II – Próprias da interação

12. Interação entre os falantes

Após as primeiras análises linguísticas, observamos que a variável social “gênero” havia obtido significância estatística em todas as etapas de seleção do 70

programa. Dessa forma, vimos a necessidade de observação de outras variáveis sociais que pudessem explicar e nos fazer compreender melhor a seleção do gênero do falante, já que, até então, esse era um grupo que não se destacava em nossas e nas outras pesquisas conhecidas.

Fizemos, posteriormente, a inclusão de mais três variáveis independentes visando aprofundar a investigação acerca da interferência de fatores não-linguísticos na variação linguística: a escolaridade, o local de moradia no Distrito Federal e a relação do sistema linguístico do falante fortalezense ao chegar ao Distrito Federal.

Para a escolaridade, consideramos os níveis referentes ao primeiro, ao segundo e ao terceiro graus. Quanto ao local de moradia no Distrito Federal, temos falantes entrevistados residentes no Plano Piloto, em Taguatinga e em Ceilândia. Para analisar o sistema linguístico do falante ao chegar ao Distrito Federal, foi observada a faixa etária desse falante ao chegar à região. Consideramos que o falante que chegou à região com mais de 30 anos já tem um sistema linguístico pronto; aquele que chegou com idade entre 23 e 25 anos tem um sistema linguístico intermediário; o que chegou na faixa entre 17 e 18 anos tem um sistema considerado de transição; os que nasceram no Distrito Federal ou vieram com até 1 ano de idade não tem sistema linguístico formado. O objetivo em relação a essa variável foi de observar os efeitos da variação e da mudança do imperativo considerando esses diferentes sistemas. Labov (2001:448) diz que a estabilização dos sistemas fonológicos ocorre por volta dos 17 anos. Estamos usando essa ideia, nesta tese, para um fenômeno morfossintático.

Com a inclusão de todas as variáveis, encontramos a natural e problemática sobreposição dos grupos de fatores, cuja consequência imediata foi a não-convergência dos resultados. Guy & Zilles (2007: 52-55) mostram que esse é um problema decorrente da análise quantitativa. Os autores afirmam que, para a análise estatística, os grupos de fatores devem ser “ortogonais”, isto é, não devem estar sobrepostos. Eles dão como exemplo o grupo de fatores estilo e classe social. Um falante de qualquer classe social pode usar qualquer estilo, ou seja, estilo não é uma subcategoria de classe social.

Contudo, essa análise, que seria ideal em termos de convergência dos dados, nem sempre é a conseguida. Cabe, portanto, ao pesquisador, por meio da observação dos resultados resolver esses problemas por meio dos recursos que os programas utilizados oferecem para isso. Tanto o Varbrul (Pintzuk, 1988) quanto o Goldvarb X oferecem ao pesquisador instrumentais que permitem amalgamações entre os grupos de

fatores ou entre os fatores de um grupo ou ainda que se retirem da analise quantitativa fatores que estejam contribuindo para a não convergência dos resultados.

A análise minuciosa dos resultados estatísticos por meio da observação do efeito da entrada de cada variável independente que entra na análise estatística sobre cada fator das variáveis selecionadas como significativas permitiu identificar, em nosso texto, que a variável independente local de moradia estava parcialmente sobreposta ao gênero e dessa forma impedia a convergência dos resultados.

Submetidos ao programa Goldvarb X, que mede as frequências de cada grupo e gera os pesos relativos a partir do cruzamento dos fatores, foram selecionados pelo programa, nessa configuração, seis grupos com significância estatística para a análise:

1. paralelismo discursivo 2. gênero/falante

3. polaridade da estrutura e presença/ausência e tipo de pronome 4. presença/ausência e localização do vocativo

5. interação entre os falantes

6. âncoras discursivas ou modalizadores

Um último ajuste muito importante foi feito por meio de arquivos de condições – instrumental do programa que permite amalgamar os grupos de fatores. Separamos os falantes considerando as informações que tínhamos acerca de seus hábitos, contatos (no Distrito Federal e em Fortaleza), cultura. Os falantes desse novo grupo foram agrupados em função de seus traços identitários e do gênero, a saber: [-] menos proximidade de Brasília, [+-] proximidade de Brasília; [+] proximidade de Brasília. A análise estatística com a nova configuração apresentou as seguintes variáveis selecionadas, com a emergência da faixa etária:

1. paralelismo discursivo 2. gênero/falante – identidade

3. polaridade da estrutura e presença/ausência e tipo de pronome 4. faixa etária

5. presença /ausência e localização do vocativo 6. interação entre os falantes

7. âncoras discursivas ou modalizadores

A análise estatística desses resultados será apresentada nos dois capítulos a seguir. No capítulo 5, são apresentados as análises e os resultados estatísticos das variáveis gênero e identidade. As demais variáveis linguísticas e não-linguísticas são discutidas no capítulo 6.