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2.4 CAFÉ DA MANHÃ

2.4.3 Variáveis relacionadas à supressão do café da manhã

Dentre todas as refeições diárias, o CM é a mais preterida. Em virtude dos compromissos que se assume no mundo globalizado, em que tudo precisa atender a eventos rigorosamente cronometrados, é muito comum a supressão dessa refeição ou a falta de destinação de um tempo e lugar adequado para a realização dela.

Existem várias situações que se relacionam com a supressão do CM, entre elas a falta de tempo para a preparação e o consumo de alimentos no começo da manhã e as preocupações com o excesso de peso (CHO et al., 2003; LEVITSKY; PACANOWSKI, 2013). O declínio no consumo de CM está normalmente relacionado a mudanças no estilo de vida contemporâneo da população, tais como o aumento do número de indivíduos que moram sozinhos ou realizam a refeição sozinhos, a falta de tempo para realizar as refeições e particularidades no consumo de pratos diferentes pelos membros da família (HÖFELMANN; MOMM, 2014; TRANCOSO; CAVALLI; PROENÇA, 2010). Affinita et al. (2013) acrescentam que os motivos que levam as pessoas a não realizarem o CM são variados e transitam entre fatores como idade, gênero, profissão, tipo de trabalho, costumes culturais, estado existencial de cada indivíduo, incluindo-se a falta de apetite matinal e a tentativa de controle do peso corporal.

Há uma relação importante entre o consumo de CM, a idade, o gênero e o nível socioeconômico. O consumo dessa refeição parece aumentar com a idade quando se consideram pessoas adultas entre 18 e 60 anos, e diminuir quando se trata de crianças e adolescentes, entre 4 e 18 anos, constatando-se ainda que o consumo de CM é predominantemente maior na idade adulta que em outras fases da vida. Quanto ao gênero, a supressão dessa refeição é encontrada principalmenteentre adolescentes do sexo feminino, motivada pela preocupação com a imagem corporal, com consequente realização de dietas restritivas sem orientação. A supressão do CM é mais comum nas pessoas de baixo nível socioeconômico (TRANCOSO; CAVALLI; PROENÇA, 2010).

Fisiologicamente, suprimir o CM está associado a comportamentos pouco saudáveis, tais como o consumo de uma dieta pobre nutricionalmente e a baixos níveis de atividade física. Esses comportamentos podem resultar em um alto IMC, em obesidade, em diabetes tipo 2 e em desenvolvimento de doenças

cardiovasculares (CAYRES et al., 2016; HUANG et al., 2014; PURSLOW et al., 2008; POT; HARDY; STEPHEN, 2016; SMITH et al., 2010), pois os alimentos que compõem o CM pertencem a grupos de alimentos importantes (pães, cereais, laticínios e frutas), sendo pobres em gordura, tornando-o uma refeição tipicamente nutritiva (SMITH et al., 2010) e conferindo-lhe um caráter protetor em relação à saúde. Freitas, Mendonça e Lopes (2013) comentam que a supressão dessa refeição também tem sido associada ao tabagismo, ao consumo de bebidas alcoólicas, ao sedentarismo, ao baixo nível de escolaridade e predominando em indivíduos do sexo masculino.

Observa-se que as consequências da supressão do CM vão além do simples fato de se omitir uma refeição objetivando a redução de calorias diárias. Está envolta em um conjunto de variáveis que descrevem o contexto em que o indivduo está inserido, em que hábitos não saudáveis interagem com características individuais, produzindo patologias de diversas ordens.

Prova da importância de multifatores como consequência da supressão do CM é a pesquisa realizada por Sun et al. (2013), cujo objetivo foi determinar a prevalência de supressão da refeição CM e os fatores associados a ela entre estudantes de medicina na Mongólia, China. Os resultados mostraram que o consumo de CM foi associado a muitos fatores, sobretudo a variáveis como gênero, classe social, anos de educação, apetite, despesas mensais, qualidade do sono e qualidade no processo de aprendizagem.

Hulshof et al. (2003) estudaram as diferenças na ingestão alimentar entre adultos com diferentes níveis socioeconômicos. O estudo transversal consultou a base de dados de três anos de pesquisas de consumo alimentar nacional holandês e considerou como amostra 12.965 indivíduos adultos de ambos os sexos. Entre outros resultados, encontraram que a prevalência de obesidade e a supressão do CM foram maiores entre as pessoas com nível socioeconômico mais baixo.

Os autores Chung et al. (2015) estudaram a associação entre o tipo de CM e a ocorrência de síndrome metabólica em 11.801 coreanos adultos e encontraram um percentual de supressão de 21,61%, sendo maior entre os homens e na faixa etária entre 20 e 29 anos de idade. O alto percentual nessa faixa etária provavelmente está relacionado com a fase de vida produtiva, em que os indivíduos possuem menos tempo para realizar todas as atividades diárias.

Já o percentual de supressão comumente encontrado no Brasil é diversificado. Marchioni et al. (2015), por exemplo, ao caracterizaram os padrões de CM de 795 adolescentes encontraram uma supressão do CM de 38%. Pereira et al. (2011), observaram que é comum um percentual que varie de 12 a 34%. Leal et al. (2010) realizaram um estudo com 228 adolescentes no Estado de São Paulo, Brasil, cujo objetivo foi avaliar o consumo alimentar e o padrão de refeições de adolescentes. Na análise dos resultados, os autores concluíram que houve a supressão do CM em 21% dos adolescentes, sendo maior no sexo feminino. Frequentemente, as meninas são mais motivadas a suprimir o CM pelo desejo de perder peso, na tentativa de obter ou manter um corpo escultural, muito valorizado nos dias atuais.

Outros estudos realizados no Brasil encontraram valores diferentes para a supressão do CM em adolescentes, tais como 2,5% (NUZZO, 1998); 8% (ESTIMA et al., 2009); 11% (VIEIRA et al., 2005); 16% (FEIJÓ et al., 1997); 13,6% para meninos e 18,7% para meninas no estudo realizado por Fonseca e Sichieri(1998). Um estudo atual realizado por HÖFELMANN e MOMM (2014) em Santa Catarina, Brasil, com 533 escolares, encontrou a prevalência de supressão do CM igual a 25% (n=128).

A Pesquisa Nacional de Saúde Escolar (PNSE), realizada em 2012 pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), mostra que 38,1% dos estudantes brasileiros do 9º ano do ensino fundamental não tomam CM. Os dados de supressão do CM por região geográfica brasileira estão distribuídos da seguinte forma: Centro-oeste = 44,5%, Nordeste = 28,8%, Norte = 29,8%, Sudeste = 41,1% e Sul = 45,8% (BRASIL, 2009). O IBGE ainda não publicou dados sobre a realização do CM em pessoas adultas, mas considerando que os hábitos alimentares de crianças e adolescentes tendem a se repetir na vida adulta (GRIEGER, COBIAC, 2012; LAZZERI et al., 2013; MARANGONI et al., 2009; SONG et al., 2006), fica mais fácil realizar uma aproximação referente aos percentuais de supressão da população adulta brasileira.

Medeiros et al. (2007), estudando uma amostra de 600 adultos que foram acidentados no trabalho e posteriormente atendidos em uma instituição de assistência médica de Piracicaba, São Paulo, encontraram um percentual de supressão do CM de 24,16% (n=600). Costa e Vasconcelos (2013) realizaram uma pesquisa com o objetivo de avaliar o perfil e os fatores associados ao estado nutricional de estudantes ingressantes em uma universidade pública de

Florianópolis, SC. Dentre os diversos resultados, encontraram que o CM é a refeição mais omitida, com um percentual de supressão de 19,6% (n=220).

Observa-se que são muitas as variáveis que influenciam a supressão do CM, mas todas têm em comum a influência do local ou da cultura em que a pessoa está inserida. Nesse contexto, deve estar incluído todo o arcabouço da vida moderna que altera diretamente e negativamente o estilo de vida das pessoas, com consequências marcantes no padrão alimentar de cada indivíduo.

A questão do contexto apresenta-se como a justificativa principal da supressão do CM, mas se acredita que o fator mais importante nesse hábito seja a falta de conscientização sobre a importância dessa refeição. É necessaria uma reflexão que tenha como base a indiscutível necessidade do organismo humano de se reabastecer de combustível alimentar para o início das atividades diárias.