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4.4 Análise dos dados

4.4.1 Mensuração da eficiência com Análise envoltória de dados (DEA)

4.4.1.2 Variáveis selecionadas

Como pôde ser observado na revisão da literatura, existe uma diversidade considerável de variáveis que podem ser usadas como insumos e produtos para avaliação da eficiência de prestadores de SAA e SES. Tomando como base os estudos existentes e considerando as características desta pesquisa – objetivos, disponibilidade de dados e quantidade de DMUs avaliadas – foram selecionadas seis variáveis para compor três modelos DEA (I, II e III) conforme disposto no Quadro 20.

Quadro 20 – Variáveis do modelo DEA

Variáveis DEA Sigla /

Unidade Definição no SNIS

Despesas de exploração

(insumo) I, II e III

DEX (R$/ano)

Valor anual das despesas realizadas para a exploração dos serviços, compreendendo despesas com pessoal, produtos químicos, energia elétrica, serviços de terceiros, água importada, esgoto exportado, despesas fiscais ou tributárias computadas na DEX, além de outras despesas de exploração. Código SNIS: FN015 Índice de perdas na distribuição (insumo) II e III IPD (%)

O quociente entre o volume de água (produzido + tratado importado - de serviço) menos o volume de água consumido e o volume de água (produzido + tratado importado - de serviço).

Código SNIS: IN049

Volume de água faturado

(produto) I e III

VAF (1.000 m3/ano)

Volume anual de água debitado ao total de economias (medidas e não medidas), para fins de faturamento. Inclui o volume de água tratada exportado para outro prestador de serviços.

Código SNIS: AG011

Volume de esgotos faturado (produto)

I e III VEF (1.000 m3/ano)

Volume anual de esgoto debitado ao total de economias, para fins de faturamento. Em geral é considerado como sendo um percentual do volume de água faturado na mesma economia. Inclui o volume anual faturado decorrente da importação de esgotos.

Código SNIS: ES007 Quantidade de economias

ativas de água (produto)

I, II e III EAA (economias)

Quantidade de economias ativas de água, que estavam em pleno funcionamento no último dia do ano de referência.

Código SNIS: AG003 Quantidade de economias

ativas de esgotos (produto)

I, II e III EAE (economias)

Quantidade de economias ativas de esgotos que estavam em pleno funcionamento no último dia do ano de referência.

Código SNIS: ES003

O modelo DEA I foi baseado principalmente na análise dos insumos e produtos mais utilizados na literatura e contempla as despesas de exploração como insumo e os volumes faturados e as economias ativas de água e esgotos como produtos. O DEA II é o modelo proposto pela Agência Reguladora de Serviços de Saneamento e Energia do Estado de São Paulo (ARSESP) dentro do contexto da revisão tarifária da Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (SABESP) e não considera os volumes como produtos e inclui o índice de perdas de água como insumo. Vale ressaltar que, como foi dito em seção anterior, a ARSESP e a ADASA são as entidades reguladoras brasileiras que efetivamente incorporaram a produtividade e a eficiência econômica em seus processos de reajuste e revisão de tarifas, mas como a ADASA optou pela metodologia de “empresa de referência”, apenas a ARSESP tem trabalhado com DEA. Por fim, o DEA III é um modelo híbrido, nesse sentido, contempla todas as variáveis. A Tabela 4 apresenta a estatística descritiva para os anos de 2006 e 2011 do conjunto de variáveis utilizado.

Tabela 4 – Estatística descritiva das variáveis do modelo DEA

Variáveis Ano Média Desvio-padrão Mínimo Máximo DEX (R$ 1.000,00/ano) 2006 423.970,97 629.420,31 13.197,86 3.125.947,01 2011 631.545,01 953.404,84 21.730,00 5.015.334,03 IPD (%) 2006 48,35 12,37 26,38 79,18 2011 45,91 14,59 24,76 73,27 VAF (1.000 m3/ano) 2006 222.286,92 349.908,08 5.339,80 1.806.417,00 2011 249.063,48 391.753,62 9.856,00 2.044.640,00 VEF (1.000 m3/ano) 2006 101.944,39 234.697,37 906,90 1.245.738,50 2011 121.346,11 279.313,89 0,00 1.486.391,13 EAA (economias) 2006 1.167.830,28 1.620.158,82 36.229,00 8.176.048,00 2011 1.406.522,97 1.893.229,22 54.458,00 9.290.035,00 EAE (economias) 2006 560.545,69 1.232.623,05 2.835,00 6.542.197,00 2011 723.613,03 1.496.765,77 4.264,00 7.738.278,00 Fonte: Elaboração da autora.

A DEX representa os custos operacionais do prestador e é uma variável que aparece em praticamente todos os modelos DEA estudados. Segundo Barbosa (2012, p. 33), “a eficiência na alocação dos gastos da exploração [...] proporciona economias que potencializam a capacidade financeira geral dos operadores. Essa lógica explicaria a geração de maior folga no caixa para realização de investimentos futuros na cobertura dos serviços”. Trata-se também de uma variável de grande importância para o cálculo de tarifas, por esses motivos está presente em todos os modelos aqui propostos.

A quantidade de economias ativas de água e de esgotos também está presente como produto dos três modelos propostos. As economias estão relacionadas ao número de usuários atendidos pelos prestadores, é um produto que está diretamente ligado à cobertura dos serviços e, consequentemente, ao processo de universalização do acesso a SAA e SES. Para os modelos que não consideram essa variável cabe considerar o argumento da OFWAT, entidade reguladora na Inglaterra e no País de Gales, que reconheceu que “o objetivo de distribuidores de água não é distribuir tanta água quanto possível, mas conectar o maior número de famílias possível com custo eficiente e qualidade” (WALTER et al, 2009, p. 226).

Os volumes de água e esgoto são variáveis importantes para a definição dos custos operacionais eficientes e também muito usadas como produtos nos modelos DEA, no entanto, o modelo proposto pela ARSESP (DEA II) não inclui os volumes. A agência reguladora, que usou como DMUs do seu estudo prestadores de SAA e SES do Reino Unido, além dos brasileiros, explicou na Nota Técnica nº 01/2013 (ARSESP, 2013, p. 54) que utilizou apenas “economias de água e esgoto como produtos para conservar a consistência interna (não há dados das ligações para as empresas do Reino Unido) e porque os dados de economias aparentam ser mais precisos e confiáveis que os de volumes”. A SABESP questionou a decisão da ARSESP e argumentou:

Considerar somente as economias como produto da indústria implica em descaracterizar o serviço de saneamento que integra ao menos 5 grandes etapas: produção, distribuição, coleta, tratamento e atendimento comercial. Na análise realizada pela ARSESP, por exemplo, pode-se considerar duas empresas que possuem o mesmo número de economias, porém volumes e, por consequência, consumos médios diferentes como sendo igualmente comparáveis. Nesse caso, as estruturas de custos destas empresas seriam distintas, ceteris paribus, e a eficiência estimada de cada empresa estaria inconsistente. (SABESP, 2013, p. 62)

Sobre o uso dos volumes como produtos, Thanassoulis (2000a), ao discutir a escolha das variáveis a serem utilizadas por ele, admite que o modelo DEA apenas com número de ligações e extensão de rede como produtos seria o reflexo mais justo da eficiência das empresas analisadas. Contudo, o pesquisador optou por incluir o volume de água distribuída no modelo, pois a referida variável daria para as empresas que oferecem grandes volumes de água em relação ao número de ligações atendidas o "benefício da dúvida", resultando em uma exigência de economia de custos dessas empresas menor do que se a variável do volume não fosse considerada.

Abbott, Cohen e Wang (2012) chamam atenção para outro aspecto e destacam que a conservação da água, combatendo o consumo elevado e o desperdício por parte dos

usuários, também é objetivo dos prestadores de serviços, logo, argumentam que usar os volumes como produtos pode gerar resultados distorcidos.

A última variável proposta foi o índice de perdas na distribuição, incluída como insumo nos modelos DEA II e III. Trata-se de uma variável relevante, principalmente para o caso brasileiro que conta com altos índices de perdas entre os prestadores de SAA e SES. A ARSESP ressalta que o esquema regulatório que busca os custos eficientes deve identificar também as perdas eficientes, pois “o controle das perdas de água tem um impacto direto nos custos de produção, uma vez que reduz o consumo de energia elétrica, produtos químicos, entre outros com forte participação na estrutura de custos” (ARSESP, 2013, p. 14). Nesse sentido, Ordoñez e Bru (2003, p. 92) defendem que uma análise de eficiência completa requer a introdução no modelo da “porcentagem de água que se perde por má conservação das redes ou por falta de um sistema eficaz de controle de perdas”.

A SABESP foi contra a inclusão do índice de perdas no modelo proposto pela ARSESP argumentando que se trata de uma variável ambiental. De fato, a variável é encontrada na literatura como variável ambiental (TUPPER; RESENDE, 2004), mas também é usada como insumo (GARCÍA-RUBIO; GONZÁLEZ-GÓMEZ; GUARDIOLA, 2009) ou mesmo como produto não desejado (ABBOTT; COHEN; WANG, 2012).

Diante do exposto, os resultados dos três modelos DEA são apresentados, no entanto, para fins de construção de ranking e realização de análises desagregadas de acordo com as características dos prestadores de SAA e SES (localização, abrangência e propriedade) e das entidades reguladoras (abrangência, ano de criação, atividade de normatização), foi selecionado como modelo principal o DEA III com retornos variáveis de escala e orientado a insumo. Na Figura 11 está demonstrado o modelo principal com suas respectivas variáveis de insumo e produto.

Figura 11 – Modelo DEA III (principal) para prestadores de SAA e SES