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Índice de Quadros

1.2.2. Variabilidade genética individual

A sequenciação do genoma Humano permitiu clarificar a ideia de que a extensão da variabilidade genética era deveras superior à que tinha sido outrora estimada 18.

Enquanto algumas destas variações apresentam baixo impacto na saúde humana, existem outras que conduzem a alterações no fenótipo que, num contexto em particular, podem exercer um forte influência na susceptibilidade para o desenvolvimento de doenças e na resposta a estímulos ambientais 19,20 .

O tipo de polimorfismo mais comum no genoma humano designa-se de single nucleotide polymorphism (SNP) 18, consistindo na substituição estável de uma única

1. Introdução

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população normal 17. Os SNP’s representam cerca de 90% das variações nucleotídicas

conhecidas, estimando-se que ocorram a cada 100 a 300 pares de bases 21. Sendo

assim, calcula-se que existam cerca de 165.000 SNP’s dentro dos estimados 20.000 a 25.000 genes cujas regiões codificadoras cobrem cerca de 1,5% do genoma humano 22.

Os SNP’s que podem afectar a expressão genética, podendo surgir em qualquer região do genoma (Figura 3). Aqueles que se localizam em regiões exónicas podem ser não sinónimos, levando a uma mudança de aminoácido e, consequentemente, a uma modificação da proteína ao nível da sua estrutura, polaridade, fosforilação inadequada, entre outras consequências funcionais 21; ou silenciosos, que não conduzem a variações

na proteína 23 e que constituem o tipo de SNP mais frequente 18. Por outro lado, os SNP´s

em regiões intrónicas podem conduzir a alterações na sequência de aminoácidos que constituem a proteína se estiverem localizados num local de splicing ou podem alterar, por outro lado, a expressão do gene se estiverem localizados numa região codificadora de microRNA’s 23. Menos previsíveis são os SNP’s em regiões não codificantes do

genoma, também denominados SNP’s reguladores (rSNP’s), que podem ter impacto nas sequências reguladoras de genes 24. Os rSNP’s mais estudados são os que se localizam

em locais de ligação de factores de transcrição dadas as suas múltiplas consequências

21. Na maioria dos casos, os rSNP’s não contribuem para o aparecimento de alterações

na interacção entre o factor de transcrição e o seu local de ligação, uma vez que um factor de transcrição reconhece um número considerável de locais de ligação 21. Contudo,

em alguns casos, os rSNP’s podem aumentar ou diminuir a ligação do factor de transcrição 21. Esporadicamente, o rSNP pode eliminar o local de ligação ou gerar um

novo local de ligação, fazendo com que o gene não seja regulado pelo factor de transcrição original 21.

1. Introdução

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E2

SNP na região promotora SNP na região exónica SNP na região intrónica

SNP no local de ligação de factores de transcrição

SNP no local de ligação de factores de transcrição

SNP no local de ligação de factores de transcrição

mRNA

Sem alteração na expressão

Diminuição da expressão mRNA Aumento da expressão E2 Alteração da proteína Alteração da proteína

SNP em região intrónica codificadora de microRNA microRNA Sem ligação a mRNA Proteína Proteína Proteína

Ala Arg Asp

Ala Lys Asp

Ala Arg Asp

GCA AGA GAT

GCA AAA GAT

GCC AGA GAT

SNP não sinónimo

Alteração da proteína

Sem alteração da proteína SNP silencioso Sequência original

SNP em região de splicing

Figura 3. Localizações de SNP’s e respectivo efeito biológico (adaptado de Monzo et al., 2008 23).

O risco de desenvolvimento de doença neoplásica é determinado por complexas interacções entre factores ambientais e as características genéticas do indivíduo, onde se incluem os SNP’s 13, podendo estes condicionar a susceptibilidade de cada indivíduo

para o desenvolvimento de uma doença 25,26. Os SNP’s contribuem também para uma

vasta variação inter-individual na resposta à terapêutica, uma vez que qualquer alteração genética nas enzimas envolvidas na absorção, metabolismo, excreção e ligação a moléculas-alvo podem afectar a eficácia de uma fármaco 23. Assim, o objectivo principal

da Farmacogenómica passa pela identificação de polimorfismos que possam modelar a resposta a um tratamento, de forma a individualizar a terapia com base no perfil genético de cada doente 23.

Deste modo, torna-se importante a caracterização genética individual com base no estudo de SNP’s de modo a estabelecer perfis genéticos de risco para o desenvolvimento tumoral, estratificar grupos com significado prognóstico, caracterizar indivíduos de acordo com a resposta à terapia e optimização de terapias dirigidas a alvos moleculares.

1. Introdução

9 1.3. Carcinoma de células renais

1.3.1. Epidemiologia

O cancro renal representa um grupo heterogéneo de tumores que surgem no rim

27, exibindo uma extensa variabilidade de padrões morfológicos, à qual se associa igual

variabilidade de apresentação clínica, de comportamento biológico, resposta à terapia assim como diferente padrão de alterações genéticas 28.

O cancro renal representa uma das neoplasias urológicas mais importantes devido à sua elevada letalidade e crescente incidência nos países mais desenvolvidos 29,

representando cerca de 2,1% dos tumores malignos do adulto e 1,5% das mortes por cancro em todo o mundo 2. As taxas de incidência de cancro renal têm aumentado

durante as últimas décadas, em parte devido ao aumento da prevalência dos factores de risco 30 e também devido ao uso recorrente de técnicas imagiológicas mais avançadas na

avaliação de patologia abdominal que permitem a identificação de um maior número de tumores de forma acidental 31. Actualmente, verifica-se que as taxas de incidência de

cancro renal variam de acordo com a região geográfica: na Europa e na América do Norte as taxas de incidência são elevadas comparativamente às baixas taxas, verificadas na Ásia e na América do Sul 32 (Figura 4). No continente Europeu verifica-se, igualmente,

variações nas taxas de incidência entre os vários países, sendo superiores nos países da Europa Central e Oriental e inferiores nos países da região mediterrânica 31. Em 2006, na

região Norte de Portugal, a taxa de incidência padronizada de cancro renal em ambos os géneros foi de 4,9/100.000 habitantes, tendo sido a décima neoplasia mais prevalente 33.

Na Europa, a taxa de mortalidade por cancro renal sofreu um aumento progressivo até ao início da década de 90 31. Contudo, a partir da década de 90 verificou-se uma tendência

para a estabilização ou diminuição da mesma, o que poderá ter sido devido aos recentes avanços no diagnóstico e tratamento desta doença 31. Esta diminuição da mortalidade

verifica-se fundamentalmente em indivíduos de meia-idade, no género masculino e na Europa Ocidental 31.

Aproximadamente 80% dos tumores do rim são carcinomas de células renais (CCR) 34. Considerando apenas as neoplasias urológicas, o CCR é o tumor mais

frequente, depois do carcinoma da próstata e da bexiga 35. O CCR apresenta um pico de

incidência na sexta década de vida, sendo os 62 anos, a idade média de aparecimento desta neoplasia 36. O CCR é mais comum em indivíduos do género masculino, com uma

1. Introdução

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Figura 4. Taxas de incidência padronizadas de cancro renal por 100.000 habitantes, em ambos os géneros

(GLOBOCAN 2008, IARC).