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VEJA EM 1998 – A CAMPANHA ELEITORAL DE FERNANDO HENRIQUE CARDOSO

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O ano de 1998 foi marcante para o Brasil e o mundo. No campo internacional, esse foi o ano no qual dezenove nações européias proibiram a clonagem humana, em uma discussão que envolveu cientistas e religiosos de todo o globo. Também foi o ano no qual Fidel Castro, ainda presidente de Cuba, ordenou a libertação de 318 presos políticos. No campo econômico, o mundo já vinha sofrendo com a crise econômica asiática e, em 1998, foi abalado com a crise financeira russa, que causou a desvalorização do rublo e inadimplência na Rússia e, aqui no Brasil, causou a fuga de dólares.

No campo da indústria cultural, o ano foi marcado pelo filme “Titanic”, de James Cameron, que fora lançado em dezembro de 1997, mas que teve seu ápice durante o mês de janeiro de 1998 e foi repercutido durante todo o resto do ano.

No Brasil, 1998 será ainda eternamente lembrado por uma das maiores tragédias que o país já viu: o desabamento do Edifício Palace II, no Rio de Janeiro, devido a falhas na estrutura da construção. O ano também ficou marcado para os brasileiros pela derrota da seleção brasileira na grande final da Copa do Mundo da França – um jogo marcado por polêmicas que envolviam a grande estrela do time à época, o jogador Ronaldo.

Já no campo político, o ano foi marcado pela reeleição de Fernando Henrique Cardoso. A eleição presidencial brasileira de 1998 foi a terceira realizada após a promulgação da Constituição de 1988 e a primeira a permitir que o presidente se candidatasse à reeleição. Fernando Henrique Cardoso havia assumido a presidência em 1995 e, contando com maioria parlamentar, conseguiu com que o Congresso aprovasse uma Emenda Constitucional permitindo a reeleição de ocupantes do Poder Executivo – no caso, ele mesmo.

Era a primeira vez que o Brasil assistia à reeleição de um presidente. Mas a disputa para que FHC conseguisse a vitória também foi diferente. O limite da campanha foi reduzido de 60 dias, em 1994, para 45 dias, em 1998. A nova legislação determinava ainda que, para haver o debate transmitido por canais de TV ou rádio, era obrigatória a presença de todos os candidatos. No entanto, com uma dezena de candidatos a presidente, ficou impraticável, para os promotores desses debates, reuni-los em um mesmo dia, organizando agendas e horários. (QUEIROZ, 2006a, p.333)

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Dentro desse contexto político e econômico, a revista Veja, uma das maiores revistas semanais do país e do mundo, acompanhou as movimentações que antecederam as eleições e divulgou, de acordo com sua linha editorial, os fatos mais importantes do período.

Este capítulo tem justamente como objetivo mostrar como a revista Veja retratou a campanha de Fernando Henrique Cardoso bem como fazer um comparativo com o espaço dedicado a seu principal oponente, o candidato Luiz Inácio Lula da Silva.

Mesmo a campanha eleitoral, como dito antes, só tendo 45 dias, em oposição aos 60 de 1994, optou-se por analisar as revistas desde o mês de junho até a última edição do mês de setembro, publicada antes do resultado do pleito, atendendo ao objetivo desta pesquisa de compreender as publicações no período da campanha. Desta maneira, serão analisadas, neste capítulo, 18 edições, a contar da edição de número “1549”, do dia Três de Junho de 1998, até a edição de número “1566”, do dia 30 de setembro de 1998.

1. As manchetes da revista Veja no ano de 1998

O ano de 1998, como dito anteriormente, foi marcado por diversos acontecimentos no Brasil e no mundo. Por isso, é importante entender quais os fatos que a revista Veja destacou na capa de suas edições para que o leitor tenha uma idéia da linha editorial da publicação, bem como situá-lo dos acontecimentos de destaque no ano em questão. Ao todo, foram 51 edições no ano de 1998 – ano 31 a partir do lançamento da revista – iniciando pela de número “1528”, do dia Sete de Janeiro, até a edição de número “1578”, do dia 23 de Dezembro.

Dessa maneira, os títulos das manchetes de capas, edição a edição, respectivamente, foram os seguintes: “O país do futebol no ano da Copa”; “Titanic: a tragédia que ninguém esquece vira o grande filme do verão”; “O despertar de Cuba” (referindo-se a mudanças no país comandado por Fidel Castro); “Sexo na Casa Branca” (sobre a denúncia de envolvimento amoroso de Bill Clinton com Monica Lewinsky); “O medo da balança: por que as pessoas se torturam tanto para emagrecer”; “Você tem medo de perder o emprego?”; “Fui até humilhado em Hollywood: como Bruno Barreto abriu seu caminho nos EUA e foi indicado para o Oscar com „O que é isso companheiro‟”; “Os homens que se cuidem: as mulheres estão avançando sobre os melhores cargos”; “O vilão da tragédia do Rio” (sobre o deputado Sérgio Naya, o construtor do edifício „Palace II‟, que desabou); “Fuga para o interior” (sobre pesquisa

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mostrando que 41% dos moradores das capitais gostariam de se mudar para cidades menores em busca de uma vida mais tranqüila); “O Ratinho que ruge: quem é o novo fenômeno da TV brasileira e como ele assusta os concorrentes” (referindo-se a Carlos Massa, o Ratinho); “Guerra no céu: a queda de preços das passagens, a luta de morte entre as companhias aéreas e as promoções que elas estão oferecendo”; “A pílula milagrosa: foi aprovado o remédio que resolve até 80% da impotência sexual”; “A ressurreição da fé: como os católicos carismáticos reagem aos avanços dos evangélicos”; “Paulo Coelho” (capa com o célebre autor de livros); “Novidades no reino da fantasia: com a inauguração do maior parque da Disney e a estréia de outras atrações, Orlando será a sensação das férias deste ano”; “O Brasil depois do luto” (capa com a foto do presidente Fernando Henrique Cardoso chorando pelas mortes consecutivas do ministro Sergio Motta e do deputado Luís Eduardo Magalhães); “A fome no nordeste”; “Câncer no rumo da cura”; “Sinatra: 1915-1998” (sobre a morte de Frank Sinatra); “Eles precisavam morrer? Como as drogas estão matando os jovens e o que os pais podem fazer”; “A esquerda com raiva: inspirados por ideais zapatistas, leninistas, maoístas e cristãos, os líderes do MST pregam a implosão da „democracia burguesa‟ e sonham com um Brasil socialista”; “Lula entra no jogo: mas será que ele tem chance de ganhar a eleição?”; “O Boato que fere: como a intriga se espalha e arrasa a vida das pessoas”; “Do preconceito ao sucesso: a discriminação racial vista por quem venceu a barreira e chegou lá”; “Covardia: o terror das mulheres que vivem com homens espancadores”; “E se o remédio for falso? Como age a máfia dos medicamentos falsificados e como se proteger do perigo”; “A fé contra o crime: numa cruzada em presídios e redutos de traficantes, os evangélicos estão convertendo bandidos em soldados de Jesus”; “Crise nervosa” (refere-se à crise vivida pelo jogador Ronaldo na final da Copa do Mundo de 1998, partida a qual o Brasil perdeu para a França e foi vice-campeão); “Vai sobrar telefone: como a venda da Telebrás, o meganegócio do fim do século, deve aumentar a oferta de linhas e melhorar o serviço”; “Medo de avião: por que 40% dos passageiros têm pavor de voar”; “Fui eu: Francisco de Assis Pereira, o suspeito de ser o „maníaco do parque‟, disse que matou nove mulheres”; “O poder da mente: estudos mostram que o cérebro melhora muito quando é exercitado”; “Fui eu: Bill Clinton confessa ter feito sexo com a estagiária. Depois, bombardeia o Sudão e o Afeganistão”; “O mundo em pânico” (refere-se à crise financeira da Rússia e a repercussão disso no Brasil); “Fuga de dólares” (refere-se sobre a repercussão da crise financeira russa e os efeitos no Brasil); “Os magos da urna: como os publicitários mudam a imagem dos políticos para ganhar seu voto”; “A chave do emprego”; “Por que o Brasil desconfia dos políticos: os melhores e piores deputados e senadores às vésperas das eleições”; “Agora é guerra: o desafio de FHC reeleito é impedir que

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a crise afunde o Brasil do Real”; “O homem forte do governo: como Malan mudou as expectativas sobre o Brasil em Washington e amarrou o pacote de ajuda ao país”; “Comer sem engordar: chegou a pílula que reduz em 30% a absorção de gorduras”; “Peguei AIDS do meu marido: histórias dramáticas de mulheres que foram contaminadas pelos homens em quem confiavam cegamente”; “O fenômeno” (refere-se ao padre Marcelo Rossi); “A máfia da terra: figurões do empresariado tentam trocar suas dívidas à Previdência por fazendas fantasmas, num golpe que chega a 1 Bilhão de reais”; “Tucanos na mira: o que há por traz disso” (refere-se à denúncia de que a cúpula do PSDB teria uma conta secreta no exterior); “Fisgado pela boca: o escândalo das fitas deixa Mendonça de Barros com um pé fora do governo” (sobre o então ministro das Comunicações, Mendonça de Barros); “Ser mãe perto dos 40”; “Eu torturei: ex-tenente conta como e por que torturou trinta pessoas”; “Um gênio em casa: a revolução das crianças na era da informação desconcerta pais e professores”.

Por fim, a última edição de 1998, do dia 23 de Dezembro, traz a seguinte manchete: “Os brasileiros que fizeram o ano”.

2. Capas – de Junho a Setembro

Toda publicação tem uma capa e toda capa é da maior importância para a publicação. Tanto é que Richard Semenik e Gary Bamossy, no livro Princípios de Marketing, (apud CARDOZO, 2005, online) apontam que a capa, sendo a embalagem da publicação, é o primeiro contato do consumidor com o produto. Ou seja, qualquer pessoa que vá comprar uma revista, tem primeiro contato com a capa e desse contato é que pode surgir a decisão de comprar ou não a publicação. Tudo porque se supõe o conteúdo pela embalagem por sensações inconscientes, mas que norteiam as ações humanas, seus hábitos e seu consumo. Por isso, para o marketing, a embalagem do produto, no caso a revista, acrescenta uma dimensão estratégica que pode afetar o comportamento do consumidor, pois cria uma percepção do valor do produto.

Desta maneira, deduz-se que toda capa de Veja também é pensada para atrair seu leitor e, dessa maneira, aumentar a vendagem e, conseqüentemente, sua importância e força enquanto publicação. Por isso, faz-se importante saber como Veja editou as capas no período analisado para atrair seu leitor:

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Edição do dia 3 de junho de 1998 Manchete: “A Esquerda com Raiva”

Descrição: A capa da edição do dia Três de Junho de 1998 traz a foto de João Pedro Stedile, líder do Movimento dos Sem Terra, com uma feição séria, fechada, pode-se dizer que até mesmo brava. A manchete vem acompanhada com o seguinte texto: “Inspirados por ideais zapatistas, lenistas, maoístas e cristãos, os líderes do MST pregam a implosão da „democracia burguesa‟ e sonham com um Brasil socialista”.

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