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VENÂNCIO FILHO Individualidades há que se afiguram

No documento Revista Completa (páginas 115-145)

ATRAVÉS DE REVISTAS E JORNAIS

F. VENÂNCIO FILHO Individualidades há que se afiguram

viver mais da energia moral, de que se valem para desenvolver as suas ativi-

dades benéficas, do que das minguadas reservas físicas.

Incluía-se no grupo de predestinados à ação, mercê do incorrigível idealis-

mo, o professor Francisco Venâncio Fi- lho, bacharel em Ciências e Letras pelo antigo Externato Aquino e engenheiro civil pela Escola Politécnica do Rio de

Janeiro, que emudeceu inesperadamente em São Paulo, donde lhe veio o corpo inanimado.

Compleição franzina, a aparência en- fermiça parecia impedir-lhe cometi- mentos que exigissem maior dispêndio de energia.

Entretanto, bastava-lhe encontrar al- gum amigo para se transfigurar.

Os olhos de penetrante vivacidade harmonizavam-se com a palavra envol- vente, que lhe tornava encantadora a palestra. Irradiava otimismo, como se em vez de molestos achaques, gozasse estimulante euforia.

Alegre, de quando em quando a iro- nia lhe sublinhava as apreciações ino- fensivas. A fluência não chegava a der- ramar-se, pois que sabia comedir-se em cada assunto e variar habilmente para maior delícia do ouvinte.

Conversador exímio, dilatava o seu círculo de amizade principalmente en-

tre os educadores, que lhe prezavam o convívio leal.

Já os contava por avultado número quando ideou fundar com outros de igual fé a " Associação Brasileira de Educação", cujo influxo na evolução da mentalidade patrícia está assinalado por iniciativas de acentuado alcance.

Serviu-lhe de presidente, embora pre- ferisse permanecer fora da diretoria, para melhormente desenvolver a pro- paganda de seus postulados e angariar novos elementos.

Era uma das causas a que se devota- ra com o entusiasmo do seu idealismo.

Para bem lhe cumprir as solicita- ções, aceitou chefiar a embaixada de educadores, cariocas, convocados pela A. B. E . , que se destinavam a Goiâ- nia, onde iriam participar do 8.° Con- gresso de Educação, da série por ela promovida.

No primeiro dia de viagem, tudo lhe correra de feição. Ambiente cordial, em que os colegas lhe propiciavam en- sejo de conversação amistosa, tão do seu agrado. Sôbre viajar, que tanto lhe aprazia fosse para onde fosse, ainda lhe era dado cavaquear com os parcei- ros da campanha redentora dos brasi- leiros pela educação.

Não podia, de momento, ambicionar maiores satisfações.

Todavia, ainda pretendeu continuá- las pela noite a dentro. Na capital pau- listana não lhe faltavam amigos de iguais pendores. Procurou-os para o prazer espiritual de troca de idéias. Esqueceu-se das horas, enlevado pelos assuntos amistosamente discutidos.

Quando tornou ao hotel, por noite al- ta, já se viu envolto pela neblina pau- listana, que lhe excitou acesso asmáti- co. Antemanhã, reunidos alguns excur- sionistas no saguão, não deixou de pro- curá-los. Estranharam-lhe as feições de sofredor, a quem falhava a palavra. Ao tentar proferi-la, a dispnéia sufocava- lhe a voz. Ainda assim, combinara, de véspera, encontrá-los, para juntos pros- seguirem a longa peregrinação e ali estava, pronto para ir à estação de em-

barque. Seria temeridade, raiando pelo suicídio, empreender viagem cansativa em tais condições de mal-estar, que ten- dia a engravescer à míngua de medica- ção adequada, só possível em condições de repouso e com assistência médica. Ao primeiro momento, não se deu por vencido. Não tinha importância a per- turbação, que passaria sem demora, em- bora a aparência lhe contrariasse a afirmativa. Ser-lhe-ia pior e mais do- loroso, abandonar os companheiros, cuja partida não podia ser adiada por sua causa. Seguiria de qualquer ma- neira .

A intervenção de amigos, porém, dis- suadiu-o da intenção de todo inexeqüí- vel.

Porventura, o seu claro raciocínio contribuiria para levá-lo à desistência, . mercê de impossibilidade manifesta de

execução do plano formulado. Só as- sim, quando a precária saúde não lhe permitia atuar como desejava, deixa- ria de participar de iniciativas ilumi- nadas por sadio idealismo.

Principalmente de Congressos de Educação, promovidos pela A. B. E. de que era incansável animador, por lhes ter em alta conta a contribuição, para o engrandecimento cultural do Brasil. Em tais ocasiões, não faltava a sua opinião a propósito, que não to- lhia a manifestação de objeções alheias, sempre respeitadas, ainda quando con- trariassem a sua própria. Queria es- clarecer os assuntos pela discussão, pa- ra que as conclusões refletissem, quan- to possível, os pareceres mais bem jus- tificados, quando não a unanimidade.

Além do que afirmava, perante os colegas, com a experiência de educador consagrado ao seu apostolado, maiores esforços desenvolvia fora do plenário para o preparo das reuniões, ao coope- rar nas atividades da Secretaria, em que despertava boas vontades para a tare- Ta discretamente executada.

Com o exemplo, não lhe faltavam seguidores amigos, de cujas atividades dependia o regular andamento dos tra- balhos da assembléia. Não deixaria, por isso, de acompanhar-lhes a organi- zação desde a fase preparatória, e to-

mar parte em tôdas as reuniões, em que era acatada a sua palavra judi- ciosa.

Certo, não lhe faltavam convicções arraigadas, mas a tolerância, que lhe constituía uma das superioridades da formação intelectual nessas oportuni- dades, manifestava-se de maneira ex- pressiva. Aceitava, como base para dis- cussão, as indicações contrárias ao que porventura pretendesse e não se cons- trangia em considerar-se vencido, caso se amparasse na maioria.

Para tamanho resultado, contribuía, de um lado, o seu entranhado amor à democracia, como devera ser idealmente praticada, extreme de quaisquer injun- ções interesseiras, e, por outro, a con- descendência para com os adversários de suas doutrinas.

Considerava os homens pelo que pu- dessem oferecer de bom, atenuando-lhes as tendências egoísticas.

Só lhes atentava nas feições benig- nas, de olhos fechados para as suas im- perfeições e por isso arrolava amigos entre as mais divergentes individualida- des, como também acontecera com um deles, Jônatas Serrano, apesar de co- locado em oposto campo filosófico e religioso.

Grandes afinidades os aproximaram um do outro, não obstante o desencon- tro fundamental de seus princípios ci- entíficos, que não lhes obstou a mútua amizade.

Devotados ao magistério, ambos ad- quiriram nomeada de exímios educa- dores, cujos ensinamentos na cátedra acordavam perfeitamente com o exem- plo da vida exemplar que apresenta- vam.

De mais a mais, pareciam desconhe- cer os imperativos da intransigência. Era vocábulo que não lhes penetrava no dicionário usual.

E como aos interesses pessoais so- brepunham os da coletividade ou da causa que lhes captara o entusiasmo, foram progressivamente se elevando nos

louvores dos contemporâneos, de quem receberam as mais honrosas provas de justa admiração.

Até o desenlace inesperado, após ain- da uma vez estadearem o seu idealis- mo, em alocuções, que lhes servissem de mensagem de despedidas, irmanou- os em análogo destino.

Como Serrano, fulminado ao termo da luminosa declaração de princípios, acerca do bom gosto literário e deve-

res tios que pretendiam cultivá-lo, tam- bém Venâncio Filho, impelido pelo cul- to, que promovera, com fervorosos ad- miradores, à glória de Euclides, enca- minhou-se, confiante, ao Museu, em que diligenciava reunir objetos que re- cordassem a vida trágica do autor de " O s Sertões", na própria cidade de São José do Rio Pardo, onde êle escre- vera a sua obra imortal.

De passagem por São Paulo, ainda conseguiu iniciar a série de conferên- cias, em que pretendia analisar aspec- tos vários da individualidade impressio- nante, que lhe empolgava a admiração ardente.

Antes, porém, que se aproximasse a hora da segunda, golpe semelhante ao que abateu Serrano, em pleno fastígio da eloqüência, também lhe cassou irre- mediavelmente a palavra.

Não mais sentiria o seu transporte à Casa de Saúde, nem a derradeira viagem, de regresso, em que, pela pri- meira vez, deixou de admirar a paisa- gem, que não cessava de apreciar, nas excursões anteriores.

Fugira-lhe a vida na capital paulis- tana. onde de outra feita mal diverso ameaçara sufocá-lo.

Então, a causa da educação, a que se entregara, com a sua inteligência pere- grina e devotamento ilimitado, deter- minara-lhe a jornada, que deveria ab- negar-se até a nascente capital goiana, caso não a interrompesse a enfermida- de importuna.

Agora, outra das suas paixões o ar- rebatava para a hinterlândia, onde or- ganizara ambiente propício, ao culto euclidiano que não teve jamais prati- cante mais abnegado e constante.

Além das publicações, que empreen- dia ou animava, com o seu entusiasmo comunicativo, tanto entre os editores cariocas e imprensa, como em São Pau-

lo, não esquecia a data fatal em que baqueara o renovador dos estudos bra- sileiros e da maneira de interpretá-los.

A romaria anual que repetia ao lu- gar em que fora concebido o livro por- tentoso, não seria terminada com a sa tisfação das vêzes anteriores.

Ideara auspicioso programa, que exi- gia, além de conhecimento cabal do as- sunto presente sempre às suas medita- ções, apropriada resistência física, de que não lhe eram favoráveis as provas aparentes. Confiava, porém, acaso em demasia, nas forças espirituais, que lhe tinham garantido mais de uma vitória. Cavaleiro andante de nobres causas, não temia obstáculos a vencer, que su- punha transponíveis pela sua força de vontade.

Assim praticara em tôdas as even- tualidades, fossem de iniciativa própria ou alheia, como a última que lhe con- fiou a direção do Instituto de Educação, em fase efêmera.

Sabia que lhe era curto o prazo ad- ministrativo e por isso apressou-se em imprimir maior celeridade à execução dos planos educativos, que mereceram louvores dos componentes.

Foi pena que lhe interrompessem a atuação ao terminar a fase de transição governativa, que lhe requisitara a cola- boração eficiente.

Todavia, cresceu-lhe o prestígio en- tre os colegas, que o viram pôr em prá- tica os postulados de sua pregação per- manente, e depois voltar-lhes ao con- vívio, com a mesma despretensão de sempre e cordialidade de quem soubera cumprir o seu dever.

Era, aliás, uma das características do Professor Venâncio Filho, a espontâ- nea sujeição aos compromissos aceitos, a que atendia zelosamente, por satisfa-

ção pessoal, e para não desmerecer a amizade de seus colegas.

Por isso, a homenagem derradeira por ocasião do seu enterramento, cor- respondeu a verdadeira consagração, prestada por insignes professôres e pe- sarosos alunos, a quem ao desaparecer, deixava, difícil de preencher com igual desvelo, a vaga de amigo prestante e educador modelar. — ( V I R G Í L I O CORRÊA F I L H O , Jornal do Comércio, R i o ) .

FRANCISCO VENÂNCIO FILHO

As pessoas que assistiram ao enterro de Francisco Venâncio Filho voltaram do cemitério trazendo uma impressão estranha e contraditória no espírito. Essa impressão era, decerto, de tristeza e de saudade, por terem visto desapa- recer um homem de tão exímias quali- dades como aquele: mas era também de consolação, quase direito de conten- tamento — se esta palavra se pudesse conciliar com uma cerimônia de dôr e de melancolia.

Mas por que essa impressão de con- tentamento? Por terem visto, na tris- teza de tôda aquela gente que ao cemi- tério havia acorrido, o preito de uma justiça unânime feita a Francisco Ve- nâncio Filho. Ali se encontrava, real- mente, uma multidão, e nessa multidão havia pessoas de tôdas as categorias: havia ricos e pobres, grandes nomes das letras, da sociedade, da política, e anônimos, e analfabetos. E muitas des- sas pessoas choravam, choravam sem acanhamento ou sem disfarce, no mo- mento de levar ao túmulo o amigo.

Por que isso? Aquele homem que le- varam ao túmulo tinha sido em vida um modesto, um tímido, voluntariamen- te um obscuro. De seu, possuia ape- nas as pobres coisas espirituais: uma bondade enorme, uma bonita inteligên- cia, um espírito pronto a acolhimento de todos... Nunca possuíra, porém, fortuna, nunca teve à sua disposição empregos a dar a ninguém. E bastaram seus atributos gratuitos do espírito, pa- ra lhe dar um número tão considerável de amigos, de amigos que se souberam conservar fiéis até a morte?... A nós, tão decepcionados da sinceridade hu- mana, esse espetáculo pareceu em ver- dade digno de nota.

*

Defini acima Francisco Venâncio Fi- lho como um homem modesto, tímido, que se votou voluntariamente à obs- curidade. E crejo que esse é o verda- deiro traço característico dêsse extra- ordinário homem.

Podendo, pelas qualidades da inteli- gência, aspirar aos primeiros postos,

êle preferiu sempre ficar na sombra. Sua alegria consistia em ver os amigos — aquêles em que êle reconhecia as le- gítimas qualidades do talento e do sa- ber — atingirem as grandes posições. E era infatigável na propaganda que deles fazia.

Seu culto por Euclides da Cunha foi obsessivo, e acabou sendo a única ver- dadeira expressão de sua existência. Acredito que Francisco Venâncio Fi- lho não chegou a conhecer Euclides pessoalmente. Quando o escritor fale- ceu, assassinado, num mísero subúrbio carioca, Francisco Venâncio Filho era ainda rapazinho, e cursava o Colégio Aquino. Teria, já, porém, à distância, a fascinação deslumbrada daquele in- comparável mestre de estilo. Sei que esse havia de ser o seu estado de espí- rito aos 15 anos, porque tive, em meu tempo de estudos secundários, compa- nheiros que, como Orlando Sete, aca- baram sabendo os Sertões de cor... Embora não possuísse tão boa memó- ria, eu fui, também, na adolescência (como ainda o sou hoje) um fascinado de Euclides da Cunha. O primeiro arti- go que tentei escrever tinha como mo- dêlo os estudos estupendos de Contras- tes e Confrontos. Pretendia ser sôbre Hegel (filósofo áspero e rebarbativo, que eu nunca tinha lido) e sua primeira frase, ingenuamente vazia de sentido. era de uma sonoridade eloqüente e re- tumbante.

Mas àquele tempo — quer dizer, em 1911 — havia nesta Capital, cursando o Pedro II, um grupo de rapazes que, como os ginasianos de Pernambuco e de todo o Brasil, amavam desespera- damente o estilo e as idéias de Eucli- des. Chamavam-se, alguns deles, Mu- rilo Araújo, Edgar Sussekind de Men- donça, Carlos Sussekind de Mendonça

(os dois últimos, filhos de um ilustre poeta, Lúcio de Mendonça) . Esses me- ninos deliberaram, um dia, mostrar o seu apreço pelo mestre escritor, que tombara morto, e foi assim, que nasceu o " Grêmio Euclides da Cunha''. Logo foi eleito presidente da instituição Mu- rilo Araújo. E logo o Grêmio delibe- rou editar uma revista — Ciência e Musa — da qual saiu apenas um nú- mero.

Em 1913, esses rapazes sairam do Pe- dro I I . A esse tempo, achavam-se mais conscientemente certos da necessidade e da razão de ser de sua resolução co- legial, e deliberaram dar âmbito nacio- nal ao "Grêmio Euclides da Cunha". Foi então que o Grêmio se impôs a to- dos nós. Dele faziam parte — além dos já citados Murilo Araújo e Edgar e Carlos Sussekind de Mendonça — Pe- dro Cúrio de Carvalho, Raul Sena Cal- das, Armando Álvaro Alberto e sua ir- mã (que se tornou Madame Edgar Sussekind de Mendonça), Roberto Lira, Maurício Joppert, Rui Castro, Fran- cisco Venâncio Filho.

Nessa nova fase o Grêmio elegeu seu presidente de honra Alberto Rangel, que fora um dos mais dedicados amigos de Euclides e guardava a religião de sua grande saudade. E editou vários trabalhos necessários à divulgação da glória do seu patrono. Foi assim que apareceu, a partir de 1914, a Revista do Grêmio Euclides da Cunha. Foi as- sim que apareceu, em 1919, o Por pro- testo e adoração — In memoriam de Euclides da Cunha. A Revista do Grê- mio Euclides da Cunha saiu, um núme- ro cada ano, até 1939. Forma hoje uma coleção creio que de 25 números, dos quais infelizmente possuo apenas meia dúzia de fascículos. Acha-se tôda es- gotada, e seria útil, sem dúvida, ree- ditá-la. Essa coleção, juntamente com o In Memoriam, constitui uma fonte de informações insubstituíveis acerca do historiador de guerra sertaneja.

*

Ora, desde que, em 1913, o Grêmio Euclides da Cunha saiu do Pedro II. e veio cá para fora — não teve servi- dor mais exato, mais pontual, mais pie- doso, de que Francisco Venâncio Filho. Êle vivia buscando, pedindo, recolhen- do, catando qualquer dado novo sôbre o seu patrono. A mínima informação inédita sôbre Euclides, êle a recebia como uma dádiva real. Qualquer ar- tigo perdido, que de longe interessasse à obra ou à glória do mestre, êle o re- copiava com amor... Na coleção da Revista do Grêmio Euclides da Cunha

(creio que posso revelá-lo) os artigos anônimos são, quase sem exceção, da autoria de três penas: a de Francisco Venâncio Filho (quando se trata de pesquisa biográfica ou bibliográfica) e a de Edgar ou a de Carlos Sussekind de Mendonça (quando se trata de polê- micas) .

Mas Francisco Venâncio Filho, que assim vivia dedicado à memória de Eu- clides, estendia esse sentimento a ou- tros autores: os felizes escritores que um dia houvessem estado perto do gran- de coração que se atormentara e sofre- ra assistindo ao drama de Canudos... Êle mantinha o culto, também, de Fran- cisco Escobar, o de Valdomiro Silvei- ra, o de Vicente de Carvalho, o de Al- berto Rangel — que tão de perto lhe evocavam seu adorado Euclides. E ti- nha ainda o mesmo sentimento para ou- tros amigos, vivos ou mortos, como, por exemplo, para Jônatas Serrano, sôbre o qual, nas poucas vêzes que nos fala- mos, disse-me sempre palavras tão co- movidas, tão repassadas de admiração e carinho.

Francisco Venâncio Filho viveu, as- sim, sobretudo, no encantamento de ce- lebrar a glória de Euclides. "Foi o

São Paulo daquele Cristo" — diria, outro dia, Pedro Calmon. Na sua ado- ração, costumava êle ir, todos os anos, a São José do Rio Pardo, a cidade sa- grada do euclidismo. Ali, como se sabe, cada mês de agosto, se realiza uma vi- gília cívica de uma semana, em lou- vor e honra do épico que descreveu as batalhas de Canudos.

Êste ano, embora se sentisse seria- mente enfermo, não quis deixar de rea- lizar a sua anual romaria de devoto euclidiano. Ao chegar a São Paulo, assaltou-o a embala, que o matou.

Onde, agora, um outro Francisco Venâncio Filho para prosseguir, no silêncio, na dedicação, na modéstia e na piedade, o culto do grande escritor na- cional? — (Múcio LEÃO, Jornal do Brasil, Rio).

HORACE MANN: O APÓSTOLO DA EDUCAÇÃO POPULAR No dia 4 de maio, no silêncio a que já nos acostumamos quanto às datas ligadas à educação, passou o 150.° ani- versário do nascimento de Horace Mann, o norte-americano venerado pelo mundo inteiro como o " apóstolo da educação", educador que pode ser apontado como o maior esteio da demo- cracia. A influência exercida pelas idéias de Horace Mann em todo o mun- do redundou em benefícios amplos para os povos do universo. O exemplo de Horace Mann, deveria ser citado e nar- rado amplamente no Brasil, sobretudo neste instante em que precisamos de alicerçar firmemente a nossa democra- cia e quando o problema da educação se apresenta como o problema básico da nacionalidade. Num instante em que se assentam medidas e se apontam so- luções para a defesa dos interesses pá- trios, muito teriam a lucrar os respon- sáveis pelo Brasil estudando e meditan- do sôbre os passos que um homem co- mo Horace Mann, numa época difícil e decisiva para sua Pátria soube apon- tar e tornar vitoriosos. Repetimos aqui as palavras que encontramos numa publicação da National Education Association, sôbre a obra e a época de Horace Mann: " Algumas pessoas sen- satas viram o grande perigo que amea- çava a democracia se a América não tivesse escolas para todos, e, rapidamen- te, congregaram seus esforços para evi- tar tal desastre. Conseguiram tamanho êxito na sua cruzada que tal período na história da educação americana é hoje citado não como um período em que a derrota esteve iminente, mas como um período de ressurreição. E o lider dês- te movimento foi Horace Mann. Com uma eloqüência convincente, uma lógica compelidora, despertou um povo apá- tico para apreciar a educação como um

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