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A versão sueca das “igrejas-livres” e a construção da autonomia brasileira.

Panorama histórico das Assembléias de Deus no Brasil

1. Origem do pentecostalismo

2.0 A versão sueca das “igrejas-livres” e a construção da autonomia brasileira.

Além da previsível questão do exercício do poder que os suecos tinham e, parece que, este grupo de obreiros nordestinos tenta subverter, há duas outras questões: l. (a tentativa de organização nacional) e 2. (o “modelo” de liderança de Frida Vingren).

Uma “Convenção Geral” envolvendo todo o país? De onde este grupo tirou esta idéia tão “moderna”, já que isto não existia na Assembléia de Deus? Qual o objetivo de um organismo como este, já que os suecos, na “direção do Espírito Santo”, lideravam essa igreja muito bem? A gravidade da situação transcende à questão do patrimônio que teria sido adquirido pela Missão Sueca. Por ser pequeno e insignificante, ele foi doado, segundo a versão oficial, sem muita dificuldade. A resistência a isto é ideológica, porque os suecos estavam convictos da necessidade de igrejas locais (Alencar, 2000, p. 120).

No diário de Vingren, em seu relato desta convenção, há diversos trechos de artigos e cartas de Lewis Pethrus, escritos posteriormente a sua visita ao Brasil, defendendo a idéia de “igrejas-livres”. Originalmente, portanto, os suecos eram congregacionais, mas os líderes brasileiros não (Vingren, 1973, p. 141-160).

Durante os últimos anos, temos sido enganados aqui na Suécia com a notícia de que os missionários e a missão no Brasil estavam organizados numa (sic) denominação bastante forte. Quem nos disse isto, mencionou que a sede da organização está no Pará e que no princípio consistia somente de três missionários, mas depois se estendeu dominando a obra em todo o Brasil. Os missionários no Brasil, estão, quando se trata do assunto de organização, inteiramente no mesmo ponto de vista que as igrejas livres da Suécia. Todos expuseram a sua perfeita aprovação sobre o pensamento bíblico de igrejas locais livres e independentes, entre as quais deve haver uma colaboração espiritual, mas sem a organização da qual os missionários agora tinham sido acusados que professavam e até praticavam (Vingren, 1973, p.157, grifo nosso).

Em segundo lugar, nesta convenção, foi discutida a posição da mulher no Ministério “em razão de haver diferentes opiniões sobre o trabalho da mulher na igreja” (Vingren, op. cit., p. 158), a Convenção publicou a seguinte declaração:

As irmãs têm todo direito de participar na obra evangélica, testificando de Jesus e a sua salvação, e também apresentando instrução se assim for necessário. Mas não se considera justo que uma irmã tenha a função de pastor de uma igreja ou de ensinadora da mesma, salvo em casos de exceção mencionados em Mt. 12:3-8. Assim dever ser, especialmente quando não existem na igreja irmãos capacitados para pastorear ou ensinar (Ibid., p.158 , grifo nosso).

Moderno demais para a época? Afinal, as mulheres ainda não participavam da vida política do país nem mesmo como eleitoras, mas a Assembléia de Deus permite que elas, excepcionalmente, sejam pastoras e ensinadoras. A Assembléia de Deus no Rio de Janeiro, em 1925 (Conde, 1960, p.229), já havia consagrado uma diaconisa. É a única da história, assunto que morreu completamente depois disto.

Influência de Frida Vingren? Com certeza. Ela prega, canta, toca, escreve poemas, textos escatológicos, visita hospitais, presídios, realiza cultos e – nada comum – dirige a igreja na ausência do marido e, segundo algumas insinuações, na presença também (Alencar, 2000, p. 121). Frida chega a escrever um texto no Mensageiro da Paz (no. 5, maio, 30) disciplinando a conduta dos obreiros.

O projeto nacional da Convenção Geral, então, se viabilizou? Sim e não! Essa tensão entre o desejo dos brasileiros de se organizarem nacionalmente e a doutrina da igreja local sueca, inviabilizou um organismo nacional. Se os brasileiros têm projeto nacional, ele é inviabilizado por um detalhe significativo: além de assumir o “trabalho” de forma genérica como constam nos livros de história oficial, eles precisavam mesmo assumir as principais igrejas, o que não aconteceu pelo que se nota na tabela abaixo.

Na convenção de 30, segundo a versão oficial, os suecos “entregam” a direção do trabalho nas mãos dos brasileiros. Mas entregam o quê? Já que permanecem na liderança das

principais igrejas, e se não são as principais porque ainda não cresceram o suficiente, fatalmente vão tornar-se pois, se encontram nas principais cidades (Alencar, 2000, p. 99). No entanto, os líderes continuam se encontrando, porém, cada vez mais “informalmente”. Seus espaços/igrejas locais vão se fortalecendo em detrimento de uma igreja nacional. Afinal, como disse Pethrus, a ligação era apenas “espiritual” (Alencar, 2000, p. 122).

Tabela 04: “Igrejas Sedes” e pastores em 193144:

MP CIDADE

Igrejas “Sede”

PASTOR PASTORES

ESTRANG. PASTORES NACIONAIS

No. I 01/12/30 Rio de Janeiro Belo Horizonte Recife Maceió Natal Paraíba do Norte Maranhão Manaus Santos Pará Curitiba-Paraná Bahia Pr. Gunnar Vingren Pr. Nills Kastberg Pr. Joel Carlson Pr. Algot Syenson Pr. Francisco Gonzaga Pr. Cícero de Lima Pr. Manoel Cezar Pr. José Moraes Pr. John Sorheim Pr. Nels Nelson Pr. Bruno Skolimowsky Pr. Otto Nelson 07 58,3% 05 41,7% No. 1 01/01/31 Belo Horizonte Porto Alegre Salvador-Bahia S. Paulo45

Pr. Climaco Bueno Aza Pr. Gustavo Nordlmed Pr. Otto Nelson Pr. Samuel Nyströn 09 64,3% 05 35,7% No. 2

15/01/31 Niterói-Estado do Rio Pr. Samuel Heldlum 66,7% 10 33,3% 05

No. 16

15/08/31 Fortaleza-Ceará Belo Horizonte Pr. Antonio Rego Barros Pr. Nills Kastberg 68,7% 11 31,3% 05 No. 21

15/11/31

Maceió Fortaleza

Pr. Antonio Rego Barros Pr. Julião Silva 09 56,3% 06 43,7%

44 Quadro publicado no Mensageiro da Paz, em 1931. Foi mantida a grafia original da época. As edições não

citadas ou omitem esta seção ou simplesmente a repetem sem alteração. O aparecimento dessas igrejas na lista implica, presumivelmente, a “oficialização” delas como “sede” . Por exemplo: a Assembléia de Deus do Ceará é fundada em 1914, oficializada como Igreja em 1929, mas só aparece na lista em agosto de 31.

45 Desde 1927 Daniel Berg e família estão em SP e iniciam a Assembléia de Deus, mas ele nunca assumiu a