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2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICO-EMPÍRICA

2.1 A Teoria das Capacidades Dinâmicas: Origens e Pressupostos

2.1.1 Vertentes das capacidades dinâmicas

A atual construção do campo teórico das capacidases dinâmicas enseja uma variedade de abordagens e postulados sobre os elementos constituintes do acúmulo, configuração e reconfiguração dos recursos tangíveis e intangíveis para o alcance de vantagem competitiva (DOSI; NELSON; NELSON, 1991; TEECE; PISANO, 1994; TEECE; PISANO; SHUEN, 1997; VASCONCELOS; CYRINO, 2000; WINTER, 2000; AMBROSINI; ZAHRA et al., 2006; HELFAT; PETERAF, 2009), BOWMAN, 2009;.

Para Peteraf, Stefano e Verona (2013), o campo da teoria das capacidades dinâmicas está dividido em duas vertentes: uma liderada pela obra produzida por Teece, Pisano e Shuen (1997), e outra por Eisenhardt e Martin (2000). As semelhanças estão no foco dado ao papel das rotinas organizacionais, na gestão dos processos organizacionais e no fato de que a teoria das capacidades dinâmicas é uma continuação da visão baseada em recursos. Já as diferenças são percebidas por Peteraf, Stefano e Verona (2013) de duas maneiras: complementares, de um lado, e de difícil conciliação, por outro. As diferenças complementares estão na questão de que as alianças, desenvolvimento de produto e tomada de decisão são vistas por Eisenhardt e Martin

(2000) como parte da discussão mais geral sobre o tema do que fazem Teece, Pisano e Shuen (1997). As divergências mais difíceis de conciliar ocorrem em maior grau nos aspectos constituintes das capacidades dinâmicas, de como as organizações podem alcançar e manter uma vantagem competitiva por meio das capacidades dinâmicas e sobre a natureza e constituição das mesmas. Os autores divergem, ainda, de como as capacidades se relacionam com os ambientes de alto grau de dinamismo, abordado por Teece, Pisano e Shuen (1997), e a influência do dinamismo de mercados, limitando a efetividade das capacidades dinâmicas, visto em Einsenhardt e Martin (2000).

De acordo com a análise de Peteraf, Stefano e Verona (2013), quanto à manutenção da vantagem competitiva, Teece, Pisane e Shuen (1997) preconizam que essa manutenção estará relacionada com a capacidade desta em se manter única, ou seja, sem ser copiada pelo mercado, já para Einsenhardt e Martin (2000), os recursos dinâmicos não podem ser uma fonte permanente de vantagem competitiva, pois as próprias capacidades dinâmicas são instáveis e substituíveis, violando assim uma condição do modelo VRIO. Quanto à geração de vantagem competitiva, Teece, Pisane e Shuen (1997) afirmam que as capacidades dinâmicas podem ser uma fonte de vantagem competitiva, pois refletem uma capacidade das organizações em inovar, enquanto que para Einsenhardt e Martin (2000), as capacidades dinâmicas podem gerar apenas vantagens limitadas, pois consideram-nas mais homogêneas do que fontes de heterogeneidade.

A compreensão das variações contidas na teoria das capacidades dinâmicas deve partir da sua origem na visão baseada em recursos e das propostas de Barney (1991) quanto à natureza dos recursos e a dimensão da vantagem competitiva relacionada com as capacidades dinâmicas, afirmam Peteraf, Stefano e Verona (2013). Sendo assim, encontram-se nas propostas de hierarquia das capacidades de Teece (2012), Andreeva e Chaika (2006), Ambrosini e Bowman (2009) e Wang e Ahmed, (2007) uma fonte vital para a compreensão da dimensão concreta destas capacidades, sua variedade e mutabilidade. A hierarquia das capacidades, proposta por Wang e Ahmed (2007), permite aos gestores organizacionais definirem, sob a ótica da administração estratégica e vantagem competitiva, os mecanismos para atuação em mercados de dinâmicas variadas, sejam mercados altamente competitivos e mutáveis ou moderados e será utilizada como uma das abordagens de análise neste trabalho, por isso será melhor detalhada no próximo capítulo.

Dentre os trabalhos que utilizam a teoria das capacidades dinâmicas associando-a a diferentes temas, tem-se como exemplo os autores que discutem o as capacidades dinâmicas e a Inovação (BURLAMAQUI; PROENÇA, 2003). Alguns autores como Vargas e

Martins(2017), He e Wong (2014) e Souza, (2016) trabalham o conceito de Ambidestria, enquanto a Orientação Empreendedora é discutida por Teece (2012) e Helfat e Peteraf (2014). A criação de valor no âmbito das capacidades dinâmicas é citada por Teece et al. (1997) ,Zollo e Winter (2002), Ambrosini e Bowman (2003), Zahra et al. (2006), e Helfat e Winter (2011).

O comportamento empreendedor faz parte da obra de Zahra et al. (2006), Teece (2007), Helfat e Peteraf (2014) e Tondolo et al. (2014), enquanto a aprendizagem organizacional é tratada por Eisenhardt e Martin (2000), a gestão do conhecimento também por Eisenhardt e Martin (2000) e por Zolo e Winter (2012), a inovação por Souza (2016). O uso intensivo de tecnologia é abordado em Teece et al. (1997) e Wu (2006), o desempenho da organização em Teece e Pisano (1994) e Wang e Ahmed, 2007) e Wu (2007), Ambrosini e Bowman (2009), já o capital social organizacional é abordado em Tondolo, et al (2015).

Guerra, Tondolo e Camargo(2016) apresentam três fontes de ambiguidades na teoria das capacidades dinâmicas: i) a que trata do desenvolvimento das capacidades dinâmicas como um processo interno das organizações, diferenciado para cada uma delas, o que se torna um obstáculo no entendimento de como essas capacidades são desenvolvidas; ii) a verificação do grau de determinação do ambiente externo nestas capacidades e qual a influência de ambientes mais estáveis no seu desenvolvimento; e iii) qual a relação entre o desempenho obtido pelas organizações e as capacidades dinâmicas e se a relação com o desempenho é direta ou indireta.

Vários trabalhos teóricos e de revisão bibliográfica envolvendo a temática das capacidades dinâmicas têm sido desenvolvidos no Brasil como Meireles e Camargo (2014), Cardoso e Kato (2015), Guerra, Tondolo e Camargo (2016), Herrmann e Becker (2016), Moreira e Moraes (2016). Alguns autores, de forma inédita ou complementar, aplicam as premissas da teoria em diferentes contextos organizacionais como Maciel, Sato e Kato (2011), voltados para a compreensão das capacidades dinâmicas como rituais de interação entre alta e média gerência, já Bispo, Gimenez e Kato (2016) abordam a relação que as configurações de ambiente, estratégia, capacidades dinâmicas e competição estabelecem com o desempenho de pequenas empresas do setor de confecções e Alves et al (2017) apresentam um modelo para avaliar as perspectivas das capacidades de inovação e dinâmicas a partir de quatro capacidades essenciais: capacidades de desenvolvimento, de operações, gerenciamento e transações.

Especificamente envolvendo a teoria das capacidades dinâmicas com o contexto de incubadoras e empresas incubadas, foram encontrados os trabalhos de Tondolo et al (2015) que abordam a relação entre capacidades dinâmicas e capital social organizacional em incubadora e parque tecnológico. E o trabalho que mais se aproximou dos objetivos desta pesquisa foi o de

Andino (2005) que analisa o impacto do processo de incubação das empresas usando as dimensões capacidade de inovação, capacidade financeira e capacidade gerencial para medir o impacto do processo de incubação em comparação com empresas não incubadas. Os resultados mostraram que não houve diferença estatisticamente significativa entre as empresas incubadas e as não incubadas. Mas, o autor ressalta que houve diferenças importantes na capacidade de inovação e gerencial, sendo mais positivas nas empresas incubadas.