• Nenhum resultado encontrado

Saiba Mais

3.3 Vetores contemporâneos de discussão: religião e etnia

3.3.3 Vetores contemporâneos de discussão: gênero

Carta das Nações Unidas e a violação dos direitos e liberdades fundamentais proclamados na Declaração Universal dos Direitos Humanos.

A Declaração, ainda, determinou que nenhum Estado, instituição, grupo ou indivíduo deverá fazer qualquer discriminação em matéria de Direitos Humanos e liberdades fundamentais no tratamento de pessoas com base na raça, cor ou origem étnica.

A Constituição Federal expressou em normas constitucionais a proteção aos Direitos Humanos étnicos. Em seu artigo 3º, assegura como objetivo fundamental da República Federativa do Brasil, em seu inciso IV, a promoção do bem-estar de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação. Garantiu, igualmente, em seu art. 5º, a igualdade de todas as pessoas, sem distinção de qualquer natureza.

As relações internacionais são regidas, dentre outros princípios, pelo repúdio ao terrorismo e ao racismo, (art. 4º, inciso VIII, da CF) e a prevalência dos Direitos Humanos (art. 4º, inciso II, da CF). Há que se destacar, ainda, a promulgação da Lei n. 7.716/1989 que definiu os crimes resultantes de preconceito de raça, cor, etnia, religião ou procedência nacional.

Esse é o panorama legislativo relativo aos Direitos Humanos, especificamente quando se trata do tema da etnia. A diversidade de grupos étnicos e raciais faz com que o Brasil seja uma das sociedades mais ricas nesse ponto, mas historicamente uma das mais desiguais e discriminatórias, especialmente no tocante aos negros e indígenas, o que impede que o pleno desenvolvimento econômico, político e social seja alcançado (UNESCO, 2017). Ações afirmativas por parte do Estado, como a instituição de cotas nas universidades, vem sendo implantadas, a fim de que o ambiente histórico de desigualdade étnico-social seja amenizado.

3.3.3 Vetores contemporâneos de discussão: gênero

O último vetor contemporâneo que se pretende trazer para discussão é o tema de “gênero”. Isto é, os Direitos Humanos têm relação estreita com a proteção das mulheres em relação à discriminação de gênero, a qual é materializada em uma enormidade de exemplos.

40 Sobre o tema, vale retomar a Convenção sobre a Eliminação de todas as Formas de Discriminação contra a Mulher, adotada pela Assembleia Geral das Nações Unidas, em 1979. Essa convenção teve por objetivo assegurar a igualdade e eliminar a discriminação contra a mulher, que significa, conforme o próprio texto da Convenção, a exclusão ou restrição baseada no sexo e que tenha por objeto ou resultado prejudicar ou anular o reconhecimento, gozo ou exercício pela mulher dos Direitos Humanos e liberdades fundamentais nos campos político, econômico, social, cultural e civil ou em qualquer outro campo (art. 1º da Convenção).

Convenção sobre a Eliminação de todas as formas de Discriminação contra a Mulher

Artigo 4.º Os Estados devem condenar a violência contra as mulheres e não devem invocar quaisquer costumes, tradições ou considerações religiosas para se furtar às suas obrigações quanto à eliminação da mesma. Os Estados devem prosseguir, através de todos os meios adequados e sem demora, uma política tendente à eliminação da violência contra as mulheres e, com este objectivo, devem:

a) Considerar a possibilidade de, caso o não tenham ainda feito, ratificar ou aderir à Convenção sobre a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação contra as Mulheres ou de retirar as reservas que tenham aposto a esta Convenção;

b) Abster-se de qualquer acto de violência contra as mulheres;

c) Actuar com a devida diligência a fim de prevenir, investigar e, em conformidade com a legislação nacional, punir os actos de violência contra as mulheres perpetrados, quer pelo Estado, quer por particulares;

d) Prever, no seu direito interno, sanções penais, civis, laborais e administrativas a fim de prevenir e reparar os danos causados às mulheres que são sujeitas a violência; as mulheres sujeitas a violência devem ter acesso aos mecanismos da justiça e, na medida prevista na legislação nacional, a um ressarcimento justo e eficaz dos danos sofridos; os Estados devem também informar as mulheres do seu direito de exigir reparação através dos mecanismos em causa;

e) Considerar a possibilidade de desenvolver planos de acção nacionais a fim de promover a protecção das mulheres contra qualquer forma de violência, ou de incluir disposições para o mesmo fim nos planos já existentes, tendo em conta, conforme apropriado, a cooperação que pode ser prestada por organizações não governamentais, em particular as que se ocupam da questão da violência contra mulheres;

f) Desenvolver, de forma abrangente, abordagens preventivas e todas as medidas de natureza jurídica, política, administrativa e cultural que promovam a protecção das mulheres contra qualquer forma de violência, e garantir que as mulheres não se tornem duplamente vítimas em virtude de leis, práticas de aplicação da lei ou outras intervenções insensíveis às considerações de género;

g) Trabalhar no sentido de garantir, na máxima medida possível tendo em conta os recursos ao seu dispor e, se necessário, no âmbito da cooperação internacional, que as mulheres sujeitas a violência e, sendo caso disso, os seus filhos, recebam assistência especializada, nomeadamente nas áreas da reabilitação, assistência no cuidado e manutenção das crianças,

41

tratamento, aconselhamento e serviços, instalações e programas sociais e de saúde, bem como estruturas de apoio, devendo adoptar todas as outras medidas adequadas.

(...)

A Constituição Federal de 1988, no art. 5º, inciso I, estabeleceu expressamente a igualdade entre homens e mulheres em direitos e obrigações, nos termos da Carta Magna. Outro avanço importante nos Direitos Humanos relacionados ao gênero foi a igualdade entre homens e mulheres no exercício da sociedade conjugal, conforme o art. 226, §5º, da Constituição Federal, o que representa uma importante mudança de visão em comparação ao que foi historicamente elaborado nas legislações predecessoras.

Por fim, vale destacar a Lei n. 11.034/2005, a Lei Maria da Penha, que teve como principal objetivo o combate da violência contra a mulher, considerada como uma questão de saúde pública e violadora dos Direitos Humanos.

Fato é que a igualdade entre as pessoas foi pensada, historicamente, de uma maneira formal, especialmente para a titularidade de direitos. É por essa razão que muitas das Declarações e Convenções já estudadas se utilizaram do termo “universal”, para o fim de amenizar os aspectos que tornavam grupos e classes diferentes entre si do ponto de vista dos direitos e obrigações.

A mulher, por sua vez, passou a gozar de uma série de direitos tão somente após essa mudança de paradigma, tornando a igualdade entre homens e mulheres materialmente verificável.

É possível perceber que há políticas afirmativas que contribuem com a diminuição dessa desigualdade, como, por exemplo, as cotas estabelecidas para a participação das mulheres no Legislativo. A representatividade política das mulheres é um ponto importante de discussão quando se trata de Direitos Humanos na contemporaneidade.

42

Importante

Quanto aos direitos civis, a igualdade entre os gêneros e a proibição da discriminação contra as mulheres é inovação recente, decorrente do constitucionalismo inaugurado em 1988. A partir dos parâmetros constitucionais e internacionais igualitários, fomenta-se a exigência de saneamento da ordem jurídica brasileira, a fim de que medidas normativas sejam adotadas e outras, de conteúdo discriminatório, sejam revogadas. Daí a edição do novo Código Civil brasileiro e a necessidade de reforma da legislação penal da década de 40. Não obstante, os significativos avanços obtidos na esfera constitucional e internacional, reforçados, por vezes, mediante legislação infra-constitucional esparsa, que refletem as reivindicações e anseios contemporâneos das mulheres, ainda persiste na cultura brasileira uma ótica sexista e discriminatória com relação às mulheres, que as impedem de exercer, com plena autonomia e dignidade, seus direitos mais fundamentais (PIOVESAN, 2017, p.19).

Portanto, ainda há muito que se avançar em relação aos Direitos Humanos que venham amenizar as desigualdades entre homens e mulheres, assim como proibir a discriminação contra as mulheres, haja vista a recente inserção constitucional desse tema no Brasil. A cultura brasileira ainda se mostra sexista e discriminatória em relação às mulheres, o que as impede de exercer os seus direitos da mesma forma como os homens, reduzindo-se a sua autonomia e o gozo de uma série de direitos fundamentais.

Resumo da Aula 3

Esta aula abordou o atual cenário jurídico em que os Direitos Humanos estão inseridos no Brasil, assim como os discutiu a partir de alguns vetores contemporâneos, como: religião, etnia e gênero.

Percebeu-se que no ordenamento jurídico brasileiro há a estruturação constitucional dos Direitos Humanos, os quais foram classificados pelas diferentes gerações. Além disso, a cidadania e os Direitos Humanos possuem relação estreita, sendo que o exercício da participação política pressupõe

43 Direitos Humanos e aquela, por sua vez, garante a existência desses direitos ao longo do tempo, havendo verdadeira simbiose entre um e outro.

Além disso, ao tratar dos Direitos Humanos relativos aos aspectos étnico-raciais, verificou-se que as ações afirmativas por parte do Estado, como a instituição de cotas nas universidades, vêm sendo implantadas, a fim de que o ambiente histórico de desigualdade étnico-social seja amenizado, ao passo que, em relação à escolha e ao exercício da religião, a afirmação dos Direitos Humanos relacionados tem por objetivo fazer frente às pretensões absolutas das concepções religiosas.

Documentos relacionados