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Disciplina: Direitos Humanos. Autores: M.e Luis Alberto Hungaro. Revisão de Conteúdos: Murillo Hochuli Castex

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Academic year: 2021

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1 Disciplina: Direitos Humanos

Autores: M.e Luis Alberto Hungaro

Revisão de Conteúdos: Murillo Hochuli Castex Revisão Ortográfica: Juliano de Paula Neitzki Ano: 2018

Copyright © - É expressamente proibida a reprodução do conteúdo deste material integral ou de suas páginas em qualquer meio de comunicação sem autorização escrita da equipe da Assessoria de Marketing da Faculdade São Braz (FSB). O não cumprimento destas solicitações poderá acarretar em cobrança de direitos autorais.

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Luis Alberto Hungaro

Direitos Humanos

1ª Edição

2018 Curitiba, PR Editora São Braz

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3 FICHA CATALOGRÁFICA

HUNGARO, Luis Alberto.

Direitos Humanos / Luis Alberto Hungaro. – Curitiba, 2018.

58 p.

Coordenação Técnica: Marcelo Alvino da Silva.

Revisão de Conteúdos: Murillo Hochuli Castex.

Revisão Ortográfica: Juliano de Paula Neitzki.

Material didático da disciplina de Direitos Humanos – Faculdade São Braz (FSB), 2018.

ISBN 978-85-5475-321-4

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4 PALAVRA DA INSTITUIÇÃO

Caro(a) aluno(a),

Seja bem-vindo(a) à Faculdade São Braz!

Nossa faculdade está localizada em Curitiba, na Rua Cláudio Chatagnier, nº 112, no Bairro Bacacheri, criada e credenciada pela Portaria nº 299 de 27 de dezembro 2012, oferece cursos de Graduação, Pós-Graduação e Extensão Universitária.

A Faculdade assume o compromisso com seus alunos, professores e comunidade de estar sempre sintonizada no objetivo de participar do desenvolvimento do País e de formar não somente bons profissionais, mas também brasileiros conscientes de sua cidadania.

Nossos cursos são desenvolvidos por uma equipe multidisciplinar comprometida com a qualidade do conteúdo oferecido, assim como com as ferramentas de aprendizagem: interatividades pedagógicas, avaliações, plantão de dúvidas via telefone, atendimento via internet, emprego de redes sociais e grupos de estudos o que proporciona excelente integração entre professores e estudantes.

Bons estudos e conte sempre conosco!

Faculdade São Braz

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5 Apresentação da disciplina

Esta disciplina tem por objetivo fornecer a noção básica relativa aos Direitos Humanos, seja com relação à sua conceituação, às Declarações que os reconheceram, assim como aos mecanismos e instrumentos nos quais estão inseridos.

Nesse sentido, pretende-se expor o conceito e o objeto dos Direitos Humanos, assim como o conteúdo jurídico relativo à celebração e incorporação dos tratados e convenções destes no Brasil. Assim, serão realizados e respondidos questionamentos relativos à validade de tratados e convenções que preveem Direitos Humanos no Brasil, assim como a forma pela qual esses documentos normativos são incorporados na ordem jurídica pátria.

Além disso, o sistema global e regional de proteção aos Direitos Humanos será abordado neste curso. O sistema global é estruturado pela Organização das Nações Unidas (ONU), que tem por referência a Declaração Universal dos Direitos Humanos (DUDH), os pactos e demais grandes convenções. O sistema regional interamericano de proteção aos Direitos Humanos, por sua vez, se refere à Organização dos Estados Americanos (OEA) e à Convenção Americana de Direitos Humanos.

Será visto, ainda, o atual cenário jurídico em que os Direitos Humanos estão inseridos no Brasil, assim como discutida esta categoria de direitos a partir de alguns vetores contemporâneos, como: religião, etnia e gênero.

Por fim, serão analisados os principais elementos que possibilitam a aplicação da Lei em matéria de Direitos Humanos, elucidando-se as premissas básicas para tanto, tais como o Estado Democrático de Direito e os princípios que regem a Administração Pública. Além disso, serão abordadas as responsabilidades dos organismos aplicadores das normas que estabelecem os Direitos Humanos: manutenção da ordem pública, prevenção de crimes e prestação de assistência às pessoas. Tratar-se-á do comando, gestão e investigação das violações de Direitos Humanos, abordando-se a forma como cada uma destas atividades se dá.

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6 Aula 1 – Conceituação e contextualização histórica; celebração e incorporação dos tratados e convenções na ordem jurídica nacional;

Tribunal Penal Internacional

Apresentação da aula 1

Esta aula tem por objetivo tratar de temas elementares aos Direitos Humanos, especificamente relacionados ao conceito e à contextualização no qual o conteúdo substancial desses direitos surgiu e passou a se desenvolver ao longo do tempo.

Além disso, será abordado o tema referente à celebração e incorporação dos tratados e convenções de Direitos Humanos na ordem jurídica internacional.

Nesse sentido, serão realizados e respondidos questionamentos relativos à validade de tratados e convenções que preveem Direitos Humanos no Brasil, assim como a forma pela qual esses documentos normativos são incorporados na ordem jurídica pátria. Por fim, pretende-se tratar do tribunal penal internacional, verificando-se a sua competência e função.

1.1 Conceituação e contextualização histórica dos Direitos Humanos

O primeiro passo para estudar os Direitos Humanos é precisamente o tratamento conceitual dessa categoria de direitos, assim como o contexto histórico de sua inserção, dada a importância das lutas sociais e de diversas entidades internacionais para a sua institucionalização.

A conceituação dos Direitos Humanos deve ser iniciada na necessária distinção desta categoria jurídica em relação aos direitos fundamentais.

Enquanto que a expressão “Direitos Humanos” é reservada àquelas reivindicações que se perpetuam no tempo, essenciais ao homem e decorrentes de bases jusnaturalistas, os direitos fundamentais são aqueles relacionados a posições básicas das pessoas, inscritos em diplomas normativos de cada Estado (MENDES; GONET, 2011, p.166).

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7 Direitos Humanos

Fonte: https://s3-sa-east-1.amazonaws.com/cebi.org.br/wp- content/uploads/2018/09/25152851/direito-humanos.jpg

Ou seja, os Direitos Humanos possuem índole filosófica e não manifestam como característica básica a positivação numa ordem jurídica particular. Há manifesta as características universalista e supranacional, as quais remetem a pretensões diretamente relacionadas à pessoa humana e inseridas em documento internacional. Em contraposição a esses elementos, nota-se que os direitos fundamentais vigem em uma ordem jurídica concreta e formalmente estabelecida, o que permite a sua limitação e garantia no espaço e no tempo (CANOTILHO, 2010, p. 359).

Importante

“Essa distinção conceitual não significa que os Direitos Humanos e os direitos fundamentais estejam em esferas estanques, incomunicáveis entre si. Há uma interação recíproca entre eles. Os Direitos Humanos internacionais encontram, muitas vezes, matriz nos direitos fundamentais consagrados pelos Estados e estes, de seu turno, não raro acolhem no seu catálogo de direitos fundamentais os Direitos Humanos proclamados em diplomas e em declarações internacionais”

(MENDES; GONET, 2011, p.166).

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8 Assim, é possível conceituar os Direitos Humanos como aqueles referentes às situações jurídicas resultantes da natureza ou da condição de ser humano e que o direito internacional expressa reconhecimento (ALEXANDRINO, 2007, p. 30). De maneira coerente ao que foi exposto, José Alexandrino considera que os direitos fundamentais representam as situações jurídicas elementares das pessoas reconhecidas constitucionalmente.

Nesse contexto, é possível perceber que a dignidade da pessoa humana ganha destaque quando se pretende conceituar os Direitos Humanos.

Vocabulário

A dignidade da pessoa humana é o valor e o princípio subjacente ao grande mandamento do “respeito ao próximo”, encontrando-se na origem dos direitos materialmente fundamentais para representar o núcleo essencial de cada um deles, assim, os individuais como os políticos e os sociais (BARROSO, 2010, p. 250).

Vale destacar, igualmente, as principais características dos Direitos Humanos. Em primeiro lugar, são direitos considerados (I) fundamentais, pois estão inseridos no bojo das questões essenciais ao ser humano, especialmente quanto à sua autonomia e existência.

Os Direitos Humanos, em segundo lugar, são considerados (II) universais, haja vista que todas as pessoas, independente do lugar onde vivem, nacionalidade ou cultura, têm reconhecida a titularidade destes direitos. Além disso, a terceira característica importante dos Direitos Humanos é a (III) inalienabilidade, que significa a permanência e indisponibilidade destas garantias, pois remetem-se ao princípio da dignidade da pessoa humana. Por fim, é possível dizer que os Direitos Humanos são (IV) interdependentes e inter-relacionados, pois a implementação de certas garantias depende da observância de outras garantias entre si relacionadas.

A evolução histórica dos Direitos Humanos pode ser traçada a partir dos grandes eventos e documentos internacionais elaborados ao longo dos últimos três séculos.

O primeiro documento internacional, a partir da idade moderna, que afirmou os Direitos Humanos, foi a Petition of Rights (1628). O objetivo da

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9 Petition of Rights era limitar o poder do rei Carlos I diante do parlamento, assim como oficializar alguns direitos que os cidadãos consideravam ser fundamentais para os homens, tais como a proibição de prisões legais. Ainda no mesmo século, vale destacar o Bill of Rights (Declaração de Direitos da Inglaterra), em 1689, que tinha também por objetivo limitar os poderes dos reis e garantir Direitos Humanos.

Em seguida, após 100 anos, a Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão foi promulgada na França (1789), contendo 17 artigos. O objetivo deste documento era o de declarar direitos naturais e inalienáveis de presença constante na sociedade.

Declaração de Direitos do Homem e do Cidadão (1789)

Art.1º. Os homens nascem e são livres e iguais em direitos. As distinções sociais só podem fundamentar-se na utilidade comum.

Art. 2º. A finalidade de toda associação política é a conservação dos direitos naturais e imprescritíveis do homem. Esses direitos são a liberdade, a propriedade a segurança e a resistência à opressão.

Art. 3º. O princípio de toda a soberania reside, essencialmente, na nação. Nenhuma operação, nenhum indivíduo pode exercer autoridade que dela não emane expressamente.

Art. 4º. A liberdade consiste em poder fazer tudo que não prejudique o próximo. Assim, o exercício dos direitos naturais de cada homem não tem por limites senão aqueles que asseguram aos outros membros da sociedade o gozo dos mesmos direitos. Estes limites apenas podem ser determinados pela lei.

Art. 5º. A lei não proíbe senão as ações nocivas à sociedade. Tudo que não é vedado pela lei não pode ser obstado e ninguém pode ser constrangido a fazer o que ela não ordene.

(...)

Além dessa declaração ter promovido reformas políticas que davam aos cidadãos o direito à liberdade e igualdade formal, ainda tinha por objetivo estabelecer a tripartição dos poderes.

Em 1864, foi assinado o primeiro de uma série de tratados internacionais, que passou a ser denominado de Convenção de Genebra. Os primeiros tratados dessa convenção tiveram por objetivo estabelecer tratamento humanitário aos prisioneiros de guerra, desenvolvendo-se ao longo dos anos para estabelecer regras internacionais quanto aos conflitos armados. A convenção, ainda,

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10 classificou os crimes de guerra (a exemplo de assassinato de civis, deportação ou confinamento), contra a paz (a exemplo de planejar guerra de agressão) e contra a humanidade (a exemplo de extermínio e escravizações).

Cumpre destacar, igualmente, a Declaração Universal dos Direitos Humanos, aprovada pela Organização das Nações Unidas em 1948, que é um dos principais documentos internacionais que afirmou os Direitos Humanos. Foi fruto do impacto das atrocidades ocorridas durante a 2ª Guerra Mundial e representou manifestação histórica de reconhecimento dos valores supremos da igualdade, liberdade e fraternidade entre os homens.

A Declaração teve por ideal comum atingir todos os povos e todas as nações, a fim de determinar que os membros da sociedade se esforcem, por meio do ensino e educação para promover aos direitos e liberdades constantes na Declaração, assim como adotar medidas progressistas de caráter nacional (SENADO FEDERAL, 2014). Essa Declaração assegura em seu artigo primeiro que “todos os homens nascem livres e iguais em dignidade e direitos. São dotados de razão e consciência e devem agir em relação uns aos outros com espírito de fraternidade”.

Além disso, essa Declaração foi responsável por afirmar a liberdade, de acordo com texto dos artigos 2, 3 e 4:

Declaração Universal dos Direitos Humanos (1948)

Art. 2º Toda pessoa tem capacidade para gozar os direitos e as liberdades estabelecidos nesta Declaração, sem distinção de qualquer espécie, seja de raça, cor, sexo, língua, religião, opinião política ou de outra natureza, origem nacional ou social, riqueza, nascimento, ou qualquer outra condição.

Art. 3º Toda pessoa tem direito à vida, à liberdade e à segurança pessoal

Art. 4° Ninguém será mantido em escravidão ou servidão, a escravidão e o tráfico de escravos serão proibidos em todas as suas formas.

Vale destacar, ainda, a Declaração de Direitos Humanos de Viena, de 1993, decorrente de uma Conferência Mundial sobre Direitos Humanos, sob a sistemática da Organização das Nações Unidas.

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11 Nessa Declaração há a renovação do compromisso aos artigos 55 e 56 da Carta das Nações Unidas, para o fim de garantir a igualdade entre as pessoas e o tratamento universal dos Direitos Humanos.

Importante

“A Declaração Universal, de 1948, foi adotada por voto, com abstenções, num foro então composto por apenas 56 países, e se levarmos em conta que a Declaração de Viena é consensual, envolvendo 171 Estados, a maioria dos quais eram colônias no final dos anos 40, entenderemos que foi em Viena, em 1993, que se logrou conferir caráter efetivamente universal àquele primeiro grande documento internacional definidor dos Direitos Humanos” (PIOVESAN, 2004, p. 63).

Portanto, além de vários outros documentos elaborados ao longo da história, pode-se traçar essas Declarações como os principais documentos internacionais que afirmaram os Direitos Humanos na idade moderna, direitos esses que resultam da natureza ou das condições próprias do ser humano, manifestando características da fundamentalidade, universalidade, inalienabilidade e interdependência.

Pesquise

A Declaração Universal dos Direitos Humanos estabelecida em 1948 pode ser lida na íntegra, no endereço:

https://www.unicef.org/brazil/pt/resources_10133.html

1.2 A celebração e incorporação dos tratados e convenções de Direitos Humanos na ordem jurídica nacional

A análise da forma como a celebração e incorporação dos tratados e convenções de Direitos Humanos se desenvolve depende de cada ordenamento jurídico analisado, pois a soberania é exercida diferentemente em cada Estado, dependendo da estrutura legislativa apresentada.

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12 O ordenamento jurídico brasileiro possui algumas regras para tanto. O artigo 49, inciso I, da Constituição Federal determina que é competência exclusiva do Congresso Nacional a resolução definitiva sobre tratados, acordos ou atos internacionais que acarretem encargos ou compromissos gravosos ao patrimônio nacional.

Isto é, caso a ratificação de tratado internacional compreenda a assunção de encargos pela República Federativa do Brasil, necessariamente a sua assinatura dependerá da análise e aprovação pelo Congresso Nacional.

Há que citar, ainda, o artigo 84, inciso VIII, da Constituição Federal. Como regra de competência, igualmente, esse dispositivo constitucional prevê que ao Presidente da República compete privativamente a celebração de tratados, convenções e atos internacionais, os quais serão sujeitos ao referendo do Congresso Nacional.

Constituição Federal de 1988

Art. 49. É da competência exclusiva do Congresso Nacional:

I - resolver definitivamente sobre tratados, acordos ou atos internacionais que acarretem encargos ou compromissos gravosos ao patrimônio nacional;

Art. 84. Compete privativamente ao Presidente da República:

VIII - celebrar tratados, convenções e atos internacionais, sujeitos a referendo do Congresso Nacional;

A competência para celebração de tratados (presidência) e sua resolução definitiva (congresso nacional) parece clara, no entanto, é necessário questionar:

Para Refletir

Como funciona o processo de assinatura e incorporação desses tratados no ordenamento jurídico brasileiro? Qual o status normativo desses acordos no Brasil?

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13 Há, em primeiro lugar, a fase prévia de negociação, que justamente se remete ao texto do art. 84 da Constituição Federal e é competência privativa do presidente da república. Somado a isso, deve-se destacar que é competência da União Federal a mantença de relações com os Estados estrangeiros e a participação de Organizações Nacionais, nos termos do art. 21 da Constituição Federal. Os poderes na fase de negociação podem ser delegados aos chefes das missões diplomáticas, que estão sob a responsabilidade do Ministério das Relações Exteriores.

Portanto, podem negociar os tratados internacionais em nome da República Federativa do Brasil tanto o chefe do executivo federal quanto o ministro das relações exteriores, representantes acreditados pelo Estado brasileiro em conferências e organizações internacionais (plenipotenciários) e os chefes de missões diplomáticas (RAMINA, 2006, p. 38).

Uma vez assinado o tratado internacional, passa-se à fase de aprovação pelo Congresso Nacional, conforme competência expressa no art. 49, inciso I, da Constituição Federal. A necessidade de aprovação pelo congresso nacional decorre diretamente do sistema de freios e contrapesos natural do sistema republicano. Trata-se de colaboração entre Executivo e Legislativo para a internalização dos tratados internacionais pelo Estado brasileiro.

Essa aprovação se dá mediante a prolação de decreto legislativo pelo Congresso Nacional. A tramitação desse ato internacional na Câmara dos Deputados inicia-se pelo recebimento da Mensagem do Presidente da República, o qual encaminha às casas o inteiro teor do tratado, acompanhado da exposição de motivos ministerial. Distribui-se a “mensagem” às comissões competentes e apresenta-se o projeto de decreto legislativo (normalmente realizado pela comissão de Relações Exteriores e da Defesa Nacional). Há apreciação do tratado pelo Plenário (Câmara dos Deputados). Havendo votação por ambas as casas, por maioria simples (art. 47 da Constituição Federal), passa-se para a promulgação, que se dá mediante ato do presidente do Congresso Nacional.

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Importante

Não gera efeitos a simples assinatura de um tratado se este não for referendado pelo Congresso Nacional, já que o Poder Executivo só pode promover ratificação depois de aprovado o tratado pelo Congresso Nacional (PIOVESAN, 2000, p. 70).

Após a aprovação pelo Congresso Nacional, passa-se à fase da ratificação pelo Presidente da República. Trata-se de ato de governo (discricionário) que confirma e vincula o Estado ao conteúdo discutido no âmbito do ordenamento jurídico internacional.

A promulgação do tratado internacional se dá mediante a troca ou depósito dos instrumentos internacionais de ratificação, passa o tratado a produzir efeitos no âmbito do direito interno e externo. Percebe-se, então, que não é necessária a edição de lei formal para que o tratado seja incluído no ordenamento jurídico brasileiro.

Além disso, conforme §2º do art. 5º da Constituição Federal, os direitos e garantias insculpidas no caput do dispositivo não excluem outros decorrentes do regime e dos princípios por ela adotados, ou dos tratados internacionais em que a República Federativa do Brasil seja parte. Isso significa que há esforço constitucional para dar utilidade e eficácia aos instrumentos internacionais de proteção dos direitos do homem.

Vale destacar, ainda, especificamente sobre os tratados que versem acerca dos Direitos Humanos, que a emenda constitucional n° 45/2004 acrescentou o §3º no artigo 5º da Constituição Federal. O dispositivo tem o seguinte texto: “os tratados e convenções internacionais sobre Direitos Humanos que forem aprovados, em cada Casa do Congresso Nacional, em dois turnos, por três quintos dos votos dos respectivos membros, serão equivalentes às emendas constitucionais”.

Há controvérsia quanto à natureza dos tratados de Direitos Humanos que não tenham sido aprovados por quórum qualificado. Segundo a doutrina, ainda deverão ser considerados como emendas constitucionais (MAZZUOLI, 2010, p.

119), mas o Supremo Tribunal Federal já manifestou que terão caráter supralegal os tratados não aprovados por maioria qualificada.

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15 1.3 Tribunal Penal Internacional

A ascensão do ser humano em âmbito internacional fortaleceu o movimento de jurisdicionalização do Direito Internacional dos Direitos Humanos, seja com a criação das cortes regionais, tais como a europeia, interamericana e africana, seja com a instituição do Tribunal Penal Internacional (TPI).

O Brasil participou ativamente para a criação do TPI, que teve como preparação a Conferência de Roma de 1998, momento em que se elaborou o Estatuto do referido Tribunal. Em 2002, após a 60ª ratificação, iniciou seus trabalhos, com o objetivo de processar e julgar pessoas acusadas de crimes de genocídio, crimes contra a humanidade, crimes de guerra e, futuramente, crimes de agressão (Itamaraty).

Estatuto do Tribunal Penal Internacional

Art. 1º Fica instituído pelo presente um Tribunal Penal Internacional (“o Tribunal”). O Tribunal será uma instituição permanente, estará facultada a exercer sua jurisdição sobre indivíduos com relação aos crimes mais graves de transcendência internacional, em conformidade com o presente Estatuto, e terá caráter complementar às jurisdições penais nacionais. A jurisdição e o funcionamento do Tribunal serão regidos pelas disposições do presente Estatuto.

Como princípio que rege o Tribunal Penal Internacional, pode-se citar o da complementariedade e subsidiariedade, o qual afirma de maneira limitada e secundária a intervenção do Tribunal, mantendo-se o papel principal dos tribunais nacionais na aplicação do direito internacional penal. Ou seja, o TPI atua para situações mais graves em que os Estados não possuem condições ou disposição para processar e julgar responsáveis por crimes indicados no Estatuto de Roma.

A competência do TPI está indicada no art. 5º do Estatuto, quais sejam, crimes de genocídio, crimes contra a humanidade, os crimes de guerra e os crimes de agressão.

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Estatuto do Tribunal Penal Internacional

Art. 5°

Crimes sob a jurisdição do Tribunal

A jurisdição do Tribunal se limitará aos crimes mais graves que preocupam a comunidade internacional em seu conjunto. O Tribunal terá jurisdição, em conformidade com o presente Estatuto, sobre os seguintes crimes:

(a) O crime de genocídio;

(b) Os crimes contra a humanidade;

(c) Os crimes de guerra;

(d) O crime de agressão.

O TPI é estruturado por uma presidência, pelas seções de recurso, julgamento e de instrução, assim como gabinete do procurador e secretaria, conforme o próprio Estatuto do Tribunal descreve.

A sua composição conta com dezoito juízes com mandato de nove anos de duração, os quais ingressam mediante proposta de um dos Estados que integram o Estatuto e após deliberação da assembleia dos Estados Partes (art.

36 do Estatuto).

Saiba Mais

A exemplo das condenações que já ocorreram no Tribunal Penal Internacional, cita-se o caso Dragomir Milosevic, da Bósnia. O general servo-bósnio Dragomir Milosevic era acusado de comandar o cerco à cidade de Sarajevo durante a Guerra da Bósnia (1992-1995), entre outros crimes. Milosevic foi considerado culpado de terror, crimes de guerra, dentre outros, incluindo um ataque a um mercado de Sarajevo em agosto de 1995, que causou a morte de 34 civis e outros 78 ficaram feridos. Foi condenado a 33 anos de prisão, em 2007.

O TPI, como instituição permanente, representa o esforço internacional de coibir a prática de crimes graves e o correspondente senso de impunidade, transmitindo-se mensagem para a sociedade internacional de que não haverá

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17 tolerância para aqueles que cometerem crimes internacionais previstos no Estatuto de Roma.

Resumo da Aula 1

A aula teve como objetivo estudar os Direitos Humanos a partir do seu tratamento conceitual, assim como o contexto histórico de sua inserção, dada a importância das lutas sociais e de diversas entidades internacionais para a sua institucionalização. Também foi verificada a forma como se dá a celebração e incorporação dos tratados e convenções de Direitos Humanos, a qual inicia-se pela assinatura do tratado pelo Presidente da República ou autoridade delegada, posterior aprovação pelo congresso nacional (com a emissão do respectivo decreto legislativo) e encerra-se pela ratificação do Chefe do Executivo. Esse tratado internacional, caso seja aprovado por maioria qualificada, terá natureza de emenda constitucional, caso contrário, será considerado como supra-legal.

Por fim, analisou-se a estrutura e função do Tribunal Penal Internacional, que é instituição permanente criada para coibir e julgar a prática de crimes graves por pessoas que não podem ser julgadas pelas respectivas nações.

Atividade de Aprendizagem

Quais são as principais características dos Direitos Humanos?

Qual a função do Tribunal Penal Internacional para a garantia desses direitos?

Aula 2 – Instrumentos globais e regionais de proteção aos Direitos Humanos; mecanismos internacionais de proteção aos Direitos Humanos

Apresentação da aula 2

A presente aula tem por objetivo tratar da estrutura do sistema internacional de proteção aos Direitos Humanos. Para tanto, será abordado o sistema global que é, em grande medida, estruturado pela Organização das

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18 Nações Unidas (ONU), que tem por referência a Declaração Universal dos Direitos Humanos (DUDH), os pactos e demais grandes convenções.

Também será discorrido sobre o sistema regional interamericano de proteção aos Direitos Humanos, momento em que se abordará a Organização dos Estados Americanos (OEA) e as principais normas internacionais deste âmbito, tais como a Convenção Americana de Direitos Humanos.

Entendidos quais são os instrumentos globais e regionais, serão contemplados os mecanismos internacionais de proteção aos Direitos Humanos, que nada mais são do que as formas de monitoramento e denúncia de violações na esfera internacional. Serão estudados os relatórios, comunicações interestatais e petição individuais, assim como os procedimentos de investigação.

Ressalta-se que esta aula é de extrema importância, pois dará subsídios materiais e procedimentais para garantia e defesa dos Direitos Humanos em âmbito global ou regional.

2.1 A Organização das Nações Unidas (ONU)

Inicialmente, é importante que se registrem os precursores do atual sistema global de proteção aos Direitos Humanos, notadamente sistematizado pela Organização das Nações Unidas (ONU).

O primeiro precursor da Organização das Nações Unidas foi a Convenção de Genebra, de 1929, que deu tratamento especial aos prisioneiros de guerra, definidos pela Convenção como o combatente capturado, que poderia ser um soldado de exército ou membro de milícia ou, ainda, um civil que estivesse na resistência. O segundo precursor foi a Liga das Nações, que tinha por objetivo preservar a paz mundial, logo após o fim da Primeira Guerra Mundial. O terceiro e último precursor do papel da ONU foi a Organização Internacional do Trabalho (OIT), que tinha por finalidade a busca da justiça social e a garantia do justo e digno ambiente de trabalho.

Assim surge a Organização das Nações Unidas, em 24 de outubro de 1945, com a entrada em vigor da Carta das Nações Unidas sobre Organização Internacional. A Carta, em seu art. 1º, indica um dos principais propósitos da ONU: manter a paz e a segurança internacionais de modo a tomar coletivamente,

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19 caso fosse necessário, medidas efetivas para evitar ameaças à paz e reprimir os atos de agressão ou outra qualquer ruptura da paz. Além disso, a ONU tem por objetivo chegar, por meios pacíficos e de conformidade com os princípios da justiça e do direito internacional, a um ajuste ou solução das controvérsias ou situações que possam levar a uma perturbação da paz.

A ONU é baseada no princípio da igualdade, de maneira que todos os Membros deverão cumprir de boa-fé as obrigações assumidas pela respectiva Carta. Além disso, outros princípios orientam a ONU:

Carta das Nações Unidas (ONU)

Artigo 2º. A Organização e seus Membros, para a realização dos propósitos mencionados no Artigo 1, agirão de acordo com os seguintes Princípios:

1. A Organização é baseada no princípio da igualdade de todos os seus Membros.

2. Todos os Membros, a fim de assegurarem para todos em geral os direitos e vantagens resultantes de sua qualidade de Membros, deverão cumprir de boa fé as obrigações por eles assumidas de acordo com a presente Carta.

3. Todos os Membros deverão resolver suas controvérsias internacionais por meios pacíficos, de modo que não sejam ameaçadas a paz, a segurança e a justiça internacionais.

4. Todos os Membros deverão evitar em suas relações internacionais a ameaça ou o uso da força contra a integridade territorial ou a dependência política de qualquer Estado, ou qualquer outra ação incompatível com os Propósitos das Nações Unidas.

5. Todos os Membros darão às Nações toda assistência em qualquer ação a que elas recorrerem de acordo com a presente Carta e se absterão de dar auxílio a qual Estado contra o qual as Nações Unidas agirem de modo preventivo ou coercitivo.

6. A Organização fará com que os Estados que não são Membros das Nações Unidas ajam de acordo com esses Princípios em tudo quanto for necessário à manutenção da paz e da segurança internacionais.

A ONU é estruturada pela Assembleia Geral, pelos conselhos de Segurança Econômico e Social e conselho de Tutela, assim como pela Corte Internacional de Justiça e o Secretariado, conforme art. 7º da Carta das Nações Unidas.

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20 2.2 A Declaração Universal dos Direitos Humanos de 1948 e os pactos internacionais de proteção aos Direitos Humanos

A Declaração Universal dos Direitos Humanos, aprovada pela Organização das Nações Unidas, em 1948, é um dos principais documentos internacionais quanto à afirmação dos Direitos Humanos. Foi fruto do impacto das atrocidades ocorridas durante a 2ª Guerra Mundial e representou manifestação histórica de reconhecimento dos valores supremos da igualdade, liberdade e fraternidade entre os homens.

A Declaração teve por ideal comum atingir todos os povos e todas as nações, a fim de determinar que os membros da sociedade se esforcem, por meio do ensino e educação, para promover os direitos e liberdades constantes na Declaração, assim como adotar medidas progressistas de caráter nacional (SENADO FEDERAL, 2014). Essa Declaração assegura, em seu artigo primeiro, que “todos os homens nascem livres e iguais em dignidade e direitos. São dotados de razão e consciência e devem agir em relação uns aos outros com espírito de fraternidade.”.

Além disso, essa Declaração foi responsável por afirmar que toda pessoa tem capacidade para gozar direitos e liberdades constantes no documento, sem distinção de qualquer espécie, seja de raça, cor, sexo, língua, religião, opinião política ou de qualquer natureza. Afirmou que toda pessoa tem direito à vida, à liberdade e à segurança pessoal, assim como que ninguém poderá ser mantido em escravidão ou servidão, proibindo-se a escravidão em todas as suas formas.

O Pacto Internacional dos Direitos Econômicos, Sociais e Culturais (PIDESC) foi adotado pela ONU em 16 de dezembro de 1966 e ratificado pelo Brasil em 24 de janeiro de 1992. O pacto serve de instrumento assecuratório destinado à garantia do direito ao trabalho e à saúde, além do direito à educação e ao padrão de vida adequado.

Esse pacto, ainda, afirma que todos os povos têm direito à autodeterminação, ao fito de determinar livremente o seu estatuto político e o desenvolvimento econômico, social e cultural.

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Pacto Internacional dos Direitos Econômicos, Sociais e Culturais (PIDESC)

ARTIGO 1º

1. Todos os povos têm direito a autodeterminação. Em virtude desse direito, determinam livremente seu estatuto político e asseguram livremente seu desenvolvimento econômico, social e cultural.

2. Para a consecução de seus objetivos, todos os povos podem dispor livremente de suas riquezas e de seus recursos naturais, sem prejuízo das obrigações decorrentes da cooperação econômica internacional, baseada no princípio do proveito mútuo, e do Direito Internacional. Em caso algum, poderá um povo ser privado de seus próprios meios de subsistência.

3. Os Estados Partes do Presente Pacto, inclusive aqueles que tenham a responsabilidade de administrar territórios não-autônomos e territórios sob tutela, deverão promover o exercício do direito à autodeterminação e respeitar esse direito, em conformidade com as disposições da Carta das Nações Unidas.

No artigo 12, ainda, o Pacto prevê que os Estados Partes reconhecem o direito de toda pessoa de desfrutar o mais elevado nível possível de saúde física e mental, mediante a eleição de medidas para diminuição da mortalidade infantil, desenvolvimento das crianças, melhoria de todos os aspectos do trabalho e do meio ambiente e a prevenção das doenças epidêmicas, profissionais etc.

Outro instrumento importante é o Pacto dos Direitos Civis e Políticos (1966), no qual os Estados Partes estão obrigados a respeitar e assegurar os direitos de seus jurisdicionados. Reconheceu-se, igualmente, a possibilidade de se adotar medidas legislativas para o real cumprimento das obrigações assumidas. O direito à vida, à nacionalidade, à liberdade de expressão e de não ser submetido à tortura estão previstos nesse pacto.

2.3 Convenções globais de proteção aos Direitos Humanos

Diversas são as convenções que foram adotadas desde a Declaração Universal dos Direitos Humanos de 1948, assim, faz-se importante o destaque de algumas delas.

A primeira Convenção que merece destaque se refere à eliminação de todas as formas de discriminação racial, adotada pela Assembleia das Nações Unidas, em 1965, e ratificada pelo Brasil em 1968, com entrada em vigência em 1969. Nessa Convenção há a definição da expressão “discriminação racial”,

(22)

22 como toda distinção, exclusão, restrição ou preferência baseada em raça, cor, descendência ou origem nacional ou ética, que tenha por objeto ou resultado anular ou restringir o reconhecimento de Direitos Humanos e liberdades fundamentais (SENADO FEDERAL, 2013).

Há, igualmente, compromisso dos Estados Partes signatários quanto à adoção de políticas de eliminação de discriminação racial em todas as suas formas, além de não fazer ou encorajar qualquer ato tendente a esse fim, conforme itens do art. 2º da Convenção:

Convenção Internacional sobre a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação Racial

1- Os Estados Partes condenam a discriminação racial e comprometem-se a adotar, por todos os meios apropriados e sem tardar uma política de eliminação da discriminação racial em todas as suas formas e de promoção de entendimento entre todas as raças e para esse fim:

a) Cada Estado Parte compromete-se a efetuar nenhum ato ou prática de discriminação racial contra pessoas, grupos de pessoas ou instituições e fazer com que todas as autoridades públicas nacionais ou locais, se conformem com esta obrigação;

b) Cada Estado Parte compromete-se a não encorajar, defender ou apoiar a discriminação racial praticada por uma pessoa ou uma organização qualquer;

(...)

Com efeito, trata-se de importante Convenção, dada a seriedade na qual questões como segregação racial e o apartheid devem ser analisadas e abordadas pelos Estados, a fim de prevenir, proibir e eliminar todas as práticas dessa natureza nos respectivos territórios.

Em segundo lugar, cita-se a Convenção Relativa ao Estatuto dos Refugiados (1951). Nesse documento há afirmação de que os refugiados deverão ser tratados pelos Estados Partes sem discriminação quanto à raça, à religião ou ao país de origem, a fim de proporcionar aos refugiados em seu território o tratamento ao menos tão favorável quanto o que é proporcionado aos nacionais em relação à liberdade de praticar a sua religião e instrução religiosa dos seus filhos (art. 3º e 4º da Convenção).

Vale destacar, ainda, em terceiro lugar, a Convenção sobre a Eliminação de todas as Formas de Discriminação contra a Mulher, adotada pela Assembleia Geral das Nações Unidas, em 1979.

(23)

23 A convenção tem por objetivo assegurar a igualdade e eliminar a discriminação contra a mulher, que significa, conforme próprio texto da Convenção, a exclusão ou restrição baseada no sexo e que tenha por objeto ou resultado prejudicar ou anular o reconhecimento, gozo ou exercício pela mulher dos Direitos Humanos e liberdades fundamentais nos campos político, econômico, social, cultural e civil ou em qualquer outro campo (art. 1º da Convenção).

Renova-se o fato de que há diversas outras convenções que podem ser citadas, quais sejam, a Convenção contra a Tortura e outros tratamentos e Punições Cruéis, Desumanos e Degradantes (1984); Convenção contra o Genocídio (1949); Convenção sobre os Direitos da Criança (1989). No entanto, é possível concluir que as convenções, juntamente com os Pactos e Declarações anteriormente expostos, representam os instrumentos globais de proteção aos Direitos Humanos.

2.4 Instrumentos regionais de proteção aos Direitos Humanos

É momento, por ora, de analisar os instrumentos regionais de proteção aos Direitos Humanos. Serão compreendidas a Declaração Americana dos Direitos e Deveres do Homem (1948), além da Convenção Americana sobre Direitos Humanos (1969) e a Convenção Interamericana para Prevenir e Punir a Tortura (1985) e a Convenção Interamericana para Prevenir, Punir e Erradicar a Violência contra a Mulher (1994). Trata-se do chamado Sistema Regional Interamericano de proteção aos Direitos Humanos.

2.5 A Declaração Americana dos Direitos e Deveres do Homem (1948)

A Declaração Americana dos Direitos e Deveres do Homem foi fruto da 9ª Conferência Internacional Interamericana, momento em que o Estatuto Definitivo da Organização dos Estados Americanos – OEA foi criado.

É possível perceber da leitura do documento que os Estados Partes declaram reconhecer a função de suas instituições jurídicas e políticas, quais sejam, de proteger os direitos essenciais do homem e a criação de circunstâncias que lhes permitam progredir espiritual e materialmente e alcançar

(24)

24 a felicidade, sendo esses direitos fundamentados nos atributos da pessoa humana (GORCZEVSKI; DIAS, 2012).

Importante

(...) sob uma perspectiva histórica, a Declaração Americana de Direitos e Deveres do Homem trouxe proveitosas contribuições para o Sistema Interamericano, instituindo a compreensão da universalidade dos Direitos Humanos, na medida em que a mera condição de pessoa seria requisito único e exclusivo para a titularidade desses direitos, sendo a dignidade humana o fundamento para esses direitos. Ademais, a Declaração Americana de Direitos e Deveres do Homem logo se fez acompanhar de outros instrumentos normativos internacionais, formando um corpus juris regional de Direitos Humanos, o que abriu novas vias de reflexão quanto às práticas de efetivação dos direitos e a formação de um sistema internacional dos Direitos Humanos, o que reflete, sobretudo, uma consciência ética contemporânea compartilhada pelos Estados acerca de temas centrais no que tange a proteção à pessoa humana (ARAUJO; REBELLO, 2017, p. 41).

Assim, a Convenção representa instrumento de proteção aos Direitos Humanos, integrante do sistema interamericano, no qual os Estados Americanos signatários reconhecem o direito à vida, liberdade e segurança de suas pessoas, além da igualdade perante a lei, o direito de professar crença religiosa, liberdade de expressão, dentre outros, conforme os artigos adiante colacionados.

Declaração Americana de Direitos e Deveres do Homem

(1948)

Artigo 1º Todo ser humano tem direito à vida, à liberdade e à segurança de sua pessoa.

Artigo 2º Todas as pessoas são iguais perante a lei e têm os direitos e deveres consagrados nesta Declaração, sem distinção de raça, língua, crença, ou qualquer outra.

Artigo 3º Toda pessoa tem o direito de professar livremente uma crença religiosa e de manifestá-la e praticá-la pública e particularmente.

Artigo 4º Toda pessoa tem o direito à liberdade de investigação, de opinião e de expressão e difusão do pensamento, por qualquer meio.

Artigo 5º Toda pessoa tem direito à proteção da lei contra os ataques abusivos à sua honra, à sua reputação e à sua vida particular e familiar.

(25)

25 Artigo 6º Toda pessoa tem direito a constituir família, elemento fundamental da sociedade e a receber proteção para ela.

Artigo 7º Toda mulher em estado de gravidez ou em época de lactação, assim como toda criança, tem direito à proteção, cuidados e auxílios especiais.

em todas as suas formas.

(...)

Portanto, essa Declaração representa o ponto de partida para a estruturação e afirmação dos Direitos Humanos no contexto interamericano, integrando esse sistema regional de proteção ao inaugurar a declaração de uma série de direitos relacionados à pessoa humana.

2.6 A Convenção Americana de Direitos Humanos de 1969 (Pacto de São José)

A Convenção Americana de Direitos Humanos de 1969, também chamada de Pacto de São José, pode ser considerada como um dos principais documentos do sistema interamericano de proteção aos Direitos Humanos, pois, além de consolidar liberdades pessoais e um ideal de justiça social, prevê órgãos competentes para tratar do cumprimento de obrigações pelos Estados Partes signatários da Convenção. Os órgãos criados pela Convenção foram: a Comissão Interamericana de Direitos Humanos e a Corte Interamericana de Direitos Humanos.

A Comissão Interamericana de Direitos Humanos foi criada em 1959 e tem por objetivo promover a observância e a defesa dos Direitos Humanos, servindo como órgão consultivo da OEA nesse assunto. A competência da Comissão abrange todos os Estados signatários da Convenção, sendo responsável por formular recomendações para que os Estados partes adotem medidas protetivas de Direitos Humanos e atendam às consultas realizadas pelos membros da OEA (CAMILO, 2016, p. 640).

(26)

26

Importante

A Comissão Interamericana de Direitos Humanos é um órgão principal e autônomo da Organização dos Estados Americanos (OEA), cujo mandato surge com a Carta da OEA e com a Convenção Americana sobre Direitos Humanos, representando todos os países membros da OEA. Está integrada por sete membros independentes que atuam de forma pessoal, os quais não representam nenhum país em particular, sendo eleitos pela Assembleia Geral (CIDH, 2018).

A Corte Interamericana de Direitos Humanos foi criada em 1979. É formada por sete juízes nacionais de seus estados-membros, cada um com mandato de seis anos e escolhido por meio de eleição pela Assembleia Geral da OEA, representando órgão jurisdicional e consultivo em relação às questões de Direitos Humanos que podem ser questionadas pelos Estados (CAMILO, 2016, p. 641).

Ainda que preveja direitos sociais, econômicos e culturais de maneira genérica, a Convenção Americana sobre Direitos é o principal instrumento de proteção dos direitos civis e políticos já concluído no Continente Americano, e o que confere suporte axiológico e completude a todas as legislações internas dos seus Estados partes (MAZZUOLI; GOMES, 2010, p. 08).

A ratificação brasileira da Convenção ocorreu apenas em 1992, sendo que somente os Estados Partes da Organização dos Estados Americanos (OEA) possuem a faculdade de fazer parte da Convenção.

2.7 A Convenção Interamericana para Prevenir e Punir a Tortura (1985) e a Convenção Interamericana para Prevenir, Punir e Erradicar a Violência contra a Mulher (1994)

A Convenção Interamericana para Prevenir e Punir a Tortura, adotada pela Assembleia Geral da Organização dos Estados Americanos, teve por objetivo proibir e eliminar a prática de qualquer tratamento degradante que configure tortura.

O artigo 2° da Convenção estabelece que:

(27)

27

Convenção Interamericana para Prevenir e Punir a Tortura (1985)

Artigo 2

Para os efeitos desta Convenção, entender-se-á por tortura todo ato pelo qual são infligidos intencionalmente a uma pessoa penas ou sofrimentos físicos ou mentais, com fins de investigação criminal, como meio de intimidação, como castigo pessoal, como medida preventiva, como pena ou qualquer outro fim.

Além disso, será caracterizada como tortura a aplicação, sobre uma pessoa, de métodos tendentes a anular a personalidade da vítima, ou a diminuir sua capacidade física ou mental, embora não causem dor física ou angústia psíquica, conforme artigo 2° da Convenção.

A Convenção Interamericana para Prevenir, Punir e Erradicar a Violência contra a Mulher, por sua vez, foi editada pela OEA em 1994 e adotada pelo Brasil em 1995, sendo instrumento de grande relevância para as mulheres, uma vez que reconhece a violência de gênero como algo generalizado na sociedade. Em seu artigo 2°, a Convenção postula que a violência contra a mulher abrange a violência física, sexual e psicológica que poderá ocorrer no âmbito da família ou unidade doméstica, na comunidade ou perpetrada pelo Estado ou seus agentes.

2.8 Mecanismos internacionais de proteção aos Direitos Humanos

Até o momento foram trabalhados os principais instrumentos globais e regionais (interamericanos) de proteção aos Direitos Humanos. Ao tratar dos mecanismos, pretende-se abordar a forma de implementação desses instrumentos e garantia das obrigações assumidas pelos Estados Partes dos instrumentos pactuados. O monitoramento dos Direitos Humanos previstos nos instrumentos globais e regionais podem ser enumerados como:

(I) relatórios;

(II) comunicações interestatais;

(III) petições individuais e procedimentos de investigação.

(28)

28 2.9 Relatórios

Os relatórios podem ser considerados um dos mais antigos mecanismos de verificação e monitoramento dos Direitos Humanos pelos órgãos internacionais. Trata-se de forma de supervisão prevista em alguns dos instrumentos internacionais anteriormente citados, a fim de que o Estado Parte esclareça o cumprimento das obrigações assumidas em determinado pacto.

Esse mecanismo tem por objetivo a realização de análise da situação dos Direitos Humanos, acompanhada das recomendações aos Estados e aos órgãos da Organização sobre as medidas para fortalecer os Direitos Humanos (NOMIZO; CATOLINO, 2015, p. 220).

2.10 Comunicações interestatais

As comunicações interestatais caracterizam-se como procedimento especial em que um Estado Parte denuncia um integrante do mesmo pacto pela violação de Direitos Humanos enumerados em dado instrumento de que ambos são signatários.

As comunicações interestatais representam “outra forma de acesso aos órgãos protetivos internacionais, para que uma Comissão possa intervir caso haja alguma violação de algum direito humano, inclusive com visitas in loco, para melhor se apurar a violação de direitos (NOMIZO; CATOLINO, 2015, p. 220).

Tendo em vista que há uma denúncia por desrespeito aos Direitos Humanos, é imprescindível que o devido processo legal seja garantido, a fim de que o Estado Parte denunciado exerça o contraditório e a ampla defesa se manifeste plenamente em face da denúncia.

2.11 Petições Individuais e os procedimentos de investigação

As petições individuais são meios formais em que qualquer pessoa ou grupo de pessoas pode pleitear a organismos internacionais a defesa de Direitos Humanos entendidos como violados pelo Estado.

Nesse sentido, as petições individuais configuram-se como mecanismos:

(29)

29 postos à disposição de qualquer cidadão para que acione os órgãos de proteção internacional com o intuito de que haja uma efetiva proteção dos Direitos Humanos, na hipótese de, internamente, o Estado não prestar a proteção necessária aos sujeitos (NOMIZO; CATOLINO, 2015, p. 220).

Regulamento da Comissão Interamericana de Direitos Humanos

Artigo 23. Apresentação de petições Qualquer pessoa ou grupo de pessoas, ou entidade não- governamental legalmente reconhecida em um ou mais Estados membros da Organização pode apresentar à Comissão petições em seu próprio nome ou no de terceiras pessoas, sobre supostas violações dos Direitos Humanos reconhecidos, conforme o caso, na Declaração Americana dos Direitos e Deveres do Homem, na Convenção Americana sobre Direitos Humanos “Pacto de San José da Costa Rica”, no Protocolo Adicional à Convenção Americana sobre Direitos Humanos em Matéria de Direitos Econômicos, Sociais e Culturais “Protocolo de San Salvador”, no Protocolo à Convenção Americana sobre Direitos Humanos Referente à Abolição da Pena de Morte, na Convenção Interamericana para Prevenir e Punir a Tortura, na Convenção Interamericana sobre o Desaparecimento Forçado de Pessoas, e na Convenção Interamericana para Prevenir, Punir e Erradicar a Violência contra a Mulher, em conformidade com as respectivas disposições e com as do Estatuto da Comissão e do presente Regulamento. O peticionário poderá designar, na própria petição ou em outro instrumento por escrito, um advogado ou outra pessoa para representá-lo perante a Comissão.

Conforme regulamento da Comissão Interamericana de Direitos Humanos, a petição será recebida e a denúncia sobre as violações dos Direitos Humanos examinada a partir da Declaração Americana dos Direitos e Deveres do Homem, conforme texto do art. 51.

Por fim, há que se destacar os procedimentos de investigação, os quais representam mecanismos destinados a averiguar situações de violação de Direitos Humanos especificamente ocorridas em um país ou território.

São dois os procedimentos de investigação passíveis de instauração: um específico e outro temático. Para os procedimentos específicos a um país, a Comissão indicará um Relator que coletará e analisará informações sobre a violação e Direitos Humanos em dado país. É preparado um relatório para a Comissão de Direitos Humanos para a averiguação da existência ou não das violações investigadas.

(30)

30 Para os procedimentos temáticos, a Comissão de Direitos Humanos cria alguns grupos de trabalho, relatores e representantes especiais, a fim de que sejam averiguadas informações sobre a violação de Direitos Humanos de natureza específica.

Importante

O objetivo de tais procedimentos temáticos é identificar e analisar problemas ou práticas particulares que transgridam os Direitos Humanos e trabalhar no sentido de sua resolução. Os relatores temáticos, qualquer que seja sua designação particular, têm autoridade para receber e lidar com a informação sobre violações de Direitos Humanos (ROVER, 2005, p. 99).

Os procedimentos investigativos integram o rol de mecanismos aptos a averiguar a ocorrência de violação de Direitos Humanos em países signatários de pactos e convenções.

Resumo da Aula 2

A aula teve por objetivo tratar da estrutura do sistema internacional de proteção aos Direitos Humanos. Abordou-se, para tanto, o sistema global de proteção, o qual é estruturado pela Organização das Nações Unidas (ONU), fundado na Declaração Universal dos Direitos Humanos (DUDH). Tratou-se, igualmente, do sistema regional interamericano de proteção aos Direitos Humanos, abordando-se a Organização dos Estados Americanos (OEA) e as principais normas internacionais deste âmbito, tais como a Convenção Americana de Direitos Humanos.

Por fim, foram contemplados os mecanismos existentes para implementar os instrumentos e garantir as obrigações assumidas pelos Estados Partes de Pactos e Convenções. O monitoramento dos Direitos Humanos previstos nos instrumentos globais e regionais foram enumerados e compreendidos como relatórios, comunicações interestatais, petições individuais e procedimentos de investigação.

(31)

31

Atividade de Aprendizagem

O que é a Organização dos Estados Americanos (OEA)? Quais são os pactos que integram o sistema regional interamericano de proteção aos Direitos Humanos? Cite e explique um dos mecanismos de proteção que podem ser utilizados a fim de implementar os direitos previstos nos diversos instrumentos globais e regionais estudados.

Aula 3 – Direitos Humanos e cidadania no Brasil (vetores contemporâneos para a discussão: religião, etnia e gênero)

Apresentação da aula 3

A presente aula tem por objetivo apresentar o atual cenário jurídico em que os Direitos Humanos estão inseridos no Brasil, assim como discutir essa categoria de direitos a partir de alguns vetores contemporâneos, conforme:

religião, etnia e gênero.

As reflexões propostas são de grande valia para se ter uma compreensão correta acerca dos atuais assuntos em discussão quando o tema é Direitos Humanos, notadamente no âmbito nacional.

3.1 Direitos Humanos no Brasil

Não há como estudar os Direitos Humanos no Brasil sem visualizar o conteúdo jurídico da Constituição Federal de 1988. A Declaração Universal dos Direitos do Homem, aprovada pela Assembleia Geral das Nações Unidas, em 1948, possui reflexos na carta magna brasileira, de maneira que serão expostos brevemente os principais dispositivos que representam os alicerces dos Direitos Humanos no Brasil.

Em primeiro lugar, há que se falar da dignidade humana, que ganha destaque no texto constitucional e imputa ao Poder Público o dever de garantir

(32)

32 ao cidadão a satisfação de seus direitos e necessidades mais básicas, assim como a proteção ao mínimo existencial.

O art. 1º da Constituição Federal, em seu inciso terceiro, torna expresso que um dos fundamentos da República Federativa do Brasil é a dignidade da pessoa humana.

Ainda que a atuação estatal se dê mediante a supremacia do interesse público sobre o privado, se aquela infringir a dignidade da pessoa humana, a ação do Estado deverá ser preterida (BARROSO, 2010). A dignidade da pessoa humana está no núcleo essencial dos direitos fundamentais e dela se extrai a tutela do mínimo existencial e da personalidade humana, tanto na sua dimensão física como moral (BARROSO, 2010).

Para além da dignidade da pessoa humana, pode-se classificar os Direitos Humanos constitucionalmente previstos como direitos de primeira, segunda e terceira geração.

Os Direitos Humanos de primeira geração previstos na Constituição Federal são caracterizados como as liberdades públicas que igualaram o ser humano, dando a todo cidadão o direito de agir, ser livre e expressar-se, locomover-se, direito de ter propriedade e de dispor dos seus bens, assim como a presunção de inocência, a legalidade criminal e processual (FERREIRA FILHO, 2005, p. 23). Esses direitos são expressados, quando relacionados à democracia, como a liberdade de expressão, associação e locomoção.

Importante

Luís Roberto Barroso, em relação aos Direitos Humanos de primeira geração que têm estreita relação com a democracia, afirma que: “no tocante a Democracia, é possível considerá-la em uma dimensão predominantemente formal, que inclui a ideia de governo da maioria e de respeito aos direitos individuais, frequentemente referidos como liberdades públicas – como as liberdades de expressão, de associação e de locomoção – realizáveis mediante abstenção ou cumprimento dos deveres negativos pelo Estado” (BARROSO, 2010).

O artigo 5º é o dispositivo constitucional que consagra grande parte dos Direitos Humanos de primeira geração, pois afirma como fundamental o direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, assim como

(33)

33 assegura a liberdade de consciência e crença, a liberdade de expressão, a inviolabilidade da intimidade, da vida privada, dentre outros direitos.

Constituição Federal de 1988

Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes:

I - homens e mulheres são iguais em direitos e obrigações, nos termos desta Constituição;

II - ninguém será obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa senão em virtude de lei;

III - ninguém será submetido a tortura nem a tratamento desumano ou degradante;

IV - é livre a manifestação do pensamento, sendo vedado o anonimato;

V - é assegurado o direito de resposta, proporcional ao agravo, além da indenização por dano material, moral ou à imagem;

VI - é inviolável a liberdade de consciência e de crença, sendo assegurado o livre exercício dos cultos religiosos e garantida, na forma da lei, a proteção aos locais de culto e a suas liturgias;

VII - é assegurada, nos termos da lei, a prestação de assistência religiosa nas entidades civis e militares de internação coletiva;

VIII - ninguém será privado de direitos por motivo de crença religiosa ou de convicção filosófica ou política, salvo se as invocar para eximir-se de obrigação legal a todos imposta e recusar- se a cumprir prestação alternativa, fixada em lei;

IX - é livre a expressão da atividade intelectual, artística, científica e de comunicação, independentemente de censura ou licença;

X - são invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das pessoas, assegurado o direito a indenização pelo dano material ou moral decorrente de sua violação;

XI - a casa é asilo inviolável do indivíduo, ninguém nela podendo penetrar sem consentimento do morador, salvo em caso de flagrante delito ou desastre, ou para prestar socorro, ou, durante o dia, por determinação judicial;

(...)

Os Direitos Humanos de segunda geração, por sua vez, são aqueles que possuem correspondência aos direitos sociais insculpidos, em grande medida, no art. 6º da Constituição Federal. Tratam-se dos direitos que demandam atuação prestacional do Estado, manifestando-se característica, social, cultural ou econômica.

José Afonso da Silva, por sua vez, comenta que os direitos sociais são prestações positivas proporcionadas pelo Estado direta ou indiretamente,

(34)

34 enunciadas em normas constitucionais, que possibilitam melhores condições de vida aos mais fracos, direitos que tendem a realizar a igualização de situações sociais desiguais. São, portanto, direitos que se ligam ao direito de igualdade.

(SILVA, 2009. p. 287)

O art. 6º da Constituição Federal traz alguns dos Direitos Humanos de segunda geração, dos quais o Estado elegeu como prioritários e de necessária proteção e satisfação mediante políticas públicas por si implementadas.

Constituição Federal de 1988

Art. 6º São direitos sociais a educação, a saúde, a alimentação, o trabalho, a moradia, o transporte, o lazer, a segurança, a previdência social, a proteção à maternidade e à infância, a assistência aos desamparados, na forma desta Constituição.

Os Direitos Humanos de terceira geração, por fim, têm relação com objetos intangíveis e que não demandam, necessariamente, de atuação estatal (prestacional) para a sua efetivação, a exemplo da solidariedade, que pode ser verificada como o direito à paz, ao desenvolvimento, ao meio ambiente, à comunicação e ao patrimônio comum da humanidade. Esses direitos foram tratados nas Declarações já estudadas, assim como nos Pactos e Convenções internacionais que reconheceram Direitos Humanos.

3.2 A cidadania e os Direitos Humanos no contexto brasileiro

A cidadania é um dos pilares do Estado Brasileiro. Dalmo de Abreu Dallari ensina que

a cidadania expressa um conjunto de direitos que dá à pessoa a possibilidade de participar ativamente da vida e do governo de seu povo. Quem não tem cidadania está marginalizado ou excluído da vida social e da tomada de decisões, ficando numa posição de inferioridade dentro do grupo social (DALLARI, 1998).

Portanto, a cidadania se mostra como base do Estado Brasileiro e, por isso, é fundamental a participação da população na fiscalização e participação

(35)

35 da atuação estatal. Sobre os direitos que o cidadão possui, tem-se a chamada dignidade da pessoa humana como um dos fundamentos do Estado, em relação intrínseca com a cidadania.

Cidadania

Fonte: http://www.construirnoticias.com.br/wp-content/uploads/2015/09/cidade.jpg

A dignidade da pessoa humana é um princípio base do Estado Brasileiro, que imputa a ele o dever de garantir ao cidadão a satisfação de seus direitos e necessidades mais básicos, ou seja, a proteção ao mínimo existencial. Nesse sentido, Luis Roberto Barroso aponta que: “a dignidade da pessoa humana está no núcleo essencial dos direitos fundamentais, e dela se extrai a tutela do mínimo existencial e da personalidade humana, tanto na sua dimensão física como moral” (BARROSO, 2010).

Saiba Mais

Conforme aponta Luis Roberto Barroso, o mínimo existencial é a locução que identifica o conjunto de bens e utilidades básicas para a subsistência física e indispensável ao desfrute dos direitos em geral (BARROSO, 2010).

Como o princípio da dignidade da pessoa humana é um dos fundamentos da República Federativa do Brasil, trata-se de um dever fundamental do Estado efetivar o respeito a esse princípio, garantindo o mínimo existencial ao cidadão brasileiro e àqueles presentes em seu território.

(36)

36 A relação entre os Direitos Humanos e a cidadania, portanto, está no fato de que os primeiros garantem a possibilidade de exercício de direitos pelos cidadãos, sendo que o exercício da segunda, materializada na participação popular na política, assegura a mantença dos primeiros.

Trata-se, em outras palavras, do direito de ter direitos, pois a igualdade em dignidade e direitos dos seres humanos não é um dado, mas uma convivência coletiva, que requer acesso ao espaço público e a construção de um mundo comum (LAFER, 1997). Nesse sentido, vale a reflexão de Hannah Arendt sobre a interrelação estabelecida entre os Direitos Humanos e cidadania.

Para a filósofa, os Direitos Humanos pressupõem a cidadania, que não é apenas meio, mas um princípio, pois a privação da cidadania interfere gravemente na condição humana (LAFER, 1997).

Diante disso, percebe-se que no ordenamento jurídico brasileiro há a estruturação constitucional dos Direitos Humanos, os quais foram classificados pelas diferentes gerações. Além disso, cidadania e Direitos Humanos possuem relações estreitas, sendo que o exercício da participação política pressupõe Direitos Humanos e aquela, por sua vez, garante a existência desses direitos ao longo do tempo, havendo verdadeira simbiose entre um e outro.

Saiba Mais

Hannah Arendt (1906 – 1975) foi uma filósofa alemã de origem judia, que estudou a formação dos regimes totalitários instaurados ao longo do século XX. Em sua obra, defendeu os direitos individuais contra as "sociedades de massas", desenvolvendo ensaios essenciais para a compreensão de seu período histórico – permeado por guerras e nacionalismos. Para a filósofa, compreender significava enfrentar sem preconceitos a realidade e adotar uma postura crítica face às mensagens do poder.

3.3 Vetores contemporâneos de discussão: religião e etnia

Após a compreensão do contexto em que os Direitos Humanos e a cidadania estão inseridos no ordenamento jurídico brasileiro, serão

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