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Viagem ao Brasil – Tomo II – Cap VI – “Viagem das Fronteiras de Minas Gerais ao

Capítulo 1: A viagem, os antecedentes e a região visitada

4.5 Viagem ao Brasil – Tomo II – Cap VI – “Viagem das Fronteiras de Minas Gerais ao

Gerais ao Arraial da Conquista”

Neste capítulo, Maximiliano esclarece que decidiu seguir o curso do Ribeirão da Ressaca para chegar novamente a Vareda e assim voltar à capitania da Bahia. O príncipe volta a realizar caçadas na região para fim de obter mais espécimes para sua coleção de história natural. Ademais, passa o príncipe algum tempo a observar as práticas dos vaqueiros da região. Segundo Maximiliano,

“A natureza, animada, sempre bela, sempre ativa, e variada, apresenta aqui um sensível contraste com a grande massa dos habitantes, que são tão rudes e ignorantes como o gado a que emprestam os seus assíduos cuidados e que constituem o único objeto de seus pensamentos. Aos ‘vaqueiros’, com propriedade poderíamos chamar homens encourados, pois se vestem de couro da cabeça aos pés. [...] Se as ocupações dos vaqueiros são penosas e fatigantes, em compensação passam o resto do tempo na ociosidade e guardando os seus rebanhos; dormem ou descansam todo o dia. Comer e dormir são as suas únicas distrações.” 269

Maximiliano deixa Vareda pois afirma que não conseguiu ali tantos espécimes para sua coleção de história natural quanto gostaria. Assim, o príncipe segue com sua comitiva rumo a Arraial da Conquista. Sobre seus habitantes, Maximiliano afirma que há muitos jovens desocupados causando transtornos na região270. Além disso, Maximiliano realiza um grande número de caçadas nas proximidades de Conquista.

O príncipe afirma que há alguns grupos de índios Pataxós na região, assim como de índios Camacãs. Ademais, Maximiliano declara que “tendo avistado, na minha viagem através das florestas virgens, ‘Camacãs’ completamente selvagens, tinha eu o desejo de visitar a aldeia desses índios, situada a um dia de viagem do ‘Arraial’, nas

      

269 WIED-NEUWIED, Maximiliano von. Op. cit., p. 402-404.

270 “Grande parte dos moradores de Arraial compõe-se de trabalhadores e rapazes desocupados, que

ocasionam muitos distúrbios, pois não há polícia nesta localidade. A malandrice a uma inclinação imoderada para as bebidas fortes são traços distintivos do caráter desses homens; daí resultam disputas e excessos freqüentes, que tornam detestável esse lugar, de má fama para as pessoas mais sérias e consideradas que vivem em suas fazendas espalhadas em torno. Fomos freqüentemente incomodados por pessoas embriagadas e algumas vezes foi a grande custo que nos desembaraçamos dessa gente, que singularmente nos aborrecia.”. Ibidem, p. 409.

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grandes matas da Serra do Novo Mundo.”271. Deste modo, Maximiliano dirige-se à aldeia dos índios Camacãs, e compara-os àqueles que conheceu ainda em Minas Gerais:

“Os índios ‘Camacãs’ diferem pouco, no aspecto exterior, dos seus irmãos da costa oriental; são bem talhados, de estatura média, robustos; têm ombros largos e bem pronunciados os traços fisionômicos de sua raça. Reconhecem-se de longe porque até os homens deixam cair ao longo das costas os seus compridos cabelos. A pele apresenta uma bela cor morena, algumas vezes bastante carregada, outras um tanto amarelada ou avermelhada. Andam geralmente nus e quando se vetem, é no parcialmente. No primeiro caso, os homens usam, no lugar competente, a ‘tacanhoba’, já mencionada com referência aos Botocudos.”.272

Assim como fizera com os índios Botocudos, mas em menor grau, Maximiliano brevemente descreve não só o aspecto físico dos índios Camacãs com os quais se deparou, mas também aquilo que considera suas “características morais”. É possível refletir no sentido de identificar também a construção de afinidades proposta por Harry Liebersohn entre Maximiliano e os índios Camacãs, que de certo modo também foram mais resistentes às empreitadas colonizatórias dos portugueses. A este respeito, Maximiliano afirma que:

“Os ‘Camacans’ foram outrora um povo inquieto, amigo da liberdade, belicoso,que defendeu palmo a palmo o seu território contra os portugueses e só depois de graves derrotas de viram forçados a embrenhar-se mais profundamente nas florestas; o tempo estendeu também gradativamente a sua ação sobre eles. Entretanto os traços distintivos de sua raça não se apagaram; e são sempre animados de amor por sua terra e pela liberdade; é difícil levá-los para longe dos lugares que nasceram; não vão senão com repugnância para as zonas cultivadas pelos europeus e preferem, como todos os selvagens, voltar às suas florestas sombrias.”273

O príncipe ainda discorre sobre as habitações deste grupo de índios Camacãs, bem como sobre as armas utilizadas na caça e na guerra, e principalmente sobre seus trabalhos manuais, que Maximiliano afirma ser muito superiores aos dos índios Botocudos. Maximiliano declara também que os Camacãs foram receptivos aos estrangeiros que

      

271 WIED-NEUWIED, Maximiliano von. Op. cit., p. 411. 272 Ibidem, p. 413.

273 Ibidem, p. 413.

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chegaram na região, e que com eles realizam trocas constantes, e sobretudo vendem tochas cujo cheiro é muito agradável274.

Em relação ao tratamento das mulheres, Maximiliano alega que “tal como na maioria dos povos selvagens, os homens tratam suas mulheres com certa rudeza, embora sem maldade.”275. O príncipe então passa a descrever as danças realizadas pelos índios Camacãs, bem como os instrumentos musicais utilizados durante estes ritos276.

Figura 24. Festa de dança dos índios Camacãs. 1817. Class. e datado embaixo [pena]: “Índios Camacãs. Março. 1817”. Aquarela e pena. 24,5 cm x 39,8 cm. LÖSCHNER, Renate e KIRSCHSTEIN-GAMBER, Birgit (reds.). Viagem ao Brasil do Príncipe Maximiliano de Wied-Neuwied. Biblioteca Brasiliana da Robert Bosch GmbH. Petrópolis: Kapa Editorial, 2001.

Maximiliano conclui sua descrição dos índios Camacãs, bem como este capítulo, discorrendo sobre os tratamentos oferecidos aos doentes e alguns ritos mortuários praticados. Além disso, o príncipe incluiu dois parágrafos extraídos da Corografia Brasílica sobre os índios Camacãs ao final de seu texto277.

      

274 WIED-NEUWIED, Maximiliano von. Op. cit., p. 414-416. 275 Ibidem, p. 416.

276 Ibidem, p. 416-418. 277 Ibidem, p. 418-419.

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