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5 HISTÓRIA E FORMAÇÃO DO ASSENTAMENTO LYNDOLPHO SILVA

5.3 O ASSENTAMENTO LYNDOLPHO SILVA E A “CONQUISTA” DA TERRA

5.3.2 A vida comunitária atual no assentamento

O Projeto de Assentamento Lyndolpho Silva, atualmente (2018), ainda possui 33 famílias e uma população aproximada de 96 moradores, entre crianças, adolescentes, adultos e idosos. Das 33, somente 29 famílias residem de fato no assentamento; as outras quatro passam a semana fora e vão ao local somente aos finais de semana. Estas quatro não plantam e não criam devido às dificuldades de pastagem e de água, não acessam programas produtivos por conta de inadimplência em outros empréstimos ou por terem chegado recentemente ao assentamentos, não tendo seus nomes na RB, trabalham fora e esperam melhorias estruturais e a chuva para voltarem a residir no local. As outras 29 têm como atividade produtiva central a criação de caprinos, ovinos e aves, o plantio nos quintais produtivos e a produção de ração animal (palma). Alguns possuem barracas em feiras e abrigam conhecidos que os ajudam no trabalho na área.

A comunidade possui somente a associação e alguns chiqueiros como espaço coletivo de discussão e produção, respectivamente. Possui, também, dois bares/mercearias para compras emergenciais (feijão, arroz, massa de cuscuz, farinha, açúcar etc., e bebidas em geral) e um poço artesiano usado por todos. Não possui postos de combustível ou de saúde (os mais

próximos ficam no distrito de Pau Ferro), escolas (deslocam-se até o distrito de Uruás em transporte escolar), transporte coletivo (têm que se deslocar a pé, em carro/moto própria ou de carona até o ponto mais próximo, localizado na pista, a 5 km), cooperativas, igrejas (ocorrem missas e cultos em algumas casas particulares), clubes, feiras etc.

Juntos, participam ativamente das reuniões da associação para a melhoria da vida comunitária, proporcionando cursos, festas para arrecadação de fundos, divulgando e convidando para participação em iniciativas coletivas de aquisição de renda (produção de polpas, bolos, doces) etc. Ao longo dos anos, alguns grupos já tentaram a produção de polpa de frutas, bolos, doces, cocadas e queijo de cabra, a grande maioria sem sucesso por conta de dificuldades de armazenamento e financiamento. Coletivamente, entretanto, realizam mutirões de limpeza da área, reforma da associação, conserto da cerca e de equipamentos de uso comum (bombas d'água) e festividades para arrecadação de fundos para a associação, assemelhando-se às comunidades estudadas por Candido (1964).

Muitos trabalham fora, saindo e retornando diariamente ou semanalmente do assentamento. Alguns trabalham nas fazendas vizinhas, outros vendendo produtos (bolos, galinhas, doces), um é mototaxista, outros são pedreiros, marceneiros etc., sendo o trabalho externo uma das principais formas de aquisição de uma renda extra. Por conta da vizinhança com o assentamento Nossa Senhora de Fátima, que é formado por 80 famílias, e de não ser tão distante do centro de Petrolina (apesar dos 45 km, alguns assentamento são ainda mais distantes), o assentamento recebe muitas visitas; parentes, amigos e/ou compradores e vendedores estão sempre presentes. Por conta da organização interna, recebem também visitas institucionais de universidades, do próprio INCRA, do STR, dentre outras instituições, para demonstração de suas atividades e forma de vida.

A avaliação dos agricultores familiares assentados é de que, apesar do reconhecimento de várias dificuldades, a vida na comunidade é a melhor opção. Quase todos defendem a tranquilidade da área, a amizade entre os moradores, a ajuda mútua, a possibilidade de resolução das demandas e a vida pacata como valores fundamentais à existência, presença e resistência no assentamento. Na comunidade, julgam não estar sujeitos às formas de relação da área urbana, definidas por eles como superficiais; ou ao consumismo que os desvia de seus reais objetivos. Constroem, portanto, formas de relação, valores e normas específicas e diferenciadas, organizando-se através delas (SABOURIN, 2009a; WOORTMANN, K., 1990).

São poucos os conflitos ou diferenças, todos resolvidos coletivamente através da associação. Quase inexistem grupos internos fechados, sendo divididas todas as conquistas

comunitárias, ou convidados todos para participação em programas e/ou projetos de melhorias sociais e/ou produtivas. A comunidade como um todo é aberta, mas a entrada, saída e ou presença no assentamento é sempre aceita com a condição de respeito às normas de convivência. Ao menor sinal de desrespeito, a questão é levada para uma reunião da associação e discutida por todos; já houve casos de expulsão por violência e/ou proibição de entrada por baderna ou perturbação.

Diante de todas as questões citadas, os projetos dos assentados com relação à melhoria da vida na comunidade são mais relacionados à busca por água: construção de poços, acesso a programas de crédito para tal, busca de políticos para fornecimento de auxílios, entre outros. Alguns afirmam a necessidade de reforçar ainda mais a união dos agricultores, exemplificando através do tempo de barraco, época em que afirmam terem agido mais coletivamente. Ainda assim, o objetivo geral é a estruturação da área para a permanência nela, possibilitando também a continuidade das ações pelas próximas gerações da família.

O movimento, atualmente, é de retorno: alguns filhos têm voltado ou ido residir no assentamento, e netos de filhos que residem fora têm ido morar com seus avós para auxílio no trabalho. Os filhos que saem, ou continuam fora, geralmente ajudam seus pais a manterem-se na área, seja através do envio de recursos ou do envio de seus próprios filhos para que ajudem na execução das tarefas. O projeto central é de resistência, desenvolvimento da comunidade, formação de uma estrutura, superação dos bloqueios, fortalecimento de uma condição camponesa, tal como Ploeg (2009) a compreende, constituição de um patrimônio, reprodução da família e garantia de continuidade das ações pelos filhos. As estratégias e práticas para tal, além das questões envolvendo o acesso e manutenção da terra, serão discutidas no item seguinte.

6 PROJETOS, ESTRATÉGIAS E PRÁTICAS NA PRESERVAÇÃO DE UM MODO