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Mapa V Sistemas de abastecimento público do DF

4.3 Vigilância em Saúde no SUS

Em 1995, a proposta de organização de um "subsistema de Vigilância da Saúde no SUS" ganhou contornos mais definidos com o surgimento do debate em torno de um anteprojeto de lei que definiu os objetivos e atribuições de cada nível do SUS, onde incluiu-se a Vigilância à Saúde (MENDES, 1993).Diante disso a atenção a saúde passou a ser definida pelos autores brasileiros, como sendo a maneira como são organizadas e combinadas as diferentes ações de intervenção no processo saúde e doença (CARVALHO E RIBEIRO, 1998). Pain (1998) a conceituou como combinações tecnológicas utilizadas pela organização dos serviços de saúde em determinados espaços-populações, incluindo ações sobre o meio ambiente, grupos populacionais, equipamentos comunitários e usuários de diferentes unidades prestadoras de serviços com distintas complexidades. Assim, entende-se vigilância da saúde como um modelo de atenção.

Esse modelo da vigilância da saúde tem como objetivo instituir um novo modo de relação com a população sob responsabilidade dos serviços de saúde, em que não só os indivíduos devem ser vistos em sua integralidade como também o atendimento deve ser pautado no acolhimento e respeito pelo outro (TEIXEIRA, 1998; PAIN, 1998).

A vigilância da saúde é uma nova forma de resposta social organizada aos problemas de saúde, referenciada pelo conceito positivo de saúde e pelo paradigma da produção social da saúde. Por conseguinte, essa prática tem de, a um tempo, recompor o fracionamento do espaço coletivo de expressão da doença na sociedade, articular as estratégias de intervenção individual e coletiva e atuar sobre todos os nós críticos de

um problema de saúde, com base em um saber interdisciplinar e em um fazer intersetorial (TEIXEIRA, 1998; PAIN, 1998).

Portanto, a vigilância em saúde utiliza como paradigma explicativo, a determinação social do processo saúde-doença, reconhecendo a importância das condições de vida sobre as condições de saúde da população, buscando na promoção estratégias de intervenção na realidade. Tem como características: a intervenção sobre problemas de saúde; ênfase em problemas que requerem atenção e acompanhamento contínuo; operacionalização do conceito de risco; articulação entre as ações de promoção, prevenção, recuperação e reabilitação; atuação intersetorial e ações sobre o território (TEIXEIRA, 1998; PAIN, 1998). Esse modelo de atenção tem como sujeito a equipe de saúde e a população, elegendo como objeto de trabalho os danos, riscos, necessidades e determinantes dos modos de vida e saúde, (AERTS et al., 2004).

A incorporação da noção de risco e especialmente a busca de identificação dos fatores de risco envolvidos na determinação das doenças, não só as infecto-contagiosas mais principalmente as crônico-degenerativas, que passavam a ocupar um lugar predominante no perfil epidemiológico das populações em sociedades industriais (BARRETO, 1994), provocou a modernização das estratégias de ação no campo da Saúde Pública, tanto pela ampliação e diversificação do seu objeto quanto pela incorporação de novas técnicas e instrumentos de geração de informações e organização das intervenções sobre danos, indícios de danos, riscos e condicionantes e determinantes dos problemas de saúde (PAIN, 1992).

A constituição e consolidação da vigilância em saúde no Brasil, foram marcadas pela institucionalização, em 1988, do Sistema Único de Saúde, criação, em 1990, do Centro Nacional de Epidemiologia (CENEPI), estruturação do financiamento das ações de controle de doenças no SUS e a criação em 2003, da Secretaria de Vigilância em Saúde (SVS) do Ministério da Saúde, que passou a assumir as ações de coordenação do Sistema Nacional de Vigilância em Saúde, (BRASIL, 2006d) e cujo objetivo principal é desenvolver ações para minimizar os riscos à saúde, tendo como enfoque principal a promoção da saúde de forma generalizada.

Antes da criação do sistema unificado e descentralizado de saúde (SUDS) e do Sistema Único de Saúde (SUS), na década de 1980, a cisão, do ponto de vista político e organizacional, estava bem estabelecida: de um lado, sob a responsabilidade do extinto INAMPS, estavam as ações de assistência a saúde individual; do outro, sob o comando do Ministério da Saúde, encontravam-se as ações de natureza coletiva, vinculadas, essencialmente, à vigilância, à prevenção e ao controle das doenças transmissíveis. Após a criação do SUS, o planejamento e

a execução de um conjunto de ações passaram a ter um comando único em cada nível de governo, favorecendo a formulação de políticas de saúde mais efetivas. Esse processo tomou como princípios e diretrizes:

1. A universalização do acesso – onde a saúde é reconhecida como um direito fundamental do ser humano, cabendo ao Estado garantir as condições indispensáveis ao seu pleno exercício e o acesso a atenção e assistência à saúde em todos os níveis de complexidade;

2. A equidade – onde se busca diminuir desigualdades. Isto significa tratar desigualmente os desiguais, investindo mais onde a carência é maior;

3. A integralidade – onde se busca garantir o fornecimento de um conjunto articulado e contínuo de ações e serviços preventivos, curativos e coletivos, exigidos em cada caso para todos os níveis de complexidade de assistência. Englobando ações de promoção, proteção e recuperação da saúde;

4. A descentralização e comando único - Um único gestor responde por toda a rede assistencial na sua área de abrangência, conduzindo a negociação com os prestadores e assumindo o comando das políticas de saúde.

5. A resolutividade – onde se procura dar uma solução aos problemas do usuário do serviço de saúde de forma adequada, no local mais próximo de sua residência ou encaminhando-o aonde suas necessidades possam ser atendidas conforme o nível de complexidade e

6. A regionalização e hierarquização - é a aplicação do princípio da territorialidade, com foco na busca de uma lógica sistêmica, evitando a atomização dos sistemas locais de saúde. A hierarquização é expressão desta lógica, buscando entre outros objetivos, a economia de escala,(BRASIL, 2006d).

Paralelamente a criação do SUS, o Ministério da Saúde desenvolveu a estratégia de Saúde da Família (PAIN, 1986), cujos resultados positivos em termos do impacto sobre alguns indicadores de saúde vêm contribuindo para legitimá-la, a ponto de ser considerada hoje o eixo do processo de reorganização dos serviços básicos no SUS (TEIXIERA, 1998). O Programa Saúde da Família (PSF) é uma estratégia para organização da Atenção Básica no SUS, o qual propõe a reorganização das práticas de saúde que leva em conta a adequacão das ações e serviços à realidade da população em cada unidade territorial, definidas em função das características sociais, epidemiológicas e sanitárias. O PSF busca uma prática de saúde que garanta a promoção à saúde, à continuidade do cuidado, a integralidade da atenção, a prevenção e, em especial, a responsabilização pela saúde da população, com ações permanentes de vigilância em saúde (BRASIL, 2008). Esse programa é operacionalizado mediante a implantação de equipes multiprofissionais em unidades básicas de saúde. Essas equipes são responsáveis pelo acompanhamento de um número definido de famílias, localizadas em uma área geográfica delimitada. As equipes atuam com ações de promoção da saúde, prevenção, recuperação, reabilitação de doenças e agravos mais freqüentes e na manutenção da saúde da comunidade. (SES/GDF, 2010b).

Do mesmo modo, esforços no âmbito do Centro Nacional de Epidemiologia, CENEPI, acenaram em 1998, para a possibilidade de apoio financeiro e técnico para a implementação de

sistemas de vigilância da saúde, aí entendidos como vigilância epidemiológica, sanitária e ambiental, em um amplo programa denominado VIGISUS (BRASIL, 1998).

O Projeto VIGISUS é um acordo firmado entre o Banco Internacional para Reconstrução e Desenvolvimento e a República Federativa do Brasil, representado pelo Ministério da Fazenda, no valor de US$ 600 milhões, executado pelo Ministério da Saúde – MS, por meio da Secretaria de Vigilância em Saúde e da Fundação Nacional de Saúde. Seu desenvolvimento está previsto para ocorrer em três fases: VIGISUS I – denominada de Estruturação do Sistema Nacional de Vigilância em Saúde, foi implementada no período de 1999 a 2004 onde foram destinados recursos para a estruturação do Sistema Nacional de Vigilância em Saúde. VIGISUS II, intitulada de Modernização do Sistema Nacional de Vigilância em Saúde, teve o início de sua execução no ano de 2005, sendo finalizada ao final de 2009, envolvia quatro áreas de atuação: a) Vigilância epidemiológica e controle das doenças transmissíveis; b) vigilância ambiental em saúde; c) análise de situação de saúde e vigilância de doenças e agravos não transmissíveis) e fortalecimento institucional da capacidade de gestão em saúde nos estados e municípios (BRASIL, 2006d; BRASIL, 2010f). A terceira e última fase (VIGISUS III), denominada Consolidação do Sistema Nacional de Vigilância em Saúde, está em fase de preparação, prevista para ser executada no período de 2011 a 2015 (BRASIL, 2010f). Essa fase visa contribuir com a redução da carga de doenças e agravos, gerenciando riscos à saúde e fortalecendo a governança dos subsistemas de Saúde Pública e Saúde Indígena. O Projeto pretende desenvolver a capacidade dos níveis federal, estadual e municipal. Ele prioriza o fortalecimento do Sistema Nacional de Vigilância em Saúde no que se refere a estatísticas vitais, doenças não transmissíveis, doenças transmissíveis e saúde ambiental, particularmente nos estados e municípios; a ampliação do acesso e o uso de serviços de saúde por populações indígenas; e a ampliação da efetividade da atenção à saúde indígena por meio de desenvolvimento institucional, melhoria da qualidade e adequação cultural (BRASIL, 2010f).