• Nenhum resultado encontrado

A existência humana direciona-se sempre para “além de si mesma, indicando um sentido”. Então, o importante é primeiramente realizar um sentido, ou seja, é importante que a pessoa assuma atitudes que a aproximem da realização daquilo que tem sentido.64

A existência em si é espiritual, enquanto a “facticidade” é formada “tanto de elementos psicológicos quanto fisiológicos; contém ‘fatos’ tanto psíquicos como corporais. Há a possibilidade de todo ser humano assumir uma atitude diante dos condicionamentos, diante da “facticidade”, atitude esta que pode configurar a chamada força de resistência do espírito. Esta atitude decorre de a pessoa ter sua existência espiritual mobilizada no sentido de uma “responsabilidade livre, contrapondo-a aos condicionamentos da facticidade psicofísica, que o paciente tende a aceitar como seu destino.64

Todo ser humano tem a vontade de buscar um sentido para a vida, e esta vontade é precisamente a principal força motivadora da pessoa. No momento em que a pessoa se pergunta sobre o sentido da vida, expressa o que há de mais humano em si.64

O sentido diz respeito à totalidade da vida de uma pessoa e também ao momento presente. Existe também um sentido último, mais amplo - o sentido da totalidade da vida de todos. Pode-se utilizar a seguinte metáfora: um filme é feito com milhares de fotos. Cada uma tem um sentido, mas o sentido do filme todo só será compreensível ao final da exibição. Então, só é possível compreender o sentido da vida de uma pessoa como um todo no encerramento desta vida, ou após o encerramento.64

Para Viktor Frankl, conforme já explicado, a principal força motivadora do ser humano é a busca por um sentido para a vida (Frankl, 1948/1993). Toda a dinâmica da vida de uma pessoa parte primordialmente da vontade de descobrir um sentido para a sua existência.64

41

Se a principal força motivadora do ser humano é a busca do sentido da vida (Frankl, 1948/1993), é a busca deste sentido a raiz da motivação para a pessoa construir resiliência. “Não se pode conceber algo que condicione o ser humano a ponto de deixá-lo sem a menor liberdade. O ser humano, em última análise, se determina a si mesmo. Aquilo que ele se torna - dentro dos limites dos seus dons e do meio ambiente - é ele que faz de si mesmo.65

Quando se é explicitado os caminhos através dos quais se descobre e vivencia o sentido, reporta-se à vivência de amar e ser amado por alguém. Novamente, coloca-se a questão do sentido. Com isto, estão de acordo Vanistandael e Lecomte ao relatarem que o amor ao próximo pode conferir sentido à existência e que a fé e uma filosofia de vida, expressas em uma religiosidade sem sectarismos, bem como a “capacidade de situar o acidente em uma perspectiva ampla, filosófica”, ajudam a suportar e superar o sofrimento.64

Para ele, muitas vezes é difícil ao ser humano compreender o porquê de certas situações dolorosas, porém, a pessoa precisa acreditar por meio da fé e do amor que, se a vida tem sentido, o sofrimento inevitável também o tem. Mesmo que seja quase impossível que este sentido seja entendido racionalmente em uma situação extrema inevitável, ele existe.

Para FRANKL, o que importa é tirar o melhor de cada situação dada. O ‘melhor’, no entanto, é o que em latim se chama optimum – daí o motivo por que falo de um otimismo trágico, isto é, um otimismo diante da tragédia e tendo em vista o potencial humano que, nos seus melhores aspectos, sempre permite: 1. Transformar o sofrimento numa conquista, numa realização humana; 2. extrair da culpa a oportunidade de mudar a si mesmo para melhor; 3. fazer da vida um incentivo para realizar ações responsáveis.65

Muitas vezes, é preciso se colocar no lugar de quem sente ou se inserir na realidade do indivíduo, para se aproximar do status de ‘conhecido’. Mas apenas vivendo, de fato, o fenômeno, para compreender o que realmente ele representa e como é percebido. O observador sintetiza a vida lá dentro de modo sentimental, simplifica a realidade e não tem a menor ideia da feroz luta pela existência, semelhantemente, o provedor de cuidado, ao prestar assistência ao paciente vivendo com DRC, às vezes não percebe, considera ou ignora a globalidade deste ser sob cuidados. Por isso, torna-se imperativo pensar sobre a

42

integralidade do cuidado em saúde no contexto de uma pessoa com um diagnóstico ainda incurável.65

O homem só se torna homem e só é completamente ele mesmo quando fica absorvido pela dedicação a uma tarefa, quando se esquece de si mesmo a serviço de uma causa, ou no amor a uma pessoa. É como o olho, que só pode cumprir sua função de ver o mundo enquanto não vê a si próprio. O sentido tem um caráter objetivo de exigência e está no mundo, não no sujeito que o experiencia.66

O sentido não é moldado pela mente, mas a mente pelo sentido. Em vez de criar um sentido, a mente tem de submeter-se a ele, uma vez encontrado. Segundo Frankl, o sentido da vida é uma realidade ontológica e não uma criação cultural. O sentido da vida simplesmente existe: trata-se apenas de encontrá-lo. Universal no seu valor e individual no seu conteúdo, o sentido da vida é encontrado mediante uma investigação do paciente e do terapeuta em busca de resposta à questão sobre o que somente o paciente, e absolutamente mais ninguém, pode fazer. Para Frankl, nenhum homem inventa o sentido da vida: cada um é cercado e impelido pelo sentido da própria vida. O sentido não pode ser dado ou criado, mas deve ser encontrado. E mais, o sentido não só deve ser achado, como ele pode ser achado. Na busca incansável, o homem é orientado pela consciência. Em uma palavra, a consciência é o órgão do sentido, é a capacidade de descobrir o sentido único e irreprodutível que se esconde em cada situação.67

A vida para Frankl permanecerá dotada de sentido, mesmo se todas as tradições desaparecerem e mesmo se nenhum valor de aplicação geral se mantiver. Conclusivamente, o que o homem procura não é a felicidade em si, mas uma razão para ser feliz. É a vontade de sentido na práxis da existência humana.66

Sofrimento e doença não se equivalem. O homem pode sofrer sem estar doente fisicamente, e estar doente sem sofrer. O sofrimento é tão inerente ao humano que eventualmente o não sofrer pode ser uma doença. E há estados psíquicos doentios nos quais o homem, exatamente por não sofrer, sofre.67

O referencial de Frankl vai ao encontro do que os pacientes renais crônicos em terapia hemodialítica vivenciam. Mediante ao evento traumático e sofrido de ter a possibilidade da perda iminente a sua trajetória existencial muda, e de acordo com a missão que lhe é dada, ele tem o poder de atribui um sentido a sua existência. É possível afirmar que de acordo com

43

as perspectivas de Frankl, que diante de situações que causam sofrimento é uma possibilidade do homem amadurecer e extrair um valor, sentido e significado.

44

4 METODOLOGIA