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Violência e discriminação: exemplos de vulnerabilidade na prostituição

No documento PR BRIENA PADILHA ANDRADE (páginas 103-106)

Eu já sofri violência física e verbal na profissão, uma vez chegou um cliente e queria pagar oitenta reais pelo programa, e eu disse que não ia, ele me respondeu, o que você quer ser mais, você é igual a todas, sua puta, isso é uma agressão (SABRINA).

Ao refletir sobre o que é ou não o ser feminino, pensa-se sobre determinadas atitudes, comportamentos e performances adotas, ou seja, o ser feminino é caracterizado por uma série de componentes ligados à forma de agir e se portar. No que concerne à mulher, em cada sociedade e tempo, existem algumas imposições que ela deve seguir para ser socialmente afirmada como pessoa de valor (RUSSO, 2007). A autora comenta que, conforme o meio sociocultural que a mulher habita, ela deve desempenhar determinados papéis e ações que as fazem ser ou não reconhecidas e respeitas enquanto mulher, enquanto um ser social.

A profissional do sexo geralmente é associada à figura indesejada do feminino, pois atribui- se a elas a vivência livre da sexualidade, a libertinagem, indo contra aos papéis sociais e históricos atribuídos às mulheres, sendo estes os de mãe e submissa ao prazer do outro (RUSSO, 2007).

Quando omitem as diferenças, os estereótipos que cercam esta categoria são utilizados como tentativa de organização de um certo caos, já que a prostituta é o elemento que representa a desorganização do padrão de conduta sexual admitido. É então produzida uma classificação da prostituta que destaca a ideia de perigo e de deformação do seu papel feminino (MORAES, 1996, p.32).

Assim, a mulher que exerce a prostituição é permeada de estigmas, podendo sofrer em sua vida particular inúmeras formas de discriminação por adotar uma profissão oposta aos padrões destinados a uma mulher e, também, por ganhar a vida com atividades que envolvam a sexualidade, muitas vezes sem limites; limites esses que só existem porque são empregadas pela sociedade, padronizando, mais uma vez, as relações afetivas e sexuais humanas.

Tem homens também, às vezes estamos na frente do bar e eles passam e gritam: “o putada”, isso é uma forma de preconceito (HILDA).

Tem lugares que ninguém atende, se você chegar no mercado a caixa vira as costas, o segurança fica atrás (CAPITU).

O ato de exercer a prostituição, muitas vezes, é carregado de um estereótipo tão evidente que a mulher pode ser vista, exclusivamente, pela ótica do trabalho, do que faz, anulando a sua vida pessoal, social, seus princípios e ações, como Russo (2007) apresenta, a vida de carne e osso. Esses esquecimentos e discriminações levam a profissional do sexo a vivenciar situações conflitantes em seu trabalho e vida social, a exemplo da violência, em suas mais variadas formas.

Eu já sofri violência, e foi em uma boate fechada, o homem estava drogado, muito drogado, não sei do que, mas ele estava. Ele queria transar sem preservativo e eu estava grávida de seis mese, e disse que não. Devolvi o dinheiro para ele ir dormir sozinha, e eu iria para outro quarto dormir. Quando fui levantar da cama, ele me pegou pelo pescoço e bateu em meu rosto, minha filha nasceu toda manchada de susto, eu não sei mesmo se isso acontece (CAPITU).

Tem alguns clientes bons que eu aguentava, pois eles gastavam um monte, se me xingavam eu ficava quieta, mas agora eu não fico mais calada para ninguém, se chegar um e me chama de puta, eu vou responder, você sabe que eu sou puta, o que você veio fazer atrás. Sofri agressão física também, levei chute e tapa na cara (SABRINA).

A relação de poder e dominação existente sobre a mulher prostituta geralmente se faz evidente, mostrando-se por meio de atos discriminatórios e de violência física, psicológica, sexual. Esses atos de violência se baseiam no estigma que recai sobre ela e se sustenta pelo patriarcalismo existente em uma sociedade

conservadora.

Essa comunidade de trabalho historicamente vive à margem da sociedade, sendo estereotipada, violentada, física, psicológica ou sexualmente. Os atos violentos podem ser assegurados pela circulação das profissionais em locais inseguros, ocasionando grande exposição a essas mulheres, ainda, pelo fato de o cliente achar que tem poder sobre ela por estar pagando o programa (PENHA et al, 2012).

Em sua pesquisa para a dissertação de mestrado, Diniz (2009), encontrou que as violências mais comuns, sofridas cotidianamente pelas participantes, foram a social e a física, sendo a primeira expressada por discriminação e desqualificação, por parte da sociedade em geral ou de segmentos governamentais no que se refere à assistência e visualização dessas profissionais.

Eu demorei meia hora para retornar de um esquema, e isso tem regra como eu falei, quando eu cheguei a dona da casa estava muito brava, me xingou até de puta, veja bem, até a própria patroa, olha como tem preconceito, ela me xingou um monte (SABRINA).

Diniz (2009), ainda coloca que os atos violentos para com as profissionais do sexo, comumente partem dos rufiões, policiais e clientes. Sendo essas pessoas detentoras de um mascarado ou explícito poder sobre essas profissionais, configurando uma relação desigual marcada por uma sociedade patriarcal, machista, onde a mulher a profissional do sexo é vista, duplamente, como ser menos valorizado por não ser homem e não seguir a postura considerada correta para uma mulher.

Não é justo que as profissionais do sexo tenham que conviver diariamente com essa vulnerabilidade, traduzida em violência e discriminação, simplesmente por exercerem um trabalho em que a sexualidade se faz presente. É necessário refletir sobre essa agravante situação e buscar meios para que essas mulheres possam atuar na prostituição sem que tenham que sofrer ou ser expostas a essas injúrias, munidas pelo desenfreado preconceito de uma sociedade discriminadora e patriarcal.

3.7 LEGALIZAÇÕES: O PROJETO DE LEI GABRIELA LEITE, O QUE PENSAM

No documento PR BRIENA PADILHA ANDRADE (páginas 103-106)