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2. REVISÃO DE LITERATURA

2.3. VIOLÊNCIA SEXUAL

2.3.1. Violência sexual nos ciclos de vida

A violência sexual pode ocorrer em qualquer idade, incluindo a infância. Contudo, cada uma das etapas de vida representa uma fase especial no desenvolvimento de riscos aos abusos sexuais (OMS, 2012).

Abusos sexuais na infância não são incomuns. Contudo, na maioria dos países as crianças do sexo feminino são mais vulneráveis a serem vitimadas por abuso sexual e prostituição forçada que os meninos. As taxas de abusos sexuais em meninas são até 3 vezes maiores que nos meninos. Estudos internacionais realizados na década de 1980 já mostravam uma taxa média de violência sexual durante toda a infância de 20% para as meninas e de 5 a 10% para os meninos (FINKELHOR, 1994a; FINKELHOR, 1994b). Recentemente a OMS aponta que a prevalência de abusos sexuais em meninas é de 18% e de 7,6% para meninos. Pesquisas na África revelam taxas muito mais altas de abusos sexuais em crianças que as taxas globais (WHO, 2013). Neste continente, uma em cada três meninas sofre abuso sexual na infância, enquanto para meninos a média variou de 9% a 18% (REZA et al. 2009; WHO, 2014).

Em muitos casos, os abusos sexuais na infância são descobertos quando responsáveis buscam o serviço de saúde para tratar de problemas físicos ou de comportamento da criança. Por vezes os profissionais de saúde se deparam com sintomas de infecção, lesão genital, dor abdominal, constipação, infecções crônicas e recorrentes das vias urinárias ou problemas de comportamento, os quais ao serem investigados detalhadamente revelam-se como sequelas de abusos sexuais (OPAS, 2003)

As taxas de abuso sexual tendem a subir após o início da puberdade, tornando-se mais altas durante a adolescência. Mulheres e homens jovens têm relatado a iniciação sexual forçada e estupro durante a adolescência (OPAS, 2003). Em um estudo multipaíses da OMS, observou- se que 3-24% das mulheres entrevistadas tiveram sua primeira experiência sexual forçada e que para a maioria isso ocorreu durante a adolescência. Entre 1 e 21% das entrevistadas relataram

abuso sexual infantil abaixo dos 15 anos de idade (GARCIA-MORENO et al., 2005). Um estudo nigeriano identificou que 45% das jovens do sexo feminino e 32% dos jovens do sexo masculino, com idade de 12-21 anos, foram vítimas de uma relação sexual forçada (SLAP, 2003). Outro estudo, conduzido com 280.000 alunos na África do Sul, apontou que, até os 15 anos de idade, aproximadamente 9% dos estudantes relataram sexo forçado no último ano, aumentando para 13% dos estudantes do sexo masculino e 16% das estudantes do sexo feminino até os 19 anos de idade (CIETafrica, 2002). Em uma pesquisa na Suazilândia, os resultados apontaram que em torno de 33% das meninas entrevistadas haviam sofrido um episódio de violência sexual antes dos 18 anos de idade (REZA et al., 2009). Por fim, um estudo na Etiópia com 1.378 estudantes do sexo masculino, revelou que 16,9% dos entrevistados haviam perpetrado atos de violência sexual contra parceira íntima ou outra pessoa (PHILPART et al., 2009).

Enquanto a violência sexual contra crianças ocorre majoritariamente no contexto familiar, na adolescência, além desta forma, muitos jovens, experimentam a violência sexual na escola por seus colegas de classe ou professores como forma de dar-lhes boas classificações ou não reprová-las. Adicionalmente, ainda existem os modelos culturais que legitimam a violência sexual contra crianças e adolescentes. Uma destas formas é a legalidade do casamento em idade precoce. Em alguns países, especialmente da África e Ásia Meridional, o matrimônio com crianças e adolescentes é um costume legal. Nestes casos, as crianças iniciam suas práticas sexuais de forma forçada (OPAS, 2003).

Passando para um outro ciclo de vida, os estudos apontam que as mulheres são as maiores vítimas de violência sexual. A OMS no estudo em 10 países de baixa e média renda, com mulheres entre as idades 15 e 49 anos, diagnosticou que 6-59% das mulheres haviam sofrido violência sexual praticada por um parceiro em algum momento na vida até os 49 anos de idade. No mesmo estudo observou que 0,3-11,5% das entrevistadas relataram ter sofrido violência sexual praticada por um não parceiro a qualquer momento após os 15 anos e até os 49 anos de idade (OMS, 2012; GARCIA-MORENO et al., 2005). Outro estudo aponta que 6- 47% das mulheres entrevistadas relatam tentativa ou realização de sexo forçado praticada pelo parceiro íntimo ao longo de suas vidas (WHO, 2002).

A violência sexual contra a mulher, na maioria das vezes está associada a agressões físicas. Em alguns países em desenvolvimento, mulheres citam que uma das maiores causas de agressão física é o fato da mulher recusar-se a ter relações sexuais com seu companheiro.

(ZIMMERMAN, 1995; MICHAU, 1998; ARMSTRONG, 1998; GONZALES MONTES, 1998).

Já a violência sexual contra o homem é um recorte bem menos pesquisado, provavelmente por atingir este grupo em menor proporção. Além disso, acredita-se que há subnotificadas nas estatísticas de abusos sexuais sofridos pelos homens por várias razões. Dentre as razões, destacam-se a vergonha, a culpa, o medo de não acreditarem em sua denúncia ou o estigma de sua sexualidade. Apesar da escassez dos dados, sabe-se que agressões sexuais contra homens podem ocorrer em locais distintos, sendo mais comum na rua, nas forças armadas, durante as guerras, nos cárceres e nas delegacias de polícia. Nos cárceres, a violência sexual pode se dar entre os prisioneiros como forma de estabelecer hierarquias ou castigar o detento por transgressão de alguma norma social. Ou ainda, podem ser forçado pelos funcionários do presídio, policial ou soldado a terem relações sexuais entre si como forma de “entretenimento” para os mesmos (OPAS, 2003).

Bem menos pesquisados são os casos de violência sexual contra idosos. Contudo, a OPAS (2003) assume que dentre os maus tratos sofridos pelos idosos, estão os abusos sexuais. E com o crescente e rápido envelhecimento das populações em muitos países, nos próximos anos teremos um maior quantitativo de idosos em risco de agressões sexuais. Até 2030, a estimativa é que pessoas idosas representem 13% da população mundial (WHO, 2014).

Quanto aos agressores de violência sexual, observa-se que ela pode ser perpetrada por pais, provedores de cuidados, conhecidos e estranhos, bem como parceiros íntimos e que os maiores perpetradores de abuso sexual, sejam em crianças, adolescentes, mulheres ou idosos são os homens (OPAS, 2003).