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2 A CAMPANHA NEGATIVA NAS ELEIÇÕES

2.3 A visão jurídica de campanha negativa

A noção de campanha negativa também está expressa na legislação eleitoral brasileira. Penas como concessão de direito de resposta, suspensão de propagandas eleitorais e perda de tempo de rádio e TV no horário eleitoral gratuito são comuns de serem aplicadas pelo Judiciário durante os pleitos para cargos majoritários e proporcionais (STEIBEL, 2005).

Vários são os artigos da lei eleitoral brasileira que buscam balizar um comportamento não negativo por parte dos candidatos. O artigo 53 da Lei Federal nº

9.504/1997, conhecida como Lei das Eleições, estabelece que “é vedada a veiculação de

propaganda que possa degradar ou ridicularizar candidatos, sujeitando-se o partido ou coligação infratores à perda do direito à veiculação de propaganda no horário eleitoral gratuito do dia seguinte” (BRASIL, 1997). A pena para quem infringe a norma é a concessão de direito de resposta em seu próprio programa ou a perda do direito de veiculação do programa seguinte. Além disso, a Justiça Eleitoral pode impedir a reapresentação da peça publicitária.

Sobre essa norma, para que não pairem dúvidas, o Tribunal Superior Eleitoral

(TSE) editou acórdão em que esclarece que o limite para a degradação ou a infâmia é “a

preservação da dignidade da pessoa” (BRASIL, 2010). Resguardado esse princípio, a propaganda é considerada legal.

Para Borba (2012a, p. 91), essa vedação “atua no coração da propaganda negativa, criando prudência e receio em sua utilização, ao sujeitar o partido infrator à perda do direito de veiculação de propaganda no horário eleitoral do dia seguinte”. Steibel (2005) avalia que as possíveis penalidades impostas pela lei eleitoral tornam a prática da campanha negativa um desafio, visto que os agentes políticos precisam executar ações eficientes, mas sem correrem o risco de vir a ser punidos pelo TSE com a perda de segundos/minutos em seus programas de rádio e TV. Assim, normas como o direito de resposta são importantes para a democracia:

O Direito de Resposta tem como princípio organizar e manter um espaço baseado na mínima equidade de participação entre todos os candidatos. Visa também manter a base moral da disputa, evitando e punindo aqueles que transgredirem as regras de competição. Mas é importante perceber que, apesar do Direito de Resposta ser pertencente à esfera jurídica, ele se propõe a controlar tanto a esfera política, ao

43 aplicar punições sobre partidos, como a esfera comunicacional, ao limitar argumentos retóricos e interferir na distribuição de tempo e espaço (STEIBEL, 2005, p. 13).

Uma norma que valeu até as eleições de 2014 foi a do inciso IV do artigo 51 que

proibia a realização de “gravações externas, montagens ou trucagens, computação gráfica,

desenhos animados e efeitos especiais” nos spots produzidos para inserções ao longo da programação das emissoras de rádio e TV (BRASIL, 1997). Contudo, esse artigo foi alterado pela minirreforma eleitoral (Lei nº 12.891/2013) e, a partir do pleito de 2016, passará a coibir apenas a veiculação de mensagens que degradem ou ridicularizem candidatos, partidos ou coligações, como já ocorre hoje.

Se as cenas externas, montagens e efeitos especiais serão liberados nas inserções (até 2014, só eram permitidos na publicidade em blocos), um novo artigo foi inserido pela minirreforma eleitoral para coibir a propaganda negativa antecipada. De acordo com o texto aprovado em 2013, serão penalizados chefes dos poderes federais Executivo, Legislativo e Judiciário que venham a convocar redes de radiodifusão para divulgar atos que denotem propaganda política ou para atacar partidos e pessoas (BRASIL, 2013).

Mas engana-se quem pensa que apenas as propagandas em rádio e TV estão regulamentadas contra a propaganda negativa na legislação brasileira. O ataque à honra de adversários na internet também vem sendo coibido desde o pleito de 2010, graças à aprovação da Lei nº 12.034/2009, que regulamentou a campanha eleitoral na web.

A norma, nos artigos 57-D e 58, assegura o direito de resposta a “candidato, partido ou coligação atingidos, ainda que de forma indireta, por conceito, imagem ou afirmação caluniosa, difamatória, injuriosa ou sabidamente inverídica, difundidos por qualquer veículo de comunicação social” (BRASIL, 2009).

Na campanha eleitoral de 2010, foram registrados casos de candidatos penalizados por casos de calúnia e difamação na internet33. O mais repercutido deles foi o do deputado estadual Rui Falcão (PT-SP), condenado, pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE), a conceder direito de resposta ao presidenciável José Serra, pela suposta atribuição de fatos criminosos à campanha deste (BRASIL, 2010). Então coordenador de Comunicação da campanha de Dilma

33 Além do ação de José Serra contra Rui Falcão, pesquisa de jurisprudência sobre o tema na internet traz como

resultado outros casos durante a disputa pelo governo de Goiás, em 2010. O primeiro, em julho, resultou na condenação do deputado federal Carlos Alberto Lereia (PSDB-GO) a retirar de seu perfil no Twitter e de seu site pessoal comentário ofensivo ao então governador Vanderlan Cardoso (PSB). O segundo consistiu também na sentença de retirada de conteúdo do site do candidato ao governo do Estado Íris Rezende (PMDB) e direito de resposta em prol de Marconi Perillo (PSDB), postulante ao mesmo posto, por suposta calúnia (ver http://www.tre-go.jus.br/jurisprudencia/, http://tre-go.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/16723616/representacao- rep-615090-go-tre-go e http://observatoriodaimprensa.com.br/caderno-da- cidadania/_ed704_a_visao_do_tse_e_dos_tres_sobre_a_nova_midia_social/ (acessos em 10/04/2015).

44 Rousseff, que concorria com o tucano no segundo turno, Falcão tuitou:

Cuidado com os telefonemas da turma do Serra. No meio das ligações, pode ter gente capturando seu nome para usar criminosamente... Podem clonar seu número, pode ser ligação de dentro dos presídios, trote, ameaça de sequestro e assim por diante. Identifiquem quem liga!34

Como é possível perceber dos fatos relatados, há regulamentação para coibir conteúdos negativos na legislação brasileira. Contudo, para Borba (2012a, 2012c, 2015), esse controle de conteúdo é excessivo. Como contraponto, o autor cita as campanhas norte- americanas, onde os ataques são liberados entre os candidatos.

Analisando a realidade mexicana, Dworak (2012) tem opinião semelhante e defende o modelo mais liberal. Para reforçar sua opinião, ele cita que entidades como o Tribunal Europeu de Direitos Humanos, o Tribunal Constitucional Alemão e a Corte Interamericana de Direitos Humanos têm se posicionado em favor da liberdade de expressão durante as campanhas eleitorais, de forma que o juízo de valor fique em poder do cidadão. O fato é que, na realidade atual brasileira, a legislação impõe aos candidatos que tenham muito cuidado ao aderir à campanha negativa, sob pena de ceder vários espaços ao adversário como direito de resposta, entre outras penas já citadas.