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Conforme Brandão, Pereira e Dalt (2013), o PBF, desde sua instituição, vem se consolidando a nível internacional como a política de transferência de renda de maior alcance no Brasil em relação ao combate a pobreza e à inclusão educacional. Considerando a perspectiva dos autores, observamos uma pluralidade de concepções referentes à temática.

Traremos a seguir a fala dos participantes deste estudo, acerca do entendimento que têm a respeito do programa:

Todo mundo falava no Bolsa Família. Aí, a comadre Zefinha veio aqui e me chamou para ir e eu fui. [o programa] É pra gente receber e comprar comida, as coisas para levar pra escola, roupa. Já é uma ajuda, não é? (Marta - responsável).

Nesse contexto, as informações expostas representam que a própria comunidade divulga a existência do programa e é mobilizadora no processo de inserção de outras famílias.

Sei direito não. É pra gente receber um dinheiro pros meninos estudar, a gente também tem que levar no posto [de saúde] (Lúcia - responsável).

E ainda, muitas famílias dispõem de informações insuficientes sobre o programa, no entanto estão dispostas a realizar o cadastro e se tornarem beneficiárias.

Pra receber o Bolsa Família, sei que o dinheiro vem do governo pra gente. É dinheiro não é, e a gente tem precisão. É pra botar meus filhos na escola. (Luzia - responsável).

A fala anterior reforça a ideia de que o recebimento do benefício se sobrepõe ao cumprimento das condicionalidades e as famílias se submetem aos procedimentos de cadastro na expectativa de se tornarem beneficiárias. Dentro dessa visão, os filhos demonstram também conhecer o programa:

Para os pais da gente comprar comida, roupa, material da escola e sapato também, não é? Porque a gente precisa pra comprar comida. O dinheiro que meu pai recebe do trabalho dele é muito pouco (Edgar - estudante).

Essa fala reflete a amplitude da influência do PBF no meio familiar. A construção do conhecimento a respeito das condições sociais relatada a partir de uma realidade vivenciada, direciona a reflexão na perspectiva de mudança e de melhorias, a partir da visão que se constitui no âmbito da relação familiar.

Minha mãe me bota [vir à escola], mas eu venho porque gosto. Senão o Bolsa Família é cortado. [minha mãe] me disse: ―Vá pra escola, que se você não for pra escola o Bolsa Família vai ser cortado‖ (Vânia - Estudante) Para Brandão, Pereira e Dalt (2013), as condicionalidades exercem papel primordial para o sucesso do PBF, no tocante à sua focalização e na garantia do acesso aos direitos sociais básicos. Por outro lado, destaca-se a ideia de troca, que se apresenta como fator relevante na disseminação do uso da educação para fins econômicos.

Além das visões das responsáveis e dos estudantes, tivemos o ponto de vista das professoras sobre o PBF, vejamos:

Eu não acredito muito nos Programas de Governo, esses Programas que beneficiam as pessoas todos esses programas, tipo Bolsa Família, todos esses Programas eu não acredito muito porque deixa o cidadão muito passivo. Eles não vão querer mais buscar, eles não querem mais trabalhar, por que eles recebem aquele dinheiro, aquele valor x, que por conta da quantidade de filho aquele valor aumenta e tem pais que não querem mais nada, só receber mesmo o Bolsa Família, ser atendido por esse Programa de Governo. Se ele ajuda alguma família, se ele consegue, se alguma família consegue com esse dinheiro visualizar a importância dele e também a importância da educação, mas eu não consigo visualizar isso (Professora Lourdes).

Na fala desta professora, o descrédito em relação à transferência de renda está relacionado ao comodismo concernente ao benefício que, do seu ponto de vista, condiciona o cidadão a não se perceber capaz de se tornar independente do PBF. E ainda, demonstra preocupação com os resultados do programa em relação à educação.

Porque, sei que é um programa, que eles recebem uma bolsa que seria para o auxílio. Para manter [refere-se ao benefício], que eles botam o filho na escola, não é? E seria um auxílio para ajudar assim a comprar o material escolar todo, e que a frequência influencia nisso (Professora Rosa).

Com uma visão generalizada do PBF, a segunda professora descreve o programa, no que diz respeito à educação, como uma forma de garantia da freqüência escolar.

Já na concepção da coordenadora do programa, o PBF é visualizado de acordo com a sua vivência:

Particularmente, é uma faca de dois gumes; tem famílias que se acomodam que apesar do município trabalhar as famílias beneficiadas para que se tornem emancipadas, existem famílias que persistem em achar que é obrigação do governo manter esse benefício pelas suas necessidades (Coordenadora municipal do PBF, 2013).

A fala da coordenadora se assemelha ao ponto de vista de uma das professoras em relação à ausência de entendimento por parte de algumas famílias, de que o benefício é um elemento de complementação da renda familiar e que sendo assim, essas famílias se distanciam da percepção de emancipação da condição de beneficiárias.

Em relação às responsáveis pesquisadas, a fala a seguir apresenta o PBF como determinante na matrícula e na freqüência e a dimensão da importância dada ao programa.

Muitas mães controlam a ida dos filhos à escola, exercendo efeito direto na frequência, resultando em contenção da evasão escolar. Brandão, Pereira e Dalt (2013, p.218) apontam que ―os efeitos do PBF no ensino público brasileiro, um grupo de entrevistados sinaliza como sendo positivo o maior controle da família sobre a frequência escolar de seus filhos‖.

Em uma das falas de uma das professoras pesquisadas há a reflexão sobre o conhecimento que as pessoas têm sobre o PBF.

Acredito que a maioria das pessoas conhece o programa superficialmente, até mesmo os pais que recebem. Porque acho que para eles é só um dinheirinho que vão lá recebem e pronto, não é! Tem que botar o filho todo dia pra vir à escola, senão perde o dinheiro, mas que na verdade não tem interferência na aprendizagem deles, não. Influencia na freqüência, não é (Professora Rosa).

Nessa fala, é possível perceber que as informações acerca do funcionamento do programa são entendidas não na sua totalidade, mas no que se absorve a partir das divulgações populares. Foi o que pudemos observar nas falas das mães e dos estudantes. A visão da maioria dos sujeitos entrevistados sobre o objetivo do programa está de fato ligada ao recebimento do dinheiro e ao compromisso com a frequência escolar. Notamos ainda que a preocupação com a perda do benefício é a que mais se sobressai em relação à preocupação em alcançar melhores condições de vida.

Na fala abaixo é possível constatar a visão generalizada das famílias em relação ao benefício:

Existem responsáveis [refere-se a beneficiários] que acham que é obrigação do governo federal dar o benefício para as famílias. Eles querem ter direitos, mas seus deveres só cumprem diante de punição [refere-se à suspensão ou bloqueio do benefício] (Coordenadora municipal do PBF).

As falas demonstram que a aprovação do PBF é percebida com muita ênfase no âmbito social e relatividade no campo educacional. Para os estudantes, esse entendimento está relacionado ao direcionamento dado pela família, exercendo sobre eles certa influência, percebida como positiva. Para as professoras, a visão culmina para a necessidade de implementações voltadas ao comprometimento das famílias também para o rendimento escolar, como é realizado com a frequência. Para a coordenadora municipal do PBF, o comprometimento com o rendimento escolar dever ser efetivado através das ações escolares. No entanto, o programa se limita à execução das ações que estão intrínsecas na sua proposta, cujos resultados apresentam influência direta no âmbito social, o que pressupõe, por via

indireta, impacto significativo no rendimento escolar, considerando como base, o acesso à alimentação e a manutenção da frequência escolar.