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Fonte: Jornal A Notícia, Memória

A feição da cidade, nas primeiras décadas do século XX, conforme podemos verificar na foto 01, tem pouca relação com a modernidade que se avizinhava: a industrialização massiva das décadas de 60 e 70 iria modificar profundamente a paisagem urbana. O autor descreve Joinville, no começo da década de 1960, a partir dos seguintes traços:

[...] o Rio Cachoeira ainda está limpo. As tardes de domingo são calmas. Os passeios são feitos de bicicleta, ou mesmo a pé. Não há qualquer tipo de preocupação com índices de violência ou marginalidade, e o delegado de polícia é apenas um. A cadeia é pequena e só um modesto “jeep” constitui a “frota” da polícia civil. Joinville, no entanto, se

despede da “belle époque”. Fecha-se um ciclo na história. (TERNES, 1993, p.48)

A modernidade projetada para Florianópolis através do redesenho de seu espaço urbano, chega concretamente – e de forma arrebatadora - à Joinville através de uma expansão econômica baseada na industrialização. A origem deste capital industrial em Joinville não é, no entanto, pacífico. Enquanto FICKER (1965) e TERNES (1986) defendem a ideia de que foi o capital comercial ervateiro o carro-chefe da industrialização no município, autores como SILVA (1999) e ROCHA (1994) defendem que sua origem está nas iniciativas locais com base nas pequenas oficinas, de capital modesto, mas de mão de obra especializada, composta por mestres, operários qualificados e artesãos.

Se a década de 1940 marca os primórdios da industrialização de Joinville, a intensificação ocorre, principalmente, nas décadas de 1960 e 1970. Na esfera internacional é o que precipita o declínio das relações comerciais entre o Brasil e os países centrais.

No nacional-desenvolvimentismo de Juscelino Kubitscheck – e também dos militares - entra em cena as ações governamentais de incentivo à industrialização nacional e a substituição das importações. Em Santa Catarina, Joinville torna-se o carro-chefe deste processo, principalmente pela influência política que sua elite exercia junto ao governo do Estado. Assim políticas públicas impulsionaram o município no circuito econômico nacional, a partir da articulação com centros produtores dos principais estados da federação, como São Paulo, Rio de Janeiro e Rio Grande do Sul.

No bojo do ideário desenvolvimentista e diante do crescimento da indústria dinâmica, o Estado era o verdadeiro ente na condução política do processo de integração e consolidação do capital industrial, fazendo investimentos em infraestrutura e ofertando linhas de crédito de longo prazo. A inércia

empresarial na área de infraestrutura foi sendo preenchida pelo Estado. Esse movimento seguiu orientações federais e também pôde ser presenciado em outros estados da Federação, onde a indústria se expandia. (GOULARTI FILHO, 2005, p.636) Um processo de expansão que modifica a paisagem da cidade. Em tom saudosista TERNES (1986, p.198), lamenta que Joinville tenha entrado em um novo ciclo de transformações, um caminho “sem volta” onde "a

aventura da modernidade cobra um preço a todos que se lançam à sua conquista".

Há que se considerar que o município de Joinville experimentou, entre as décadas de 1950 e 1980 do século XX, profundas e intensas modificações em sua composição populacional, resultante de um intenso processo de migrações internas e externas, caracterizadas por deslocamentos de populações do campo em direção à cidade, impulsionado pelo crescimento da atividade industrial. A evolução populacional decorreu fundamentalmente da oferta de emprego industrial, que passou a agrupar mais de 50% da população economicamente ativa. Momento esse que pode ser inserido no evento econômico nacional chamado de “milagre brasileiro”. As empresas expandem suas atividades e, mais precisamente, surgem os empreendimentos que mais adiante transformar-se-ão nos grandes grupos econômicos que atuarão nas áreas metalúrgica, têxtil, do segmento de plástico e de refrigeração (TERNES, 1986 p. 200).

É possível compreender, a partir da figura 07, que Joinville vivencia um rápido aumento de seu núcleo urbano desde a 1940. SANTANA (1998) caracteriza a urbanização da cidade como uma dinâmica marcada pela rápida expansão periférica, baseada em baixas densidades e onde a verticalização das construções é praticamente ausente até os anos 1990.

Figura 7: Expansão urbana de Joinville nos diferentes períodos.

Fonte: IPPUJ, 2001

A urbanização aliada à dinâmica de industrialização com empregos de baixos salários, gerou um cenário de forte diferenciação sócio-espacial em Joinville, reproduzindo a clássica relação centro-periferia. O autor demonstra, a partir dos estudos sobre os loteamentos no período entre 1949 e 1996, que há uma orientação clara de expansão do tecido urbano para a região sul do território, atendendo aos interesses dos industriais, “formando

o que se convencionou chamar localmente de bairros dos caboclos, pois eram ocupados em sua grande maioria pela mão de obra operária das indústrias” (SANTANA, 1998, p.77). Em um período onde a legislação

acerca de posturas e padrão das edificações no perímetro urbano25, houve a aquisição de grandes glebas por industriais, logo transformadas em loteamentos, que induziram o processo de expansão urbana para determinados espaços da cidade.

Todavia, o fenômeno do crescimento pujante no município, associado à migração de populações oriundas de cidades do interior catarinense - mas principalmente paranaenses, em busca de trabalho - torna Joinville uma cidade industrial, mas com muitas carências, entre elas, infraestrutura para habitação. Ao que parece, essas carências permaneciam reclusas às camadas migratórias que chegavam ao município e habitavam as periferias. O espírito de cidade ordeira e feliz ainda não estava maculado. (SANTANA, 1998, p. 86)

A industrialização ocorre de forma tão rápida em Joinville que falta mão de obra. É iniciada uma campanha de recrutamento de trabalhadores nas regiões do entorno.

A década de 1970 marca uma transformação em Joinville. Milhares de pessoas que migraram do Paraná em busca de oportunidades encontraram emprego com facilidade. As indústrias joinvilenses precisavam de muita mão de obra. Em 1970, o setor respondia por 62,46% do PIB e em 1975 alcançou o pico histórico de 77,65%, efeito do “milagre econômico”, quando o Brasil registrou as maiores taxas de crescimento da história (ANDRADE, 2011, p.04).

De um núcleo urbano constituído praticamente de imigrantes europeus, Joinville assiste também a chegada de migrantes luso-açorianos, sobretudo daqueles instalados nas localidades adjacentes, como São Francisco do Sul, Itajaí e Camboriú, atraídos pela dinamização da economia do lugar.

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Citamos aqui, por exemplo, a lei 667/1965, uma das poucas que tratava de temas relacionados à regulação urbanística e que se limitava a proibir a construção de edificações de madeira dentro de um determinado perímetro da área central de Joinville.

Este cenário gerava discussões acaloradas já na década de 1950, data do centenário de fundação da cidade. Se por um lado o novo ciclo de expansão que se iniciava era visto por muitos como o sinal de novos tempos, por outro, existiam aqueles que compreendiam a chegada de “novos forasteiros” como um perigo, como degeneração da cultura local. Esta última visão é aquela defendida por TERNES (1986), para quem a historia de Joinville e de sua industrialização se baseava em uma “vocação original”, assentadas nos traços específicos da personalidade germânica dos imigrantes:

O perfil do imigrante alemão era de alta sofisticação socioeducacional, porém, fortemente marcada por um insulamento cultural, todavia, é como se vivessem em “um Estado dentro do próprio Estado”. O fortalecimento de uma sociedade essencialmente competente em termos de convivência social, fechada sobre si mesma, onde os traços culturais e espirituais trazidos da Europa se fortaleceram, ampliando sensivelmente as diferenças com a comunidade luso-brasileira (TERNES, 1986, p. 7). Esta visão é compartilhada por GUEDES (2000)

Um espectro da cultura germânica sondava a todos os habitantes da colônia. Mais que um espírito, era uma ética, uma ascese particular de economia, moderação e autocontrole próprios das populações nórdicas e protestantes que, movidas pela moral do trabalho, tinham como princípio a disciplina, a obediência e a ordem; o que teria estimulado a organização racional e a solidariedade nas suas comunidades. Nesse contexto fortemente hostil, dada às condições da localidade geográfica, os imigrantes alemães reforçaram seu forte espírito comunitário. Justificam-se, pois, as várias sociedades de apoio que foram fundadas com a finalidade de integração dos primeiros habitantes (GUEDES, 2000, p.72).

Estes autores identificavam a migração posterior, decorrente da industrialização - e que trouxe trabalhadores do interior do estado e do Paraná - como a causadora dos males sociais. É o que nos diz TERNES

(1993), para quem “(...) as décadas de 1970 e 1980, Joinville sofreu uma

singular perda de identidade, desfigurando-se de suas características históricas”. (p.133).

Havia um conflito ideológico entre os teutos- brasileiros e os chamados “caboclos”. Muitos defendiam a ideia de que os caboclos eram desidiosos, vadios e que não eram propensos para o trabalho. Costa (1996) afirma que os jornais noticiavam que as insurreições classistas como as greves eram certamente ocasionadas por migrantes e caboclos. (SOUZA, 2009, p.04)

Este embate étnico cultural, sobre novas “roupagens” 26, se fazia presente desde os primeiros anos do século XX. Ganha repercussão em meio ao Estado Novo de Getúlio Vargas, que impõem políticas de “abrasileiramento” no país inteiro, buscando a formação da identidade brasileira e a integração dos núcleos de imigrantes à cultura nacional. Estas ações são fortemente sentidas em Joinville:

Dentro desse contexto, o cidadão luso-brasileiro assume a condição de legítimo representante da nacionalidade, no lugar do imigrante e seu descendente, cuja expressão econômica e cultural passam a representar certa ameaça à segurança militar, embora até então tivesse contribuído significativamente para desenvolvimento econômico das cidades coloniais. (...) Em Santa Catarina, mais do que em qualquer outro estado brasileiro, o governador Nereu Ramos (1937 a 1945) mobilizou as forças políticas e o Exército para reprimir fortemente todos àqueles que se manifestassem em língua estrangeira, nas ruas, no trabalho, na igreja, na escola e até mesmo no recinto do lar. Durante essa campanha repressora foram fechadas dezenas de escolas particulares, a exemplo da Escola Alemã de

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Se no início do século XX os conflitos étnicos em Joinville se deram por conta da busca do Estado Brasileiro em enfraquecer a identidade imigrantes presentes no território nacional – em Joinville notadamente ligada aos povos germânicos – o conflito a partir da década de 1950 se dá nas disputas territoriais entre os grupos teuto-brasileiros e luso-brasileiros.

Joinville e efetuadas prisões de líderes protestantes (pastores) e pessoas flagradas se comunicando em outro idioma que não o português. (SILVA, 2004, p.19)

Assim o ambiente em torno das comemorações do centenário da cidade é envolto por um clima hostil de disputas políticas, simbólicas e ideológicas.

Os diferentes discursos acerca das comemorações do Centenário de Joinville tornam-se interessantes na perspectiva de que esse aniversário ganhou, na cidade, uma dimensão que extrapolou aquele momento. Foi utilizado para forjar um “novo tempo”, apaziguando -se com os traumas ainda recentes engendrados pela Campanha de Nacionalização e, ao mesmo tempo, ratificando uma imagem antiga, presente na história da cidade – a importância da cultura dos imigrantes alemães – algo tão atacado durante a Nacionalização. (SILVA, 2004, p.21)

O processo de intensificação econômica, de industrialização e de urbanização era uma realidade. Mudanças econômicas, transformações na sociabilidade e na vida cotidiana da população ocorriam a passos largos. O futuro se apresentava como virtuoso. O discurso sobre a modernidade não parecia se assentar na projeção de um futuro desejado, mas, ao contrário, repousava na busca pela ressignificação através do passado, da história. Bastava, portanto, fazer com que as forças sociais locais fossem capazes de controlar e organizar as dinâmicas econômicas e espaciais. As disputas entre grupos sociais distintos eram travadas na busca pela legitimidade proferir o discurso hegemônico. Para SILVA (2004) esta legitimidade foi conquistada pela “elite” 27 germânica:

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A autora assim justifica o uso do termo ‘elite’: “Utilizo para esta narrativa o termo “elite” como uma forma de designar um grupo local formado por homens, principalmente, descendentes de imigrantes alemães que, no período estudado, apesar das retaliações sofridas durante a Campanha de Nacionalização e, portanto, “aparentemente” sem um poder político efetivo, têm um poder econômico local e, principalmente, são referência para a cultura local, pois, são as histórias e os

Moldada pela ação dos homens, a cultura constitui aspecto importante na configuração socioespacial da cidade, por vezes, porém é utilizada para firmar determinados grupos étnicos, a exemplo do imigrante alemão que, no século XIX, é alçado à condição de 'tipo ideal‘ de colonizador, por apresentar características favoráveis ao progresso econômico, como disciplina, amor ao trabalho, experiência, conhecimento técnico e empreendedorismo, especialmente nas regiões coloniais de Joinville e Blumenau, onde sua presença era bastante expressiva e se veiculava esse conceito. Essa caracterização igualmente favorece interesses hegemônicos que buscam consolidar sua condição social privilegiada, status quo, frente ao grupo étnico luso-brasileiro. (SILVA, 2004, p.38)

Pairava assim, nas décadas de 1960 e 1970, um discurso forte assentado sobre valores de “ordem e progresso”. A modernidade em Joinville apresentava-se, portanto, a partir de sua origem, através dos ideais iluministas e do positivismo que se expandiu rapidamente pela Europa no início do século XX. Lembramos aqui do lema de Auguste Comte, considerado uma das principais referências desta corrente filosófica: “L'amour pour principe et l'ordre pour base; le progrès pour but 28.”

Joinville é, pois, uma magnífica cidade de grandes possibilidades que muito tem colaborado para o engrandecimento do Estado de Santa Catarina. Ali, em seu pródigo e rico seio vive e trabalha os seus incansáveis habitantes, brasileiros dinâmicos de olhos azuis e cabelos louros e que de braços dados com seus irmãos de Tez Morena e olhos pretos, labutam pela felicidade de suas famílias e pela grandeza de sua pátria, legando aos seus pósteros a mais bela e sublime lição de trabalho e ardor progressista.[...]É e justamente e exclusivamente esta hábitos, expressos na música, dança, etc., desses imigrantes que são recolocados durante os festejos do Centenário. Assim, entendo esta “elite” como representante de uma “cultura germânica” que vai aos poucos (re)negociando com os brasileiros de outras origens étnicas, sua predominância na vida política, econômica e cultural da cidade, no final da década de 1940 e na década de 1950”. (op. cit., p.XX) 28

a finalidade das festividades do Centenário: que aquilo que foi conquistado palmo a palmo pelos nossos antepassados nunca seja esquecdo, mas sim levado sempre para frente. (Apêlo ao Joinvilense. Folheto. Impresso. 1950. Caixa: Joinville – Centenário. AHJ).

Sob a ameaça da perda de identidade a qual se referia TERNES (1993) o lema de cidade ordeira e feliz era assumido como discurso oficial da cidade. Para SILVA (2004) e MEZADRI (2012) significava o uso ideológico de uma narrativa como forma de manter sobre controle as forças sociais e as contradições sócio-espaciais que se avolumavam a partir de um processo de urbanização intenso e concentrado.

(...) uma possível análise dos discursos acerca das comemorações do Centenário de Joinville, ocorrido em 1951 é também buscar compreender como esse “evento” (carregado de inúmeros significados) foi positivado de tal forma a funcionar como uma “apoteose do esquecimento”. Um esquecimento parcial das dores e silêncios da Nacionalização (vivenciadas entre 1938 a 1942) e das diferenças étnicas que, no momento da Segunda Guerra Mundial, tornaram-se para alguns joinvilenses sinônimo de desprestígio social e cultural, chegando a afetar as relações políticas na cidade. Mas este investimento no esquecimento, ao mesmo tempo, aposta nas lembranças. Lembranças que valorizam as “origens” étnicas daqueles que colonizaram a cidade, ou seja, esquecem/amenizam as fissuras dos tempos sombrios, retirando desse tempo apenas o essencial para valorizar ainda mais as lembranças dos “pioneiros”. (SILVA, 2004, p.20)

Para MEZADRI (2012) a escolha seletiva de narrativas sociais era uma estratégia intencionalmente utilizada pelas elites empresariais da cidade:

Por ser a década de 1960 um período de forte avanço da industrialização em Joinville, necessitava-se de mão de obra externa - especializada ou não - para ocupar as vagas abertas nas indústrias. E, de acordo com as elites empresariais, esses trabalhadores deveriam ser preparados técnica e ideologicamente

dentro do imaginário coletivo de “cidade laboriosa”, ordeira e feliz. Essa harmonia entre as classes vigentes era perfeitamente questionável, mas não aos dirigentes políticos e empresariais. Associava-se, a essa ideia, a igreja, entidades assistencialistas e beneficentes, a exemplo dos grupos de Lions clube local. Essas associações acabavam, por assim dizer, legitimar o espírito coletivo da época. (MEZADRI, 2012, p.74)

Estes são os ingredientes principais que conformam o cenário de surgimento da primeira ação mais efetiva de gestão e planejamento do espaço urbano em Joinville: o Plano Básico de Urbanismo, elaborado em 1965, por uma equipe de técnicos contratados pela prefeitura municipal. Podemos caracterizar este período através de seis aspectos principais, interligados e interdependentes:

1. No plano nacional, a agenda política e econômica repousa em ações de incentivo à industrialização e descentralização de pólos econômicos. Este cenário geral encontra em Joinville grupos sociais dispostos a tirar partido destes incentivos;

2. No plano local, uma dinâmica forte de crescimento demográfico, impulsionado por um processo de industrialização intensivo que impulsiona uma rápida urbanização;

3. Urbanização esta fundada na produção de novas áreas periféricas ao centro histórico, geradora de diferenciação sócio-espacial e de conflitos ambientais, tendo em vista a transformação de áreas de mangues em novos circuitos habitacionais para os trabalhadores recém-chegados às indústrias;

4. Forte disputa ideológica sobre os discursos legitimadores das ações políticas e práticas sociais. Com claro predomínio da elite econômica e política teuto-brasileira - que assume a dianteira no

período pós-segunda guerra - através da disseminação do ideário de cidade “ordeira e feliz”, discurso que se amplia e aprofunda rapidamente na sociedade joinvillense;

5. Reforma institucional e centralização política iniciada no Estado Novo e intensificada no período militar, que transferia para a esfera federal as discussões acerca do desenvolvimento urbano que se desenvolviam nas municipalidades. Assim Joinville, com a finalidade de cumprir as determinações do SERFHAU, elabora o seu primeiro plano diretor com vistas a adequar-se as exigências de financiamento do governo militar;

6. A ânsia por controlar e organizar as dinâmicas de uso e ocupação do solo do município, que na década de 1960 já apresentavam consequências mais sérias e que projetavam um cenário sombrio de crescimento da cidade, tendo em vista a intensificação clara da dinâmica de industrialização, de urbanização e de migrações populacionais.

Assim o PBU/65 inicia seu diagnóstico denunciando um histórico de omissão por parte do poder público municipal no que tange a regulação urbanística.

A pressão relativamente fraca de especulação imobiliária permitiu que, apesar de uma legislação urbana omissa, não houvesse comprometimento mais graves. Urge, no entanto, disciplinar o desenvolvimento através de lei, regimentos, manuais e códigos. O traçado de vias é bastante arbitrário, desconhecendo a existência de morros urbanos. Na parte central, no entanto, há uma variedade de dimensões de quadra e vielas, potencialmente ricas para a paisagem e vida urbana. A baixa densidade computada (12 hab./ha) é retratada nesta prancha em que o casario esparso assume por vezes um aspecto rural. Algumas estradas saem, como tentáculos, do

eixo norte-sul. Este define-se claramente como a linha estrutural fundamental de Joinville. (JOINVILLE, 1965, p.36)

O Plano denuncia igualmente as disputas ideológicas presentes em Joinville, destacando o elemento por ele caracterizado como “germanismo”:

Assim, a 'eficácia‘, o 'rigor‘, a 'honestidade‘, o 'ascetismo‘, que são padrões e valores da cultura capitalista em geral, particularmente na época de sua formação, apresentam-se como atributos germânicos [...] essa tenacidade do 'germanismo‘ é um fenômeno próprio dos grupos coloniais em geral. É expressão do etnocentrismo dos grupos imigrados [...] alimentado pela imprensa oficial ou oficiosa propriamente alemã [...] o governo alemão, por razões econômicas e políticas, alimentava um germanismo fictício, sentimental nos habitantes de Joinville. (JOINVILLE, 1965, p.47)

Outros elementos importantes do diagnóstico apresentados pelo plano são os seguintes:

• Caráter ainda fundamentalmente comunitário de sociedade, que não é visto como um fator negativo;

• Grande desenvolvimento industrial ao lado da calma social, foi possível em virtude do crescimento do emprego ter conseguido acompanhar o crescimento da população;

• Grande déficit em infraestrutura e serviços públicos, decorrentes, principalmente, da baixíssima densidade (13 hab./ha);

• As maiores carências residem na ausência de rede de esgoto, escassa pavimentação e ausência de suficiente de opções de

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