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VIVÊNCIAS NOS “GRUPOS DE IDOSOS”

No documento CARLA MARIA LOBATO ALVES (páginas 54-74)

Não são apenas os fatos, mas os modos de ser e de pensar de outrora que se fixam assim na memória (...). Os grupos de que

faço parte em diversas épocas não são os mesmos. Ora, é de seu ponto de vista que penso no passado (...). É preciso que minhas lembranças se renovem e se completem, à medida que me sinto mais envolvido nesses grupos e participo mais estreitamente de sua memória (HALBWACHS, 2006, p.95).

É com a citação de Maurice Halbwachs que início este capítulo para mencionar que neste estudo serão apresentados modos de ser e de pensar de Rosário, Joana, Rosa e Francisca31. Não se trata de registrar plenamente histórias

de vida, mas de registrar traços destas através de relatos, curtos ou mesmo longos, que apresentam recordações de experiências vividas e como tais, são cheias de sombras, longos silêncios, intervalos obscuros, privacidades indevassadas que, segundo Suely Kofes (2002, p.22), “terminam por falar do que o tempo faz com a memória de uma vida, vislumbrando apenas o que seria a verdadeira experiência desta vida no tempo”. Os relatos são recordações de si, de relações, de valores, de política, dos contextos de suas origens e trajetórias de existência.

Rosário, como Joana, Francisca e Rosa, em seus relatos, narram o lugar onde nasceram orientando-se, inicialmente, pelo roteiro previsto em minha investigação. Desse modo, suas formulações iniciais dão conta da idade, do lugar de nascimento, da profissão dos pais, dos deslocamentos territoriais percorridos e relações com suas famílias de origem, etc. Aos poucos vão estendendo, nessas narrativas, detalhes e recortes que vão considerando necessários, portanto significativos para situarem suas experiências no atual convívio familiar e em outros relacionamentos mais próximos. Vão construindo personagens, modos de “ser mulher”, gendrando identidades, modificando histórias e vivências segundo suas conjecturas no presente.

Neste trajeto é bastante significativo que sejam mulheres inseridas em grupos

de convivências para pessoas consideradas idosas, tão em voga, atualmente.

Nestes casos, como já frisei, Joana, Rosário, Francisca e Rosa participam ativamente dos grupos GEN e UNITI, que trabalham na perspectiva de uma construção discursiva, segundo a qual o processo de envelhecimento é uma fase de

31

Utilizo fonte e espaçamento diferenciados do restante do texto nos trechos das narrativas, cuja finalidade é distingui-los. As informações contidas nos colchetes são alguns esclarecimentos que faço sobre o que vem sendo narrado por estas mulheres.

determinada faixa etária que deve ser aproveitada para se exercer atividades prazerosas, como passear, viajar, dançar, viver de forma ativa e positiva, rompendo com estereótipos que numa anterior concepção sobre a velhice, a destacam como associada ao descanso e à solidão, algo parecido ao que registram Rosário e Francisca quando se apresentam a mim:

(...) Eu freqüento aqui na COHAB o grupo Clube das Mães, das idosas, e da Legião de Maria, da Igreja Nossa Senhora do Perpétuo Socorro. (...) Eu faço muita atividade, a minha vida tem que tá sempre agitada. Num sou de ficar parada em casa não, deitada, de papo pro ar. Com as colegas, aqui, eu faço ginástica ali na quadra. Terça e quinta. Tem ginástica pra tudo, pra terceira idade também. É a mesma ginástica que tem no Parque Bom Menino. Vem uma professora pra cá e quando me disseram eu já tava lá. E eu ando de manhã. Eu quase não paro não. Tem jeito não. Tem gente que não acha que eu tenho sessenta e dois anos. Tem gente que não acha que em agosto eu vou fazer sessenta e três anos. A colega amanhece assim mole e eu digo: “Vamos! Te esperta! Vamos!” (..) Eu levanto às 5 horas da manhã, deixo o café na mesa pra ele, que é só uma hora de ginástica. E eu vou fazer minha ginástica e volto, faço a comida e quando é às 12:00 horas o cume tá pronto e eu já vou pra UNITI, de tarde. (...) O pessoal pensa que eu sou parada, mas eu não sou não. Olha, se eu não fosse tão ativa eu tinha tido assim uma coisa mais, mais grave como uma conseqüência dessa queda de ontem [no dia anterior Francisca caiu ao descer do coletivo]. Já pensou? Porque eu era morta. Caía até de venta no chão. Eu empinei logo e rodei. Caí, mas caí sentada (risos). Quando ele não tá aqui e o bebedouro seca eu ligo ali e o menino traz e eu boto sozinha. Ele pergunta quem me ajudou e eu respondo que Deus (risos) (

Francisca - 63

anos, mulher branca, reside em São Luís há 38 anos, atualmente no bairro

COHAB

).

Hoje em dia a vida dos idosos é mais liberal. Tem mais oportunidade. (...) Hoje em dia as idosas se cuidam mais. Naquele tempo ficava só em casa, era só com roupa de velho mesmo. Minha filha me dá no dia das mães e no natal um presente. Ela vai comprar com o marido dela e ele compra dois, um pra mim e um pra mãe dele. (...) A mãe dele é daquelas que não se cuida e ele compra pra mim igual ao da mãe dele. Quando chega aqui eu digo: “Vocês pensam que eu tô velha? Eu vou trocar! (risos). Tua mãe gosta, mas eu não. Eu vou trocar!”. Eu gosto muito de lá do GEN. Gosto das palestras, tem oficina de...de...leitura. Agora eu tô fazendo fisioterapia e é muito bom mesmo o exercício. Tem reunião toda sexta lá no PAI, que tá agora em reforma. Tem festa das mães, tem passeio pros idosos. Teve um passeio pra uma fazenda que eu nunca tinha ido, muito linda. Passamos o dia lá. Foi muito bom. Todo o grupo reunido, cantando, dançando, teve sorteio, foi perto do Natal.

Foi muito bom mesmo (fala entusiasmada). Teve outros, mas eu não fui. Eu não pude ir. Toda sexta também tem reunião e eu ainda não fui esse mês. Segunda tem reunião e consulta com as doutoras, quarta é leitura...oficina de leitura e sexta, reunião do grupo. Eu não fui ainda nas sextas esse mês. Sexta que vem eu acho que eu vou. Então eu tenho gostado muito do GEN. Muito mesmo, se soubesse mais cedo já tava lá (risos). Foi uma conhecida minha que falou (

Rosário - 70 anos, mulher

negra, reside em São Luís há 66 anos, atualmente no bairro Vila Palmeira

).

Em outro momento, também, indo de encontro com a perspectiva discursiva do envelhecimento ativo, autônomo e independente, Francisca continua a enfatizar que gosta de viajar e dançar, mas diz que não se conforma com pessoas que “se entregam à velhice”.

(...) Ainda hoje eu gosto de festa. Eu saio pra ginástica e lá às vezes o professor bota o forró e a gente dança. Hoje mesmo eu tive ginástica ali, que eu faço aqui, e a professora botou pé-de-serra. Nós....nós não sabia se dançava ou fazia ginástica (risos). Tem uma professora que sempre leva a gente pro cinema, nas terças-feiras e quando ela avisa eu já digo logo: “Já tô lá (risos)”. E eu vou mesmo. Não gosto de ficar só em casa não. Tem que aproveitar e nesse shopping aqui, que inauguraram [Rio Anil Shopping], de vez em quando eu me mando pra lá (risos). (...) Eu fico triste quando vejo uma pessoa mais nova do que eu e não quer fazer nada, se entrega logo pra velhice. A minha filha diz pras colegas dela, lá em Belém, que eu sou assim e toda vez que eu vou lá o povo quer me conhecer ou rever. Eles acham que eu sou nova. (...) E meu menino foi resolver umas coisas em Chapadinha e ele não queria ir só. Eu tava aqui sentada e ele veio aqui em casa e me chamou pra ir no outro dia com ele. (...) Agora ele não gosta de sair. Parece que teve um trauma depois que se aposentou. Vai fazer dez anos que ele se aposentou e só vive em casa (

Francisca

).

A participação nos grupos delineia grande parte de suas narrativas adotando a concepção de que ser velho não é ser passivo, doente ou deprimido. Transitam, porém, entre outras mulheres que materializam o discurso da decrepitude como é o caso de Rosário, que percebe a diferença entre o modo de ser da sogra de sua filha e o seu. Francisca relata que se encarrega de tarefas domésticas, mesmo as que exigem sobrecarga, de forma a sentir-se forte, participativa. Dança, movimenta-se, orienta-se por um estilo ativo.

Esta ressalva implica, mais uma vez, em fazer reconhecer que suas narrativas são, em grande parte, perpassadas por aquelas construções discursivas

institucionais que realçam positividade, contrastando com outros discursos naturalizados sobre a velhice como decadência, que incluem aspectos bio- fisiológicos, psicológicos e culturais.

(...) Eu tô gostando muito da UNITI. Eu sei que isso aqui não é leitura, nem negócio de....é uma faculdade da terceira idade. É pra gente abrir a memória, tem memorização, psicologia da terceira idade, tem atividade física, que eu escolhi a hidroginástica. A outra parte foi que eu escolhi a fitoterapia. Eu queria saber, aprender alguma coisa sobre plantas, pra fazer um lambedor em casa, pra meus netos, pra meus filhos. (...) A gente tem que aproveitar a vida, o resto que ainda tem porque ninguém sabe o dia de amanhã. Deixa eu ver quem era, era uma professora lá da UNITI dizia que não é porque a gente tá nessa idade que vocês vão se entregar (

Francisca

).

Eu acho que a UNITI é um veículo de ensinamento que todo mundo tá lá pra aprender. Inclusive as professoras falam que não são só professoras, que são alunas também, porque aprendem muito conosco. Elas são realmente bem mais jovens, mas a experiência que nós temos diante delas é muito maior, embora elas tenham mais conhecimento acadêmico, mas nós temos outra experiência de vida. Nós passamos pra elas e elas recebem também. Então é muito bom essa troca e quando a gente vai com esse propósito, de dar e receber, é muito mais eficiente, proveitoso. Cada um tira sua parcela. Temos colegas que no começo queriam desistir, mas dado o apoio da gente, ajudando e tudo, ninguém mais quis deixar de ir. Agora muitas tá lá só o nome, nunca foram, nem no primeiro dia. Na hora da chamada, tem nomes que até hoje tá registrado na caderneta e nunca foram. Nunca apareceram. Quer dizer, houve desistência assim....espontânea. Nem foi lá pra conhecer, porque quem foi também não quer deixar de ir. Inclusive nós não vamos ficar só com um ano, algumas estão lá há seis anos. A turma de egressos tem gente com seis anos. Porque encontrou lá o apoio que em outro lugar não tem. A família já tá crescida, ou às vezes tem família pequena ...não tem mais aquele apoio. E estando lá, tá tudo seguro (

Rosa - tem

75 anos, mulher negra, reside em São Luís há 35 anos, atualmente no bairro

Bequimão).

Os elementos positivos proporcionados por estes grupos seguem nas narrativas na medida em que estas mulheres procuravam dar exemplos de como muda a vida dos sujeitos, de situações de apatia, esmorecimento e desânimo para vivacidade, energia, motivação, após sua inserção na UNITI.

Eu cheguei a ter um início de depressão, mas não foi nada muito sério...Sempre gostei de fazer minhas caminhadinhas e faço pela manhã...e não foi assim muito. Aí depois eu cheguei na UNITI, quando eu descobri a UNITI só fez é melhorar, só melhorar. Aí teve passeios, inclusive ontem teve um passeio no SESC. Eu não fui, eu perdi, mas eu fui em outro anterior no SESC. (...) Pra mim tá sendo muito bom as aulas da UNITI porque eu vejo a minha mãe. Ela começou a envelhecer com o problema da saúde....da diabetes, e ela morava na época no interior. É de muitos anos a diabetes dela. Ela levou aquilo que tinha como o fim pra ela. Ela se via como aquela pessoa que não podia mais fazer nada, que já ia morrer ali. Então...é muito difícil convencer...ela, mamãe. É muito difícil convencer que ela tem que fazer caminhada, que ela tem que se exercitar. Que ela pode fazer algum movimento. E até hoje nós nunca conseguimos. Tanto que pra sair com ela sempre tem que ter alguém; ou eu ou minha irmã. Ou vai meu marido, ou vai meu cunhado, mas sempre tem que ir alguém pra levar, que ela já não anda bem de ônibus. Sempre tem que ir alguém...ou então meu filho vai. Pra botar ela no carro é difícil, pra tirar também. Ontem eu tava olhando assim o jeito dela...ela tá com 85 anos e parece ter mais (

Joana - 63 anos, é

branca, reside em São Luís há 38 anos, atualmente no bairro São Francisco

).

Minha irmã já tava se entregando, no fundo de um apartamento, que não descia nem pra ver quem passava por lá. Eu disse pra minha sobrinha, que é de criação, casada com meu filho, que era pra gente ir na faculdade, na UNITI, logo amanhã pra fazer a matrícula das duas. Ela ainda achou que minha irmã não ia, mas eu incentivei mesmo assim. Ela foi pra se precisar pagar alguma coisa, ela pagava e eu dava depois, que meu marido tava viajando na época. A gente fez a inscrição e quando as aulas começaram, ela foi ainda umas três vezes arrastada, mas hoje não deixa de ir. Às vezes nós nem vamos pra aula, vamos é bater perna pela Rua Grande, mas só pra ela sair de casa. E ainda ensinei pra ela dizer que nós ia fazer uns cursinhos lá nas férias, que é pra gente sair, ir pra cinema, oras (risos). (...) Na UNITI eu tô com uns 3 ou 4 anos que eu vejo falar e tinha muita vontade de participar, mas quando chegava, quando me espertava pra me matricular já tinha acabado a matrícula, não tinha mais vaga. Quando foi esse ano não, eu tava na sala e deu na televisão. Eu liguei pra minha nora depressa e disse: “Eu queria ir amanhã”, mas eu tava sem dinheiro, sem nenhum tostão que meu marido ainda não tinha mandado dinheiro pra mim e vou levar a Vera também, que é minha irmã. A Vera também se aposentou, mas tava se acabando. No dia ela foi pra levar os retratos dela e no primeiro dia ela ficou assim pelos cantos e hoje em dia quero que você veja! A Vera já aumentou até 2 kg. Ela trabalhava na Polícia Federal aí ficou socada dentro de casa depois que se aposentou. Ela chega lá toda cocotinha, e eu incentivo. Eu sou danada. Eu sou danada pra incentivar, eu não paro não! (

Francisca

).

Nestes relatos também apreendo que permeia, no imaginário social, a noção de que o processo de envelhecimento é igualitário ou homogêneo para todos os sujeitos, pois sobressaem os receios de Francisca e Joana de o vivenciarem conforme, respectivamente, sua irmã e sua mãe.

Estas narrativas, entretanto, não me deixam desprezar que aqueles elementos demarcadores de um envelhecimento ativo não atingem todas as

pessoas consideradas velhas, idosas ou em terceira idade. Digo isto porque as

trajetórias de vida dos sujeitos constituem diversas maneiras de envelhecer, nas quais as condições sociais de inserção no gênero, na classe social e nas questões de saúde, entre outras, influenciam no interesse e na procura para participarem destes grupos e, desse modo, assumirem representações contemporâneas do que é ser velho, que, em geral, não diferenciam o ser mulher idosa e o ser homem idoso. Em nossa vivência cotidiana nos deparamos com muitos outros sujeitos, homens e mulheres, considerados velhos ou idosos que por diversas razões e especificidades vivem sozinhos, alguns abandonados dentro de casa, outros que se encontram em hospitais, instituições asilares ou moram nas ruas, além daqueles que preferem não freqüentar espaços designados como “grupos de idosos”.

As abordagens realizadas nos primeiros estudos na área da gerontologia consideravam que todas as pessoas velhas ou idosas enfrentariam os mesmos problemas, independente de diferenças culturais, religiosas, classe social, gênero, etnia, raça, entre outras. Somente na década de 1970, segundo Eneida Haddad (1993) e, também, Guita Debert (2004), é que as variações existentes segundo estes marcadores sociais foram validadas frente à sua compreensão.

Nesse sentido, retomo subsídios no estudo de Mercadante (2005) que tem intenção de demonstrar que envelhecer faz parte do ciclo da vida que compreende as fases de nascimento, crescimento, amadurecimento, envelhecimento e morte. No entanto, a autora enfatiza que a compreensão desse processo não deve ser reduzida à influência de mudanças ligadas a aspectos biológicos, pois outros fatores interagem no processo de envelhecimento.

Volto a destacar que Remi Lenoir (1998) enfatiza o caráter relacional da categoria velhice ao expor que, no contexto do século XIX, proprietários de fábricas

utilizaram o critério etário como parâmetro para determinar quem eram os operários considerados velhos para exercerem atividades produtivas. O autor ainda reforça sua concepção ao apresentar as considerações feitas por Maurice Halbwachs (1972) sobre os diferentes critérios que foram utilizados na França e Alemanha, após Segunda Guerra Mundial, para definir as faixas etárias que constituiriam as pirâmides das idades destes países. Halbwachs ressalta que as diferenças etárias estipuladas por estes países ocasionaram a impossibilidade de uma possível comparação entre aquelas pirâmides das idades, como se pode perceber a seguir:

Ao comparar a pirâmide das idades das populações francesas e alemãs, entre as duas guerras – depois de ter verificado que os dados numéricos mostravam, claramente, diferenças que diziam respeito à representação das faixas etárias nos dois países (nessa época havia um número maior de ‘jovens’ na Alemanha do que na França) – Maurice Halbwachs se pergunta qual é o alcance dessa comparação do ponto de vista sociológico. ‘Seria necessário saber o limite estabelecido, pela opinião pública, para a separação entre idade adulta e juventude, entre velhice e idade adulta, é o mesmo nos dois países. Podemos duvidar porque nas regiões onde existe um grande número de idosos, estes consideram-se talvez mais jovens do que sua idade, e nas regiões onde existem mais jovens – como um grande número deles ocupam ou aprestam-se a ocupar situações reservadas, alhures, a adultos – talvez se considerem e são considerados como mais velhos do que são realmente, ao ser tida em conta sua idade cronológica (HALBWCHACS, 1972 apud LENOIR, 1998, p. 66).

Ao tomar estas referências, penso que as vivências de Joana e Francisca não podem ser totalmente idênticas às de sua mãe e de sua irmã, como as comparam, pois a conjuntura na qual conviveram/convivem são diferentes tanto no tempo e no espaço, quanto em relação a outros determinantes sócio-culturais. Segundo Debert (2004) a compreensão do processo de envelhecimento deve, sobretudo, se pautar na distinção entre velhos no geral e a experiência social.

Discorrer sobre os velhos em geral é reproduzir uma série de estereótipos com os quais a velhice é tratada: “o velho é passivo e acomodado”, “o velho não participa”, “o velho vive reclamando da vida”, “o velho só pensa em dormir e comer”. Falar da experiência pessoal é, pelo contrário, enumerar uma série de atitudes e atividades que tornam o indivíduo radicalmente distinto dos outros velhos, mesmo quando ele considera que sua idade é avançada (DEBERT, 2004, p. 183).

Com estas reflexões quero destacar que heterogêneas e variadas podem ser as experiências de um grupo que é definido através de categorias homogeneizadoras, tais como: velhice, velhos, idosos, terceira idade, entre outras. As categorias terceira idade e idoso são legitimadas institucionalmente, em grupos formais, como promotoras do combate a preconceitos e discriminações e buscam

associar sentidos de positividade e possibilidades de melhores oportunidades para esta etapa da vida.

Nesse sentido, percebo o que ressalta Guita Debert (2004, p. 85) a respeito do trabalho realizado por algumas instituições. Segundo esta antropóloga, o objetivo destas é rever “a idéia dos idosos como sendo sujeitos passivos de um conjunto de mudanças sociais, apontando, ao contrário, o seu papel ativo como criador dessas mudanças, fazendo novos arranjos sociais em resposta às transformações da sociedade”.

As transformações econômicas e políticas ocorridas ao longo do século XX fizeram com que o aumento da população considerada velha ou idosa emergisse em contexto social como alvo da atenção de políticas estatais, sobretudo, as questões que se destacaram no âmbito das experiências cotidianas.

A demografia vem registrando este crescimento populacional também no Brasil. Segundo o IBGE atualmente o país possui cerca de 21 milhões de pessoas com mais de 60 anos, destacadas pela categoria idosa. As recentes análises sócio- demográficas demonstram que os dados da população brasileira considerada idosa passaram de 14,8% (1998) para 18,8% (2008) 32.

No Brasil, os fatores considerados determinantes para este fenômeno foram a

No documento CARLA MARIA LOBATO ALVES (páginas 54-74)

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