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PROCESSOS DE ENSINO E APRENDIZAGEM NA EDUCAÇÃO FÍSICA POR MEIO DO TEATRO

5.2.1 VIVENCIAR E CONTEXTUALIZAR O ENSINO DA EDUCAÇÃO FÍSICA

Ao trazer o Teatro como recurso metodológico, nas aulas de educação física, optamos por contextualizar alguns elementos cênicos ― dramatização, sonoplastia, figurino, cenário, esquetes, pantomimas ― que corroboraram o entendimento das atividades e os objetivos do aprendizado da expressão corporal nas aulas.

Supomos que as rodas de conversa no início das aulas de Educação Física proporcionaram aos alunos/as uma direção e compreensão do que foi tratado nas aulas. O diálogo com os alunos sobre o tema/conteúdo das aulas aproxima o professor do aluno, proporciona uma mediação, e permite o/a aluno expor seus conhecimentos. Aulas expositivas com filmes e materiais variados também foram utilizadas para auxiliar na etapa conceitual do conteúdo.

Entendendo, assim como Neira (2007), a importância de considerar o contexto sociocultural da comunidade escolar bem como as diferenças entre os/as alunos/as, buscamos, já na primeira aula, nos aproximar do conhecimento de nossos/as alunos/as. A aula foi iniciada com uma roda de conversa junto aos alunos e através de questionamentos da professora-pesquisadora os/as alunos/as foram relatando

muitos já estiveram em um Teatro para assistir a um espetáculo, assim como expõe uma das alunas:

“Já fui com a escola assistir ‘A joaninha’ no Teatro” (aluna4). Nesse diálogo foi percebido que alguns aluno/as já participaram de uma peça ou encenação. Esses relatam que já fizeram Teatro na igreja, em projetos sociais e na escola como traz a aluna:

“Eu apresentei uma peça na minha igreja e tinha dança também” (aluna11).

Embora as crianças tenham apontado que já foram a uma peça teatral e tenham um conhecimento prévio do que seja o Teatro, nota se que o Teatro se faz pouco presente no ambiente escolar.

Ingrid Koudela (2013, p. 20) uma das figuras centrais do estudo da didática do Teatro e dos Jogos Teatrais aponta que “[...] a orientação que a Escola Nova deu à educação teve consequências profundas para área do Teatro-educação”, mas mesmo assim, ainda hoje nossas escolas são escolas de leitura, não dando valor às expressões artísticas.

A escola atribui um peso proporcionalmente maior à função de acomodação da inteligência, não conferindo a mesma dimensão à assimilação. O que se vê com frequência é que enquanto as funções intelectuais têm um progresso contínuo, na expressão artística, ao contrário, a impressão que se tem é a de um retrocesso (KOUDELA, 2013, p. 29).

Foto 27 - Roda de conversa

Fonte: Arquivo pessoal da autora.

Na aula 2, trouxemos a proposta do filme Divertida Mente , após uma leitura do filme e de seus personagens que trazem sensações de alegria, medo, tristeza e raiva,

e outras sensações com o corpo.

Para Moreira et al (2016, p. 127) trazer à baila questões relacionadas ao corpo nas aulas de educação física, pode fazer com que os conhecimentos que se “derramam” dessa relação (Charlot)14 possam fazer/trazer sentido e significados aos alunos.

Na aula expositiva (aula 2), foi solicitado que eles ficassem bem atentos às sensações e expressões corporais dos personagens que posteriormente haveria um diálogo sobre o assunto. Ao final do filme os/as alunos/as sentaram em grupos para produzir desenhos sobre os personagens. Após avaliar os desenhos foi notado que os alunos entendiam a representação de cada personagem e de cada sentimento. Uma das alunas fez uma síntese desses personagens, mesmo não sendo solicitado na atividade. Nota-se na ilustração que a aluna fala sobre os personagens e como eles se comportam:

Ilustração 1 - Resposta da aluna

Fonte: Arquivo pessoal da autora.

Pela ilustração apresentada, percebe-se que a aluna traz um conhecimento de suas representações corporais, quando o personagem “raiva” para ela atribui uma visão descontrolada, estressada e perturbada, já o personagem “medo” traz características como isolamento e pavor, a personagem “tristeza” traz baixa felicidade, depressão e a personagem “alegria” recorre à animação e gentileza.

Nas ilustrações, podemos notar que muitos alunos apontaram o personagem da “Raiva” como o favorito e outros apontaram a “Felicidade”. Não aparecendo o personagem do Medo e da Tristeza em nenhum desenho como favorito.

14 O escritor Bernad Charlot diz que há um conflito nessa relação do saber que nasce quando o professor não ensina.

Fonte: Arquivo pessoal da autora.

Foto 29 - Atividade Avaliativa sobre o Filme Divertida Mente

Fonte: Arquivo pessoal da autora.

Ilustração 2 - Desenho dos/as alunos/as

Fonte: Arquivo pessoal da autora.

Proporcionar às crianças momentos de discussão através de um filme pode vir a ser a porta de entrada de um entendimento a sua corporeidade, incluindo aí, suas sensações e expressões que se laboram nas atividades proposta da aula 3.

As rodas de conversa são sempre produtivas e os/as alunos/as bem participativos, constituindo um momento rico quando se percebe que as crianças querem dialogar e expor o que estão pensando. Ao relembrar o filme e os personagens (aula 3), buscamos a compreensão dos alunos em torno dos sentimentos, das sensações corporais e suas expressões. Um dos alunos expõe que:

“Quando faço cara de triste minha mãe logo sabe” (aluno17). Nesse momento, a professora-pesquisadora intervém para dizer que a linguagem corporal é também uma forma de comunicação, e que o corpo através das distintas linguagens e expressões pode se comunicar sem precisar, necessariamente do uso da fala. Podemos nos entender e a entender o outro, assim como fazem os portadores da língua de sinais.

E outra aluna pergunta:

“Tipo mímicas né, professora?” (aluna11).

Diante de tal acontecimento, a professora-pesquisadora acha oportuno o momento para vivenciar e experimentar o que está sendo conversado. Ela responde: “Sim! Vamos dar um exemplo, quando você está com fome como

você pode fazer seu corpo falar para o outro entender?”

quando a professora-pesquisadora explica o Jogo e os alunos aceitam vivencia-lo. A aula expositiva (aula 2), buscou aproximar o entendimento do aluno para as atividades práticas da aula 3 e por meio de um diálogo e reflexão na roda de conversa nota-se que os/as alunos já foram assimilando os objetivos da aula.

Buscamos na aula uma mediação com conteúdo, entendendo, assim como Libâneo, que a palavra mediação traz o sentido de expressar o papel do professor no ensino, isto é, ao mediar a relação entre o aluno e o objeto de conhecimento, o autor considera que

Numa formulação sintética, boa didática significa um tipo de trabalho na sala de aula em que o professor atua como mediador da relação cognitiva do aluno com a matéria. Há uma condução eficaz da aula quando o professor assegura, pelo seu trabalho, o encontro bem sucedido entre o aluno e a matéria. Em outras palavras, o ensino satisfatório é aquele em que o professor põe em prática e dirige as condições e os modos que asseguram um processo de conhecimento pelo aluno (LIBÂNEO, 2018, p. 3).

Vejamos, na aula com a temática de sonoplastia (aula 4), a professora-pesquisadora separou alguns objetos que produzem som: (corneta, panela, alumínio, mini pandeiro, apitos e outros) que foram colocados numa caixa grande e junto a duas placas de tatames. A aula seria na sala de aula ao invés de ser na quadra, as crianças estavam curiosos sobre o conteúdo da caixa e foram logo perguntando:

“Vai ser aula de mágica?” (aluno 3). “Tem um bichinho aí dentro tia?” (aluna7).

“Qual é a atividade de hoje? Está dentro da caixa?” (aluna18). Interessante notar que em nenhum momento as crianças questionaram a pesquisadora sobre sair de sala e ir para quadra. O fato de da professora-pesquisadora ter levado objetos (caixa/objeto diversos/tapete) que aguçou a curiosidade dos alunos pode ter contribuído para o fato de não questionarem sobre a quadra. Sentados em círculo as primeiras reflexões foram em torno do tema da aula, nesse momento a professora instiga um diálogo sobre “Sonoplastia”:

“Alguém sabe o que é Sonoplastia?” (professora/ pesquisadora).

Após um silêncio e expressões de dúvidas um dos alunos fala: “Sono da plástica professora” (aluno 9).

nesse momento.

A professora/ pesquisadora aproveita o momento da brincadeira para passar então outro aluno a decifrar em tom de brincadeira a palavra “Sonoplastia”

“Som da plastia” (aluno15).

Risos novamente da turma e, antes que a professora-pesquisadora fizesse uma intervenção, uma das alunas fala:

“Tem a ver com som do Teatro tia?” (aluna 2).

A professora-pesquisadora percebe que essa aluna já está conectando os conhecimentos e assuntos abordados nas aulas anteriores. Então ela responde à aluna com mais uma reflexão para a turma:

“Isso mesmo! Mas que som?” (professora-pesquisadora). E vários alunos respondem ao mesmo tempo ― “músicas!” (alunos/as). Nesse momento, a professora-pesquisadora passa a explicar/conceituar a palavra “Sonoplastia” e pontua exemplos para que houvesse um melhor entendimento ― abrir e fechar de porta, barulho de chuva, gritos e outros. A professora/ pesquisadora passa a demonstrar exemplos com os objetos da caixa, a curiosidade e a vontade de experimentar eram nítidas nos/nas aluno/as. Os/as alunos/as encantados foram experimentando e ao mesmo tempo as reflexões continuaram para que pudesse o debate estreitar relação com o objetivo da aula

“Mas para que serve esses sons no Teatro?” (professora-pesquisadora).

“emoção”; “representar algo”; “entender a cena”; fazer o público chorar e se assustar” (várias respostas dos/as alunos/as foram surgindo ao mesmo tempo).

As respostas foram fluindo e a professora/ pesquisadora partiu, então, para a reflexão chave da aula

“o corpo seria capaz também de produzir sons?” (professora-pesquisadora).

regaste histórico, instigando a curiosidade dos mesmos: Vocês sabiam que algum tempo atrás o Teatro, o rádio e a televisão usavam os recursos corporais e de objetos para produzirem a sonoplastia, pois não havia tecnologia como o computador e o celular? (Professora/ pesquisadora).

Apontados exemplos corporais como sons de passos a professora estimula os/as alunos a testarem corporalmente os sons, esses vivenciam sons com a boca como chuva, vento e outros; barulhos de pegadas com os pés e outros. Reverbel aponta que desde a pré-escola, as crianças acentuam com sons as ações imitadas do cotidiano (REVERBEL, 1989, p. 20).

Foto 30 - Roda de conversa sobre sonoplastia

Fonte: Arquivo pessoal da autora.

A conversa inicial trouxe uma reflexão e o entendimento do elemento cênico sonoplastia bem como a compreensão das possibilidades de manifestações corporais produzirem sons, expressões e ritmos. A aula trouxe de forma lúdica o aprender do jogo/ brincadeira, bem como vivenciar/ experimentar e produzir sons corporais explorando as possibilidades e conhecimento.

Na busca de um entendimento do por que estamos praticando determinado movimento e/ou expressão entendemos assim, com Darido que

A Educação Física busca garantir o direito do aluno de saber o porquê dele realizar este ou aquele movimento, isto é, quais conceitos estão ligados àqueles procedimentos (dimensão conceitual) (DARIDO, 2018, p. 6).

A brincadeira/jogo passa a ter um objetivo e conhecimento para além do brincar e executar na Educação Física escolar.

Na aula 5 abordamos o tema figurino (elemento cênico) para a conversa inicial a professora/ pesquisadora utilizou plaquinhas ilustrativas com fotos de várias

despertadas a refletir “qual personagem estava representado naquela foto?” As fotos trouxeram figurinos comuns como palhaço, médico e outros, o que facilitou a resposta das crianças promovendo a participação e entendimento do assunto. Após demonstrar as plaquinhas, a professora/ pesquisadora aborda o tema “Figurino”, sua importância numa encenação, bem como a ligação da expressão corporal com o figurino utilizado.

Nesse dia os alunos estavam bem agitados, trouxeram fantasia, adereços e estavam muito ansiosos para aula. Como a turma demorou a acalmar e ficar em silêncio para o diálogo inicial a professora-pesquisadora optou por explicar os conceitos e a proposta de atividade do dia, explorando mais o momento das vivências.

Foto 31 - Roda de Conversa sobre figurino

Fonte: Arquivo pessoal da autora.

Foto 32 - Roda de Conversa sobre figurino

Fonte: Arquivo pessoal da autora.

Para a aula sobre pantomimas (aula 9) a professora/ pesquisadora separou fotos e vídeos sobre o tema inclusive fotos pessoais de suas aulas na oficina de Teatro

roupas, maquiagem e expressões que utilizam nesse tipo de apresentação. Um dos alunos questionou

“Tia só as meninas irão fazer essa maquiagem, né” (aluno 17). Nesse momento, a professora/ pesquisadora interviu explicando que o tipo de maquiagem utilizada nas pantomimas pode ser para meninos e meninas, mostrou exemplos de homens na foto utilizando a pintura de rosto. Explicou que era uma pintura artística utilizada em pantomimas, essa pintura auxilia em destacar as expressões faciais dos artistas. Ao mostrar uma foto a aluna falou:

“Parece Charlie Chaplin” (aluna13).

A professora-pesquisadora confirma e fala um pouco sobre Charlie Chaplin e o cinema mudo. Muitos alunos relatam conhecer obras do ator. Outras falas foram surgindo ao visualizarem as fotos e vídeos:

“Pantomimas parece mímica” (aluno3).

“Parece os sombras das pegadinhas da TV” (aluno17).

A professora-pesquisadora preferiu, então, explicar o assunto expondo os vídeos e pontuando sobre os gestos e expressões corporais utilizado nesse tipo de Teatro. A autora Reverbel destaca que a pantomima é interpretada através de gestos, normalmente exagerados, o que aproxima do burlesco (REVERBEL, 1989, p.18).

Após toda a explanação, a professora pontuou que os/as alunos iriam montar um Teatro a ser apresentado com pantomimas algo bem parecido com o que eles tinham assistido nos vídeos.

Foto 33 - Aula expositiva sobre Pantomimas

Fonte: Arquivo pessoal da autora.

tema que aborde cidadania, cita exemplos como ― Segurança no trânsito; Coleta de Lixo; Saúde Coletiva; ética no trabalho; Respeito aos idosos; Bullying. Uma aluna sugere nesse momento o tema Natureza, e os alunos demonstram gostar, a professora-pesquisadora sugere o tema “Preservação da Natureza”. Os alunos muito exaltados concordam com a professora e a mesma combina de conversar melhor sobre o assunto em outra aula.

Juntamente com os conhecimentos e vivências das manifestações corporais, propomos com as aulas uma contextualização das informações assim como propõe Darido (2018)

Dessa forma, mais do que exclusivamente ensinar a fazer, o objetivo da Educação Física na escola é que os alunos e alunas obtenham uma contextualização das informações, como também aprendam a ser e a se relacionar com os colegas, numa perspectiva buscada pela escola cidadã (p. 6).

Com objetivo de expor ao leitor nossa proposta didática desenvolvida nas aulas, se fez necessário nessa seção do texto expor de que forma o conhecimento da expressão corporal foi contextualizado e como elementos do Teatro colaboraram nessa etapa.

Explanamos, até o momento, o conhecimento conceitual da nossa proposta, lembrando que trouxemos os elementos cênicos para colaborar no ensino da expressão corporal, já que estamos utilizando o Teatro como recurso das aulas. Apesar de as aulas 10 e 11 tratarem também de uma reflexão do conteúdo, optamos por explanar melhor no próximo tópico que aponta as reflexões sociais na Educação Física escolar bem como no tópico sobre protagonismo e autonomia, que de certa forma se interligam numa construção do aprendizado.

5.2.2 EM BUSCA DE REFLEXÕES SOBRE UMA REALIDADE SOCIAL PARA A