• Nenhum resultado encontrado

TEATRO E A CULTURA CORPORAL DE MOVIMENTO: Possibilidades pedagógicas para Educação Física escolar

N/A
N/A
Protected

Academic year: 2021

Share "TEATRO E A CULTURA CORPORAL DE MOVIMENTO: Possibilidades pedagógicas para Educação Física escolar"

Copied!
133
0
0

Texto

(1)

UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO FACULDADE DE EDUCAÇÃO FÍSICA

MESTRADO PROFISSIONAL EM REDE NACIONAL EM EDUCAÇÃO FÍSICA

ELISA BARCELLOS DA CUNHA E SILVA

TEATRO E A CULTURA CORPORAL DE MOVIMENTO:

Possibilidades pedagógicas para Educação Física escolar

CUIABÁ - MT 2020

(2)

ELISA BARCELLOS DA CUNHA E SILVA

TEATRO E A CULTURA CORPORAL DE MOVIMENTO:

Possibilidades pedagógicas para Educação Física escolar

Dissertação apresentada ao Programa de Pós–Graduação Profissional em Educação Física em Rede Nacional ― PROEF, no polo da Universidade Federal de Mato Grosso e ao Núcleo de Educação a Distância da Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” ― NEAD/UNESP, como requisito para obtenção do título de Mestra em Educação Física.

Orientador: Prof. Dr. Cleomar Ferreira Gomes

CUIABÁ - MT 2020

(3)

Dados Internacionais de Catalogação na Fonte.

Ficha catalográfica elaborada automaticamente de acordo com os dados fornecidos pelo(a) autor(a). Permitida a reprodução parcial ou total, desde que citada a fonte.

S586t Silva, Elisa Barcellos da Cunha.

Teatro e a cultura corporal de movimento : possibilidades pedagógicas para Educação Física escolar / Elisa Barcellos da Cunha Silva. -- 2020

131 f. : il. color. ; 30 cm.

Orientador: Cleomar Ferreira Gomes.

Dissertação (mestrado) - Universidade Federal de Mato Grosso,

Faculdade de Educação Física, Programa de Pós-Graduação em Educação Física, Cuiabá, 2020.

Inclui bibliografia.

(4)

MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO

UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO PRÓ-REITORIA DE ENSINO DE PÓS-GRADUAÇÃO

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO FÍSICA - PROEF

FOLHA DE APROVAÇÃO

TÍTULO: TEATRO E A CULTURA CORPORAL DE MOVIMENTO: POSSIBILIDADES PEDAGÓGICAS PARA A EDUCAÇÃO FÍSICA ESCOLAR AUTORA

: MESTRANDA ELISA BARCELLOS DA CUNHA E SILVA Dissertação defendida e aprovada em 27 de abril de 2020.

COMPOSIÇÃO DA BANCA EXAMINADORA

Doutor Cleomar Ferreira Gomes - UFMT (Presidente Banca / Orientador)

Doutor Ueberson Ribeiro Almeida - UFES (Examinador Interno)

Doutor André da Silva Mello - UFES (Examinador Externo)

Doutora Márcia Cristina Rodrigues da Silva Coffani - UFMT (Examinadora Suplente)

Doutora Kalline Pereira Aroeira - UFES (Examinadora Suplente)

Cuiabá, 27 de abril de 2020.

Documento assinado eletronicamente por CLEOMAR FERREIRA GOMES, Docente da Universidade Federal de Mato Grosso, em

27/04/2020, às 17:32, conforme horário oficial de Brasília, com fundamento no art. 6º, § 1º, do Decreto nº 8.539, de 8 de outubro

de 2015.

Documento assinado eletronicamente por Ueberson Ribeiro Almeida, Usuário Externo, em 27/04/2020, às 19:01, conforme horário oficial de Brasília, com fundamento no art. 6º, § 1º, do

Decreto nº 8.539, de 8 de outubro de 2015.

Documento assinado eletronicamente por André da Silva Mello, Usuário Externo, em

27/04/2020, às 19:12, conforme horário oficial de Brasília, com fundamento no art. 6º, § 1º, do

Decreto nº 8.539, de 8 de outubro de 2015.

A autenticidade deste documento pode ser conferida no site

http://sei.ufmt.br/sei/controlador_externo.php?

acao=documento_conferir&id_orgao_acesso_externo=0, informando o código verificador 2358622 e o código CRC E913636E.

(5)

Ao meu marido Anderson, minha filha Isabella e aos meus pais, pelo incentivo, parceria e carinho durante todo o mestrado.

(6)

AGRADECIMENTOS

Ao Programa de Pós–Graduação Profissional em Educação Física em Rede Nacional ― PROEF por proporcionar essa formação. Ao corpo pedagógico da UFMT pelos ensinamentos e acolhimento durante todo o mestrado.

Com muito carinho agradeço ao meu Orientador Cleomar Ferreira Gomes, (como em todo espetáculo há um grande Diretor) pela paciência de me ensinar e também de me corrigir, sem nunca me furtar a motivação.

Aos grandes amigos, que entraram em cena quando precisei: Ana Flávia Sofiste, Susan Fiuza, Larissy Soares, Sabrina Poloni, Nádia Serafim, Alexandre Flores, Andrea Gontijo.

Agradeço à Banca nas pessoas do Professor Dr. Ueberson Almeida, Prof. Dr. André Mello, Profa. Dra. Márcia Coffani e Profa. Dra Kalline Pereira Aroeira

Aos colegas e amigos do Mestrado, em especial à Ana, Wanessa e Noelle e ao Romeu.

A Anderson Gonçalves, nas distintas identidades que o completa como homem, marido, amigo, amigo, companheiro de vida ― o meu amor. Saiba que foi muito importante você dizer “Vai meu amor fazer seu mestrado, estaremos juntos nessa!”. Juntamente a você, agradeço a nossa princesa Isabella Barcellos, uma menina incrivelmente madura e amorosa que me fez enfrentar essa batalha com muita leveza entremeio aos eternos beijos carinhosos.

Ao meu pai Marcos Cunha, minha mãe Maria José e meu irmão Marcos Barcellos, cujo apoio, amor, carinho e o colo familiar foram fundamentais na minha vida.

Por fim, minha família do coração que caminharam junto, apoiando a mim e a meu marido nessa jornada do mestrado. Obrigada João Batista, Dona Maria, Agda, Maria José, Hélvio e Paula.

(7)

Eu fico com a pureza da resposta das crianças. É a vida, é bonita e é bonita. Viver e não ter a vergonha de ser feliz. Cantar e cantar e cantar. A beleza de ser um eterno aprendiz... Luiz Gonzaga Jr/Gonzaguinha (1982).

(8)

RESUMO

Este estudo intenta compreender o uso do Teatro como recurso metodológico no ensino dos conteúdos das aulas de Educação Física escolar. Para isso, foi desenvolvido um projeto de pesquisa-intervenção que previa o ensino de atividades lúdicas, como brincadeiras, e de Jogos Teatrais. O objetivo foi possibilitar ao professor de Educação Física uma diversificação do trato didático-pedagógico para uma ampliação da compreensão da expressão corporal do aluno. O trajeto didático metodológico escolhido para o desenvolvimento das aulas de Educação Física, na EMEF Arthur da Costa e Silva, Vitória-ES, com alunos do quarto ano, possibilitou inserir elementos cênicos presente no Teatro e no Jogo Dramático. Os procedimentos teóricos metodológicos tiveram como base os seguintes elementos: o pensamento crítico-reflexivo presentes no Movimento Renovador da Educação Física Brasileira e; as experiências da prática docente da pesquisadora. A abordagem metodológica utilizada foi a qualitativa e o método foi a pesquisa participativa. Os procedimentos de coleta dos dados foram: a realização de um diário de campo com anotações das observações realizadas nas aulas; o registro de fotos das aulas e; os registros elaborados pelos alunos, como texto e desenhos. A análise dos dados produzidos na pesquisa foi realizada com base nos referencias teóricos, que ajudaram na identificação dos seguintes eixos temáticos de análise: O uso do teatro e dos jogos teatrais para o ensino da expressão corporal: os aprendizados da educação física escolar por meio do uso do teatro. Os conceitos teóricos que embasaram a elaboração desses eixos foram o Teatro e Jogos Teatrais de Reverbel (1989) e Koudela, (2013); O Saber Fazer e o Saber Sobre o Fazer na Educação Física escolar de Darido e Rangel (2011); A Organização Curricular e o Conteúdo Expressão Corporal de Palma, Oliveira e Palma (2010) e de González e Fraga (2012). Os resultados das análises indicaram que o uso do Teatro nas aulas de Educação Física oportunizou os alunos a descobrirem suas capacidades de expressar, de sentir suas emoções, de explorar o corpo, o espaço e os movimentos, por meio das trocas de experiências nas atividades desenvolvidas. Também identificamos a construção de um pensamento crítico-reflexivo sobre as identidades culturais dos educandos, com o envolvimento no processo de criar, representar, dramatizar, fantasiar, permitindo estimular o seu imaginário, a fantasia e o mimetismo. Com isso, podemos apreender que o aprendizado foi para além dos conhecimentos da expressão corporal, envolvendo um o saber fazer e o saber sobre o fazer para a elaboração de uma autonomia e de um protagonismo que consolidaram valores para a formação de cidadãos.

(9)

ABSTRACT

This study seeks to understand the use of Theatre as a methodological resource in teaching the contents of school Physical Education classes. For this purpose, a research-intervention project was developed, which included teaching recreational activities, like kids’ games, and Theatre Games. The objective was to enable the Physical Education teacher to diversify the didactic-pedagogical approach in order to broaden the understanding of the student's body expression. The methodological didactic path chosen for the development of Physical Education classes, at EMEF Arthur da Costa e Silva, Vitória-ES, with fourth year students, made it possible to insert scenic elements present in the Theatre and in the Dramatic Game. The theoretical methodological procedures were based on the following elements: critical-reflective thinking present in the Brazilian Physical Education Renovation Movement and; the experiences of the researcher's teaching practice. The methodological approach used was qualitative and the method was the participatory research. The data collection procedures were the creation of a field diary with notes of the observations made in class; the registration of photos of the classes and; the records made by the students, such as text and drawings. The analysis of the data produced in the research was carried out based on theoretical references, which helped in the identification of the following thematic axes of analysis: The Use of Theatre and Theatre Games for the Teaching of Body Expression; The Learning of Physical Education at School through the use of Theatre. The theoretical concepts that supported the elaboration of these axes were: Theatre and Theatre Games by Reverbel (1989) and Koudela, (2013); Knowing how to do and knowing about doing in school physical education by Darido and Rangel (2011); The Curricular Organisation and the Body Expression Content by Palma, Oliveira and Palma (2010) and González and Fraga (2012). The results of the analyses indicated that the use of Theatre in Physical Education classes enabled students to discover their ability to express, to feel their emotions, to explore the body, space and movements, through the exchange of experiences in the activities developed. Also, we identified the construction of a critical-reflexive thinking about the cultural identities of the students, with the involvement in the process of creating, representing, dramatising, fantasising what allowed the imaginary, the fantasy and the mimicry to emerge in the students. Based on this, we concluded that learning went beyond the knowledge of body expression and involves knowing how to do and knowing how to develop the autonomy and the role that consolidated values for the development of citizens.

(10)

LISTA DE FOTOGRAFIAS

Foto 1 - Jogo da Representação Corporal ... 50

Foto 2 - Jogo da Representação Corporal ... 51

Foto 3 - Estátua das sensações ... 53

Foto 4 - Estátua das sensações ... 54

Foto 5 - Batalha do som ... 56

Foto 6 - Batalha do som ... 57

Foto 7 - Batalha do som ... 57

Foto 8 - Criação de Elemento Cênico ... 59

Foto 9 - Criação de Elemento Cênico ... 59

Foto 10 - Maquiagem e figurino ... 60

Foto 11 - Maquiagem e figurino ... 60

Foto 12 - Maquiagem e figurino ... 60

Foto 13 - Batatinha frita ... 62

Foto 14 - Batatinha frita ... 62

Foto 15 - Pique espelho ... 64

Foto 16 - Pique espelho ... 64

Foto 17 - Pique espelho ... 64

Foto 18 - Pique espelho ... 65

Foto 19 - Montagem da Coreografia ... 67

Foto 20 - Montagem da Coreografia ... 67

Foto 21 - Parte expositiva da aula ... 68

Foto 22 - Grupo de banhistas comprando picolé ... 69

Foto 23 - Grupo de jogadores de Futebol ... 69

Foto 24 - Banhista que denuncia a poluição ... 69

Foto 25 - Chegada do policial... 70

Foto 26 - Ensaio na quadra ... 70

Foto 27 - Roda de conversa ... 72

Foto 28 - Exposição do filme Divertida Mente ... 74

Foto 29 - Atividade Avaliativa sobre o Filme Divertida Mente ... 74

Foto 30 - Roda de conversa sobre sonoplastia ... 78

Foto 31 - Roda de Conversa sobre figurino... 79

(11)

Foto 33 - Aula expositiva sobre Pantomimas ... 80

Foto 34 - Debate sobre Cidadania ... 85

Foto 35 - Estátua das Sensações ... 88

Foto 36 - Atividade elaborada pelo aluno ... 88

Foto 37 - Construção coletiva da história ... 91

Foto 38 - Construção coletiva da história ... 91

Foto 39 - Aula de Figurino ... 92

Foto 40 - Aula de Figurino ... 93

Foto 41 - Aula de Figurino ... 93

Foto 42 - Produção do enredo para o cenário da praia ... 94

Foto 43 - Produção do enredo para o cenário da praia ... 94

Foto 44 - Encenação dos alunos ... 95

Foto 45 - Encenação dos alunos ... 96

Foto 46 - Encenação dos alunos ... 96

Foto 47 - Aluna 18 encenando com seus óculos... 97

Foto 48 - Montagem do esquete em grupo ... 98

Foto 49 - Montagem do esquete em grupo ... 98

Foto 50 - Apresentação do esquete ... 99

Foto 51 - Apresentação do esquete ... 99

Foto 52 - Apresentação do esquete ... 100

Foto 53 - Apresentação do esquete ... 100

Foto 54 - Apresentação do esquete ... 101

Foto 55 - Apresentação do esquete ... 101

Foto 56 - Construção da coreografia ... 102

Foto 57 - Dia da Apresentação no Teatro Sonia Cabral ... 104

Foto 58 - Dia da Apresentação no Teatro Sonia Cabral ... 104

(12)

LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Ilustração 1 - Resposta da aluna ... 73

Ilustração 2 - Desenho dos/as alunos/as ... 74

Ilustração 3 - Desenho dos/as alunos/as. ... 75

Ilustração 4 - Texto aluno (a) ... 90

(13)

LISTA DE SIGLAS

ACS - Escola Municipal de Ensino Fundamental Arthur da Costa e Silva BDTD - Biblioteca Digital Brasileira de Teses e Dissertações

BNCC - Base Nacional Comum Curricular BNH - Banco Nacional de Habitação

Capes - Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior CEP - Comitê de Ética em Pesquisa

EJA - Ensino de Jovens e Adultos

EMEF - Escola Municipal de Ensino Fundamental IFMT - Instituto Federal do Mato Grosso

PCN - Parâmetros Curriculares Nacional PPP - Projeto Político Pedagógico

PROEF - Mestrado Profissional em Educação Física em Rede Nacional TOD - Transtorno Opositor Desafiador

(14)

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ... 13

2 PRIMEIRO ATO: AS REFLEXÕES SOBRE O TEATRO NA ESCOLA E AS POSSIBILIDADES DE DIÁLOGO COM O ENSINO DA EDUCAÇÃO FÍSICA. ... 20

3 SEGUNDO ATO: EM CENA AS POSSIBILIDADES DO USO DO TEATRO NO ENSINO DOS CONTEÚDOS DA EDUCAÇÃO FÍSICA. ... 24

3.1 Cena 1 - O uso do Teatro e dos Jogos Teatrais na escola ... 25

3.2 Cena 2 - Educação Física escolar: a cultura corporal de movimento e as práticas corporais no ensino a partir do uso do Teatro. ... 28

4 TERCEIRO ATO: OS CAMINHOS METODOLÓGICOS PARA A ELABORAÇÃO DE UM PLANO DE PESQUISA E DE INTERVENÇÃO ... 35

4.1 Cena 1 - Procedimentos metodológicos para a produção e análise dos dados da pesquisa. ... 35

4.2 Cena 2 - A Escola EMEF Arthur da Costa e Silva: História e tipologia ... 37

4.3 Cena 3 - A elaboração do plano de intervenção. ... 40

5 QUARTO ATO: OS ATORES/ALUNOS EM CENA: REFLEXÕES SOBRE OS PROCESSOS DE ENSINO E APRENDIZAGEM NA EDUCAÇÃO FÍSICA POR MEIO DO TEATRO. ... 48

5.1 Cena 1 - Aprendendo uma linguagem através da expressão corporal: o Teatro nas aulas de educação física. ... 48

5.2 Cena 2 - Processo ensino aprendizagem na Educação Física escolar. ... 71

5.2.1 Vivenciar e contextualizar o ensino da Educação Física ... 71

5.2.2 Em busca de reflexões sobre uma realidade social para a construção da cidadania. ... 81

5.2.3 Em cena o despertar do protagonismo e da autonomia ... 86

6 CONSIDERAÇÕES FINAIS ... 106

7 REFERÊNCIAS ... 111

APÊNDICE A - Instrumentos de coleta de dados ... 117

APÊNDICE B - Termo de assentimento livre e esclarecido (participante de menor idade) ... 118

APÊNDICE C - Consentimento livre e esclarecimento (professor) ... 119

APÊNDICE D - Consentimento livre e esclarecimento (pais ou responsáveis) ... 121

APÊNDICE E - Parecer consubstanciado do cep ... 123

APÊNDICE F - Autorização da escola para realização da pesquisa ... 128

ANEXO A - Carta de anuência para autorização de realização de pesquisa ... 129

ANEXO B- Carta de apresentação do projeto ... 130

(15)

1 INTRODUÇÃO

A presente dissertação de Mestrado, desenvolvida do âmbito da linha de pesquisa Educação Física Escolar do Programa de Mestrado Profissional em Educação Física em Rede Nacional (PROEF) da Universidade Federal do Mato Grosso (UFMT), discute o tema O ensino das aulas de Educação Física na Educação Básica por meio do Teatro. O objeto de estudo é o uso do Teatro como recurso metodológico para o ensino dos conteúdos de Educação Física com alunos do quarto ano da Escola de Ensino Fundamental do município de Vitória- ES, EMEF Arthur da Costa e Silva.

O interesse por desenvolver esse estudo foi motivado pela minha trajetória profissional como professora de Educação Física, na qual tive uma experiência com o ensino de jogos, brincadeiras, danças e Teatro, numa perspectiva interdisciplinar, pautada em projetos institucionais em algumas escolas1. Além disso, eu também atuei

como professora de Educação Física em um projeto socioeducativo2. Nesse mote, o

Teatro sempre fez parte das minhas aulas como recurso metodológico para o ensino dos conteúdos.

Eu também atuei em escolas da rede privada do município de Vitória durante os anos de 2004 a 2006, nas quais fui professora do Ensino Fundamental I e II. Ingressei como professora efetiva nas Secretarias de Educação da Prefeitura de Vitória-ES, no ano de 2007, e da Prefeitura de Serra-ES, no ano de 2008. Nessas escolas sempre me solicitaram atividades para além das aulas de Educação Física. Com isso, aprendi a fazer eventos nas áreas de esportes, danças culturais, como quadrilhas, além de desfiles e peças teatrais. Tudo isto, integrado com professores regentes de outras áreas de ensino.

Muitos professores de Educação Física que conheci não gostavam dessas incumbências extras, mas tinha afinidades com esse tipo de trabalho, que envolvia, também, a ludicidade, a cultura, a arte e a dança. Nessa trajetória docente, entre erros e acertos, fui adquirindo habilidades para atuar como professora, criando um estilo

1 Os Projetos das escolas elaborados durante os anos letivos nas escolas do município de Serra e de

Vitória.

2 O Projeto Social que eu atuei de 2014 a 2018 como professora de Educação Física foi o Programa

Adolescente Cidadão, projeto sócio educativo, da Secretaria de Educação da Serra-ES, que atende

(16)

próprio que se modificou ao longo dos anos e está sempre em busca de aprimorar tais habilidades.

Essa trajetória docente de treze anos, especificamente nestas duas prefeituras, me proporcionaram um conhecimento mais específico sobre o ensino da Educação Física na escola pública. No ano que ingressei, em 2007, me deparei com a presença de um trabalho mais individualizado dos professores em geral e, também, com a ausência de um acompanhamento mais próximo do Pedagogo, no que se refere ao planejamento com o professor de Educação Física. Entretanto, isto me impulsionou a buscar e construir o meu fazer pedagógico.

O trabalho pedagógico, exclusivamente com as práticas corporais, que priorizam o uso da quadra esportiva da escola não me satisfazia. Então, eu comecei a propor atividades interdisciplinares, com o objetivo de ampliar o leque de intervenção da Educação Física e tive uma boa recepção desse tipo de atuação docente em todas as escolas que trabalhei.

Uma das primeiras atividades interdisciplinares que eu propus foi um evento sobre as Olímpiadas, em que a atuação de cada professor regente de turma seria debater sobre a cultura de um país para, posteriormente, realizarmos apresentações de dança, Teatro, poesia, canto e culinária, a fim de que pudéssemos representar os países e os jogos esportivos, com cada turma, representando uma equipe ou um país. Nessa época (2008) aprendi que nem todos os professores estão dispostos a abraçar uma proposta pedagógica interdisciplinar, mas os que abraçam a ideia realizam trabalhos incríveis.

Em uma das unidades de ensino que eu trabalhei no município da Serra-ES, pude encontrar uma realidade diferenciada de outras escolas públicas. Naquele momento, em 2009, na EMEF Jorge Amado percebi que a equipe proporcionava projetos pedagógicos com temas transversais, trabalhos culturais e interdisciplinares. Havia ali uma aproximação com o meu fazer pedagógico e, eu pude, nesse ambiente, participar de trabalhos junto às professoras regentes de turma e, também, propor trabalhos diferenciados nas aulas de Educação Física. O fato de poder participar, juntamente, com as professoras regentes de sala, na montagem de coreografias de

(17)

danças e na apresentação de peças teatrais, realizados na “Sexta Cultural”3, foi para

mim um encantamento e engrandecimento da minha atuação profissional na área. Nas aulas de Educação Física, eu trabalhava com os conteúdos relacionados com os temas dos projetos pedagógicos interdisciplinares. Para isso, contei, também, nessa escola EMEF Jorge Amado com outros parceiros de Educação Física, que muito somaram na prática pedagógica. Nessa época, entre os anos de 2008 a 2013, nós trabalhamos com a ginástica, a dança e o circo, sempre concluindo com eventos, encenações e apresentações4 ao longo dos anos.

Em 2014 fui convidada para um projeto social dentro da Secretaria de Educação do município da Serra-ES, onde desenvolvi oficina de Teatro para atender alunos do ensino regular no contra turno escolar. A minha aproximação com o Teatro se intensificou trabalhando temas transversais como: gravidez na adolescência; violência, cidadania; bullying e; outros. Esses temas eram debatidos por meio de jogos, brincadeiras, atividades teatral, expressão corporal, dança, alongamento e ginástica.

Nesse momento, eu me vi com um desafio que sempre me encantou nas aulas de Educação Física, que era trabalhar o corpo e suas expressões através do lúdico, do imaginário, da construção de uma linguagem corporal, através das encenações.

As aulas se davam em momentos de conversas sobre os temas selecionados pela equipe que surgiam no contexto local, depois partíamos para Jogos Teatrais, ginástica, mímicas, improvisações de cenas e brincadeiras que pudessem deixar aqueles corpos se expressarem. O entendimento da linguagem corporal passou a ser para as aulas um ponto importante para entender o corpo em cena, e perceber que através da ludicidade, dos jogos e das brincadeiras o aluno sentia e percebia que seu corpo falava, descobrindo a si e suas capacidades de se expressar.

3 Sexta Cultural era o nome do projeto institucional da EMEF Jorge Amado cujo objetivo era

proporcionar aos alunos/as apresentações culturais uma vez ao mês.

4 Exemplos dos trabalhos realizados na EMEF Jorge Amado: O Circo do Jorge Amado ― tivemos

encenações circenses de palhaços, malabaristas, contorcionistas e danças; A Dança Caminho das

Índias – sobre a cultura indiana e um estudo dos costumes e das danças; Jorge Amado Fashion Week

- evento de desfile aliado ao projeto identidade; Criança não trabalha, Criança dá trabalho - espetáculo de dança e encenações integrado ao projeto trabalho infantil; Brinquedos que voam - vivências e torneios de brinquedos que voam como pipa, aviãozinho de papel, bumerangue, catrequinho aprendidos e construídos pelos alunos nas aulas de Educação Física; Exibição do Filme De volta para

o Futuro - após um trabalho com os conteúdos, brincadeiras antigas e brincadeiras atuais, durante seis

(18)

As mudanças na forma de falar, de relacionar socialmente, de criar, de imaginar eram percebidas nos alunos ao longo do desenvolvimento das aulas. Os exercícios e as atividades propostas tinham esse objetivo. A expressão corporal nas oficinas de Teatro levava os participantes a se conhecerem como um todo, como ser integro, inteiro e capaz de julgar a si mesmo e de projetar julgamentos pessoais próprios, fugindo do mapa que, tradicionalmente, são passados por pais e mestres, nos modelos antigos de educação. Isto que me encantava nas aulas!

Todas estas experiências profissionais no ensino da Educação Física e nas atividades de ensino interdisciplinares, me permitiram constatar que o Teatro proporciona um entendimento cultural e uma reflexão sobre o mundo. Suponho que, o corpo e a expressão corporal sejam os principais pontos de convergência entre o Teatro e a Educação Física, e assim como Baccin (2012), “[...] considero o corpo como uma construção histórica, cultural, social, política, repleta de interrogações sobre as múltiplas e diferentes inscrições que o constituem” (p. 3).

Desse modo, essa minha trajetória profissional me fez desenvolver a seguinte problemática de pesquisa: Como seria possível, então, fazer o uso do Teatro nas aulas de Educação Física como recurso metodológico, contribuindo para uma ampliação da compreensão do repertório da expressão corporal dos alunos por meio do desenvolvimento de atividades lúdicas e Jogos Teatrais, influindo novos elementos para compor a cultura corporal no ambiente escolar?

Assim, delimita-se como hipótese deste estudo compreender como uso do Teatro como um recurso metodológico de ensino das aulas de Educação Física pode contribuir para a construção de uma visão crítica do aluno ao estabelecer uma didática que está para além da aprendizagem de habilidades técnicas e motoras dos conteúdos dessa disciplina. Com isto, possibilita a elaboração de novas práticas de ensino da cultura corporal no âmbito escolar, na medida em que se tem a compreensão da relevância do Teatro para o aprendizado da expressão corporal.

A relevância pessoal deste estudo está na possibilidade de transportar a minha experiência docente vivida na oficina de Teatro para a realização de uma proposta pedagógica do uso do Teatro nas aulas de Educação Física escolar com alunos do quarto ano do Ensino Fundamentas da EMEF Arthur da Costa e Silva. Além disso, a relevância acadêmica e social está em contribuir com a construção de um conhecimento sobre novas práticas de ensino com a cultura corporal que possibilite a

(19)

ampliação de um aprendizado cultural, social, afetivo e emocional do aluno, podendo, assim, melhorar a capacidade de se expressar e de se comunicar no âmbito das suas ideias e das suas produções no contexto social.

Segundo Ivo Bender Jacoby (2008)

Para o professor que pretende desenvolver conhecimentos teatrais na sala de aula, o desafio preliminar que se coloca é, justamente, a interação com toda essa diversidade trazida pelos alunos. A ação pedagógica deve buscar compreender a natureza das concepções de Teatro das crianças as quais se dirigi para, a partir delas, propor novas experiências que contemplam aspectos individuais e coletivos, afetivos e teórico e prático, ético e estético (p. 157).

A presença do uso do Teatro como recurso metodológico tem uma forte presença na Educação Infantil, num formato mais lúdico e recreativo. No Ensino Fundamental e Médio também tem sido utilizado para o ensino de diferentes componentes curriculares, amparados na ideia de que “[...] teatralização é uma forma de fazer com que o aluno possa ter uma experiência didática diferenciada para aquisição de conhecimentos trabalhados em sala de aula” (TORRES; SILVA; KNAPP, 2013, p.01).

Assim, o Teatro como recurso metodológico de diversas matérias, possibilita ao aluno mais autonomia e aprendizado no processo educativo, fugindo do formato das aulas tradicionais, como exposição oral, e proporcionando aulas mais atrativas e com maior participação. Segundo Silva (2008)

A atividade teatral além de estimular a capacidade intelectual, a espontaneidade, a imaginação, a percepção, a observação e o relacionamento social, desenvolve habilidades físicas: ― voz, visão, expressão corporal, gestos, movimentos, equilíbrio, expressão verbal e flexibilidade, formando assim, um processo criativo que faz o jovem crescer, tornando-se mais inventivo e preparado para a vida e para a construção cultural (p. 32).

Baccin (2012) sugere que trabalhar o corpo através do Teatro, poderá trazer possibilidades para o desenvolvimento corporal e cultural dentro da escola. Entendo que:

Cabe à escola fornecer novas referências que permitam sair da visão utilitarista de conhecimento, possibilitando o entendimento da produção cultural, o que é bastante diversificada em suas formas e em seus processos de criação e apresentação, não só para o desfrute, o prazer e o enriquecimento humano, mas também para compreender e avaliar; para aceitar ou não os novos processos e produções postos na sociedade (BRASILEIRO, 2008 p. 197).

(20)

Corroborando com a ideia da autora, de que o Teatro possibilita fornecer novas referências que permitam sair da visão utilitarista de conhecimento, este estudo pretende abarcar o ensino da Educação Física numa visão crítica proporcionando a ludicidade e o artístico nas aulas via o desenvolvimento da expressão corporal.

Para isso, traçamos como objetivo geral verificar a possibilidade do uso do Teatro como um recurso metodológico para o ensino dos conteúdos da Educação Física, dentre eles a expressão corporal, por meio do desenvolvimento de atividades lúdicas e Jogos Teatrais. Os objetivos específicos foram: desenvolver um projeto de intervenção que elaborasse uma proposta didático-metodológica para inserir elementos cênicos e Jogos Teatrais, através de atividades lúdicas de expressão corporal presentes nos conteúdos da Educação Física escolar, por meio do planejamento e aplicação de um conjunto de planos de aula. Além disso, analisar as experiências de ensino e aprendizagem vivida na proposta didática indicando as possibilidades do uso do Teatro como recurso metodológico para a ampliação da compreensão da expressão corporal.

Para a elaboração deste trabalho utilizamos estudos e pesquisas com base no Movimento Renovador da Educação Física, deflagrado na década de 1980. Também, os estudos5 que têm como temática central o Teatro na Educação Física e o Teatro e

os Jogos Teatrais na Escola. Além disso, as experiências profissionais elaboradas na minha prática de ensino nas escolas e no projeto social em que atuei bem como os conhecimentos adquiridos no Mestrado Profissional em Educação Física, permitiram considerar todos esses elementos como determinantes para abraçar a proposta didática analisada nesta pesquisa.

A pesquisa se desenvolveu na Escola Municipal de Ensino Fundamental EMEF Arthur da Costa e Silva, o público-alvo foram os alunos matriculados no 4º ano do Ensino Fundamental no ano letivo de 2019. A abordagem da pesquisa foi qualitativa e o método a pesquisa participante, devido evolver a pesquisadora e objetivar identificar problemas, analisar e buscar soluções de uma realidade social, em que os participantes da pesquisa são colaboradores da mesma (GIL, 1999).

Os procedimentos para a produção dos dados foram os registros das aulas, por meio do diário de campo, o registro de fotos das aulas e os registros produzidos pelos

5 Como principais fontes de pesquisa desses estudos foram utilizadas a Biblioteca Digital Brasileira de

Teses e Dissertações (BDTD), e o portal da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes).

(21)

alunos, como textos, desenhos e outros. Esses dados ajudaram na transcrição das aulas, para a pesquisa. As observações foram feitas no horário de aula de Educação Física da turma selecionada, num total de quatorze aulas.

Os procedimentos de análise dos dados foram por meio dos estudos do referencial teórico da pesquisa. Dentre eles, os teóricos da área da Educação Física escolar, como Suraya Darido e Irene Rangel (2011) Valter Bracht (2005), Carmen Lúcia Soares et al (1992), Suraya Darido e Osmar Souza Junior (2013), Gonzalez e Fraga (2012); Ângela Palma, Amauri Oliveira e José Augusto Palma (2010), Marcos Neira (2007). Também, as teorias que discutem o Teatro e Jogos Teatrais na escola, como Viola Spolin (2017), Ingrid Dorminien Koudela (2013), Hilton Carlos de Araújo (1974), Olga Reverbel (1989). Além desses, optamos, também, por abranger autores como, Caillois (2017), Huzinga (1990), Daolio (1995) e Marcel Mauss apud Daolio (1995). Além desses, os documentos norteadores da área como os Parâmetros Curriculares Nacional (1997) e Base Nacional Comum Curricular (2018).

Os resultados alcançados nesta pesquisa partem da identificação de que O uso do Teatro e dos Jogos Teatrais para o ensino da expressão corporal ampliaram as diversas práticas corporais, através de jogos e brincadeiras, enriquecendo o ensino da expressão corporal e um despertar do olhar antropológico da área para os conteúdos. Também, que os aprendizados da Educação Física escolar por meio do uso do Teatro desenvolveu um conhecimento cognitivo sobre o saber fazer e o saber sobre o fazer gerando a construção de uma autonomia e de um protagonismo para a formação de cidadãos.

(22)

2 PRIMEIRO ATO: AS REFLEXÕES SOBRE O TEATRO NA ESCOLA E AS POSSIBILIDADES DE DIÁLOGO COM O ENSINO DA EDUCAÇÃO FÍSICA.

Este capítulo tem como propósito apresentar a Revisão de Literatura realizada em torno do tema ― Teatro na Escola, com o objetivo de elucidar a importância dessa prática no contexto de ensino. Alguns estudos6 tratam da importância e da relevância

do Teatro no contexto escolar, mas vamos apresentar aqueles que estabelecem relações e possibilidades de diálogo com o ensino da Educação Física.

O trabalho de Kawashima e Silva (2015) denominado de O Teatro como recurso metodológico interdisciplinar nas aulas de Educação Física e Língua Portuguesa aborda o Teatro inserido num projeto interdisciplinar entre os componentes curriculares, Educação Física e a Língua Portuguesa. Nesse estudo o Teatro encontra-se como conteúdo de ensino do componente curricular Língua Portuguesa e como recurso pedagógico usado pela Educação Física.

Esse estudo foi realizado com alunos do Ensino Médio do curso técnico em agropecuária do Instituto Federal do Mato Grosso (IFMT) - Campus São Vicente. Na Língua Portuguesa o docente ofertou em suas aulas modelos de textos teatrais, que constituem um elemento do Teatro. Já nas aulas de Educação Física interlocução com o Teatro se deu através da construção de uma peça teatral tendo como base o conteúdo da Educação Física denominado de Atividades Física e a Saúde e Nutrição Básica e Esportiva. As professoras regentes destas duas disciplinas uniram forças num trabalho interdisciplinar e apresentaram para crianças da comunidade externa uma peça teatral com uma linguagem apropriada para o público infantil.

Segundo as autoras desse estudo:

A atividade de Teatro constitui-se numa excelente oportunidade para que nossos alunos estimulem sua criatividade ao produzir seus textos orais e escritos, dentro de uma temática de interesse evidente da nossa sociedade contemporânea, como é saúde e bem-estar (KAWASHIMA; SILVA, 2015, p. 4841).

Percebemos nesse estudo que a disciplina de Educação Física empregou o Teatro no aspecto procedimental para o ensino dos conteúdos Atividades Física e a Saúde e Nutrição Básica e Esportiva, lecionados pelas autoras desse estudo. De

6 Estudos como de Santos e Santos (2012); Torres et al (2013); Silva (2008); Silva, Andrade, Salomão

(23)

acordo com as autoras “[...]o Teatro seria a forma efetiva de colocar em ação os

conteúdos, ou seja, o ‘saber fazer’, os conteúdos procedimentais” (KAWASHINA;

SILVA, 2015, p. 4844).

Entendemos que o Teatro trouxe “movimento ao aprendizado” porque foi colocado como forma de ação, provocando a construção de uma relação entre um conhecimento teórico científico com a prática ao criar possibilidades de vivenciar um saber numa determinada realidade fictícia. O estudo conclui que foi de grande valia o trabalho interdisciplinar, possibilitando a colaboração mútua e a maior motivação para a prática de ensino. E, ainda, o Teatro possibilitou o estímulo da criatividade na construção do conhecimento.

Baccin (2012), no artigo intitulado Corpo, Teatro e Educação Física: que jogo é esse uma reflexão do Teatro com a Educação Física, enfatiza a educação do corpo através de jogos expressivos buscando um ponto de convergência entre Teatro e Educação Física. Esse estudo traz primeiramente uma discussão sobre o tema Cultura, Corpo e Educação Física, logo depois a autora Baccin (2012) reflete sobre o tema Teatro, Jogo e Corpo, apresentando, posteriormente, uma construção de aproximação do Teatro com a Educação Física. A fim de construir possibilidades de trabalhar e discutir a “educação do corpo” o artigo propõe novas formas de trabalho e ampliação do conteúdo da Educação Física:

O que queremos dizer com a proposta aqui percorrida é que para trabalharmos com a educação do corpo não podemos ter ideia de que o corpo é apenas um receptáculo e que a Educação Física trabalha limitada aos esportes, e sim (re) pensarmos caminhos a serem percorridos pelo corpo, através da história; a maneira de como ele foi /é tratado/manipulado; como podemos trabalhar agregadas as outras áreas do conhecimento e a relação com a produção da subjetividade e formação cultural (BACCIN, 2012, p. 8). Para dialogar, então, com a Educação Física, Baccin (2012) propõe construir as seguintes ferramentas, o jogo expressivo e a dramatização, não envolvendo os aspectos técnicos e históricos do Teatro. Ela acredita que trazer o Teatro através do jogo expressivo e da dramatização amplia a criação de novos movimentos, gestos, expressões, além de uma reflexão do corpo dentro de um fenômeno social “[...] trabalhar Teatro, fazendo parte de um processo problematizador, integrando o/a aluno/adentro da sociedade sem prejuízo do senso crítico [...]” (BACCIN, 2012, p. 13).

A autora finaliza o artigo propondo novas possibilidades didáticas bem como construção de novos conhecimentos corporais e culturais partindo de um saber

(24)

cultural internalizado para possibilitar sua ampliação. Ela aponta o Teatro como uma ferramenta pedagógica para a aproximação com a Educação Física, de forma a trabalhar os conteúdos em prol do desenvolvimento e da ampliação das práticas corporais dos alunos (BACCIN, 2012).

Pancieri (2004), em sua monografia de finalização do curso de graduação em Educação Física da Universidade Federal do Espírito Santo (UFES), desenvolve uma revisão bibliográfica sobre Teatro educacional como recurso didático da Cultura Corporal do Movimento. Para isto, estabelece um diálogo de aproximação e reflexão do Teatro com entendimento de expressão corporal na cultura corporal de movimento apontado pelo Coletivo de Autores (1992). O autor propõe como conclusão desse estudo as “[...] cenas de um casamento feliz [...]” (PANCIERI, 2004, p. 58) apontando o Teatro como recurso didático que busca ampliar as diferentes atividades corporais e superar através do método dramático os teatrinhos das festas escolares (PANCIERI, 2004).

No que tange a formação do professor de Educação Física encontramos o estudo O Teatro e a Educação Física escolar: um diálogo sensível na formação inicial de professores de Educação Física. Os autores Nascimento e Krug (2015) trouxeram nessa pesquisa um diálogo entre Teatro e Educação Física por meio da corporeidade. Esta foi uma pesquisa bibliográfica de caráter qualitativo em que os autores entenderam que através do Teatro é possível compreender as inter-relações do “homem-corpo” que se faz na sociedade. A partir desse entendimento trouxeram a questão do rompimento com uma Educação Física voltada para o esporte competitivo dando voz ao corpo e suas representações sociais na atualidade. A problematização desse estudo foi em torno da contribuição na formação inicial dos professores, analisando como a corporeidade pode aliar o Teatro e a Educação Física (NASCIMENTO; KRUNG, 2015, p. 248). Traçando uma caminhada por vários autores, a pesquisa teve uma perspectiva de aproximar o Teatro da Educação Física com intuito de “[...] instruir os futuros professores acerca da linguagem cênica [...]” (NASCIMENTO; KRUNG, 2015, p. 251).

Por fim, esse estudo propõe uma nova cultura escolar, uma cultura do viver, compreender e caminhar com o corpo em movimento trazendo um novo entendimento e (re)significando a cultura da corporeidade pela Educação Física, se contrapondo ao tecnicismo.

(25)

Encontrar nos documentos, que legitimam a formação inicial destes profissionais, a abertura que a corporeidade busca em seus processos de instauração, é comprometer-se com o Teatro e sua evolução estética e histórica, em consonância com a busca atual em formar docentes/ pesquisadores coerentes, não apenas com os objetivos de suas áreas do conhecimento, mas capazes de corroborar significativamente com a ruptura do sistema educacional com práticas pouco eficientes que acentuam os equívocos conceituais dos por quês da Educação Física Escolar se fazer presente nos currículos da Educação Básica no Brasil (NASCIMENTO, KRUNG, 2015, p. 257).

Nos cenários vividos do Teatro na escola é possível enxergar a importância do Teatro dentro do ambiente escolar e construir caminhos de reflexões de sua contribuição para a Educação Física. Nosso objetivo aqui é apontar os trajetos traçados por uma proposta didática utilizando o Teatro como recurso metodológico para o trabalho da expressão corporal.

(26)

3 SEGUNDO ATO: EM CENA AS POSSIBILIDADES DO USO DO TEATRO NO ENSINO DOS CONTEÚDOS DA EDUCAÇÃO FÍSICA.

Após visualizar alguns estudos que propõe um diálogo do Teatro com a Educação Física escolar e compreendermos a importância do uso do Teatro na escola, continuamos a discutir o tema exibindo um debate sobre como se define o Teatro como um recurso metodológico para o ensino da Educação Física.

Assim, este capítulo tem como objetivo apresentar o Referencial Teórico da pesquisa. Para isto, recorrermos a um breve histórico da inserção do Teatro na educação e das propostas do Teatro e dos Jogos Teatrais na prática educacional indicada pelos autores Viola Spolin (2017), Ingrid Dorminien Koudela (2013), Hilton Carlos de Araújo (1974), Olga Reverbel (1989), e documentos como Parâmetros Curriculares Nacional.

Em seguida, damos prosseguimento ao debate sobre as mudanças históricas no ensino dos conteúdos da Educação Física escolar, a fim de elucidar o uso do Teatro e dos Jogos Teatrais para a aprendizagem da expressão corporal. Dialogando com autores da área da Educação Física escolar como: Suraya Darido e Irene Rangel (2011); Valter Bracht (2005); Carmen Lúcia Soares et al (1992); Suraya Darido e Osmar Souza Junior (2013); González, Fraga (2012); Ângela Palma, Amauri Oliveira e José Augusto Palma (2010); Marcos Neira (2007). Além de documentos norteadores da área como Parâmetros Curriculares Nacional (PCN) (1997) e Base Nacional Comum Curricular (BNCC) (2018).

O entendimento do uso do Teatro como recurso metodológico nesta pesquisa não prioriza a ideia desta atividade como preparação para um espetáculo escolar. O nosso entendimento é que o Teatro venha a contribuir no processo de aprendizado do ensino da expressão corporal na Educação Física escolar.

Tendo em vista que para isso lançamos mão do Teatro e dos Jogos Teatrais para a construção da proposta de ensino, que foi elaborada e analisada nesta pesquisa, entendemos ser importante nesse momento apresentar um pouco do Teatro, dos jogos dramáticos/ Jogos Teatrais dentro do ambiente escolar.

(27)

3.1 Cena 1 - O uso do Teatro e dos Jogos Teatrais na escola

Nosso intuito não é abarcar todas as questões que envolvem o Teatro, mas situar o leitor das colaborações do Teatro na escola. Propomos, então, apontar um breve histórico do Teatro na escola e as contribuições das propostas do Teatro e dos Jogos Teatrais na prática educacional apontada pelos autores já citados anteriormente.

Koudela (2013) aponta em sua obra que após o movimento da Escola Nova houve mudanças na área do Teatro-educação. Com as mudanças na filosofia educacional num pensamento de devolver a criança como um todo e não apenas o seu intelecto, respeitando o desenvolvimento natural da criança, o professor não ensina Teatro, mas liberta a criatividade da criança, fornecendo um ambiente propício para a aprendizagem (KOUDELA, 2013).

A incorporação do modelo da Escola Nova trouxe para o primeiro plano a expressividade da criança e levou a uma compressão e a um respeito pelo seu processo de desenvolvimento (KOUDELA, 2013, p. 19).

O autor descreve ainda que a inclusão de atividade lúdica e a adoção dos princípios da educação pela ação abriram espaços para áreas artísticas no currículo escolar (KOUDELA, 2013). Com isso, ocorreram transformações e reformulações dos programas escolares.

A Escola Nova trouxe possibilidade de reformulação dos programas escolares, nova instrumentação para tornar mais eficaz o trabalho docente, a experimentação com novos órgãos e novas práticas de ensino, e principalmente a diversificação das atividades escolares, o que possibilitou a introdução na escola de atividades relacionadas com Educação Física, Jogos Teatrais, trabalhos manuais, música e canto, cinema e Teatro (KOUDELA, 2013, p. 19).

Koudela (2013) destaca ainda que publicações de estudos7 vieram junto ao

movimento com o objetivo de convencer os professores tradicionais que a arte dramática é essencial para a criança.

Longe de adentrar nessa discussão focamos entender que a partir desse contexto histórico surgem estudos, bibliografias do Teatro nas escolas, passando da visão tradicional que tinha apenas função de preparar o espetáculo (KOUDELA, 2013)

7 Estudos como: Julia Piquete - Dissertação de Doutorado, Northwestern University, Illinois, 1963; Tese

de Peter Slade baseado em trabalhos experimentais na Inglaterra que originou o livro Child Drama 1954.

(28)

às novas formas de aprendizados, trazendo obras que tratam não só do Teatro na escola, mas que abordam também jogos e atividades que vão orientar a ação docente (Jogos Teatrais).

Spolin (2017) aponta em sua obra a importância do jogo no processo de aprendizagem na infância e que os Jogos Teatrais são baseados em problemas a serem solucionados e as regras incluem a estrutura dramática.

No processo de ensino, a abordagem intelectual ou psicológica é substituída pelo plano da corporeidade. O material do Teatro, gestos e atitudes, é experimentado concretamente no jogo, sendo que a conquista gradativa de expressão física nasce da relação que deve ser estabelecida com a sensorialidade (SPOLIN, 2017, p. 23).

Nesse processo de ensino a autora discorre também sobre a necessidade de uma intervenção pedagógica na qual professor e aluno se tornam parceiros de um projeto artístico.

Reverbel (1989) apresenta em seu livro8 o resultado de uma pesquisa de

campo sobre o Teatro na educação dedicada à educadores que “[...] buscam no dia a dia de suas aulas orientar os alunos na descoberta do mundo através das artes” (REVERBEL, 1989, p. 8). Essa autora caracteriza o jogo teatral/ jogo dramático como improvisação a partir de temas ou situações, sendo esse uma criação e representação coletiva. Aponta que esses jogos têm objetivo básico de “[...]ampliar e orientar as possibilidades de expressão do aluno” (REVERBEL, 1989, p. 25).

O processo de desenvolvimento das capacidades de expressão é mais importante do que o produto final, motivo pelo qual não se deve enfatizar a avaliação de uma pintura, de uma dança ou de uma peça criada pelo aluno, mas avaliar seu modo de atuar, o que nos revela o crescimento gradual de suas possibilidades expressivas (REVERBEL, 1989, p.24).

Reverbel (1989) discorre que obtiveram bons resultados nos estudos, aplicando atividades de expressão através dos jogos dramáticos/ teatrais. Mas aponta também que existe uma variedade de atividade e exercícios que vão desde jogos simples como imitar animais, jogos coletivos e outros que podem ser criados e utilizados pelos educadores para ampliar as possibilidades de expressão.

Os dois estudiosos Huizinga (1990) e Roger Caillois (2017) da área da Cultura Lúdica indicam que o Jogo é uma atividade importante em nossa sociedade. O autor Caillois afirma que “[...] jogos de simulacro conduzem às artes do espetáculo,

(29)

expressão e ilustração de uma cultura” (CAILLOIS, 2017, l. 1533). O livro dispõe de categorias9 ao qual o mimicry envolve a mímica, o disfarce, usar uma máscara,

representar um personagem, entrando nesse grupo/ categoria a representação teatral, e a interpretação dramática. “A mimicry consiste em representar deliberadamente um personagem, o que facilmente se torna uma obra de arte, de cálculo, de astúcia. O ator deve compor seu papel e criar a ilusão dramática” (CAILLOIS, 2017, l. 1525). O autor reconhece o valor educativo do simulacro e declara que “[...] o simulacro concebido como jogo nada mais é do que Teatro” (CAILLOIS, 2017, l. 1506).

Os jogos são instrumentos que podem auxiliar no desenvolvimento do Teatro educacional vindo ao encontro da proposta do PCN’s que propõe que o Teatro na escola deve oferecer estímulos por meio de jogos preparatórios tendo em vista um progresso na aquisição da linguagem teatral e para que não seja apenas um elemento de transmissão de técnica.

O PCN destaca ainda que “Teatro tem como fundamento a experiência de vida: ideias, conhecimentos e sentimento. A sua ação é a ordenação desses conteúdos individuais e grupais” (BRASIL,1997, p. 57).

Ao participar de atividades teatrais, o indivíduo tem a oportunidade de se desenvolver dentro de um determinado grupo social de maneira responsável, legitimando os seus direitos dentro desse contexto, estabelecendo relações entre o individual e o coletivo, aprendendo a ouvir, a acolher e a ordenar opiniões, respeitando as diferentes manifestações, com a finalidade de organizar a expressão de um grupo (BRASIL, 1997, p. 57).

Como apontamos anteriormente o Teatro hoje vem contribuindo no aprendizado encontrando no ambiente escolar não só como o ensino das Artes, mas como recurso metodológico de outras disciplinas, assim como a Educação Física.

Com base nos autores, apontados anteriormente, percebe-se que as propostas do Teatro e dos Jogos Teatrais se faz presente nas práticas educacionais. Desse modo, aliado à experiência profissional da professora-pesquisadora buscamos nessas obras elementos que nos auxiliassem na construção de uma proposta de ensino dos conteúdos da Educação Física por meio do uso do Teatro como recurso metodológico. Assim, no tópico seguinte, priorizamos uma discussão que evidencie os conhecimentos de ensino da Educação Física e as possíveis relações do Teatro com a prática de ensino e aprendizagem dessa disciplina.

9 Essas categorias estão elencadas na obra “Os Jogos e os homens: a máscara e a vertigem” (Roger

(30)

3.2 Cena 2 - Educação Física escolar: a cultura corporal de movimento e as práticas corporais no ensino a partir do uso do Teatro.

Antes de discorremos sobre como vamos estabelecer a relação entre o uso do Teatro e as aulas de Educação Física para o ensino e aprendizagem dos conteúdos, destacaremos que, historicamente, essa disciplina passou por profundas mudanças na compreensão acerca do objeto de ensino afetando os aspectos didáticos, “para quê”, “o quê”, “porquê” e “quando ensinar”. Assim, iremos abordar um pouco dessa trajetória de transformações dessa disciplina para, enfim, apresentar sobre a aprendizagem de uma expressão corporal por meio do Teatro.

Nos registros históricos da Educação Física, nós podemos observar que os conteúdos utilizados eram sempre vinculados a um corpo saudável e/ou atlético, ora através dos métodos de ginástica, que de acordo com Vago (2000, p. 89) “[...]transformava corpos raquíticos, débeis e fracos em desejados corpos sadios, belos, robustos e fortes[...] ”; ora através dos esportes quando priorizava a competição e o treinamento de atletas.

Após a década de 1980 a Educação Física escolar começa a tomar novos rumos no espaço escolar, segundo Darido e Rangel (2011) na década de 70 surgem movimentos em oposição à vertente tecnicista, esportivista e biologista, inspirados no novo movimento histórico social ao qual passava o país (DARIDO; RANGEL, 2011). Os esportes de alto rendimento no espaço escolar, traziam aspectos elitistas que levava à exclusão de grande parte dos alunos e o favorecimento de alunos mais aptos fisicamente (DARIDO, 2018).

A Educação Física, portanto, precisava se reinventar dentro do espaço escolar e abandonar práticas tradicionais para atender as exigências de um componente curricular que buscasse sua função educativa e democrática, aliado a um contexto social e a um movimento progressista da Educação que buscava melhoria nas condições de equidade na educação brasileira, como exigências de um contexto sócio político dos anos 1980. Assim, nos informa Darido (2018):

Esse Movimento, que posteriormente ficou conhecido sob a denominação de

Movimento Renovador da Educação Física Brasileira, impulsionou mudanças

em diversas dimensões de nossa área. Particularmente no que respeita ao campo educacional, questionou-se o paradigma da aptidão física e esportiva

(31)

que sustentava de forma extensiva as práticas pedagógicas da Educação Física nos pátios escolares. Podemos apontar que, entre outras iniciativas, o movimento renovador entendeu que uma das ações necessárias para transformar a Educação Física seria: “elevá-la” à condição de disciplina escolar, tirando-a da categoria de atividade ( p.4-5).

Dentro dessa nova concepção da Educação Física como componente curricular e as novas discussões sobre as metodologias que o professor deveria adotar, surge também novos conteúdos e uma ampliação do conhecimento da Educação Física escolar.

Darido e Rangel (2011 p. 33) trazem que “[...] o interesse que temos pela Cultura é no que se refere ao corpo humano e ao movimento humano; portando nosso interesse é pela Cultura Corporal de Movimento”.

Apesar de haver uma discussão epistemológica e conceitual sobre Cultura corporal, cultura de movimento ou cultura corporal de movimento, entendemos assim como Bracht (2005), que:

Um universo simbólico de justificação da EF pode e está sendo construído, tendo como carro chefe a ideia do movimentar-se humano como manifestação cultural, portanto não mais como habitante do mundo natural (dos objetos que não podem ser sujeitos históricos e sim parte da natureza a ser conhecida, modificada, manipulada, enfim, dominada pela razão), mas como habitante do universo simbólico (BRACHT, 2005 p. 8).

Portanto, nós utilizaremos a terminologia da Cultura Corporal de Movimento que tratará do corpo e do movimento como um patrimônio cultural e histórico da Educação Física.

O Importante aqui é pontuarmos que muitos autores começam a desenhar esse novo cenário e trazer novos conhecimentos/ conteúdos para dentro do ambiente escolar. Na obra conhecida como Coletivo de Autores (SOARES et al, 1992) podemos observar como é pensada uma proposta renovadora da Educação Física no âmbito escolar.

A Educação Física é uma disciplina que trata, pedagogicamente, na escola, do conhecimento de uma área denominada aqui de cultura corporal. Ela será configurada com temas ou formas de atividades, particularmente corporais, como as nomeadas anteriormente: jogo, esporte, ginástica, dança ou outras, que constituirão seu conteúdo. O estudo desse conhecimento visa apreender a expressão corporal como linguagem. O homem se apropria da cultura corporal dispondo sua intencionalidade para o lúdico, o artístico, o agonístico, o estético ou outros, que são representações, ideias, conceitos produzidos pela consciência social e que chamaremos de "significações objetivas". Em face delas, ele desenvolve um "sentido pessoal" que exprime sua subjetividade e relaciona as significações objetivas com a realidade da sua

(32)

própria vida, do seu mundo e das suas motivações (SOARES et al, 1992, p. 41).

A referência que esse livro traz sobre os conteúdos de ensino são representados como sendo: “[...] o estudo desse conhecimento visa apreender a expressão corporal como linguagem [...]” (SOARES et al, 1992, p. 41), ou seja, a utilização de vários conteúdos através da expressão do corpo para um aprendizado da linguagem.

No que tange aos conteúdos ainda fazendo referências ao Coletivo de Autores (SOARES et al, 1992), o livro aponta sugestões de como trabalhar o jogo, o esporte, a capoeira e a dança, deixando em aberto, durante a leitura de sua proposta de Educação Física, outras possibilidades da “cultura corporal” que vão ao encontro da proposta de temas e/ou formas de atividades corporais visando apreender a expressão corporal como linguagem.

Nos PCN’s, a Educação Física é vista como cultura corporal e podemos perceber algumas aproximações com a proposta do Coletivo de Autores (SOARES et

al, 1992), onde aborda os conteúdos como “[...] expressões de produções culturais,

como conhecimentos historicamente acumulados e socialmente transmitidos” (BRASIL, 1997, p. 27).

Ainda nos PCN’s podemos observar que

Independentemente de qual seja o conteúdo escolhido, os processos de ensino e aprendizagem devem considerar as características dos alunos em todas as suas dimensões (cognitiva, corporal, afetiva, ética, estética, de relação interpessoal e inserção social) (BRASIL, 1997, p. 27).

Os conteúdos sugeridos pelos PCN’s são divididos em três blocos: esportes, jogos, lutas e ginástica; Atividades rítmicas e expressivas; Conhecimento sobre o corpo. Lembrando que são colocadas nesse formato de forma a organizar o conjunto de conhecimento e não tornar uma estrutura estática ou inflexível.

A BNCC é um documento recente (2018) que tem o caráter normativo buscando definir o conjunto orgânico e progressivo de aprendizagens essenciais para o desenvolvimento dos alunos ao longo das etapas e modalidades da Educação Básica, em conformidade com o que preceitua o Plano Nacional de Educação (BRASIL, 2018).

(33)

A Educação Física é o componente curricular que tematiza as práticas corporais em suas diversas formas de codificação e significação social, entendidas como manifestações das possibilidades expressivas dos sujeitos, produzidas por diversos grupos sociais no decorrer da história. Nessa concepção, o movimento humano está sempre inserido no âmbito da cultura e não se limita a um deslocamento espaço-temporal de um segmento corporal ou de um corpo todo (BRASIL, 2018, p. 213).

As práticas corporais na BNCC se apresentam em seis unidades temáticas ― Brincadeiras e Jogos; Esportes; Danças; Lutas; Ginástica; Práticas Corporais de Aventura.

Importante destacar que a BNCC situa a Educação Física na área de linguagem, assim como outros componentes curriculares como Português e Artes, entendendo que

A finalidade é possibilitar aos estudantes participar de práticas de linguagem diversificadas, que lhes permitam ampliar suas capacidades expressivas em manifestações artísticas, corporais e linguísticas, como também seus conhecimentos sobre essas linguagens, em continuidade às experiências vividas na Educação Infantil (BRASIL, 2018, p. 63).

Nota se que a BNCC aponta que a finalidade é possibilitar práticas que amplie as capacidades expressivas dos estudantes em manifestações artísticas, corporais e linguísticas.

Darido e Souza Junior (2013) trazem no livro Para Ensinar Educação Física: possiblidade de intervenção na escola uma proposta de como tratar os conteúdos na concepção de cultura corporal de movimento. Esses autores enfatizam as dimensões conceitual, procedimental e atitudinal e trazem como conteúdo o esporte, dança, ginástica, lutas, capoeira, conhecimento sobre o corpo e jogos e brincadeiras. Nesse livro é importante ressaltar que os autores trazem a importância da diversificação do conteúdo dentro da escola.

Para facilitar a adesão dos alunos às práticas corporais seria importante diversificar as vivências experimentadas nas aulas para além dos esportes tradicionais (futebol, voleibol ou basquetebol). Na verdade, a inclusão e a possibilidade das vivências das ginásticas, dos jogos, das brincadeiras, das lutas, das danças, podem facilitar a adesão do aluno na medida em que aumenta as chances de uma possível identificação (DARIDO; SOUZA JUNIOR, 2013, p. 18).

Esse livro ainda ressalta que em “[...] virtude da ênfase ao esporte a Educação Física tem deixado de lado importantes expressões da cultura corporal produzida ao longo da história do homem” (DARIDO, SOUZA JUNIOR, 2013, p. 18).

(34)

Já no livro Afazeres da Educação Física na escola: planejar, ensinar, partilhar, os autores González e Fraga ao tratarem de competências e conteúdos da disciplina apresentam uma proposta sob a forma de “mapa” descritos por temas e subtemas com intuito de “[...] facilitar a visualização do universo de conhecimento que cabe a área lidar” (GONZÁLEZ; FRAGA, 2012, p. 58-59). Dentro das organizações propostas no livro os autores elegem os esportes, ginástica, jogo motor, lutas práticas corporais expressivas, atividades aquáticas, práticas corporais junto à natureza como sendo práticas corporais sistematizadas (GONZÁLEZ; FRAGA, 2012). Alguns desses temas são subdivididos em subtemas como a ginástica (acrobacias; práticas corporais introspectivas; exercícios físicos); práticas corporais expressivas (Dança; expressão corporal); Prática corporal junto à natureza (atividade de aventura, atividades de contemplação). Nota-se que ao tratar de práticas corporais expressiva os autores elegem a Dança e a Expressão Corporal como conteúdo da educação física. No livro ainda aponta a necessidade de desenvolver os saberes conceituais e saberes corporais (GONZÁLEZ; FRAGA, 2012) de cada um desses temas e subtemas descritos.

Palma, Oliveira e Palma (2010) trazem também uma proposta de organização curricular para o Ensino Infantil, Fundamental e Médio, onde o movimento humano culturalmente construído é referência na seleção dos conteúdos. Interessante notar que a estrutura dos conteúdos da Educação Física escolar são descritas em subdivisões como: movimento e a corporeidade; movimento e os jogos; movimento e os esportes; movimento em expressão e ritmo; movimento e saúde. Evidenciemos aqui o Movimento em expressão e ritmo. No seu dizer Palma, Oliveira e Palma (2010) apresentam:

A escola é um dos poucos espaços sociais nos quais as habilidades artístico-motoras podem ser vivenciadas, exploradas e estudadas, a fim de contribuir na formação de um sujeito que consiga perceber e entender um pouco melhor a arte, o seu próprio corpo e suas possibilidades. As artes cênicas e a ginástica são grandes componentes desse núcleo (PALMA, OLIVEIRA, PALMA, 2010, p. 55).

Importante destacarmos também que essas tendências contemporâneas nos remetem a conteúdos advindos da cultura corporal e práticas corporais, em busca de uma educação democrática e inclusiva que forma um cidadão crítico e autônomo.

(35)

O ensino da Educação Física traz além desses novos conteúdos uma metodologia diferenciada que remete ao saber fazer e saber sobre o fazer, e mostra ainda, a necessidade de entender que a Educação Física escolar deve

[...] proporcionar aos alunos das diferentes etapas da escolarização uma reflexão pedagógica sobre o acervo das formas de representação simbólica de diferentes realidades vividas pelo homem, historicamente criadas e culturalmente desenvolvida. [...] Considerar o contexto sociocultural da comunidade escolar e, por conseguinte, as diferenças existentes entre os alunos (NEIRA, 2007 p. 8).

Diante dessas novas tendências expostas aqui, percebemos que os autores apontam propostas de práticas corporais que trabalhem a expressão corporal, seja por meio da dança, da ginástica, dos esportes, das lutas, das artes circenses ou até mesmo da arte cênica como citam Palma, Oliveira e Palma (2010).

Ao buscar desenvolver o conteúdo da expressão corporal na perspectiva da cultura corporal de movimento, entendemos que essa faz parte da cultura humana, do meio social e político. Sendo necessário, portanto, compreender e refletir, assim como aponta Soares et al (1992), a realidade natural e social através da cultura corporal humana.

Nessa perspectiva da reflexão da cultura corporal, a expressão corporal é uma linguagem, um conhecimento universal, patrimônio da humanidade que igualmente precisa ser transmitido e assimilado pelos alunos na escola. A sua ausência impede que o homem e a realidade sejam entendidos dentro de uma visão de totalidade (SOARES et al, 1992 p. 29).

Nossa intenção é proporcionar reflexões e vivências aos alunos/alunas sobre a expressão corporal como linguagem com o objetivo de romper barreiras biologicista da área e corroborando com pensamento crítico-reflexivo da Educação Física. Nesse estudo pensar o conteúdo da expressão corporal num olhar mais antropológico, partindo de princípios onde o homem é um ser social (DAOLIO, 1995), entendemos que “[...] o que caracteriza o ser humano é justamente a sua capacidade de singularização por meio da construção de diferentes padrões culturais” (DAOLIO, 1995, p. 36).

Desse modo, elencamos o conteúdo da Expressão Corporal para essa pesquisa vindo ao encontro das novas propostas de conhecimento da Educação Física escolar exposto nesse capítulo, como as sugestões de Palma, Oliveira e Palma (2010) e González, Fraga (2012). A fim de valer dessas novas práticas corporais, nossa pesquisa buscou também propor aos alunos conteúdos e conhecimentos que

(36)

possibilitem um aprendizado cultural, social, afetivo e emocional utilizando como referência para a estruturação das aulas Darido e Rangel (2011) e Moreira et al (2016).

Referências

Documentos relacionados

O objetivo deste trabalho foi testar o melhor modelo da curva de lactação e suas implicações sobre a produção média de leite de vacas primíparas da raça Jersey... O estudo

Por fim, algumas conclusões podem ser apontadas a partir da presente pesquisa: a a análise da aprendizagem no contexto rural precisa partir do conceito de aprendizagem como

Havendo seleção de servidores interessados, serão consultados os Departamentos de origem dos candidatos, para apreciação da remoção pelos Colegiados de origem

Assim, ao abrigo da competência regulamentar conferida pelo ar- tigo 241.º da Constituição da República Portuguesa e pela alínea g) do n.º 1 do artigo 25.º, conjugado com a

Considerando que o povo tem o caráter de quem adora, Israel tornou-se abominável (vs. Logo ao entrar na terra prometida, por motivo da infidelidade espiritual,

Apesar de que, com a Lei de Responsabilidade Fiscal 1 , a não cobrança do IPTU 2 (integral ou parcial) acarretaria em renúncia de receita do poder executivo

When analysis was broken down by valence, however, a different pattern emerged: for negative pic- tures, both RBD and LBD groups showed a similar level of false memories, whereas

Trabalhador profissional: 300 mg/m3 - Consumidor: 35.7 mg/m3 - Exposição: Por inalação humana - Freqüência: De longo prazo, efeitos locais.. Trabalhador profissional: 600 mg/m3