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WALDEN: DIARIES, NOTES AND SKETCHES

No documento O cinema de Jonas Mekas (páginas 71-91)

III. OS FILMES DIÁRIO EM 16MM

2. WALDEN: DIARIES, NOTES AND SKETCHES

“Dizem-me que eu deveria procurar.

Mas estou apenas celebrando o que vejo. Não procuro por nada. Eu sou feliz.” 49

Walden: Diaries, Notes & Sketches é o primeiro grande filme diário de

Jonas Mekas, e conta com imagens captadas no período de 1964 à 1968, organizadas em seis rolos de trinta minutos cada, que se desenvolvem cronologicamente, de acordo com as estações do ano. O projeto inicial de Mekas era um filme que nunca terminaria, chamado apenas de Diaries, Notes &

Sketches, mas por problemas de identificação no laboratório de revelação, foi

adicionado o título Walden.

“Durante os últimos 15 anos fiquei tão envolvido com o cinema independente que não tive tempo para mim mesmo, para a minha própria produção cinematográfica – entre a Film-Makers’

Cooperative, a Film-Makers’ Cinematheque, a revista Film Culture e

agora a Anthology Film Archives. Quero dizer, não tive longos períodos para preparar um roteiro, depois passar meses filmando, depois editar, etc. Tive apenas pedaços de tempo que me permitiram filmar apenas pedaços de película. Todo o meu trabalho pessoal tomou a forma de notas. Pensava que devia fazer tudo o que pudesse naquele momento, do contrário poderia não achar mais tempo livre por semanas. Se posso filmar um minuto – filmo

49 Pequena canção cantada por Jonas Mekas em Walden: Diaries, Notes and Sketches. Tradução

livre do original: “They tell me I should be searching. But I am only celebrating what I see. I am

um minuto. Se posso filmar dez segundos – filmo dez segundos”50

Walden, ou a vida nos bosques (1854), é o título do livro autobiográfico do

escritor transcendentalista Henry David Thoreau. É um manifesto poético anti- industrialista, anticapitalista, que propõe o retorno ao simples, uma ode à autossuficiência. Narra a experiência de vida do escritor ao se exilar numa floresta em 1845, por dois anos, à beira do lago Walden, onde constrói com suas próprias mãos sua casa, seus móveis e planta sua comida.

Henry David Thoreau pode ser considerado um dos grandes expoentes da literatura norte-americana do século XIX. Desobediência Civil, um ensaio que escreveu em 1849 após ir para a cadeia por se recusar a pagar impostos – pois dessa maneira estaria ajudando a financiar a guerra que os Estados Unidos travava contra o México –, já havia influenciado Mahatma Gandhi no período da luta pela independência da Índia e do Paquistão, e também Martin Luther King enquanto combatia a segregação racial e batalhava pelos direitos civis nos Estados Unidos. Já Walden, ou a vida nos bosques foi uma obra importante para o movimento Beatnik e posteriormente para o movimento Hippie, pois confrontava diretamente a sociedade de consumo e o estilo de vida capitalista.

Em 1962, durante as filmagens de Hallelujah the Hills (filme dirigido por Adolfas Mekas, em que Jonas participou como assistente de direção e montador), Peter Beard, fotográfo americano que atuava no filme, entregou para Mekas uma cópia do livro Walden. Mekas já havia lido uma tradução alemã da obra de Thoreau dezesseis anos antes, mas a versão original lhe causou um profundo impacto. A influência de Thoreau – assim como de outros escritores norte- americanos do século XIX como Whitman51 e Emerson52 – seria notada

50 Palestra sobre Reminiscenses of a Journey to Lithuania, proferida em 26/08/1972, presente em

Jonas Mekas, livro organizado por Patrícia Mourão.

51 Walt Whitman (1819-1892).

amplamente tanto nos escritos, como nos filmes e posicionamentos políticos e existenciais de Jonas Mekas.

De modo semelhante à história do livro de Thoreau, Walden: Diaries, Notes

& Sketches foi filmado solitariamente, sem equipe, de modo minimalista, no qual o filmmaker vagava como um flâneur pelas ruas de New York com sua Bolex 16mm

– é relevante frisar que Thoreau também era descrito como um caminhante solitário. Como Thoreau, Jonas Mekas faz um relato sincero e romântico sobre sua vida. O filme nasce de forma orgânica, na qual Mekas capta com sutileza imagens cotidianas, e as organiza livremente na montagem, concebendo uma espécie de filme-poema.

Já por seu modo produção, o filme é um manifesto contra o esquema de produção industrial do cinema hegemônico, sobretudo de Hollywood, que exigia grandes equipes, altos orçamentos e trabalho setorizado.

O cenário independente de cinema pode ser aproximado à situação chave do Walden de Thoreau: a idéia de sobrevivência em face de elementos hostis, tendo a disposição apenas elementos extremamente necessários, como vemos o escritor comentar nos trechos a seguir:

“A maioria dos homens, mesmo neste país relativamente livre, por mera ignorância e erro, vivem tão ocupados com as falsas preocupações e as lides desnecessariamente pesadas da vida que não conseguem colher seus frutos mais delicados.” 53

“Seria instrutivo levar uma vida rustica e primitiva, mesmo em plena civilização aparente, ao menos para saber quais são as coisas mais necessárias à vida (...).” 54

53 THOREAU, H. D. Walden. Porto Alegre: L&PM, 2010. 54 THOREAU, H. D. Walden. Porto Alegre: L&PM, 2010.

O pensamento de Thoreau sobre o que deveria ser essencial para a vida, pode ser facilmente estendido a uma estética do cinema de vanguarda, que geralmente utiliza uma “precária” infraestrutura, resultando em imagens mais “orgânicas”, e despidas de toda parafernália das grandes produções, como efeitos especiais, star system, grandes cenários, etc. Um filme underground ou experimental não depende desses artifícios, pois sua essência está além.

Ambos os autores buscavam em experiências vividas matéria-prima para a sua arte, não havendo uma separação entre a vida e a arte; a poesia está no olhar cotidiano. Como disse Jonas Mekas: “vivo, logo faço filmes caseiros, faço filmes caseiros, logo vivo.” 55

Thoreau afirma no começo de seu livro Walden que o “eu” não será omitido, e que pretende escrever um relato simples e sincero de sua vida, “o mesmo tipo de relato que enviaria de uma terra distante aos seus parentes” 56. Thoreau escreve, então, uma espécie de manual de um outro modo de vida, descrevendo todos os aspectos cotidianos, divididos em capítulos como “economia”, “leituras”, “sons”, “visitas”, etc. No decorrer dos relatos, o autor critica os costumes e armadilhas da sociedade que resolveu por hora abandonar.

“Lembre-se quem precisa trabalhar que o objetivo de usar roupas é, em primeiro lugar, manter o calor vital, e em segundo lugar, no atual estado da sociedade, cobrir a nudez, então avalie quantas coisas necessárias ou importantes pode-se fazer sem aumentar seu guarda roupa. Os reis e rainhas que usam uma roupa apenas uma vez, mesmo feita por algum alfaiate ou costureira para a suas majestades, não tem como conhecer o conforto de usar roupa já moldada. Eles mais parecem mancebos de madeira onde

55 Trecho de fala de Jonas Mekas no filme Walden: diaries, notes & sketches. 56 THOREAU, H. D. Walden. Porto Alegre: L&PM, 2010.

penduramos a roupa limpa. Uma questão interessante é até que ponto os homens conservariam sua posição social se tirassem as roupas (...).” 57

Por sua vez, Walden: Diaries, Notes & Sketches é uma afronta ao cinema de espetáculo, trazendo 180 minutos de imagens nas quais, ouvimos num certo momento Jonas Mekas afirmar, “nada” acontece. Nada do ponto de vista dramático narrativo clássico. Porém, imagens nas quais transbordam força e beleza, nos convidam a adentrar junto com o filmmaker no universo de suas perambulações, nos fazendo esquecer a ideia tradicional de que um diário teria uma narrativa, teria um protagonista.

Em Walden: Diaries, Notes & Sketches, o “eu” se faz presente como ponto de partida, para que Jonas Mekas registre as aspirações de uma geração, e todo o ambiente artístico de vanguarda dos anos 1960 em Nova Iorque e nos EUA. A sensação de um relato a parentes distantes também é sentida em toda obra de Mekas, um exilado lituano em busca de seu “paraíso perdido”.

*

No início das filmagens de Walden, Jonas Mekas pretendia fazer um filme sobre a representação de Nova Iorque a partir do olhar de uma adolescente. Os filmes subsequentes seriam os diários dessa personagem com o passar dos anos. Por isso em Walden há muitas imagens de crianças e garotas no Central Park, um dos locais de Nova Iorque mais recorrentes em seus filmes. Porém a personagem fictícia perde o lugar como protagonista dos diários para o próprio cineasta, e passa a ser objeto de seu olhar. Para entendermos o modo como Jonas Mekas articula as imagens em Walden, segue a descrição do primeiro minuto do filme:

Cartela 1: “Dedicate to Lumière.”

Ouvimos sons do metrô e das ruas.

Cartela 2: “Diaries, Notes and Sketches.” Cartela 3: “Also know as Walden.”

Vemos um close up de Jonas Mekas.

Cartela 4: “In New York was still Winter.”

Vemos o Central Park coberto de neve.

Cartela 5: “But the Wind was full os Spring.”

Ramos de vegetação aparecem começando a nascer no meio da neve. Em seguida, Mekas toca o seu acordeom.

Cartela 6: “Barbara’s Flowers Garden.”

Vemos uma mão feminina plantar e regar algumas plantas. O som agora é Chopin. Vemos então a fachada da Film-Makers’ Cinematheque.

Cartela 7: “Sitney is fingerprinted by the police, as a director of the

Cinematheque.”

Logo vemos o teórico P. Adams Sitney, mostrando seus dedos sujos de tinta escura. Sitney havia sido preso no já citado caso das exibições clandestinas do filme Flaming Cretures.

A dedicatória aos irmãos Lumière é uma homenagem ao início do cinema e à sua primeira finalidade: o registro de cenas cotidianas, como nos primeiros filmes da história do cinema, a saída dos óperários de uma fábrica ou a chegada de um trem à estação.

Logo após surgem imagens minimalistas e poéticas do cotidiano: de uma parque e de flores com as quais um flâneur pode se deparar ainda hoje em dia, mescladas com as imagens de um momento histórico específico: a segunda metade da década de 1960 e a contracultura nos EUA. Em alguns trechos estão condensados os pensamentos e os anseios de uma geração e de seus expoentes, como Timothy Leary, Allen Ginsberg, John Lennon e Yoko Ono.

Jonas Mekas registra as imagens que vê como um flâneur, que ao caminhar pelas ruas sem destino, olha para o que lhe chamar mais atenção. Não sai as ruas com o olhar direcionado, mas vaga com sua câmera, até que coisas passam por seus olhos/câmera, e então ele passa a reagir a essas “coisas”, que muitas vezes remetem a lembranças. Mekas consegue captar desse modo o efêmero, o fugidio. O cineasta defende ainda que esse método de filmar, embora sustentado pela espontaneidade e improvisação, não exclui a condensação ou seleção no momento em que filma, e ainda que desse modo haveria a confirmação da vida e da liberdade. A valorização do processo de criação espontâneo e da improvisação também se expandia para outras artes nos anos 1960, como os happenings de John Cage e Nam June Paik.

“Ouvi, com excessiva frequência, tanto críticos americanos quanto estrangeiros rirem diante das palavras “espontaneidade” e “improvisação”. Eles dizem que isso não é criação, que nenhuma arte pode ser criada sem preparação. Será preciso que eu declare aqui que tal crítica é pura ignorância, que representa apenas uma compreensão esnobe e superficial do sentido de “improvisação”? A verdade é que a improvisação nunca exclui a condensação ou seleção. Ao contrário, a improvisação é a mais alta forma de condensação, ela aponta para a própria essência de um pensamento, de uma emoção, de um movimento.” 58

Já outra sequência de Walden se dá da seguinte forma: A câmera passeia pelo campo, entre algumas pessoas que lá estavam, e mergulha cada vez mais na paisagem. Uma música tocada por um órgão começa e lê-se a cartela “Flores para Marie Menken”. A técnica do single-frame é usada captando apenas um frame de

variadas flores, construindo uma imagem abstrata e colorida, remetendo a uma experiência psicodélica, um mantra constituído de imagens e sons. Para Jonas Mekas, através da fragmentação da imagem e da condensação do tempo (utilizando a técnica do single-frame), o objeto do seu olhar se revelaria nas imagens tal qual seus olhos o captaram sem o intermédio da câmera.

“Havia uma árvore no Central Park que eu queria filmar. Eu realmente gostei daquela árvore, e continuei filmando no começo – quando eu comecei. Então eu olho no visor da câmera e não é a mesma coisa. É apenas uma árvore que está ali: é chato.

Então comecei a filmar a árvore em pequenos fragmentos: fragmentei; condensei... e então é possível ver o vento nela; é possível ver um pouco de sua energia. Então ela tornou-se algo mais. Ah, isso é muito mais interessante!

Essa é minha árvore! Essa é a árvore que eu gosto, não simplesmente uma árvore naturalista e chata, não o que eu vi naquela árvore quando estava olhando. Estou tentando chegar ao motivo de eu estar olhando para o que estou filmando, por que estou filmando aquilo e como estou filmando. O estilo reflete o que sinto! Estou tentando entender a mim mesmo, o que eu faço! Sou totalmente ignorante sobre o que estou fazendo.” 59

59 MEKAS, Jonas. Untitled lecture / 2004 in SITNEY, P. Adams. Eyes upside down. Reino Unido:

Oxford University Press, 2008.Tradução livre do original: “There was a tree in Central Park that I

wanted to film. I really liked that tree, and I kept filming at the very beginning—when I began. And then I look on the viewer and it’s not the same. It’s just a tree standing there: it’s boring. And then I began filming the tree in little fragments: I fragmented; I condensed! and then you can see the wind in it; then you can see some energy in it. Then it became something else. Ah, that’s more interesting! That’s my tree! That’s the tree that I like, not just a tree that is naturalistic and boring, not what I saw in that tree when I was looking. I’m trying to get to why I’m looking at what I’m filming, why I’m filming it, and how I’m filming. The style reflects what I feel! I’m trying to understand myself, what I do! I’m totally ignorant of what I’m doing.”

Para que se entenda melhor a relação do pensamento de Jonas Mekas acerca do cinema com a técnica do single-frame, é curioso e ilustrativo que observemos o seguinte material. A pedido de Jacqueline Onassis60, Jonas Mekas escreveu uma espécie de cartilha para que os filhos da milionária aprendessem a filmar:

Capítulo I

Exercícios no tempo

1. Filme uma árvore ao vento, por dez segundos, continuamente. Filme uma árvore ao vento, em breves irrupções de quadros, com o objetivo de condensar um minuto de tempo real em dez segundos de tempo filmado.

Veja o que acontece.

2. Filme a face de uma pessoa, por dez segundos, continuamente. Filme a mesma face, em breves irrupções, para ter dez segundos de tempo filmado.

Veja o que acontece.

3. Filme uma chama (ou uma vela) por dez segundos. Mantenha a câmera focada no fogo, parada.

Veja o que acontece.

4. Aponte a câmera para o horizonte e vire rapidamente. Aponte a câmera para o horizonte e vire bem devagar. Veja o que acontece.

5. Filme um rosto rapidamente (por dois segundos); então, filme rapidamente uma flor colorida, de qualquer cor, e após filme o rosto novamente, brevemente; depois, a flor de novo. Faça isso cerca de dez vezes.

Veja o que acontece.

60 Durante meados dos anos 1960, Jonas Mekas se aproximou de Jackie Onassis e de sua família,

através do amigo em comum Andy Warhol. Jackie e seus filhos aparecem em alguns dos filmes de Mekas, sobretudo em This side of paradise, de 1999.

6. Filme uma rua (você pode fazê-lo de uma janela) ocupada pelo trânsito.

Filme continuamente por dez segundos.

Filme a mesma rua e trânsito em irrupções rápidas de quadros. Obtenha um filme de dez segundos.

Veja o que acontece. 61

Na utilização de Jonas Mekas da técnica do single-frame, a montagem acelerada dos frames e planos que entram e saem da tela são feita sobretudo na própria câmera, no exato momento da filmagem. Na moviola, Mekas apenas exclui o que não ficou satisfatório, trechos do diário que considera “mal escritos”, ou que não funcionaram esteticamente, apenas organizando os blocos de imagens, geralmente de maneira cronológica, sem muita alteração do que foi originalmente captado.

*

Na metade da década de 1950 os valores do American Way of Life começaram a ser questionados pela chamada Beat Generation, um grupo de escritores e poetas, do qual faziam parte Jack Kerouac, Allen Ginsberg, Willian Burroughs, que perceberam que o consumismo desenfreado e o puritanismo da

61 MEKAS, Jonas. This Side of Paradise: Fragments of an Unfinished Biography. Paris: Galerie du

Jour Agnès B., 1999. Tradução livre do original: Chapter One / EXERCISES IN TIME 1.Shoot a tree in wind, for ten seconds, continuously. Shoot a tree in wind, in brief spurts of frames, in order to condense one minute of actual time to ten seconds of filmed time. See what happens. 2. Shoot a face of a person, for ten seconds, continuously. Shoot the same face, in brief spurts, in order to have ten seconds of filmed time. See what happens. 3. Shoot fi re (or candle) for ten seconds. Keep the camera focused on fire, steadily. See what happens. 4. Point a camera at the horizon and turn around fast. Point a camera at the horizon and turn around very slowly. See what happens. 5. Shoot a brief spurt (two seconds) of a face; then shoot a brief spurt. Of a colorful flower, any color; then shoot the face again, briefly; then the flower again. Do this about ten times. See what happens. 6. Shoot a street (you could do it from a window) busy with traffic. Shoot continuously for ten seconds. Shoot the same street and traffic in very brief spurts of frames. Get ten seconds of footage. See what happens.”

sociedade prejudicavam o espírito humano, e propuseram, através de suas obras, a libertação do capitalismo e da moral estabelecida, pregando o estilo de vida nômade, a expansão da percepção através do uso de drogas, a evocação de uma cultura do submundo da qual fazia parte o Jazz e também a experimentação sexual.

Quando, em meados dos anos sessenta, os Estados Unidos iniciaram a mandar tropas para a Guerra do Vietnã, uma parcela daquela geração se revoltou, se negando a se alistar. Influenciados pela Beat Generation, começaram então a lutar por uma mudança radical de valores, buscando uma vida alternativa à sociedade de consumo estabelecida por seus pais. Esse foi o início do chamado movimento Hippie. Essa geração, envolvida por um sentimento de que podiam construir um futuro melhor, passou a reivindicar o fim da Guerra, os direitos civis dos negros, a libertação feminina, a emancipação sexual e ideais anarquistas de uma sociedade igualitária. Seus protestos tinham um caráter de não-violência, já que eram pacifistas e influenciados pelo budismo. O LSD se difundiu rapidamente pelo movimento, sendo a psicodelia uma referência tanto do modo como se vestiam, como uma característica marcante da nova música e das outras artes que estavam sendo feitas.

Em Walden, no final do primeiro rolo, vemos as imagens de uma visita de Jonas Mekas à casa de Timothy Leary, que aconteceu no dia 04 de julho de 1965. Leary, Ph.D. em Psicologia, havia sido expulso de Harvard, onde lecionava, por promover experiências com psicotrópicos. Decidiu então comprar uma propriedade afastada da cidade, onde recebia todo tipo de pessoas, desde artistas da alta sociedade à hippies andarilhos, para compartilhar experiências com LSD. Timothy Leary acreditava nos benefícios terapêuticos e espirituais que a droga poderia trazer, e se tornou uma espécie grande de guru espiritual de toda uma geração, bem como o responsável pela difusão do LSD nos EUA.

Nesta sequência, a cartela “Tim’s Place” é seguida de imagens de um campo em um dia de chuva, sob as quais ouvimos Jonas Mekas tocando sua

sanfona e cantando uma espécie de música religiosa, cuja letra entoa “Santa Tereza, proteja New York”. Seguem-se imagens de crianças brincando na grama molhada, cachorros vagando, até chegar na casa de Leary através de imagens de macaquinhos invadindo a varanda. É desse modo que somos apresentados a

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