• Nenhum resultado encontrado

I – O NASCIMENTO DA FILOSOFIA

XIII O QUE É ISTO A FENOMENOLOGIA DE HUSSERL?

"O fenomenalismo é a teoria segundo a qual não conhecemos as coisas como são em si, mas como se nos apresentam. Para o fenomenalismo há coisas reais, mas não podemos conhecer a sua essência. Só podemos saber que as coisas são, mas não o que são. O fenomenalismo coincide com o realismo quando admite coisas reais; mas coincide com o idealismo quando limita o conhecimento à consciência, ao mundo da aparência, do que resulta imediatamente a impossibilidade de conhecer as coisas em si.”¹ Segundo o pensamento de Husserl a filosofia não é uma ciência imperfeita, mas também ainda não se tornou na ciência rigorosa e perfeita que deve ser colocada na base de todo o conhecimento e todas as ações do homem.

Para Husserl, a fenomenologia é a nova ciência que fundamenta a filosofia e que, ao orientar-se pelo "princípio de todos os princípios", descreve e traça os limites de tudo o que se manifesta originalmente na intuição. Esse "princípio de todos os princípios" que está na base da fundação definitiva da filosofia, enquanto conhecimento, é enunciado da seguinte forma por Husserl: "Nenhuma teoria inimaginável pode apanhar-nos em erro no princípio de todos os princípios, isto é, que todas as visões originalmente são uma fonte legítima de conhecimento e que tudo aquilo que se dá originalmente na intuição deve ser assumido não só tal como se dá, mas também e apenas nos limites em que se dá".

__________________________

A análise fenomenológica de Husserl dá ênfase ao fenômeno, isto é, ao dado imediato, à coisa que aparece diante da consciência. No fenômeno dado está contida a sua essência (forma), cuja intuição originária e imediata é afirmada pela fenomenologia. O papel da fenomenologia é unicamente o de conhecer e descrever o mundo das puras essências universais contidas nos fenômenos, prescindindo de todos os elementos referentes ao sujeito psicológico, à existência individual, à subjetividade empírica.

Para Husserl, todo conhecimento reside no fato de uma visão, pela consciência, de uma essência: sua filosofia é pois do tipo essencialista. A consciência é determinada pela intencionalidade. Assim, os fenômenos dão-se à consciência numa série de sucessivos esboços: a consciência é o invariante que recebe e dá sentido à série de esboços.

186 XIV - O PENSAMENTO DE PITÁGORAS (1530 a. C. - Séc. V a. C.)

É muito pouco o que conhecemos sobre a vida de Pitágoras. Esta figura cedo foi envolvida pelo legendário, de modo que é difícil separar nela o histórico do fantástico. Pitágoras nasceu em Samos, rival comercial de Mileto. Seus ensinamentos transmitidos oralmente eram rigorosamente guardados em segredo pelos primeiros discípulos. No entanto, o pitagorismo exerceu profunda influência na filosofia grega, quer pela reação polêmica que provocou Xenófanes, Heráclito, Parmênides, Zenão, quer pelos elementos positivos que passaram aos pensadores posteriores.

O pitagorismo é uma sabedoria que se estende a todos os domínios, tanto do conhecimento como da religião, da estética ou da política.

A espiritualidade para os pitagóricos era vista da seguinte forma: a alma que outrora vivia junto aos deuses, é um ser demoníaco atirado para a prisão do corpo. Após a morte, a alma separa-se do corpo e vai para o Hades, local de purificação antes de voltar à Terra para habitar um novo corpo. Durante estas mudanças de corpos as almas iam pagando pelas faltas cometidas na existência anterior, até alcançarem a purificação quando, então, conheciam uma vida divina imortal. Daí ser proibido comer carne para evitar que se devorasse o corpo de um ente querido reencarnado num animal.

Os pitagóricos interessaram-se muito particularmente pela música. Para eles a harmonia é a proporção que une, em qualquer domínio, os elementos em discórdia. A música encerra uma aritmética oculta que os pitagóricos se empenharam em fazer surgir, sublinhando o papel essencial desempenhado pelo número e pela proporção.

Segundo a doutrina de Pitágoras, o mundo é como uma lira de sete cordas, as sete esferas são os sete sons desta lira harmônica. Deste modo, a escala é um problema cósmico e a astronomia uma teoria da música celeste.

Para os pitagóricos, o princípio da matemática é o princípio de todas as coisas. E como os números são, por natureza, os primeiros entre estes princípios, julgando também encontrar nos números muitas semelhanças com seres e fenômenos, mais do que no fogo, na terra e na água, afirmavam a identidade de determinada propriedade numérica com a justiça, uma outra com a alma e o espírito, outra ainda com a oportunidade, e assim todas as coisas estariam em relações semelhantes; observando também as relações e leis dos números com as harmonias musicais, parecendo-lhes, por outro lado, toda a natureza modela segundo os números, sendo estes os princípios da natureza, supuseram que os elementos dos números são os elementos de todas as coisas e que todo universo é harmonia e número.

188 XV - O QUE É O DASEIN PARA HEIDEGGER?

Martin Heidegger (1889-1976), discípulo de Husserl. Na sua obra Ser e Tempo usa o método fenomenológico para discutir e elaborar uma teoria do Ser. Ele parte da análise do ser do homem, que denomina de Dasein. Esta expressão alemã significa justamente o "ser-aí", ou seja, o homem é um ser- no-mundo. Retomando a noção de intencionalidade, o ser humano não é uma consciência separada do mundo: ser é "estourar", "eclodir" no mundo. O "ser-aí" não é a consciência separada do mundo, mas esta, numa situação dada, toma conhecimento do mundo que ele próprio não criou e ao qual se acha submetido num primeiro instante. A isso chamamos facticidade. Assim, além da herança biológica, o homem recebe a herança cultural que depende do tempo e do lugar em que nasceu.

A partir do "ser-aí", Heidegger demonstra a especificidade do ser do homem, que é a existência. Se o homem é lançado no mundo de maneira passiva, pode tomar a iniciativa de descobrir o sentido da existência e orientar suas ações em direções as mais diversas. A isso se chama transcendência. No processo, o homem descobre a temporalidade, pois, ao tentar compreender o seu ser, dá sentido ao passado e projeta o futuro. Ao superar a facticidade, atinge um estágio superior, que é a Existenz, a pura existência do Dasein. Tal passagem, porém, não é feita sem dificuldade, pois o homem, mergulhado na facticidade, tende a recusar seu próprio ser, cujo sentido se anuncia, mas ainda se acha oculto. A angústia retira o homem do cotidiano e o reconduz ao encontro de si mesmo. A angústia surge da tensão entre o que o homem é e aquilo que virá a ser, como dono do seu próprio destino.

Do sentido que o homem imprime à sua ação decorre a autenticidade ou a inautenticidade da sua vida. O homem inautêntico é o que se degrada vivendo de acordo com verdades e normas dadas; a despersonalização o faz mergulhar no anonimato, que anula

qualquer originalidade. É o que Heidegger chama "mundo do man" (em alemão, man significa "se") e que designa a impessoalidade: come-se, bebe-se, vive-se, como todos comem, bebem, vivem. Ao contrário, o homem autêntico é aquele que se projeta no tempo, sempre em direção ao futuro. A existência é o lançar-se contínuo às possibilidades sempre renovadas. Entre as possibilidades, o homem vislumbra uma, privilegiada e inexorável: a morte. O "ser-aí" é um "ser-para-a-morte". A máxima "situação- limite", que é a morte, ao aparecer no cotidiano possibilita ao homem o olhar crítico sobre sua existência. É característica de inautenticidade abordar a morte enquanto "morte na terceira pessoa", ou seja, a morte dos outros, evitando tematizar a própria finitude e, portanto, nunca questionando a própria existência.

190 Capítulo I do livro "Ética prática", de Peter Singer