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XIV – Telepatinha

No documento Historinhas do Herói-Menininho (páginas 76-85)

O

“shopping” ficava a poucos minutos da casa do Joãozinho. Anunciou-se que seriam levados o heroizinho e a irmã à Praça de Diversão logo que chegassem ao tal “shopping”, e sem logro.

Mamãe, vovó Tiana e tia Zéssica bem que tentaram ludibriar as crianças. Deparando-se com o ambiente demasiado cheio, elas sugeriram uma passadinha antes por alguma loja, quem sabe comprar uma roupinha pra cada um.

“Ah! Qui chato!! A gente num ia bincá?” – protestou o menino.

“É! Vocês prometeram! – Isa o apoiou.

E os dois cruzaram os bracinhos – fechando as carinhas rechonchudas, e empacando diante das três adultas, que desse modo se viram obrigadas ao cumprimento da promessa.

Assunto encerrado, e já o grupinho enfrentava uma fila enorme para adquirir os créditos necessários à diversão.

Joãozinho, naquele dia, nem pensou muito, foi dizendo apressado que queria fazer bagunça na piscina de bolinhas.

Isa, por sua vez, planejava acumular mais

créditos jogando bolas na cesta. Daí, ao final do entretenimento, eles poderiam trocar os créditos por brinquedos e estender a algazarra até a casinha.

Sendo assim, dividiram-se: Tia Zéssica e vovó Tiana foram para um lado com a menina, enquanto que o heroizinho ficou sob os cuidados da Mamãe.

Na piscina de bolinhas, a imaginação da garotada corria à solta. Joãozinho se viu ao lado de dinossauros gigantes; piratas da perna de pau, olho de vidro e cara de mau; homens-aranha; macacos colossais; pequenas sereias;

príncipes e princesas; mergulhadores campeões;

aventureiros de todas as cores; e muito mais.

De repente, bastou um gritinho agudo de alguma criancinha...

“Guerra de bolinhaaa!!”

E a alegria se tornou contagiante. As bolinhas voavam em várias direções, atingiam todo mundo. Até Mamãe, que num primeiro momento se contentava em rir apenas, assim que fora alvejada bem no nariz, não teve outra escolha senão revidar o ataque.

Contudo, foi o olhar de desespero de uma mulher, fora da piscina de bolinhas, que

seriamente reteve a atenção de Joãozinho.

Tratava-se de outra mamãe, que no meio daquela multidão feliz havia perdido seu filhinho.

Mamãe – não a outra mamãe, mas a Mamãe – parecia confusa quanto àquilo que acontecia, porque, inesperadamente, viu o heroizinho encostando seus dois dedinhos indicadores na cabecinha, um de cada lado, como se enviasse uma mensagem por telepatia.

Eu não estou aqui para lhe contar mentiras, caro leitor. Quando muito, exagero num detalhezinho aqui, noutro acolá, porque sou contador de historinhas. Entretanto, o caso é que, em verdade, o pequeno herói acabava de revelar outro superpoder, a telepatinha... É isso aí mesmo: telepatinha.

Noutra ocasião, ele próprio definiu assim essa habilidade, pois que, além dos dedinhos em posição estratégica e da carinha concentrada, também era possível se perceberem, saindo da boquinha do menino, uns “quaquás” semelhantes à forma das patinhas dizerem as coisas para as mamães patas.

Bom... fazendo isso, Joãozinho comunicou-se de dentro da piscina de bolinhas com todas as pessoas que estavam na Praça de Diversão;

informou-as acerca do perigo; pediu que auxiliassem o amiguinho e sua mamãe; daí, milagrosamente, alguém gritou a certa distância:

“O garoto está aqui!!!”

Houve choro, muita gente emocionada, mamãe e filhinho juntos novamente.

O heroizinho encarou a sua Mamãe e disse que a Isa devia estar com fome.

Reuniram-se Mamãe, Joãozinho, Isa, vovó Tiana e tia Zéssica para o lanche – depois de trocarem créditos por brinquedos, claro.

Em casa, Mamãe, ninando o menininho no colo, ainda tentava entender o que havia acontecido.

XV – O bombom

N

a casa da bisa Maria sempre havia chocolate. Ela escondia caixas e mais caixas recheadas de bombons no guarda-roupa. Dizia que, estando ali os doces, controlar-lhes a entrada e sobretudo a saída era muito mais fácil. Razão para essa preocupação existia aos montes, a demanda escorria pelas portas e janelas da casa. Imagine o leitor que bisa Maria tinha um sem-número de netos e ainda alguns bisnetos... Opa! Para ser mais preciso... algumas bisnetas, pois bisneto mesmo só o Joãozinho.

E, justamente porque sustentava sozinho esse invejável título, o menininho ganhava paparicos extras, alguns deles muito bem representados por bombons ou outras guloseimas.

Certa vez, entanto, isso lhe causou embaraço.

Visitou à bisa Maria muita gente: Dona Altina, tio Sézio, tia Gadênia e sua prole; tio Zê, tia Vâna e sua prole; Ceci, tio Val, tia Édna e sua prole; tio Ney, tia Camila e sua prole; tia Sílvia, tio Mané e sua prole; tia Lêni, tio Vágni e sua prole; tia Su, tio Dêva e sua prole; a prole de tio Vani; tia Mára, Macelão e sua prole de olhos azuis; algumas proles sem seus genitores;

outras proles já com suas próprias proles (tinha

até uma japonesinha); estava lá o tio Vaney, que sem prole morava com bisa Maria; mas também a visitaram naquele dia bastantes agregados e agregadas, incluindo uma tia fantasiada de barata... Bom, com essa população enorme algazarreando na casa da velhinha, não é de se admirar que seu estoque de gostosuras quase acabasse.

Quando, no dia seguinte, Joãozinho passou por lá debatendo com vovó Tiana coisas importantes de criança, bisa Maria, por força do hábito, perguntou:

“Vitinho, qué bombom?”

Vitinho!? Lá vou eu com meus pequenos defeitos narrativos... O leitor deve parecer um pouco confuso mais uma vez. Explico: É que no documento de identificação do heroizinho se via registrado João Vitor de Moraes Correia. Por isso, chamavam-no também de Vitinho. Desse modo...

“Quéru!!!” – o menino respondeu sem nem pestanejar.

Bisa Maria corcundeou surpreendentemente com desenvoltura até o quarto. Aproveitou-lhe o vácuo Joãozinho. A boa senhora abriu o guarda-roupa e por muito pouco não se deparou

com decepção para ela e, principalmente, para o menino. Havia apenas um bombom sobrevivente dentro da última caixa que ainda por lá se encontrava. Satisfeita, bisa Maria deu o bombom ao heroizinho, que logo questionou:

“E o da Isa?”

Joãozinho era assim. Toda vez que ganhava algo, lembrava-se da bochechudinha.

Bisa Maria disse-lhe que guardara aquele bombom especialmente para o único bisneto homem que tinha e que, depois compraria mais chocolates, daí Isa também ganharia o seu. E bisa Maria disse mais:

“Aproveita que a Isa não veio, e come logo isso aí!”

O heroizinho, embaraçado, entanto fez cara séria, agradeceu educadamente e pediu à vovó Tiana que guardasse o mimo. Soube como desemaranhar a situação: O bombom, dividi-lo-ia com Mamã quando estivesse em casa.

Eis um gesto raro entre quase toda a gente, mas verdadeiramente comum para o pequeno herói.

Repito: Assim era Joãozinho.

No documento Historinhas do Herói-Menininho (páginas 76-85)

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