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2. ZONEAMENTO DO PARQUE ESTADUAL DA SERRA DO PAPAGAIO

2.1. D ESCRIÇÃO DAS Z ONAS P ROPOSTAS PARA O PESP

2.1.8. Zona de Amortecimento:

Definição: entorno de uma unidade de conservação, onde as atividades humanas estão sujeitas a normas e restrições específicas, com o propósito de minimizar os impactos negativos sobre a unidade (SNUC – Lei n° 9.985/00). É a área que exerce alguma influência sobre a unidade de conservação, considerando-se principalmente os municípios e a micro-bacia onde a mesma está inserida.

Descrição e Justificativa: A delimitação da zona de amortecimento (ZA) levou em consideração a inclusão de áreas que são estratégicas para proteção e/ou para manutenção da biota do Parque (Figura 8). As áreas de vegetação florestal externas ao Parque, em todo o seu entorno, são fundamentais para a fauna de mamíferos, especialmente para aquelas espécies que requerem áreas de uso mais extensas. Espécies de aves e abelhas também dependem de espécies de plantas que florescem em altitudes mais baixas, sendo que muitas espécies desses grupos transitam pelo gradiente altitudinal em diferentes épocas do ano. A forma complexa do PESP, com largura média de 4 km torna a unidade mais suscetível aos efeitos das atividades desenvolvidas na borda.

Para minimizar esses efeitos é fundamental a manutenção de corredores ecológicos e de fragmentos florestais no entorno, devendo essas áreas serem incluídas na rotina de manejo da Unidade. A busca pela definitiva proteção destas áreas, que somam vegetação florestal e de altitude, irá ampliar as chances de manutenção da diversidade faunística e florística do PESP. Um programa de incentivo à criação de Reservas Particulares do Patrimônio Natural (RPPN) nessas áreas, garantindo sua manutenção em caráter perpétuo é uma estratégia que deve ser adotada. Outra iniciativa que deve ser adotada pela gestão do PESP junto com o Núcleo do IEF é influir para que as reservas legais das propriedades vizinhas sejam localizadas preferencialmente na zona de amortecimento do Parque, protegendo os remanescentes florestais localizados em altitudes inferiores àquelas presentes no interior da unidade e favorecendo a manutenção dos corredores de fauna.

Tendo em vista que o uso do fogo representa a principal pressão para o PESP, a adoção de praticas de uso e manejo do solo no entorno deve receber um cuidado especial na zona de amortecimento. O controle da criação de gado e da pratica de queimadas para limpeza de pasto no entorno deve ser intensificado, de forma a evitar o maior comprometimento dos campos nativos do PESP. A esse respeito, deve ser exigido dos produtores que adotem medidas para garantir que o gado criado no entorno não entre na unidade de conservação. A prática da apicultura, tida na região como atividade de baixo impacto, deve ser reavaliada e monitorada na zona de amortecimento do PESP. A presença de populações selvagens da abelha exótica Apis melífera no parque é inevitável. Entretanto, é preciso evitar a pressão adicional que as grandes populações desta abelha em grandes apiários comerciais podem exercer sobre o ambiente no entorno. Por isto a apicultura comercial, principalmente em larga escala, deve ser desestimulada na zona de amortecimento do PESP, numa faixa de 1 km do limite da unidade. Deve-se evitar que novos apiários sejam instalados em regiões da zona de amortecimento onde a atividade ainda não é explorada, pelo menos até que dados mais concretos sobre o impacto da apicultura sobre o ambiente do parque sejam obtidos. Deve ser dada ainda atenção especial para as áreas sob pressão de caça. Os levantamentos da fauna de mamíferos identificaram a presença de cachorros em todas as trilhas amostradas, sendo alguns de raças tidas como cães de caça. A maior pressão de caça foi identificada na região do bairro da Vargem, devendo ser intensificada nessa região ações de educação ambiental e fiscalização.

Atenção especial deve ser dada à conservação de áreas florestais em cotas mais baixas, contínuas com florestas mais altas dentro do PESP, especialmente as que acompanham os

cursos d’água, já que são importantes para a fauna, além de protegerem os mananciais hídricos. Para a proteção dos recursos hídricos, todas as concentrações de fragmentos florestais existentes no entorno do PESP deverão ser incluídas nesta zona, em especial as que se seguem:

• A norte: a porção montante do ribeirão dos Furnas, do córrego do Papagaio.

• Para nordeste: áreas da serra de Aiuruoca, bacia do ribeirão Santo Agostinho, toda a região conhecida como Serra Verde, cabeceiras do rio Piracicaba e cabeceiras do rio Jacu.

• Para leste: serra do Pouso Alto, cabeceiras dos córregos Mata-porco, da Mamoneira, de contribuintes do ribeirão Pouso Alto, do córrego da Paciência, bacia dos contribuintes da margem esquerda do ribeirão Bibiria.

• Para sudeste: cabeceiras do ribeirão do Coura, da Cachoeira, as serras da Conquista e da Manguara.

• Para sudoeste e oeste: toda a margem esquerda da bacia do rio Aiuruoca, incluindo ainda as serras do Ouro Fino, dos Nogueiras, e da Gomeira.

• Para noroeste toda a margem esquerda da bacia do rio Aiuruoca, a montante da cidade de Aiuruoca.

• Para Oeste: no entorno da Serra da Careta, na região do bairro da Vargem, onde existem excelentes fragmentos próximos à área do PESP, porém sem continuidade.

A rodovia Itamonte-Alagoa, que está em processo de asfaltamento, deve ser toda considerada como zona de amortecimento do PESP. Com o asfaltamento, deverá ser ampliado o transito de caminhões, inclusive com transporte de combustíveis e cargas tóxicas, que devem ser controlados para se evitar o risco de contaminação dos mananciais da região. O controle da drenagem e o dimensionamento dos taludes de contenção devem ser reforçados, haja vista o grande volume de material já carreado para os cursos d’água do entorno durante o processo de asfaltamento da estrada. Ressalta-se ainda a atenção a ser dada ao processo de ocupação nas margens da estrada, devendo sofrer ações de manejo que impeçam a ocupação desordenada, causando pressão sobre o PESP. Finalmente o controle de velocidade deve ser cuidadosamente implementado, evitando-se o risco de atropelamento das espécies da fauna. As propostas para minimizar os impactos da estrada estão detalhados no item 3.1.3. Sub - Programa de Manejo dos Recursos Naturais, objetivos estratégicos 6 e 7.

Todos os mananciais que drenam a área do Parque têm suas nascentes no interior da unidade, e depois de ultrapassarem seus limites não mais deságuam no seu interior. A única exceção é o ribeirão Santo Agostinho (ou do Charco) que possui um trecho que drena uma área externa ao Parque, na região conhecida como Garrafão, para depois percorrer uma boa extensão da Unidade de Conservação, entre os municípios de Alagoa e Baependi e finalmente desaguar fora da área do Parque, nas imediações da cachoeira do Gamarra. Essa região, incluída na zona de amortecimento, deve merecer atenção especial para evitar a contaminação e a entrada de espécies exóticas de peixes no interior da unidade.

A região ainda apresenta potencial para atividades de garimpo de ouro, agricultura e piscicultura. A exposição deste manancial ao entorno pode propiciar alterações nas condições atuais de suas águas (de boa qualidade) e a outros recursos naturais do Parque, quando estas retornarem aos domínios da Unidade de Conservação. Há informações locais que já houve soltura de peixes exóticos neste trecho. Esse é um risco à biota da Unidade de Conservação, sendo que esse trecho exigirá ações de monitoramento constante e estabelecimento de parcerias com os proprietários de terra dessa região.

A criação de trutas também é uma atividade que deve ser monitorada no entorno. Desenvolvida em geral muito próxima aos cursos d’água é comum a fuga de espécimes e a contaminação dos cursos d’água. A esse respeito vale ressaltar que está ocorrendo esforços dos truticultores em se regularizar para obter a licença ambiental para a prática da atividade. A gerencia do PESP deve acompanhar esses processos de licenciamento e realizar visitas aos trutários, para sensibilizar os produtores para os riscos do manejo inadequado da atividade para o ambiente e para o PESP.

A área de recarga para os aqüíferos e nível de base dos mananciais superficiais situados dentro e no entorno do PESP são estratégicos para a manutenção da quantidade e da qualidade da água que abastece os municípios formadores da unidade de conservação. Vem daí uma parte significativa da água que é utilizada por grandes usuários da bacia hidrográfica do rio Grande, como: CEMIG (represa de Camargos), COPASA (abastecimento de água nas cidades de Caxambu, Baependi e Itamonte) e Furnas.

As diversas cachoeiras como as dos Garcias, Três Marias, do Índio, do Fundo, da Fragária, do Juju e do Gamarra, localizadas nos limites do PESP com seu entorno devem ser utilizadas em parceria com o PESP, de forma a evitar a degradação das mesmas.

A implantação da PCH Aiuruoca, em fase de licenciamento, a ser implantada na zona de amortecimento do PESP, deve ser acompanhada pela gestão da unidade. Embora localizada a jusante da unidade, e com área de inundação relativamente pequena, a implantação da usina vai romper a conectividade da paisagem em alguns trechos, além de causar impactos indiretos sobre a fauna devido a barulhos e operacionalização da usina.

Toda a área do Parque Nacional do Itatiaia compõe a zona de amortecimento do PESP na sua porção sul, garantindo a conexão da paisagem e de ambientes naturais. A estrada da Garganta do Registro, que corta a unidade de conservação, e que dá acesso ao bairro rural da Serra Negra representa um impacto significativo para a biota, e deve ser monitorada. As RPPNs do Alto Gamarra, Sitio Floresta do Pengá, Matutu, Nave da Esperança, Cachoeira dos Garcias, Berço de Furnas, Cachoeira do Tombo, Pousada da Serra, entre outras que fazem divisa com o PESP, são estratégicas e devem ser direcionados esforços para estabelecimento de parceria com seus proprietários para ações de proteção e educação ambiental. O fragmento florestal conhecido como Serra Verde, na divisa dos municípios de Alagoa e Bocaina de Minas também faz parte da zona de amortecimento do PESP. Essa região apresenta cobertura vegetal nativa ainda bem conservada, fundamental pela formação de corredores ecológicos. A RPPN Mitra do Bispo, localizada no ponto mais alto desse fragmento pode ser um grande aliado do PESP.

PROCEDIMENTOS PARA GESTÃO

• Qualquer atividade na zona de amortecimento que possa afetar a biota deverá ser obrigatoriamente licenciada pelo órgão ambiental competente, conforme o disposto na Resolução Conama No. 13/1990; DN COPAM No. 74/2004; e DN COPAM No. 130/2009 • Atividades e empreendimentos passiveis de licenciamento na ZA (empreendimento

turístico, de infra-estrutura básica, de transporte de carga perigosa, entre outras) deverão ter anuência prévia do IEF e prever condições adequadas de operacionalização e mínimo impacto;

• Cabe ao gerente do PESP estar atento a processos de liberação de atividades de terraplanagem, mineração, dragagem e escavação que venham a causar danos ou degradação do meio ambiente na ZA, em articulação com o gerente da APA Serra da Mantiqueira;

• Nenhum projeto de urbanização poderá ser implantado na ZA, sem a prévia autorização do IEF, subsidiado pelo parecer da gerencia do PESP;

• No processo de licenciamento de empreendimentos novos para o entorno da UC, deverá ser observado o grau de comprometimento da conectividade dos fragmentos de vegetação nativa;

• Todo empreendimento que não esteja de acordo com o estabelecido para a ZA terá um prazo de dois anos para efetuar os procedimentos de adequação aqui determinados; • Os loteamentos rurais na ZA deverão ser previamente aprovados pelo INCRA e

autorizados pelo órgão ambiental, e prever as condições sanitárias compatíveis com a conservação do meio ambiente;

• A construção e a manutenção de estradas deverão observar técnicas que permitam o escoamento de águas pluviais para locais adequados;

• A construção, ampliação ou asfaltamento de estradas que cruzam fragmentos florestais do entorno imediato do PESP deve procurar manter a conectividade do dossel superior dos mesmos, inclusive construindo estruturas de deslocamento para as espécies arborícolas;

• Toda a queima controlada deverá ser autorizada e fiscalizada pelo IEF, e rigidamente acompanhada na ZA por servidores do PESP;

• Recomenda-se a implantação de bebedouros para o gado de forma a reduzir o pisoteio nas nascentes e cursos d’água, bem como definir locais específicos para o acesso aos cursos d’água, garantindo que os animais não se dispersem nas APPs e áreas de vegetação nativa;

• Recomenda-se que as áreas de reserva legal e APP fora das áreas destinadas a bebedouro ou passagem do gado sejam cercadas para reduzir a entrada dos animais e o pisoteio e pastagem das espécies herbáceas e das plântulas;

PROCEDIMENTOS PARA GESTÃO (Continuação)

• A fiscalização para impedir intervenções ilegais nas APPs deverá ser intensificada na ZA;

• As propriedades localizadas na ZA deverão ter suas reservas legais protegidas e averbadas. A gestão do PESP deve procurar sensibilizar os proprietários para que aloquem essas reservas preferencialmente em áreas contiguas à UC ampliando a conectividade entre os fragmentos florestais e garantindo a manutenção de corredores de fauna;

• As atividades agropastoris na ZA deverão ser feitas de acordo com as práticas de conservação do solo recomendadas pelos órgãos oficiais de extensão agrícola, tais como Emater, Embrapa e IMA;

• Nas áreas de solos frágeis, sujeitos a processos erosivos, não será permitida a retirada da cobertura vegetal;

• A utilização de agrotóxicos e outros biocidas que ofereçam riscos sérios na sua utilização, inclusive no que se refere ao seu poder residual não serão permitidos na ZA;

• As embalagens vazias devem se devolvidas para os estabelecimentos comerciais conforme determina a lei;

• Não é permitida a aplicação de agrotóxico por aeronave na ZA;

• A captação de água para diluição do produto não poderá ser realizada diretamente dos corpos de água;

• A implantação de novos apiários de abelhas exóticas não será permitida na faixa de 1km do limite do PESP até que sejam realizados estudos que avaliem o impacto dessas sobre a fauna de abelhas nativas e seus impactos sobre os processos de polinização e manutenção da biota, conforme esclarecimentos do relatório técnico da fauna de invertebrados;

• A introdução de espécies exóticas invasoras ou com alto potencial de invasão não será permitida na ZA ou deverá ser monitorada rigorosamente pelo órgão ambiental competente em conjunto com a gestão do PESP;

• O transporte de combustíveis ou cargas tóxicas no interior do PESP deve seguir regras definidas pelo IEF;

• Recomenda-se que toda propriedade/posse conte com sistema mínimo de coleta e tratamento de esgotos domésticos e de criadouros;

• A vegetação nativa deverá ser recuperada, caso necessário.

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