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4 PRÁTICAS PEDAGÓGICAS VIA REPRESENTAÇÕES SOCIAIS: TEORIA E

4.2 Análises dos quadrantes: núcleo central, sistema periférico e zona de contraste

4.2.4 Zona de contraste: um espaço a ser observado

Na zona de contraste, é possível observar a presença de 3 palavras distintas, sendo as mais evocadas, recorrente 6 vezes cada, e a última com apenas 3 evocações. Nessa parte, podemos perceber que há uma correlação de contraste entre as palavras deste quadrante e as que já foram apresentadas no núcleo central.

Figura 18 – Zona de contraste | quarto quadrante

Fonte: dados da pesquisa

Essa correlação mostra a importância do contraste para as representações sociais, bem como aponta para questões também já discutidas nas seções anteriores. A primeira palavra mais evocada, integração, remete, em suas justificativas, a outras como o próprio dinamismo, já discutido nesta seção. Vale destacar ainda a relação muito estreita com o vocábulo apresentado no núcleo central e que aparece na mesma posição exposição.

Quadro 07 – Sinônimos evocados para o vocábulo integração

Fonte: dados da pesquisa

Nos sinônimos, observamos ainda que para os professores pesquisados, a palavra

integração está voltada a metodologias de ensino, ou seja, estratégias pedagógicas para o

desenvolvimento da aula. Nessa perspectiva, aparecem, na tabela de sinonímias, uma série de palavras que remetem a essa ideia, mas também confirmam a relação de contraste com o núcleo central, especificamente com o vocábulo exposição.

Ao contrastar com as palavras aprendizado, exposição e práticas, o vocábulo

integração se compõe como um elemento de análise importante, pois é por meio deles que as 4° Quadrante Contraste Didáticas 3 1,667 Integração 6 1,833 Planejamento 6 1,500 Dinamismo (BRAGA)

Trabalho em equipe (SOUSA)

Trabalho em grupo (MARIA CLARA) Interação (CMART)

Dinâmicas (VET) Diálogo (ANA)

três primeiras do núcleo central se sustentam. Assim, é como se eles se relacionassem, tivessem entre si uma dependência, mas que por ordem de evocação e frequência, pertencessem a quadrantes diferentes.

Na mesma medida, a palavra planejamento, evocada também 6 vezes, revela-nos relação com a mesma palavra evocada em posição semelhante no núcleo central: práticas. Porém, percebemos o contraste quando eles afirmam que só há práticas se houver planejamento. Isso fica mais evidente quando analisamos as justificativas dos participantes, que apontam para essa relação.

Mesmo não possuindo muito tempo para planejar, muito em razão das minhas outras atividades, penso que o planejamento é imprescindível para o andamento da prática pedagógica. Trata-se de importante mecanismo para a organização do professor. (BOAS NOITES, grifo nosso)

Preparo das aulas, pois preparar uma boa aula é e extrema importância para ampliar a aprendizagem dos alunos e prender a atenção dos mesmos para a disciplina. (MACHADO, grifo nosso)

Planejamento, pois assim consigo desenvolver um trabalho de acordo com cada turma me aperfeiçoando sobre o tema para oferecer uma boa aula e consequente melhor aprendizado. (ANA LUIZA, grifo nosso)

O planejamento e a preparação para uma aula definindo a metodologia conveniente, os recursos a ser utilizados e a que tipo de avaliação pode ser adotada para a verificação do aprendizado. (MEL, grifo nosso)

De fato, o que os participantes parecem apontar nas respostas é a relação outrora comentada, e isso acaba sendo evidenciado quando destacamos, em cada uma das falas, a relação que seus respondentes estabelecem com a palavra aula, que também apresenta relação de contraste com exposição, presente no núcleo central. Essa construção do que podemos chamar de teia de significados não acontece de forma aleatória; pelo contrário, é uma maneira articulada e proposital de percebermos como as palavras evocadas estão intrinsecamente voltadas às práticas pedagógicas, mesmo com ideários diferentes daqueles que compuseram o núcleo central.

Por fim, a última palavra da zona de contraste, didática, evocada 3 vezes, demonstra, mais uma vez, relação com as demais do núcleo central, operando sobre elas de maneira contrastante com o vocábulo exposição. Desse modi, surge uma construção de pensamento de que, para haver aprendizado e romper com as aulas expositivas, é preciso haver didática.

Didática seria a palavra mais importante no meu ponto de vista, pois através de uma boa didática atinge o objetivo principal, que é a transferência do conhecimento ou compartilhamento de conhecimento. (MARIA)

Ferramenta. Instrumento de trabalho utilizado para realizar uma atividade, no caso “ensino”. (LORDENG)

Ao atribuírem à didática maior importância dentre as palavras evocadas, os participantes reconhecem que é a partir dela que se organiza o ensino. Na mesma medida, afirmam em suas justificativas que ela é um instrumento, mas também uma maneira de produzir o conhecimento. Sem a didática, reconhece uma das participantes, o ato pedagógico não existe.

A didática, pois todas as outras palavras estão ligadas a ela. É como se tudo que fazemos na sala de aula, ou para a sala de aula, estivesse ligado a didática. Por isso é importante para nós bacharéis fazermos mais cursos que ensinem mais didática. (MARIA LAURA)

Dessa maneira, como podemos observar, a partir da zona de contraste, há indícios de que os participantes podem construir representações sociais positivas em relação às suas práticas pedagógicas. Para eles, essas práticas estão ligadas ao planejamento e têm compromisso com o aprendizado do aluno; o que pode justificar a importância atribuída à didática em sala de aula, encontrada em várias respostas e contrastante ao que aparece no núcleo central exposição.

Tais pensamentos estão ancorados, dentre outros, na ideia do professor como aquele que expõe conteúdos e consegue dominar uma grande quantidade de conhecimentos. Por isso, é recorrente a ideia de que tudo aquilo que é planejado precisa ser desenvolvido de maneira linear, não aceitando, por exemplo, contratempos.

No núcleo central, onde observamos a presença de três palavras bem relacionadas entre si, embora com ausência da palavra ensino, percebemos que todas flutuam em volta dela, ou seja, as representações sociais desse grupo de professores estão voltadas a uma ideia de ensino que, por sua vez, está ancorada no professor.

Tal ancoragem, manifestada nas análises dos quadrantes, permite-nos compreender que esses professores respondem ao ideiário dos centros universitários criados em 1997, em que os docentes eram voltados ao compromisso com o ensino. Repetimos aqui o que já dissemos na seção sobre os centros universitários, onde discutimos o cerne de sua criação que a priori estava voltada apenas ao espaço do ensinar e não ao tripé ensino-pesquisa-extensão, o qual estava a cargo da universidade.

Embora a palavra exposição seja uma recorrência tanto nos quadrantes, quanto nas análises das respostas às práticas pedagógicas, observamos, na zona de contraste, a possibilidade de uma possível alteração do núcleo central uma vez que o vocábulo contrasta com outros dissonantes a ele: didática, integração e planejamento. Isso demonstra a fluidez das representações e reafirma, mais uma vez, o que já discutimos na seção metodológica, em que reafirmamos o caráter movediço e não estático das representações sociais.

Se percebemos que as representações sociais desses professores estão ancoradas na ideia de centralidade de sua figura no processo de ensino, compreendemos os motivos pelos quais, em vários momentos, práticas mais compartilhadas de ensino como o seminário, a autoavaliação, o portfólio, ou mesmo metodologias ativas, quase não aparecem dentre as respostas mais citadas.

Em síntese, podemos dizer que o núcleo central das representações sociais expressas pelos participantes está voltado para práticas pedagógicas que priorizam a prática em detrimento ao ensino teórico; o que se reflete em uma visão utilitarista do conhecimento. Desse modo, embora haja uma mobilização pedagógica para promover o aprendizado significativo, isso é realizado a partir de aulas expositivas, que, como já dissemos, centra no professor a possibilidade do ensino; fato contraditório se analisarmos o contexto expresso pelos participantes.

5 TESE: ALCANCES DO ESTUDO, DIFICULDADES E FRAGILIDADES MAPEADAS E OS DESAFIOS DA INTERVEÇÃO

Nesta seção, apresentamos o mapeamento das principais dificuldades e fragilidades encontradas nas representações sociais dos professores bacharéis iniciantes em relação às suas práticas pedagógicas. Discutimos tais questões, bem como suas ressonâncias na prática docente e, conjuntamente, apresentamos os resultados dos momentos formativos realizados nos grupos focais.

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