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Zona limítrofe entre o estado do Espírito Santo com o estado de Minas Gerais, 1939.

CAPÍTULO III - ZONA CONTESTADA: O CONFLITO ENTRE

ESPÍRITO SANTO E MINAS GERAIS

I - O Laudo Arbitral do Serviço Geográfico do Exército

Ao final do capítulo anterior, comentamos acerca da nomeação - em setembro de 1940 - da Comissão do Serviço Geográfico do Exército para fazer cumprir o dever da Constituição Federal e firmar o acordo entre os estados do Espírito Santo e Minas Gerais. No entanto, a partir deste mesmo ano o governo capixaba impulsionou de maneira mais sistemática a campanha de ocupação das terras ao norte e noroeste do estado, influenciando de maneira definitiva os rumos da contenda.

O Art. 184 da nova Constituição de 1937, conforme já citado, determinou no seu segundo parágrafo que ficaria a cargo do Serviço Geográfico do Exército as diligências e o reconhecimento dos limites sujeitos a dúvidas ou em litígios, efetuando as necessárias demarcações. Dessa forma, como a questão de limites entre os estados do Espírito Santo e Minas Gerais encontrava-se indefinida, foi solicitado a interferência do SGE, único organismo oficial do Estado autorizado a emitir os pareceres conclusivos.

Orientado pelo presidente da República, Getúlio Vargas, o então Ministro da Guerra, Eurico Gaspar Dutra, determinou que o SGE, após a realização dos logos estudos da região – através de documentos e mapas históricos – emitisse seu parecer final. Após percorrer a zona contestada, entre novembro e dezembro de 1940, a Comissão constituída por três oficiais do Exército – Major Lincoln de Carvalho Caldas, Major Benjamim Arcoverde de Albuquerque Cavalcanti e Capitão José Forte Castelo Branco – considerando os aspectos históricos, geográficos e jurisdicionais, emitiu, em novembro de 1941, a sua decisão, denominada laudo arbitral de 1941, na qual declarava oficialmente e estabelecida a linha divisória. Conforme procede no próprio laudo,

I – Em nota número 494 de 18 de Dezembro de 1940, do Excelentíssimo Senhor Ministro de Estado dos Negócios da Guerra, General Eurico Gaspar Dutra, em cumprimento de ordem do Excelentíssimo Senhor Presidente da República, Doutor Getúlio Dorneles Vargas, foi determinado ao Estado Maior do Exército que o Serviço Geográfico e Histórico do Exército designasse uma Comissão de três oficiais engenheiros do mesmo Serviço para, em face do que dispõe o artigo 184 da Constituição Federal de 10 de Novembro de 1937, dirimir a questão de limites entre os Estados de Minas Gerais e do Espírito Santo, proferindo um laudo arbitral que defina a divisória entre os mesmos Estados e realizando, posteriormente, os trabalhos correspondentes de demarcação (ESTADO DO ESPÍRITO SANTO, 1941, p.1).

O relatório do SGE, reconhecido como laudo arbitral, logrou organizar, com grandes méritos, um esboço geográfico de toda a região, tendo estudado e analisado profundamente os detalhes planimétricos, indicações de altimetria e outras informações visando obter a real extensão e localização das serras dos Aimorés, principal eixo de discussão do caso, bem como todas as outras serras presentes no percurso (do Souza, do Norte, de Pancas e do Map-Map-Crack).55

Em setembro de 1941, chegou-se a seguinte conclusão:

1º) – A linha divisória entre os dois Estados, ao norte do rio Doce, segue pela serra do Souza e depois pela dos Aimorés, de que a primeira é um contraforte;

2º) – A serra dos Aimorés é o divisor de águas entre as bacias dos rios Doce e São Mateus;

3º) – O Estado de Minas Gerais exerceu até 10 de Novembro de 1937, jurisdição sôbre determinadas partes da bacia do Rio São Mateus, sôbre a bacia do rio Mucurí, na região lindeira com o Espírito Santo, e nas cabeceiras de alguns formadores do braço Norte do rio Itaúnas, cabendo-lhe, de acôrdo com o artigo 184 da Constituição Federal, em vigor, o direito á posse dos respectivos territórios (ESTADO DO ESPÍRITO SANTO, 1941, p.44).

Atendendo todas as circunstâncias, estabeleceu-se a linha divisória entre os dois estados, ao norte do rio Doce:

Partindo da extremidade norte da linha que define os limites ao sul do rio Doce, segue por este rio, para leste, até defrontar a serra do Souza, á margem esquerda do mesmo rio; atingida a serra do Souza, pela sua linha de cumiadas até o seu entroncamento com a serra dos Aimorés; pela serra dos Aimorés, para noroeste, até atingir o divisor entre os córregos da floresta [sic] e o da Barra Alegre e por êsse divisor até alcançar o Braço Sul do rio São Mateus, a montante da localidade de Vargem Grande; a seguir, pelo contraforte da margem esquerda do córrego Itabira até o seu entroncamento na serra do Norte; pela linha de cumiadas dessa serra até encontrar “o ponte onde nasce o contraforte que acompanha a margem esquerda do rio Peixe Branco; segue por êste contraforte até o Braço Norte do rio São Mateus; atravessa êsse rio e segue pelo contraforte que acompanha a margem direita do Santa Cruz, até encontrar o divisor das águas entre os rios Mucurí, por um lado e Itaúnas e São Mateus, por outro lado” (Serra do Map-Map-Crack) e por êsse divisor até as cabeceiras do córrego do Limoeiro ou córrego Guaribas, nome do curso alto do córrego Barreado; segue por êsse córrego até a foz do córrego Palmital, onde já existe um marco da linha divisória entre os Estados da Baía e do Espírito Santo. Rio de Janeiro, 15 de Setembro de 1941.

- (a) Lincoln Carvalho Caldas – Major. - (a) Benjamin Arcoverde de Albuquerque Cavalcanti – Major. - (a) José Forte Castelo Branco – Capitão. (ESTADO DO ESPÍRITO SANTO, 1941, p.45-46).

55 Serras que fazem parte e ligam-se com a Serra dos Aimorés. Do Souza, que começa ao sul de Mantena e vai terminar na margem esquerda do rio Doce, frente ao Quartel e Porto do Souza (atualmente em Baixo Guandu- ES). Do Norte, divide as águas entre os braços norte e sul do rio São Mateus. Do Pancas localiza-se no atual município de Pancas, noroeste do estado do Espírito Santo – atualmente a serra é conhecida como Pontões capixabas, sendo um atrativo turístico. E do Map-Map Crack A Serra do Map-Map-Crack se desprende da Serra do Itaimbé, em pleno território mineiro, separando as bacias do Mucurí das bacias dos rios Doce e São Mateus. Desde a sua origem até a região de Teofilo Otoni, isto é, enquanto separa as águas dos rios Doce e Mucurí, no pequeno trecho em que são vizinhos, é conhecida por Serra das Safiras, passando a prevalecer o verdadeiro nome depois do ponto em que tem origem a Serra dos Aimorés.

No mapa 7 podemos observar, com precisão, as linhas nas quais puderam ser traçadas pelo laudo e conhecer minunciosamente toda a geografia da região litigiosa.