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A EDUCAÇÃO INCLUSIVA

No documento Anexo 1 – QUADRO GERAL (páginas 59-63)

A Comissão dos direitos humanos tem promovido vários debates, sobre a condição humana e a qualidade de vida no planeta, entre outros temas. Mas é Bobbio (1992, p. 5) quem lembra que “[...] os direitos humanos são direitos históricos que emergem gradualmente das lutas que o homem trava por sua própria emancipação e das transformações das condições de vida que essas lutas produzem.” O autor lembra ainda que:

A linguagem dos direitos tem indubitavelmente uma grande função prática, que é emprestar uma força particular às reivindicações dos movimentos que demandam para si e para os outros a satisfação de novos carecimentos materiais ou morais; mas ela se torna enganadora se obscurecer ou ocultar a diferença entre o direito reivindicado e o direito reconhecido e protegido (BOBBIO, 1992, p.10).

No que diz respeito às pessoas com necessidades especiais, essa constatação é visível, uma vez que os direitos de cidadania têm sido ignorados em virtude, entre outros fatores, da falta de informação sobre as deficiências e dos preconceitos e estigmas que povoam o imaginário coletivo quando nos referimos a essas pessoas.

Apesar de se constatar que nas últimas décadas, o caráter caritativo- assistencialista tenha diminuído, contribuindo para uma prática de proteção dos direitos de cidadania, ainda presenciam-se inúmeros fatos de exclusão contra as pessoas com necessidades especiais, tanto na esfera social quanto no usufruto dos bens e serviços de que dispõe a sociedade.

A inclusão, então, no sistema regular de ensino vem se mostrando como possibilidade que se abre para o aprimoramento da educação escolar, beneficiando todos os alunos, com ou sem deficiência. Por tratar-se de uma questão básica de direitos humanos já discutidos extensivamente em palestras, debates e conferências mundiais, a Educação Inclusiva traz no seu bojo um conjunto de princípios de justiça social e de igualdade educativa a que a escola do futuro não pode deixar de se comprometer.

Neste sentido, entende-se que:

A educação inclusiva é a possibilidade de ensino que busca assegurar a todos os estudantes, sem exceção, independentemente de sua origem sócio-cultural e da sua evolução psicobiológica, ter as mesmas oportunidades educativas, para que, dessa forma, possam usufruir desses serviços com qualidade, em conjunto com outros métodos pedagógicos, conseguindo com isso o benefício de integrar-se igualmente em classes dentro de suas faixas etárias, perto de suas residências, objetivando seu preparo para uma vida futura, a mais independente possível, como sujeitos com pleno direito na sociedade. (FONSECA, 2003, p.11).

Diante desse paradigma educativo, a escola deve ser entendida como uma instituição social, que tem como obrigação, atender a todas as crianças com ou sem dificuldades educacionais, pois a mesma deve se mostrar aberta, democrática priorizando o ensino de qualidade.

Em escolas em que o exercício da democracia é uma constante, os alunos podem ter a oportunidade de aprender e apreender questões relativas a seus direitos e deveres, possibilitando aos mesmos decidir sobre assuntos diversos, tanto na área educativa quanto no meio em que vivem.

Portanto, a escola que se deseja, deve conter em seu Projeto Político Pedagógico, a idéia da unidade na diversidade, posto que é impossível coexistir democracia e segregação, se compreendermos democracia tal como apresenta Bobbio:

[...] um método ou um conjunto de regras de procedimento para a constituição de governo e para a formação das decisões políticas (ou seja, das discussões que abrangem a toda a comunidade) mais do que uma determinada ideologia “. (2000, p.326)

Assim, precisa-se entender que democratizar a educação significa implementar políticas e práticas de ensino que se traduzam por inclusão, através da participação e na construção da cidadania, propiciando assim, a eqüidade social.

Daí, a importância das escolas “inclusivas”, estarem alertas quanto à sua prática pedagógica, para não confundirem educação inclusiva com educação especializada. Sendo assim, cabe aqui esclarecer de forma sucinta, o que se entende por educação especializada.

Desde a LDB de 1996, o ensino especial é uma modalidade da escola comum. Uma modalidade que perpassa todos os níveis do ensino, e, perpassando, ela não constitui o nível, ela só o complementa, ela não certifica, ela não tem série, não tem as mesmas disciplinas, ela não ensina os mesmos conteúdos que as escolas comuns – currículo básico previsto nos Parâmetros Curriculares Nacionais.

O conteúdo da Educação Especial é o conteúdo específico das deficiências, que não as constitui como escola, porque essas disciplinas não são aquelas que vão garantir a indiferença, muito pelo contrário, é um atendimento de modo segregado, que discrimina as pessoas, o que vai contra os preceitos constitucionais (MANTOAN, 2005).22

Analisar os fundamentos da educação inclusiva hoje, pressupõe, refletir e compreender a Educação Especial, como lembra Mazzotta:

Discutir a educação de “alunos com necessidades educacionais especiais” implica resgatar o sentido da “Educação Especial”, ainda que isto possa desagradar aos que se colocam à frente das discussões sobre “Educação inclusiva”, já que, diante de

“necessidades educacionais especiais”, a educação escolar deve responder com situações de ensino-aprendizagem diferentes das organizadas usualmente para a grande maioria dos educandos, ou seja, das situações comuns de ensino ou ensino regular (MAZZOTTA, 1986, p. 117-118).

Na sua reflexão sobre esse tema, o autor aponta duas formas de se perceber a relação entre os educandos e a educação escolar, quer dizer, essa percepção pode ser sentida ou utilizada como: uma visão estática ou dicotômica e a visão dinâmica ou por unidade.

Na primeira opção, os alunos são percebidos como sujeitos comuns ou

“especiais” (diferentes, deficientes, anormais, etc.), revelando-se ainda que veladamente, uma espécie de segregação, (pois são alunos especiais em classes especiais). Na segunda, percebe-se que, cada aluno na sua relação com a educação escolar, terá a oportunidade melhor de ensino-aprendizagem comum, também especial, mas, uma educação combinada (comum e especial) ou ainda, de preferência, uma educação compreensiva (inclusiva).

22 Trecho proferido na palestra intitulada: “Por uma escola prazerosa e criativa”, ministrada no IX Seminário Municipal de Educação de Itajaí em 06/06/2005.

Ao defender a abordagem dinâmica, ao qual já se referiu anteriormente, que tem como base o princípio da não segregação, Mazzotta (1986), afirma que a educação pode possibilitar uma melhor compreensão da relação entre os educandos e a escola, o que pode vir a comportar a organização de um ensino-aprendizagem que atenda as necessidades educacionais. É de suma importância continua ele, lembrar, que a educação dos alunos com necessidades educativas especiais tenha os mesmos objetivos da educação de qualquer cidadão.

Ainda que se tenha que fazer algumas alterações curriculares para assegurar a esse alunado a integração e a aquisição de novos conhecimentos, nada mudará drasticamente na escola inclusiva, considerando que um bom planejamento, certamente alcançará seu objetivo maior, o de não ser identificada como mais uma escola especial.

Tais considerações vêm ao encontro das nossas expectativas, quais sejam, a de que crianças com necessidades educativas especiais possam não só freqüentar as escolas das redes públicas de ensino, mas que a educação possa atender dentro do possível suas demandas, bem como, desenvolver práticas que correspondam aos desejos e necessidades dos alunos, sejam eles, com ou sem necessidades especiais.

O indivíduo com necessidades educativas especiais segundo Carvalho et al, é toda pessoa que tem algum tipo de limitação, seja ela, temporária ou definitiva coisa que infelizmente, atinge grande quantidade de crianças nas escolas. De acordo com a autora:

Outro aspecto, além dessa abrangência, deve ser considerado, especificamente voltado aos portadores de deficiência. Isso significa que as necessidades educativas escolares de pessoas cegas, por exemplo, têm características próprias e diferenciadas das de alunos surdos ou dos que têm paralisia cerebral, ou daqueles portadores de deficiência mental, ou dos autistas. Desconsiderar isso é desconsiderar a diversidade (CARVALHO APUD MEC, 1999, p. 41).

Mazzotta (2001), vem tecendo algumas considerações sobre os indivíduos com deficiências, incapacidades e necessidades especiais. Tais considerações segundo o autor, constam do documento (Classificação Internacional das Deficiências, Incapacidades e Desvantagens – CIDID-1) publicado oficialmente em 1980, pela Organização Mundial da Saúde – OMS. Importante destacar que esse

documento tem como objetivo, contribuir para a promoção da uniformidade de conceitos e terminologia de caráter geral.

Contribuindo com seu conhecimento sobre o assunto em pauta, o autor faz alguns recortes sobre o tema, os quais são descritos a seguir.

Deficiência: no domínio da saúde, representa qualquer perda ou anormalidade da estrutura ou função psicológica, fisiológica ou anatômica;

Incapacidade: no domínio da saúde, corresponde a qualquer redução ou falta (resultante de uma deficiência) de capacidades para exercer uma atividade de forma ou dentro dos limites considerados normais para o ser humano;

Desvantagem: no domínio da saúde, desvantagem (handicap) representa um impedimento sofrido por um dado indivíduo, resultante de uma deficiência ou de uma incapacidade, que lhe limita ou lhe impede o desempenho de uma atividade considerada normal para esse indivíduo, tendo em atenção à idade, o sexo e os fatores socioculturais.23 (MAZZOTTA, 2001)

4.2 POLÍTICAS PÚBLICAS DO MUNICÍPIO DE ITAJAÍ PARA A INCLUSÃO DOS

No documento Anexo 1 – QUADRO GERAL (páginas 59-63)