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A satisfação dos pais quanto à escola pesquisada

No documento Anexo 1 – QUADRO GERAL (páginas 102-106)

6.1 O OLHAR DOS PAIS SOBRE A ESCOLA OFERECIDA E A ESCOLA

6.1.1 A satisfação dos pais quanto à escola pesquisada

Buscando compreender como a escola é percebida pela família, questionou- se às mães sobre a sua satisfação com a mesma.

Estou muito satisfeita com a atual escola e até hoje, gostei muito das professoras que minha filha teve, pois são excelentes educadoras.

Sim. Não tenho do que me queixar.

Sim, estou muito satisfeita, porque tem boa organização.

Estou satisfeita com tudo, não tenho o que reclamar.

Estou muito satisfeita.Tanto com o ensino quanto com os professores.

O que eu gosto na escola é que eles se preocupam quando nossos filhos faltam mais de um dia, telefonam prá saber porque o aluno não veio, não deixam a criança sair sem ter certeza de que os pais estão sabendo, né. Isso dá segurança prá gente.

Eu gosto de tudo e de todos. Não tenho do que reclamar. Considero uma ótima escola, porque eles estão sempre em contato com os pais.

O nível de satisfação que as mães expressam, também pode estar relacionado à confiança que depositam na escola como uma instituição que atua não só como formadora, mas que estabelece uma relação de afetividade ao preocupar- se com as faltas desses alunos às aulas.

Nesse sentido, Codo et al (1999 p. 50), trazem sua contribuição ao esclarecer que o trabalho do professor “[...] tem tudo para ser o melhor e ao mesmo tempo é um tipo de trabalho dos mais delicados em termos psicológicos”. Segundo o autor, a afetividade entre professores e alunos é imprescindível para que a aprendizagem ocorra de maneira prazerosa. Sem esse pré-requisito, afirma o mesmo, não há como estabelecer uma troca, não há como motivar o aluno, e, sem motivação, não há cooperação, boa vontade e bom desempenho de ambas as partes.

Embora a maioria das mães entrevistadas tenha ressaltado que está satisfeita com a escola, há que se dar especial atenção para as sugestões indicadas por outras:

Poderia melhorar mais. Ter mais atividades para as crianças no contra-turno. Isso ia até deixar a gente mais descansada no trabalho, sabendo que a criança estava na escola.

Estou satisfeita, só acho que deveria ter mais incentivo na área de esportes ou atletismo para as crianças.

Eu acho que falta atividade diferente. A minha filha é bastante lenta prá fazer os deveres. Às vezes, ela não consegue terminar e aí fica a lição pela metade, quando eu não tenho tempo de ajudar, né. A gente chega cansada do trabalho e aí tem mais trabalho em casa, e acaba que não sobra tempo prá ver se ela fez a tarefa.

Essas mães, ao que tudo indica, têm a compreensão que seus filhos devam ser tratados como especiais, mas que isso não lhes impeça de participar de um conjunto de outras atividades, demandando por isso, por exemplo, mais atividades esportivas. Daí, demonstrarem diferentes posições em relação à satisfação de terem seus filhos na referida escola.

Eu acho que está muito bom assim, mas poderia melhorar. Poderia ter outro turno para as crianças, com outras atividades, tipo: aprender a pintar, aprender a bordar, marcenaria, alguma coisa que eles pudessem trabalhar mais tarde. Não sei se tu me entendes, como se

fosse uma escola de aprendiz pro futuro deles. Quanto aos professores, acho eles ótimos.

Olha, eu não entendo muito dessas coisas, mas eu acho que algumas atividades diferentes na escola, ia deixar ela mais atraente para as crianças. Eu penso assim: de vez em quando, um recreio diferente, com apresentação de teatro, de palhaços, boi de mamão, acho que eles iam gostar muito.

As aulas de apoio e as aulas de computação, deveriam ser mais vezes. Ter mais atividades diferentes, como trabalhos manuais, mais esportes, por exemplo. Considero os professores bem capacitados, porque eles são bem dedicados, se preocupam com as crianças quando elas não conseguem boas notas, quando elas faltam, essas coisas.

Constata-se também que algumas entendem que a instituição escolar não tem só a função de ser mediadora do objeto de um conhecimento pré-determinado, ou seja, a escola que todos desejam, é percebida como um espaço de múltiplas possibilidades. Portanto, a tríade escola-aluno-família tende a se fortalecer cada vez mais, na medida em que o papel dos pais seja efetivamente compreendido como essencial no processo de inclusão do aluno com necessidades educativas especiais.

Percebe-se então, que as mães ao reivindicarem mais opções para os seus filhos desenvolverem na escola, estão prevendo valores e atitudes que serão cobrados na vida adulta pela sociedade. Assim, pode-se lembrar que são os valores, tal como a contribuição daqueles que podem gerar riquezas, que determinam a aceitação ou não dos mesmos na sociedade capitalista.

Portanto, entende-se que, o indivíduo bem preparado pela escola, que além do ensino formal, explora outras habilidades e competências, terá mais oportunidades e poderá ser aceito no mercado de trabalho, no seu grupo social, do que aquele que não tem essa oportunidade. Daí, a preocupação da família, que requisita atividades diferenciadas para seus filhos na escola. Poder-se-ia dizer, que os pais de certa maneira estariam antecipando o futuro dessas crianças, prevendo que outras habilidades e competências podem vir a beneficiá-los quando adultos.

A Declaração de Salamanca (UNESCO, 1994), documento que inspirou mudanças na maioria dos países, quanto à política educacional, é bem clara ao se referir à família e a sua importância no movimento pela inclusão. Trazendo em seu bojo, quatro artigos, dois especificamente destinados à parceria com os pais, chama à atenção. São eles, os artigos 60 e 61, que dizem:

Os pais são os principais associados no tocante às necessidades educativas especiais de seus filhos, e a eles deveria competir, na medida do possível, a escolha do tipo de educação desejam seja dada a seus filhos (Art. 60, p. 43).

Deverão ser respeitadas as relações de cooperação e apoio entre administradores das escolas, professores e pais, fazendo com que estes últimos participem na tomada de decisões, em atividades educativas no lar e na escola (onde poderiam assistir a demonstrações técnicas eficazes e receber instruções sobre como organizar atividades extra-escolares) e na supervisão e no apoio da aprendizagem de seus filhos (Art. 61, p. 43).

Dessa forma, não se pode deixar de mencionar que duvidar de que, a família deva ser tratada como a principal parceira no processo de superação de obstáculos na política de inclusão, tanto escolar, quanto social. Vale lembrar que, as organizações não-governamentais – ONGs, criadas, em sua maioria, pelos pais e/ou por técnicos, vêm desempenhando um importante papel na luta contra as desigualdades sociais, proporcionando com isso, às famílias com crianças com necessidades especiais, que através dessas organizações se sintam cada vez mais estimuladas a transformar suas práticas de atuação, deixando de ser “protetores e lutadores por”, para ser “aliados e lutadores com.” (MEC, 1999, p. 77).

Nesta perspectiva, a título de ilustração dessa nova revisão de conceitos a que a família vem introjetando, trazemos o exemplo do Clube de Mães em Movimento de Brasília, criado em abril de 2001. Articulado para lutar contra o preconceito a seus filhos, um grupo de pais decidiu oferecer apoio e orientação às famílias e “cuidadores” de crianças com necessidades especiais.

Em dezembro daquele, em encontro regional que reuniu pais e profissionais a fim de discutir estratégias para a promoção e o desenvolvimento das pessoas com necessidades especiais, ficou estabelecida a implantação do Projeto Ímpar – “Um programa de ação e de pesquisa voltado para o exame e a superação de barreiras sociais para a inclusão de crianças especiais na escola.”47

Embora em outro contexto, poder-se-ia lembrar o que destacou Durkheim (1978), que a formação social é essencial para que os indivíduos se situem no mundo e nele atuem, configurando-se assim, num espaço contínuo de formação e transformação. Portanto, é a inserção dos alunos com necessidades especiais no

47 Para saber mais sobre o assunto, ler TUNES (2004).

espaço social que lhe confere a escola, que poderá transformá-lo num cidadão que traz consigo valores que podem ser reconhecidos pela sociedade no seu conjunto.

Diante dessa afirmativa e objetivando compreender a percepção das mães quanto ao que poderia estar faltando na escola para atender melhor seus filhos, algumas se posicionaram da seguinte maneira: “[...] para mim, melhor é impossível.”

“[...] meu filho é muito bem atendido na escola.” “[...] acho que não falta nada.” Sabe- se que a escola como organização, é prestadora de serviços, e, como tal, tem como função, atender seus clientes – nesse caso, os alunos (CODO et al, 1999). Dessa forma, a fala das mães vem confirmando essa relação direta entre pais e escola e que vem sendo construída no cotidiano de seus filhos.

No documento Anexo 1 – QUADRO GERAL (páginas 102-106)