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3.2 O ÔNUS DA PROVA E OS PRINCIPAIS INSTRUMENTOS PROCESSUAIS NA

3.2.1 A prova no direito processual ambiental e a inversão do ônus da prova

Esta parte do estudo descreve as principais discussões processuais como, por exemplo, a prova e a inversão do ônus da prova em ações cíveis ambientais, a partir do atual entendimento do STJ. O art. 5º, inc. LVI, da CF, ao tratar sobre a inadmissibilidade das provas obtidas por meio ilícitos, deixa regra geral e estabelece que se aplique qualquer prova lícita. Em matéria de responsabilidade civil ambiental, em fase judicial, questiona-se via processual em cada caso o nexo causal, o dano ambiental e a prova do fato.

É necessária a apresentação de provas nos fatos alegados em face ao devido processo legal, conforme regra de âmbito constitucional sobre o ônus da prova. Neste caso, verificando a constitucionalidade de diversos dispositivos no Código de Processo Civil, como no art. 374, inc. I, que estabelece que não depende de prova os fatos notórios. Nesse sentido, cabe saber o que é considerado notório, visto que diariamente há mídias sociais com verdades construídas para a manipulação dos leitores ou simplesmente falsas.

Nesta orientação constitucional e com base no art. 5º, inc. XXXV, da CF, de apreciar toda e qualquer ameaça do direito é que se deve analisar a prova no direito processual ambiental, com a busca da verdade.139

Em matéria ambiental, o juiz deve decidir de acordo com o seu livre convencimento motivado, analisando o fato, as circunstâncias, as provas e o que está sendo alegado pelas partes. O juiz analisa todo tipo de provas (pericial, testemunhal, documental), em primeiro grau. Além disso, o juiz é soberano na análise de provas legais, devendo sempre fundamentar a sua decisão, com base no art. 93, inc. IX, da CF. Ele pode determinar de ofício a realização de provas necessárias para a solução do caso, com fundamento no princípio da isonomia para o direito ambiental. Merece destaque a prova pericial e o perito no direito ambiental, pois ambos têm caráter técnico e científico.140

Nesse sentido, tem-se como meio de prova a ata notarial, para registros de ocorrência ambiental, crimes comuns, usucapião, regularização fundiária. (obrigação PROPTER REM) e não perder provas, feita através de (tabelião). A ata notarial pode ser feita antes da ação

139 FIORILLO, Celso Antonio Pacheco. Princípios do Direito Processual Ambiental. 6ª ed. São Paulo:

Saraiva, 2015, p. 37-38. Disponível em: https://integrada.minhabiblioteca.com.br/ reader/books/9788502637351/

epubcfi/6/2[%3Bvnd.vst.idref%3Dcapa.html]!/4/2/2%4051:85. Acesso em: 14 mar. 2023.

140 Ibidem, p. 38 e 115.

judicial e serve como meio de provas, conforme art. 384 do CPC, arts 405 e 422 do CPC, com a necessidade de prova do documento e sua não modificação.141

Art. 384. A existência e o modo de existir de algum fato podem ser atestados ou documentados, a requerimento do interessado, mediante ata lavrada por tabelião.

Parágrafo único. Dados representados por imagem ou som gravados em arquivos eletrônicos poderão constar da ata notarial.

Art. 405. O documento público faz prova não só da sua formação, mas também dos fatos que o escrivão, o chefe de secretaria, o tabelião ou o servidor declarar que ocorreram em sua presença.

O ônus da prova cabe ao acusador (autor), sendo aplicável esta inversão em ações ambientais, ou seja, ao poluidor (réu). Conforme o art. 373 do CPC o ônus cabe ao autor em fato constitutivo de seu direito ou ao réu em provar fato impeditivo, modificativo ou extintivo do direito do autor. O juiz irá decidir em sentença pela regra de inversão do ônus da prova, quando houver dificuldade de realizar provas ou não houver prova na ação mediante os requisitos, neste caso, da hipossuficiência do demandante e verossímil a alegação, com base no art. 6°, inc. VIII, do CDC.142 Desde 2003, utilizam-se esses requisitos para a aplicação da inversão do ônus da prova em matéria ambiental. 143

Art. 6º São direitos básicos do consumidor:

VIII - a facilitação da defesa de seus direitos, inclusive com a inversão do ônus da prova, a seu favor, no processo civil, quando, a critério do juiz, for verossímil a alegação ou quando for ele hipossuficiente, segundo as regras ordinárias de experiências;

A prova do nexo causal ambiental é o grande obstáculo para a responsabilização do poluidor causador de danos ambientais, sendo a inversão do ônus a solução ecologicamente plausível, diante dos seus requisitos e princípios ambientais. Nos embargos declaratórios n°

70.002.338.473, o TJ/RS determinou a admissibilidade da inversão do ônus da prova com fundamento que o MP e demais legitimados em ação civil pública estão em desvantagem

141 MESQUITA, Thais Barros de; REZENDE, Elcio Nacur. A ata notarial como instrumento para a responsabilização civil-ambiental. Revista direito ambiental e sociedade. Caxias do Sul – RS: Educs, v. 11, n.

1, p. 82, 83 e 86, jan./abr. 2021. Disponível em: http://www.ucs.br/etc/revistas/index.php/direitoambiental/

article/view/10042. Acesso em: 02 nov. 2021.

142 FIORILLO, Celso Antonio Pacheco. Princípios do Direito Processual Ambiental. 6ª ed. São Paulo:

Saraiva, 2015, p. 33 e 53. Disponível em: https://integrada.minhabiblioteca.com.br/reader/books/

9788502637351/ epubcfi/6/2[%3Bvnd.vst.idref%3Dcapa.html]!/4/2/2%4051:85. Acesso em: 14 mar. 2023.

143 SILVEIRA, Clóvis Eduardo Malinverni da. A inversão do ônus da prova na reparação do dano ambiental difuso. Aspectos processuais do direito ambiental/ organizadores, José Rubens Morato Leite, Marcelo Buzaglo Dantas. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2003, p. 37-39.

perante aos demandados. A decisão foi fundamentada na necessidade de estabelecer um equilíbrio processual entre as partes, sendo uma delas hipossuficiente. 144

Neste caso, em decisão recente o STJ tem aplicado o princípio do “in dúbio pro natura”, ou seja, na dúvida a favor da natureza para julgar, como fundamento de decisões entre conflitos e controvérsias de interpretações de leis, tendo ainda por base o princípio da precaução, facilitação ao acesso à justiça e a proteção de pessoas vulneráveis na produção de provas, diferenciando ações ambientais individuais de ações ambientais coletivas. O REsp 883.656 exemplifica o caso, no qual o STJ negou provimento à empresa poluidora contra sujeitos e a natureza indisponível do bem jurídico protegido (meio ambiente) impondo uma atuação mais incisiva e proativa do juiz, “para salvaguardar os interesses dos incontáveis sujeitos-ausentes, por vezes, para toda a humanidade e as gerações futuras”.145

De acordo com Herman Benjamin, o in dubio pro natura tem origem no princípio in dubio pro damnato (na dúvida, em favor do prejudicado ou da vítima), adotado na tutela da integridade física das pessoas. “Ninguém questiona que, como direito fundamental das presentes e futuras gerações, o meio ambiente ecologicamente equilibrado reclama tutela judicial abrangente, eficaz e eficiente, não se contentando com iniciativas materiais e processuais retóricas, cosméticas, teatrais ou de fantasia”, ressaltou.

Sobre a inversão do ônus da prova, o STJ editou a Súmula 618 STJ que versa: “A inversão do ônus da prova aplica-se às ações de degradação ambiental", cabendo à inversão do ônus da prova em ações ambientais individuais e coletivas. Nesse caso o juiz pode inverter o ônus da prova, mas ainda sim deverá seguir o princípio do “in dúbio pro natura” ou, na dúvida, a favor da natureza, a fim de amenizar o dano e o quanto antes recuperar o local degradado.

Conclui-se que no processo se admite todos os meios de provas lícitas, principalmente a ata notarial e as perícias em matéria ambiental. Em matéria ambiental e de ônus da prova, a regra diz que o acusador deve apresentar as provas, entretanto, em caso de dificuldade de formar provas ou não haver no processo pode se inverter o ônus da prova.

Contudo, para isso, deve haver requisitos de hipossuficiência e verossimilhança e, então será aplicado o “in dúbio pro natura” e o princípio da prevenção, no qual a natureza indisponível do bem jurídico protegido (meio ambiente) impõe uma atuação mais incisiva e

144 SILVEIRA, Clóvis Eduardo Malinverni da. Risco Ecológico Abusivo: a tutela do patrimônio ambiental nos processos coletivos em face do risco socialmente intolerável. Caxias do Sul, RS: Educs, 2014, p. 40-41.

145 BRASIL. Superior Tribunal de Justiça-d. In dubio pro natura: mais proteção judicial ao meio ambiente.

Disponível em: https://www.stj.jus.br/sites/portalp/Paginas/Comunicacao/Noticias/In-dubio-pro-natura-mais- protecao-judicial-ao-meio-ambiente.aspx. Acesso em: 30 nov. 2021.

proativa do juiz. Assim, o juiz pode inverter o ônus da prova, com base na Súmula 618 do STJ e no art. 6, inc. VIII do CDC.

Na via judicial as principais questões processuais para a imputação da responsabilidade civil ambiental encontra-se no dano ambiental, nexo causal e na prova do fato.

3.2.2 Os instrumentos processuais legais de direitos difusos e coletivos na tutela civil do