Mandado de segurança coletivo

O mandado de segurança coletivo é um remédio constitucional e diferencia-se do individual pela questão de que o coletivo é o instrumento processual hábil para tutela de direitos difusos e coletivos, como o meio ambiente.

Apresenta-se para ambos mandados os mesmos pressupostos, como a proteção do direito líquido e certo, ilegalidade e abuso de poder por autoridade pública.¹⁶⁷ O mandado de segurança coletivo possui previsão legal na constituição no art. 5º, inc. LXIX e LXX e na Lei 12.016/09.

165 BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. Ação popular. REsp n. 889.766/SP, STJ, relator Ministro Castro Meira, Segunda Turma, julgado em 4/10/2007, DJ de 18/10/2007, p. 333. Disponível em:

https://processo.stj.jus.br/SCON/jurisprudencia/toc.jsp?livre=%28RESP.clas.+e+%40num%3D

%22889766%22%29+ou+%28RESP+adj+%22889766%22%29.suce. Acesso em: 16 out. 2022.

166 MORAES, Alexandre de. Direito Constitucional. 38ª ed. São Paulo: Atlas, 2022, p. 236. Disponível em:

https://integrada.minhabiblioteca.com.br/reader/books/9786559771868/epubcfi/6/2[%3Bvnd.vst.idref

%3Dcover ]!/4/2/2%4051:42. Acesso em: 14 mar. 2023.

167 Ibidem, p. 214-219.

LXIX - conceder-se-á mandado de segurança para proteger direito líquido e certo, não amparado por "habeas-corpus" ou "habeas-data", quando o responsável pela ilegalidade ou abuso de poder for autoridade pública ou agente de pessoa jurídica no exercício de atribuições do Poder Público;

LXX - o mandado de segurança coletivo pode ser impetrado por:

a) partido político com representação no Congresso Nacional;

b) organização sindical, entidade de classe ou associação legalmente constituída e em funcionamento há pelo menos um ano, em defesa dos interesses de seus membros ou associados;

O mandado de segurança visa á proteção de direito líquido e certo contra o ilícito (ilegalidade ou abuso de poder), causador ou não de dano, protege tanto direitos individuais quanto os coletivos ameaçados ou violados por ato de autoridade pública na atribuição do poder público.

A tutela jurisdicional que se pode obter é mandamental, ou seja, uma ordem contra autoridade para que não realize ou cesse a ação contra impetrante. Nesse sentido, ele não se presta a obter condenação em pagamento, nem substitui a ação popular, conforme Súmulas n°

269, 271 e 101 do STF.¹⁶⁸

Súmula 269 STF - O mandado de segurança não é substitutivo de ação de cobrança.

Súmula 271 STF - Concessão de mandado de segurança não produz efeitos patrimoniais em relação a período pretérito, os quais devem ser reclamados administrativamente ou pela via judicial própria.

Súmula 101 STF - O mandado de segurança não substitui a ação popular.

O prazo para impetração da Lei é de 120 dias, conforme o art. 23 da Lei n° 12.016/09, que trata do mandado de segurança individual e coletivo. O direito líquido e certo é aquele que pode ser provado em juízo mediante prova pré-constituída como a documental.

A titularidade de mandado de segurança coletiva é outra diferença significativa do mandado de segurança individual, podendo haver substituição processual quando houver várias pessoas, com base no art. 1º, § 3º, da Lei n° 12.016/09.¹⁶⁹

Nesse sentido, o mandado de segurança coletivo é uma forma de impetrar o mandado de segurança tradicional. Na tutela do direito ambiental surge uma acentuada restrição quanto à utilização do mandado de segurança coletivo, pelo fato de que o conceito de poluidor trazido pela Lei n° 6.938/81 e pelo que determina o art. 225, § 3º, da CF é mais amplo, além 168 SARLET, Ingo Wolfgang; MARINONI, Luiz Guilherme; MITIDIERO, Daniel. Curso de Direito Constitucional. 11ª ed. São Paulo: Saraiva, 2022, p. 411-412. Disponível em:

https://integrada.minhabiblioteca.com.br/reader/books/9786553620490/epubcfi/6/2[%3Bvnd.vst.idref

%3Dcover.xhtml]!/4/2[cover]/2%4050:77. Acesso em: 14 mar. 2023.

169 Ibidem.

da exigências de advogado para impetração, prova pré-constituída da liquidez e da certeza e dos sujeitos ativos, acaba inviabilizando a utilização do mandado de segurança coletivo, tendo em vista que muitas vezes será exigido prova pericial para a demonstração do dano ambiental.¹⁷⁰

Desse modo, considerando a exposição dos principais instrumentos processuais para a responsabilização civil por danos ambientais apresentados, construiu-se um quadro contendo os elementos de cada ação, bem como a verificação de qual instrumento é mais adequado e eficaz para cada objetivo, reportado a seguir.

Quadro 2 - Análise comparativa dos principais instrumentos processuais para responsabilização civil por danos ambientais

Legitimidade para propor Natureza da

ação

Efeitos da sentença

Prazo Ação civil

pública

1-Ministério Público;

2-Defensoria Pública;

3-a União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios;

4-a autarquia, empresa pública, fundação ou sociedade de economia mista;

5-a associação que, concomitantemente:

a) esteja constituída há pelo menos 1 (um) ano nos termos da lei civil;

b) inclua, entre suas finalidades institucionais, a proteção ao patrimônio público e social, ao meio ambiente, ao consumidor, à ordem econômica, à livre concorrência, aos direitos de grupos raciais, étnicos ou religiosos ou ao patrimônio artístico, estético, histórico, turístico e paisagístico.

Preventiva e repressiva com tutela cautelar

Obrigação de fazer, não fazer e indenizaçã

o por

danos ambientais

Ação popular

1-Qualquer cidadão com advogado Preventiva Anulação de ato lesivo

Prescreve em 5 anos Mandado

de segurança coletivo

1- partido político com representação no Congresso Nacional;

2- organização sindical, entidade de classe ou associação legalmente constituída e em funcionamento há pelo menos um ano, em defesa dos interesses de seus membros ou associados;

3-Necessita de advogado

Mandamental- Preventivo ou repressivo

Anulação de ato lesivo

120 dias

Fonte: o autor

A partir das análises comparativas, conclui-se que entre os institutos processuais descritos a ação popular é um instituto de natureza preventiva. Esse tipo de ação precisa de 170 FIORILLO, Celso Antonio Pacheco. Curso de Direito Ambiental Brasileiro, 22ª. ed. São Paulo: Saraiva, 2022, p. 856-857. Disponível em: https://integrada.minhabiblioteca.com.br/reader/books/9786555596748/

epubcfi/6/4[%3Bvnd.vst.idref%3Dcopyright_3-0.xhtml]!/4/6/2. Acesso em: 14 mar. 2023.

análise do ato lesivo, possui legitimidade ativa para ação mais reduzida e a sua sentença não possui indenização civil, apenas anulação de ato lesivo ao meio ambiente e a indenização deve ser realizada a posterior.

Verifica-se também que o mandado de segurança coletivo é um instituto de natureza mandamental preventivo ou repressivo, que deve apresentar direito líquido e certo (prova documental ou pericial) sobre o ato ilícito de autoridade pública. Além disso, ele possui legitimidade ativa para ação mais reduzida e a sua sentença não possui indenização civil, apenas anulação de ato ilícito, devendo a indenização ser realizada em outro processo. O inquérito civil é utilizado para conduzir uma investigação de dano ambiental e, se for necessário ao final pode ser realizado um termo de ajuste de conduta que serve como decisão extrajudicial e impede o processo judicial, assim arquivando à ação civil pública. A legitimidade para propor o inquérito é igual à da ação civil pública, bem como os efeitos da sua decisão.

Nesse sentido, considera-se o inquérito civil e a ação civil pública como os instrumentos processuais mais adequados e eficazes para a responsabilização civil judicial por danos ambientais. Justifica-se o inquérito civil como base para instauração da ação civil pública e também pela possibilidade de decisão com acordo extrajudicial. Já, a ação civil pública se fundamenta na sua natureza preventiva e repressiva como ação mandamental, onde ela possuí abrangência e legitimidade ativa e passiva, por isso é mais ampla, além disso, possui ausência de limitações processuais e a sentença de indenização no próprio processo.

3.3 ANÁLISE DE DECISÕES JUDICIAIS E EXTRAJUDICIAIS SOBRE