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ARTE E TRANSTORNO DO ESPECTRO AUTISTA

APRENDIZAGENS PELO VIÉS ARTÍSTICO12

CHERUTTI, Tauana da Silva1, ZUCCHETTI, Dinora Tereza2.

1 Licenciada em Artes Visuais e mestranda em Diversidade Cultural e Inclusão Social, Universidade Feevale, Novo Hamburgo, Rio Grande do Sul, Brasil, tauanacherutti@hotmail.com

2 Doutora em Educação pela UFRGS, Universidade Feevale, Novo Hamburgo, Rio Grande do Sul, Brasil, dinora@feevale.br

RESUMO

Neste texto, abordamos os conceitos de aprendizagem através da arte, relacionando-os com a inclusão de crianças com transtorno do espectro autista nas escolas. Contudo, se trata de uma pesquisa inicial sobre a temática, daí a importância do contato com conhecimentos gerais, através de autores referenciais que fazem parte do recorte bibliográfico. Para tanto, objetiva-se tecer um caminho entrelaçado acerca dos assuntos mirando um sucesso escolar inclusivo mais efetivo. A investigação no âmbito de Mestrado está em processo de construção através das diferentes tramas que englobam as questões de processo e desenvolvimento de um ensino mais humano para as crianças com autismo dentro dos espaços escolares.

PALAVRAS-CHAVE: Aprendizagem. Arte. Educação Inclusiva. Transtorno do Espectro Autista.

INTRODUÇÃO

O presente texto das aprendizagens por meio da arte de crianças com transtorno do espectro autista, objetivando-se a compreensão das suas relações, entre arte e infância para uma educação inclusa mais efetiva, a partir de leituras bibliográficas. Desta maneira, é necessário o entendimento que além de autores referenciais para a construção de uma linha de pesquisa, existe a experiência prática, pessoal, da proponente, atuando em diferentes escolas particulares e municipais, como educadora e auxiliar de inclusão. Muitos desses processos e conhecimentos estão vinculados à vivência em sala de aula, e isso não é dissociável desta escrita de revisão teórica.

A pesquisa se desenvolveu no âmbito de uma revisão bibliográfica, a partir de um projeto inicial para o Mestrado no Programa Diversidade Cultural e Inclusão Social da Universidade Feevale, localizada em Novo Hamburgo, no Rio Grande do Sul (BR). Desta forma, o texto busca uma primeira compreensão e entendimento destes assuntos norteadores para a futura dissertação.

É necessário a compreensão o entendimento de como acontecem as aprendizagens e na sua perspectiva da educação inclusiva, relacionando com o transtorno do espectro autista e no seu entrelaçamento com a arte, que promove a real participação e interação do sujeito dentro de uma sala de aula.

O texto está dividido em cinco grandes assuntos, a saber: na primeira aborda as concepções, objetivos e a metodologia da pesquisa para a compreensão de autores referenciais. A segunda, inicia-se a construção e entendimento da temática, abordando a respeito dos processos de aprendizagens a partir da Teoria das Inteligências Múltiplas de Gardner (1993), desta forma vinculando-se com a educação inclusiva.

Na terceira parte conceitualiza o transtorno do espectro autista (TEA), a partir das definições presentes nos documentos internacionais: o DSM-V e o CID-10, revisitando as suas características primordiais. Assim, demonstrando o processo de aprendizagem das crianças autistas através da presença da arte na educação, favorecendo uma inclusão mais efetiva dentro da sala de aula.

Na quarta parte aborda a educação inclusiva, permeando pelas legislações internacionais como a Declaração Mundial sobre Educação para Todos e a Declaração de Salamanca, assim resultando na criação nas leis brasileiras: Lei nº 9.394 (1996) que estabelece as Diretrizes e Bases da Educação Nacional e na Lei nº 13.146 (2015) que institui o Estatuto da Pessoa com Deficiência. Desta forma, vinculando com as concepções de uma educação mais inclusiva para pessoas com deficiência, a partir de Mantoan (1997, 2003, 2013).

12 A primeira versão do texto foi submetido ao evento III CIDI Congresso Internacional de Diálogos Interdisciplinares:

comunicação digital e futuros possíveis sob o título de “Aprendizagens por meio da arte de crianças com transtorno do espectro autista” promovido pela Universidade Feevale.

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Na quinta parte é a conclusão momentânea da pesquisa que continua em andamento, sob as perspectivas de aprendizagem e uma educação mais inclusiva através da arte para crianças com transtorno do espectro autista.

METODOLOGIA

A metodologia para a construção do texto busca subsidiar a elaboração da escrita de um projeto de pesquisa de Mestrado no âmbito do Programa de Pós Graduação Diversidade Cultural e Inclusão Social, mais exatamente, dar o suporte para o contexto do será realizado pela aprendizagem da arte por crianças autistas, temática em questão. Na sequência, por meio da revisão bibliográfica, iniciamos o aprofundamento de leituras dos seguintes autores: Gardner (1993), Orrú (2016), Ferreira (2011), Dubois e Zillmer (2012), Mendes;

Cavalhero e Gitahy (2010), Mantoan (1997; 2003; 2013), Stainback e Stainback (1999).

FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

Início, através do conceito de inteligência que está estritamente vinculado com o sistema educacional atual. A partir de diferentes pesquisadores da temática, evidencio o autor da Teoria das Inteligências Múltiplas, Howard Gardner (1993), para o entendimento do desenvolvimento desta investigação.

Para Gardner (1993, p. 13), inteligência é a habilidade de solucionar problemas ou criar produtos em uma sociedade cultural. Através de seus estudos compreende-se que não existe uma forma única de inteligência, mas sim inteligências múltiplas e independentes que todo indivíduo possui com maior ou menor intensidade (GARDNER, 1993, p. 13).

O pesquisador destaca que testes padronizados realizados através de lápis e papel ou verbalmente convencionais não evidenciam as inteligências, pois é necessário analisar as situações cotidianas dos sujeitos (GARDNER, 1993, p. 13). Infelizmente, nosso sistema educacional continua medindo a inteligência ou a aprendizagem somente através de provas, enaltecendo algumas habilidades e esquecendo de todas as sete inteligências do cérebro humano. Estão relacionadas às seguintes áreas: musical, corporal, lógico- matemática, linguística, espacial, interpessoal e intrapessoal (GARDNER, 1993, p. 22), sendo necessário a compreensão de quais habilidades e competências estão vinculadas a cada uma delas.

A inteligência musical envolve a habilidade de tocar maravilhosamente algum instrumento ou ter a capacidade de percepção e produção sonora, em que o Gardner (1993, p. 22) relata que uma criança autista pode ter essa capacidade, porém não possui a linguagem verbal para se comunicar.

A inteligência corporal-cinestésica é a capacidade de utilizar-se do próprio corpo para se comunicar e expressar diferentes emoções, como na dança, em um jogo de algum esporte ou criar um produto (GARDNER, 1993, p. 23). Exemplos de profissões que envolvem tais percepções: dançarinos, atletas, cirurgiões e artistas (GARDNER, 1993, p. 15).

A inteligência lógico-matemática é considerada e possui exaltação de uma das mais relevantes dentro das salas de aula, em que é proporcionada a base para a construção dos testes em nível nacional. Desta forma, refere-se à habilidade de resolver problemas rapidamente, assim criando hipóteses (GARDNER, 1993, p. 24 e 25) além de desenvolver a capacidade científica (GARDNER, 1993, p. 15).

A inteligência linguística, assemelha-se com a situação ocorrida com a inteligência lógico-matemática, sendo extremamente exaltada e encobrindo as demais. O autor descreve que crianças com deficiência intelectual podem compreender palavras e frases, simultaneamente com a apresentação de dificuldades na linguagem verbal (GARDNER, 1993, p. 25).

A inteligência espacial é a capacidade de imaginar e organizar um mundo espacial e ser capaz de observar detalhes pequenos, como os marinheiros, cirurgiões, escultores e pintores (GARDNER, 1993, p.

15). Descreve que os cegos, reconhecem as formas através do tato, equivalendo com a percepção visual, em que possuem tamanha capacidade de raciocínio.

A inteligência interpessoal é a capacidade de compreensão das outras pessoas, seja na questão emocional, visual ou intencional, mesmo que ela esconda tais sentimentos (GARDNER, 1993, p. 27).

Relacionando com os vendedores, políticos, professores, terapeutas e líderes religiosos (GARDNER, 1993, p. 15).

A inteligência intrapessoal é a capacidade de se autoperceber, de observar-se internamente (GARDNER, 1993, p. 15), conhecendo seus sentimentos, emoções e comportamentos, objetivando-se a compreensão pessoal para trabalhar a seu favor. Gardner (1993, p. 29) refere-se as crianças autistas como indivíduos que possuem a inteligência intrapessoal prejudicada, pois não conseguem se referir a si mesmas, entretanto possuem outras habilidades e domínios, nas quais foram citadas e abordadas anteriormente.

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A partir do capítulo “O que eu farei segunda-feira pela manhã?” escrito por Mary Falvey, Christine Givner e Christina Kimm presentes no livro “Inclusão: um guia para educadores” de Susan Stainback e William Stainback (1999), relacionam as teorias de Gardner (1993) com a educação de crianças com deficiência. Os autores afirmam que as salas de aula que se baseiam nestes fundamentos, têm maior chance de obter resultado com a pluralidade de alunos, inclusive com os que são rotulados que não aprendem ou que possuem diferenças ou deficiências (FALVEY; GIVNER; KIMM; 1999, p. 148).

Atualmente nas escolas, as únicas inteligências relevantes são a linguística e a lógico-matemática, que respectivamente relacionam-se com as disciplinas de português e matemática, que possuem maior carga horária nas estruturas curriculares e estão presentes nas provas de larga escola como no Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM) e nos vestibulares das universidades. Gardner (1993) afirma que os testes que medem a inteligência, chamados de QI (quociente de inteligência), eram valorizados somente essas duas áreas, desta forma, caso resulta-se em uma nota abaixo da média, era considerado inapto (GARDNER, 1993, p.13).

Assim, os alunos que fracassam nestas matérias se auto nomeiam e são intitulados pelos outros de

“incapazes” ou outros termos desqualificados, porém a linguística e a lógico-matemática não são as únicas formas de inteligências existentes, a partir das teorias de Gardner (1993) ainda existem outras cinco áreas, que o estudante permeia.

Tendo em vista a teoria, as escolas que utilizam desta metodologia, tem muito mais chances de proporcionar uma aprendizagem mais efetiva, em que os alunos presentes são totalmente heterogêneos, diferentes uns dos outros, seja fisicamente e/ ou intelectualmente, desta forma, desfrutando de uma educação mais significativa (FALVEY; GIVNER; KIMM; 1999, p. 148). Assim, todos os alunos possuem suas potencialidades individuais e únicas, pela qual aprende de uma maneira diferente, isso não acontece somente com as crianças com deficiência.

A partir disso, nós como educadores, necessitamos de uma visão inclusiva para compreender que as inteligências são amplas, que não somente precisam transparecer nas disciplinas escolares, mas na própria relação com o outro e com si próprio, como por exemplo, as inteligências intrapessoal e interpessoal (GARDNER, 1993, p. 29). Desta forma, é necessários o reconhecimento e a estimulação de todas as sete inteligências, pois somos diferentes uns dos outros, e assim possuímos combinações distintas (GARDNER, 1993, p.18).

É necessário entender que as crianças com deficiência, seja física, visual, auditiva ou intelectual, possuem as suas próprias inteligências também, não é somente relegado aos ditos alunos “normais”, mas que todos temos as nossas particularidades, não somos iguais.

Assim, para nortear o caminho de entendimento do presente texto, é necessário a compreensão da definição de transtorno do espectro autista (TEA) em que é um transtorno do desenvolvimento neurológico, definido pela grande dificuldade de comunicação e interação social em que apresentam comportamentos e interesses restritivos e repetitivos (ARAÚJO, 2019, p. 1). As características da síndrome surgem próximos aos dois anos, em que é possível observar disfunções no desenvolvimento da criança, em que através de intervenção precoce, esses sintomas são suavizados, porém não possui cura.

Para o diagnóstico, os profissionais capacitados utilizam as definições apresentadas em dois documentos: o Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM-5) organizada pela Associação Americana de Psiquiatria, em que está em sua quinta edição e a Classificação de Transtornos Mentais e de Comportamento (CID-10) realizada pela Organização Mundial da Saúde (OMS). Ambos descrevem a respeito das características e informações essenciais para a designação e construção do laudo específico da criança.

O DSM-5 expõe as seguintes características presentes nos sujeitos com transtorno do espectro autista: déficits na comunicação e na interação social com dificuldade ou ausência no contato visual e linguagem verbal; falta de interesse na relação com o outro e em brincadeiras; possuem padrões comportamentais repetitivos e restrição acima do normal com alguns interesses e atividades como alinhar ou girar objetos, ecolalia e apreço por um rotina regular com padrão de comportamento; há insistências nas mesmas coisas ou objetos; e possuem uma sensibilidade extrema, podendo ser hiper ou hiporreatividade a estímulos sensoriais como: indiferença a dor, reação a sons ou texturas específicas (ASSOCIAÇÃO AMERICANA DE PSIQUIATRIA, 2014, p. 50).

O CID-10 complementa as informações trazidas anteriormente pelo DSM-5, em que os dois textos trazem semelhanças e diferenças em características que podem ser observáveis em sujeitos com TEA, em que alguns comportamentos podem ser derivados do excesso a estímulos sensoriais como: desatenção, autoagressividade ou com terceiros, impulsividade e acessos de raiva (OMS, 1998, p. 116). Uma das situações mais identificáveis é a sensibilidade a barulhos sonoros muito altos, em que gera uma primeira atitude: colocação das mãos nos ouvidos, para que interrompa a percepção e o possível desencadeamento de atitudes prejudiciais.

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Apesar das inúmeras pesquisas a respeito do assunto, não existe uma causa incontestável para o desenvolvimento do transtorno nas crianças, há suposições, como a relação da genética dos pais, fatores ambientais, medicamentos relacionados a depressão. Não possui cura, porém, existem diversos tratamentos multidisciplinares, com psicólogos, fonoaudiólogos, psicoterapeutas, entre outros que auxiliam na melhoria de vida social e educacional.

Após a compreensão do autismo, será relacionado com o campo da arte, pois as duas áreas se inter relacionam e se beneficiam no desenvolvimento do indivíduo promovendo de forma efetiva a inclusão (FERREIRA, 2011, p.42). Em que a arte é de extrema importância para a educação, onde os alunos possuem espaço para se expressarem, através da sua imaginação, possibilitando um caminho de comunicação e aproximação dos sujeitos. À vista disso, se diferencia das demais disciplinas do currículo escolar, pois não há a preocupação de existir o certo ou o errado, pois isso faz parte do desenvolvimento do processo criativo.

A arte é relevante desde a pré-história com os homens das cavernas, que se expressavam e dialogavam através das pinturas nas próprias paredes, antes mesmo de surgir a linguagem escrita e oral, assim se tornando uma das primeiras manifestações da humanidade. A partir disso, percorreu por vários caminhos, com funções distintas, técnicas, formatos, perpassando por todas as formas de opressão, assim permanecendo até os dias atuais.

Além do contexto histórico e cultural que a arte influencia e possui grande importância, ela se torna um campo de conhecimento dentro das escolas: arte/ educação, para possibilitar o aluno experimentar e se expressar através dela, através de diferentes linguagens, técnica e materiais, possibilitando a construção de um caminho pessoal dentro da disciplina.

A partir dos livros “Arte, Escola e Inclusão: atividades artísticas para trabalhar com diferentes grupos”

de autoria de Aurora Ferreira (2011) e “A arte na inclusão de jovens com transtornos globais de desenvolvimento” de Patrícia J. Zillmer e Rejane C. Dubois (2012) trazem a concepção de que a arte proporciona a expressão dos desejos, dos sentimentos e principalmente a sua personalidade, através da sensibilidade e da criatividade. Assim, resultando na integração dos portadores13 de necessidades especiais à sociedade, uma vez que vai facilitar também o desenvolvimento cognitivo. Observa-se, com isso, que muitos alunos conseguem uma melhor verbalização, desenvolvem habilidades estimulados por atividades artísticas, e consegue adquirir um posicionamento social, possibilitando sua inclusão no mundo em que vivem (FERREIRA, 2011, p.60).

A arte beneficia completamente o desenvolvimento da pessoa com deficiência, não somente na própria área, mas influência no progresso cognitivo e de linguagem. Através disso, o educador necessita ter um olhar sensível para as produções dos alunos, para explorar as suas potencialidades, afim de criar situações para as crianças com autismo seja encorajada a desenvolverem com maior expressividade e que não seja julgada por seus rabiscos (ORRÚ, 2016, p. 179).

Além disso, através da arte há uma aproximação mais intensa do aluno autista do professor, em que possibilita a inserção dos seus interesses específicos, que são temáticas que têm maiores preferências, como futebol, desenhos animados, personagens infantis, que variam de cada um, mas é uma característica presente em todos eles. Para que desta forma, os sujeitos participem ativamente no desenvolvimento da proposta prática.

As crianças com autismo possuem os sentidos mais ou menos aflorados, sejam eles, hipo ou hipersensíveis, desta forma, possuem maior aproximação de alguns materiais ou rejeição por eles. Assim, é necessário, a construção de conhecimento e aproximação da criança, onde se conhece essas características.

Entretanto, este é um assunto para maior aprofundamento nas próximas leituras, pesquisas e ações práticas.

O mais importante é a compreensão de que todos os autistas são singulares, cada um deles possui as suas particularidades, assim como todos nós, e não existe um método único para a inserção de todos, mas é necessário a aproximação e a construção de afetividade entre professor-aluno.

A educação inclusiva de crianças com deficiência é um assunto amplamente discutido a muitos anos, há inúmeras pesquisas, textos e artigos que defendem e evidenciam os benefícios dessa relação, entretanto a descriminação ainda se sobressai a tudo isso, e os direitos relegados a esses sujeitos são descumpridos.

A partir disso, existem diversas declarações a respeito da educação em níveis internacionais, para a inclusão das minorias sociais como: a Declaração Mundial sobre a Educação para Todos (1990) e a Declaração de Salamanca (1994). Ambas influenciaram na criação de leis no Brasil como: a Diretrizes e Bases da Educação Nacional (1996) e a modificação na Constituição Federal de 1988.

Em 1990, a Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO) definiram a Declaração Mundial sobre Educação para Todos, para assegurar o direito à educação, pois uma

13O termo “portador” não é adequado para se referir a pessoa com deficiência, pois “uma pessoa não “porta” autismo ou outra deficiência. Na verdade, a condição de ter uma deficiência faz parte da singularidade da pessoa” (ORRÚ, 2016, p.

15). Assim, utiliza-se o termo “pessoa com deficiência”.

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parcela da população socioeconomicamente inferior não tinha acesso. No Art. 3 define a universalização do acesso à educação afim de promover a equidade, proporcionada a todas as crianças, jovens e adultos, com o objetivo de superar as desigualdades, daqueles grupos que eram excluídos, como os pobres, crianças de rua ou trabalhadoras, povos indígenas, as minorias étnicas, raciais e linguísticas, e entre outros, e a aprendizagem das pessoas com deficiência que requerem uma atenção especial, para que façam parte integrante do sistema educativo (UNESCO, 1998).

A Declaração de Salamanca foi criada a parir de uma Conferência Mundial de Educação Especial, apresentada pela Organização das Nações Unidas (ONU) em 1994, em que participaram 88 governos e 25 organizações internacionais. Defendeu-se que toda criança possui o direito à educação, onde serão respeitadas as suas características, seus interesses, habilidades, competências e principalmente as necessidades de aprendizagens únicas, assim definindo como obrigatória o acesso à escola de sujeitos com deficiência, em que deverão construir uma sociedade mais inclusiva, combatendo com todas as formas de descriminação, para alcançar a educação para todos, sem a exclusão e a distinção de nenhum sujeito (ONU, 1994), pois todos somos capazes de aprendem, entretanto com métodos e formas diferenciadas.

No Brasil, foi criada a Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996, que estabelece as Diretrizes e Bases da Educação Nacional, em que define do seu Art. 3º que o ensino será ministrado tendo em vista os seguintes princípios: a igualdade de acesso e permanência nas escolas, em que há a liberdade de aprendizado, pensamento, a compreensão da cultura e o saber, sendo essencialmente gratuito no ensino público (BRASIL 1996). A respeito da educação especial, no Art. 58 entende-se como sendo oferecida no âmbito regular de ensino para o aluno com deficiência, transtornos globais do desenvolvimento e altas habilidades ou superdotação (BRASIL, 1996).

A partir disso, surgiram novas legislações que se referem aos direitos desses sujeitos, que até então, eram excluídos em escolas especiais e eram discriminados em todas as esferas. A Lei nº 13.146, de 6 de julho de 2015 que institui a Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa com Deficiência (Estatuto da Pessoa com Deficiência) que se destina a assegurar as condições de igualdade, promovendo a inclusão social na sociedade (BRASIL, 2015).

Tendo em vista, todas as legislações e declarações criadas para assegurar primordialmente que as minorias sociais sejam incluídas no espaço educacional, objetivando que todos tenham os mesmos direitos de ensino e aprendizagem, com recursos adaptativos e tecnologias assistivas.

Acredita-se que seja necessário diferenciar alguns termos que surgem no decorrer desse processo, como a exclusão, a segregação, a integração e a inclusão. A primeira ocorre quando os alunos com deficiência são diretos ou indiretamente privados de participar do processo de escolarização com sujeitos sem deficiência. A segregação ocorre quando os sujeitos com deficiência participam do processo de aprendizagem em ambientes separados com demais pessoas com deficiência, como escolas especiais, APAE14. A integração é o processo de inserir os estudantes com deficiência no sistema de ensino, porém o atendimento é realizado em salas exclusivas. E por fim, a inclusão é a inserção dos alunos com deficiência em salas com os demais alunos, promovendo a superação de barreiras e proporcionando um ambiente igualitário de aprendizagem e participativo. Para isso, a escola e os professores necessitam buscar uma reforma sistemática do processo de ensino e aprendizagem, para efetivamente incluir a todos (HEHIR et al, 2016, p.3).

Os alunos com e sem deficiência frequentam a mesma sala, dessa forma, beneficiando práticas de aprendizagem que englobam a todos, propiciando a valorização da diversidade e da aceitação do outro.

Entretanto, é necessário compreender que, muitas vezes, existe a “falsa inclusão”, em que o processo de aprendizagem é excludente, uma vez que o aluno incluído é disposto a realizar outra proposta diferente dos demais da turma.

Na atuação em sala de aula, é necessário que o professor observe a relação dos demais alunos com a criança com o transtorno do espectro autista, devendo haver solidariedade e compreensão do bem-estar nessa convivência. Isso, para que não haja discriminação e principalmente, piadas e brincadeiras, que são denominadas bullying. Assim, exercitando com os demais alunos, a tolerância, a paciência e a boa vontade para que a criança com TEA se sinta em um ambiente seguro (BOGONI; FREITAS, 2017, p. 7).

Muitas pessoas possuem a ideia errônea de que a inclusão de alunos com e sem deficiência na mesma sala, pode resultar em um menor rendimento de aprendizagem. Sendo comprovada através de uma pesquisa realizada pela Universidade de Manchester, na Inglaterra, que 81% dos alunos sem deficiência não sofreram prejuízos, pelo contrário, mostrou-se os benefícios por frequentarem a mesma turma que os sujeitos

14 No estado do Rio Grande do Sul (BR), existem diversos espaços como APAE que significam a Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais.