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85 Figura 11 – Pais gostariam de passar menos tempo conectados

Fonte: Dados de Pesquisa (2021)

86 Figura 12 – Idade das crianças filhas dos entrevistados individualmente

Fonte: Dados de Pesquisa (2021)

As conversas aconteceram por chamada de vídeo usando a ferramenta Google Meet, tendo apenas uma sido feita por ligação telefônica, a pedido da entrevistada. A partir do tratamento dos dados dos questionários e da transcrição das entrevistas individuais, procedemos com a análise dos conteúdos das entrevistas, contrastando aos pressupostos teóricos antes descritos. Foi interessante notar, como em alguma medida já era esperado, que nos relatos os pais contaram muito das suas próprias experiências e aflições, em relação ao tempo e ao tipo de uso que eles mesmo fazem.

3.2.1 Meu primeiro celular

A obsolescência programada desempenhou um importante papel para que as crianças ganhassem um aparelho de telefone, com a história já conhecida de que, na hora de um dos responsáveis trocar o aparelho por um mais novo, a criança herda o mais antigo.

Houve casos, no entanto, em que o presente surpreendeu até pais e mães, já que a decisão de oferecer o dispositivo para a criança não passou pelo crivo deles. Abaixo transcrevemos alguns trechos das diferentes narrativas sobre o primeiro celular.

Foi um presente, uma surpresa. Minha mãe comprou um celular novo e deu pra ela o antigo. Foi até uma surpresa pra gente, porque a gente não esperava. A gente não foi consultado para saber se era bom, era ruim, era a idade certa, não era. Simplesmente ela ganhou o celular e a gente não tinha como dizer não. Como não tinha chip, ela usava basicamente só para jogo. Foi no aniversário de 9 anos, ou seja, tem um ano, porque ela faz 10 na semana que vem. Eu achava que era cedo demais, mas não tive liberdade de escolha não (risos). (A.M, pai da L., 9 anos).

87 A gente inicialmente tinha concordado que ele só teria um celular quando fosse mais velho, com 11, 12 anos. Só que agora, por livre e espontânea vontade, a mãe pegou o dela e deu pra ele, porque ganhou um novo da empresa onde ela trabalha. Num primeiro momento, ela disse que era só para WhatsApp, para a gente se falar entre a gente, eu com ele e ela com ele, mas a coisa está tomando uma proporção muito maior e eu efetivamente estou muito contrariado. (F.C., pai do H., 8 anos.)

Não lembro exatamente quando ela ganhou o primeiro. Ela devia ter 7 para 8 anos, o que eu considerei cedo demais, foi uma decisão unilateral do pai e eu só fiquei sabendo depois que ele já tinha dado.

Já tinha essa vontade dela, tinha esse pedido, que eu acho que tinha relação com a mídia, que produziu esse desejo nela. O pai ouviu e, inadvertidamente, ofereceu aquele objeto de desejo. E assim foi. (P.G., mãe da J., 11).

Ela ganhou aos 10 anos. Ela é a terceira de três filhos e os dois mais velhos já tinham. Aí começava uma necessidade de se comunicar com a gente quando ia no clube, saía com amiguinhos. Mas era o celular de alguém, que comprou um novo, e ela foi herdando. (G.M, mãe da A., 12).

Já tem alguns anos que ela ganhou o primeiro, com 8 ou 9. A prima, seis meses mais velha, trocou o que tinha e passou para ela esse antigo.

Foi um presente da prima. (...) Quando ela ganhou, eu não me opus.

Achei que, num primeiro momento, minha prima podia ter me perguntado, me consultado antes de a filha dela dar esse presente, mas isso não aconteceu e eu não recusei. Não proibi. (F.L., mãe da A., 11) Na pandemia a gente deu. É aquela velha história: o antigo de um dos pais foi para o filho. (A.B., mãe do P., 11).

Na minha casa os celulares dos mais velhos foram sendo repassados pros mais novos. Acho que com uns 7 ou 8 ela recebeu o primeiro celular, de doação minha. (A.J., mãe da A., 12).

Há uns anos, a gente pegou um celular antigo e deu para os dois filhos dividirem [tem um de 11 e um de 13]. Há dois anos, eles dois pegaram o dinheiro que eles ganham de aniversário, de Natal, de parentes, juntaram ‘os dois dinheiros’ e compraram numa promoção dois celulares. Um para cada um. (C.S., mãe do I., 11).

No próximo capítulo, detalharemos os tipos de uso e as formas de mediação parental relatadas pelos responsáveis. A pandemia, como não poderia deixar de ser, também influenciou na decisão de alguns respondentes de antecipar o presente, que preferiam deixar para mais tarde.

88 4 MEDIAÇÃO PARENTAL E ATITUDE CRÍTICA

A partir de nossas pesquisas exploratórias e do aprofundamento na literatura específica sobre o tema do uso de celulares por crianças, definimos, de antemão, duas macrocategorias para guiar a elaboração do questionário online e também das perguntas que conduziriam as conversas individuais: tipo de uso, para entender o que a criança faz com o dispositivo, e tempo de uso. Como o objetivo deste trabalho é colher e analisar as estratégias da formação da CCI das crianças no uso do dispositivo, outra categoria fez-se imprescindível: estratégias de mediação parental.

As mediações, aprendemos por meio das conversas, baseiam-se diretamente na avaliação que os responsáveis fazem sobre as oportunidades e os riscos do ambiente digital, conforme discutido no capítulo 2. À medida que procedíamos com a análise das respostas dos questionários, bem como das entrevistas individuais, outras subcategorias foram surgindo, baseados nestes tópicos, de forma a melhor organizar todo o extenso material. Nesse sentido, cabe destacar as atitudes críticas que queremos fomentar nas crianças, por meio do desenvolvimento da competência crítica em informação. “Atitudes”

porque, como vimos afirmando nesta dissertação, a CCI une a reflexão, através da conscientização crítica, à práxis. Assim, as três atitudes relevantes para a criança no uso do celular e que culminam na atitude crítica são: de uso seguro, de uso ético, de uso saudável. Elas serão explicadas ao longo deste capítulo.

No capítulo anterior demonstramos os principais tipos de uso que as crianças fazem do celular. No próximo, nos debruçaremos sobre o tempo de uso, que tanto inquieta pais e mães. Agora, passaremos a tratar de como os responsáveis observam as oportunidades e riscos do uso do celular por seus filhos e filhas. Neste momento, apresentaremos os relatos obtidos por meio das respostas abertas dos questionários, bem como as narrativas mais aprofundadas relatadas nas entrevistas individuais.

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