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3. MATERIAL E MÉTODOS

3.3. O Delphi

O método, técnica ou consulta Delphi consiste em consultar especialistas acerca de um determinado tema, utilizando um questionário, sem a necessidade de um contato presencial. A consulta pode ser repetida, quantas vezes forem necessárias, para a obtenção de uma resposta satisfatória ao problema proposto.

O Delphi originalmente nasceu na RAND Corporation, Califórnia, em 1950, tendo sido utilizado pela primeira vez para conduzir uma pesquisa na Força Aérea Americana com fins militares. Uma década depois se popularizou ao ser aplicado em previsões tecnológicas e no planejamento corporativo (DALKEY, 1969).

No Japão, na década de 60, o Delphi foi utilizado para obter informações sobre o futuro da área de ciência e tecnologia e, posteriormente, se expandiu no ocidente em estudos que envolvem previsões tecnológicas e avaliação de problemas sociais (GORDON;

HELMER, 1964).

A partir deste momento, o Delphi, que se caracteriza por ser um método de pesquisa qualitativa, passou a ser cada vez aplicado em outras áreas do conhecimento, tendo sido cada vez mais utilizado para pesquisas nas áreas acadêmicas, empresariais, agricultura, educação, transporte, gestão e planejamento estratégico (GORDON; HELMER, 1964; STEINERT, 2009).

Consensualmente, o Delphi caracteriza-se por seu um método que estrutura um processo de comunicação efetivo, capaz de possibilitar a interação de um grupo de indivíduos com vistas a solucionar um problema complexo, sobre o qual se dispõe de pouca informação registrada (STEINERT, 2009).

É um método de fácil aplicação, que se distingue dos demais métodos qualitativos, pelo anonimato dos participantes, pela interação com feedback controlado e permitir análises estatísticas das respostas do grupo (DALKEY, 1969). Destacam se algumas características importantes do método:

 O primeiro aspecto da interação Delphi é que os especialistas são consultados pelo menos duas vezes sobre a mesma questão e, por meio da repetição, os participantes têm a possibilidade para alterar suas opiniões e rever seus julgamentos, em função da opinião dos demais especialistas consultados;

 O anonimato permite que as respostas de um participante não exerçam influência direta nas respostas dos demais, além de preservar a identidade dos respondentes, não expondo as suas opiniões individuais;

 A terceira característica que é o feedback controlado objetiva dar retorno aos participantes, após o final de cada rodada da consulta, informando e comparando a opinião dos outros respondentes com as respostas individuais de cada especialista, por meio de tabulações estatísticas simples.

O Delphi parte da hipótese de que o julgamento coletivo, produto da interação entre os julgamentos individuais de especialistas, pode trazer resultados mais satisfatórios do que a simples justaposição dos julgamentos individuais.

Em linhas gerais, é uma técnica que busca a resposta mais consensual de um grupo de especialistas, acerca de um problema para o qual não se dispõe de métodos mais objetivos e quantitativos para ser utilizado (PATARI, 2010).

Não existe a exigência de um número mínimo ou máximo participantes, podendo variar de um pequeno grupo até um grupo numeroso, dependendo do tipo de problema a ser investigado e da população e/ou amostra definida em cada estudo.

Nesta pesquisa, a escolha do método Delphi justificou-se, principalmente, por se tratar de uma temática recente, ainda pouco estudada, principalmente quando consideramos a inserção da categoria de impacto uso da terra na avaliação de impacto do ciclo de vida.

Outro fator relevante na escolha do método foi a diversidade de modelos e a falta de consenso de opiniões na escolha do(s) melhore(s) ou mais indicado(s) para avaliar a perda da biodiversidade neste contexto.

A Erro! Fonte de referência não encontrada. apresenta um fluxograma das várias etapas de aplicação da consulta Delphi.

Figura 5. Fluxograma simplificado das etapas de aplicação da consulta Delphi

Fonte: Elaboração própria

3.3.1. Escolha dos especialistas

A escolha dos especialistas para a consulta Delphi foi realizada a partir da identificação das áreas do conhecimento relevantes ao problema científico do estudo. Foram identificadas quatro áreas de conhecimento envolvidas na avaliação de indicadores de biodiversidade para aplicação na AICV dos biocombustíveis: Avaliação do Ciclo de Vida (ACIVID), Cultivos Energéticos (CULTEN), Biocombustíveis (BIOCOM) e Ecologia e Conservação da Biodiversidade (ECOBIO). A orientação para a escolha dos especialistas se deu com base, inicialmente, no currículo Lattes do profissional e o no currículo acadêmico, no

caso de especialistas estrangeiros e, em seguida, através de indicações por outros especialistas, considerando a disponibilidade e o interesse em participar do estudo.

Os especialistas da área de ACIVID foram selecionados com base em consultas às suas publicações, por meio do portal de periódicos disponíveis para acesso, contatos institucionais entre grupos de discussão que trabalham com Avaliação do Ciclo de Vida em instituições nacionais e internacionais, destacando-se a EMBRAPA – Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária, Universidade Federal de Santa Catarina, Rede Peruana do Ciclo de Vida e Norwegian University of Science and Technology.

Para a escolha dos especialistas em CULTEN, buscou-se pesquisadores especializados nos aspectos agronômicos, necessários à produção agrícola, com destaque para instituições de produção, pesquisa e ensino que desenvolvem estudos em cultivos típicos do trópico úmido, destacando-se: a CEPLAC – Comissão Executiva do Plano da Lavoura Cacaueira, a Universidade Estadual de Santa Cruz e uma empresa privada de plantio comercial de dendê, com sede localizada no estado do Pará.

Na área de BIOCOM, foram selecionados especialistas das seguintes instituições:

Universidade Estadual de Santa Cruz, Universidade Federal da Bahia e do Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (IPAM), instituições com reconhecida experiência acadêmica e de pesquisa neste setor.

Para escolha dos especialistas em ECOBIO, foram consultadas instituições atuantes nas áreas de ensino, pesquisa e extensão, com foco no Bioma da Mata Atlântica, destacando- se: a Universidade Estadual de Santa Cruz (UESC) e a Universidade Federal da Bahia (UFBA).

Os especialistas foram contatados via correio eletrônico, telefone e/ou contato pessoal.

Ao concordarem com a participação na pesquisa, foi enviada uma carta-convite explicando em que consiste o Delphi, o objetivo da pesquisa e a importância da participação deles como especialistas na área. Aos que concordaram em participar, foi enviado o questionário (apêndice B) junto com o apêndice explicativo (apêndice C III).

3.3.2. Elaboração do questionário

O questionário foi elaborado em linguagem adequada ao entendimento, por um grupo multidisciplinar, de forma simplificada visando, ao mesmo tempo, atender aos objetivos da pesquisa e não exigir um período longo de dedicação dos respondentes. Foram seguidas as seguintes recomendações para elaboração de consultas Delphi: tornar o questionário simples de ser respondido; evitar questões ambíguas; limitar o número de questões e permitir complementações dos respondentes (MARTINO 1993) apud (WRIGHT; GIOVINAZZO, 2000).

Para validação do questionário e da metodologia adotada na condução do Delphi, foi realizado um pré-teste com um grupo de estudantes de Mestrado e Doutorado com formação multidisciplinar, visando simular as condições da pesquisa. A partir dos resultados e retornos do pré-teste, foram realizadas alterações e ajustes, bem como foi possível estimar e otimizar o tempo gasto para responder ao questionário.

3.3.3. Envio do questionário

Após o término da etapa de elaboração e estruturação do questionário, o mesmo foi enviado via correio eletrônico aos 22 (vinte e dois) especialistas (apêndice D), identificados numericamente, para facilitar a tabulação dos dados e garantir a preservação do anonimato, conforme prevê o método Delphi.

Alguns especialistas, principalmente de instituições próximas à UESC, instituição sede da pesquisa, receberam pessoalmente os questionários, por solicitação própria, na forma impressa.

Após envio dos e-mails, foi confirmado o recebimento dos arquivos, através de contato telefônico e ressaltada a importância de cumprimento do prazo fornecido para o retorno do questionário. Antes de expirar o prazo estipulado para devolução do questionário respondido, foram enviados novos e-mails aos especialistas, solicitando o envio e se disponibilizando para esclarecimentos, caso tivessem qualquer dúvida ou dificuldade em responder ao Delphi, além de ressaltar a importância da participação na pesquisa. Após esse novo contato alguns especialistas solicitaram mais esclarecimentos acerca da consulta e o pedido de envio de referências bibliográficas para melhor compreensão do objeto de

investigação abordado no Delphi. Ficou evidenciado que essa estratégia foi correta, pois a partir da interação entre pesquisador e especialista, o retorno dos questionários ocorreu de forma mais rápida.

O tempo de retorno dos questionários variou de algumas semanas até aproximadamente quatro meses, prazo limite determinado pelo autor da pesquisa. Dos 22 questionários enviados, 16 (dezesseis) retornaram na 1ª rodada da consulta, correspondendo a aproximadamente 70%, percentual considerado satisfatório, quando comparado com os resultados encontrados na literatura, que informam abstenções entre 30 a 50% de retorno para a 1ª rodada de pesquisas dessa natureza (WRIGHT; GIOVINAZZO, 2000).

Dos seis especialistas que não retornaram dentro prazo, após terem sido novamente requisitados, um encaminhou e-mail informando da incapacidade técnica em colaborar com a pesquisa. Os demais responderam informando que devido às inúmeras ocupações profissionais, não haviam ainda conseguido responder, e que, tão logo fosse possível, dariam um retorno. Por limitação de tempo para conduzir as demais etapas do Delphi, incluindo a sistematização dos dados, o envio de feedback aos respondentes e o preparo da 2ª rodada, a 1ª rodada foi encerrada com cerca de 79% dos questionários devolvidos.

Dos 16 (dezesseis) questionários recebidos, 01 (um) não foi contabilizado, por não ter atendido às regras estabelecidas na pesquisa.

3.3.4. Tratamento estatístico

Os dados obtidos com a consulta Delphi foram tratados por meio da estatística descritiva que, segundo Morettin et. al. (2006), trata da organização e descrição dos dados (dedutiva); pretende somente descrever e analisar um dado grupo, sem tirar quaisquer conclusões ou inferências sobre um grupo maior. Os dados podem ser apresentados através de gráficos ou tabelas, além do cálculo de coeficientes.

Para a 2ª rodada Delphi, os questionamentos foram reestruturados com a inserção de quatro novos indicadores sugeridos pelos especialistas das áreas de ACIVID e ECOBIO, perfazendo um total de nove, considerando os cinco anteriormente enviados, (apêndice E).

Tendo em vista a inclusão de quatro novos indicadores na 2ª rodada, a partir da avaliação dos resultados da 1ª rodada Delphi, foi aplicado o teste dos sinais, com o objetivo de realizar comparações entre as duas rodadas, identificando convergências e divergências na opinião dos especialistas entre estas duas etapas da pesquisa.

O teste de sinais é um teste não paramétrico, no qual se define, em cada par, a diferença dos scores (valores) antes e depois do procedimento investigatório, baseando-se apenas no sentido das diferenças dos scores, registrados sob a forma de sinais: (+) e (−). Os pares com resultados iguais - considerados empatados - são eliminados dos cálculos pelo programa. Quando o número de pares (não empatados) for maior que 30, calcula-se a probabilidade pela curva normal N (0,1), caso contrário, utiliza-se a distribuição binomial.

Para a aplicação do teste, foi utilizado o programa Bioestat, um pacote estatístico com ampla utilização na área das ciências biomédicas.

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