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O Ensino da Disciplina de Psicologia da

1. A Formação de Professores e a Psicologia da

1.2. O Ensino da Disciplina de Psicologia da

A melhoria do processo de formação de professores tem envolvido diferentes áreas do conhecimento, entre elas, a da Psicologia, sempre presente na atuação docente, es- pecialmente no nível superior. É o que se pode observar na disciplina de Psicologia Educacional, no Curso de Pedagogia, desde sua primeira organização brasileira.

Guerra (2003, p. 39) afirma que a Psicologia, enquan- to disciplina dos cursos de formação de professores, chegou até eles, como responsável pelo embasamento teórico do fu- turo docente. É uma disciplina presente nos currículos das licenciaturas, cujo propósito é “[...] subsidiar a atuação docen- te por meio do conhecimento sobre os processos de desen- volvimento e aprendizagem”, que, obviamente, são temas de maior evidência no campo de estudos da Psicologia da Edu- cação.

Com relação à disciplina de Psicologia nos cursos de licenciatura em Pedagogia, Gatti e Barreto (2009, p. 118) con- sideram-na entre as que oferecem os “[...] fundamentos teó- ricos da educação” que, com outras áreas do conhecimento, como a “[...] Antropologia, História, Psicologia, Sociologia, Es- tatística, entre outras, e suas correlatas no campo da educa- ção”, estão agregadas às disciplinas que oferecem base teóri- ca ao acadêmico, futuro pedagogo.

Segundo Guerra (2000, p. 82), nos cursos de forma- ção de professores, o ensino da Psicologia tem se caracte- rizado pela transmissão dos conhecimentos sobre os pro- cessos de desenvolvimento e aprendizagem, muitas vezes apresentados fracionados em duas disciplinas, a Psicologia do Desenvolvimento e a Psicologia da Aprendizagem, mais tradicionalmente, na denominada Psicologia da Educação.

Em alguns cursos, “[...] o currículo da formação de professores também prevê outros conhecimentos psicológicos, desen- volvidos em disciplinas específicas relacionadas à Psicologia, ou como parte do conteúdo de outras áreas”.

A Psicologia da Educação tem merecido a atenção de profissionais envolvidos com a formação de professores, ten- do em vista as contribuições dos conhecimentos dessa área para a prática docente. Por certo os conteúdos desta discipli- na contribuem para a compreensão dos processos envolvidos no ensino e na aprendizagem, no desenvolvimento humano, na relação professor-aluno, na motivação, entre outros. O re- conhecimento da relevância dessa disciplina configura-se em várias pesquisas realizadas com o objetivo de conhecer como tem sido seu ensino e seus desdobramentos na forma- ção de professores. A seguir, apresentaremos algumas delas.

Iaochite et alii (2004), ao pesquisarem sobre as con- tribuições da Psicologia para a prática docente, encontraram que, 91% dos professores de Educação Física19 afirmaram fa- zer uso frequente dos conhecimentos dessa área em sua prá- tica profissional; e verificaram que os conteúdos mais citados por professores e acadêmicos de Educação Física foram as

19 O curso de Educação Física, enquanto curso de licenciatura, forma profissional para a docência assemelhando-se às outras licenciaturas e, ge- ralmente, conta em seu currículo com as disciplinas de Didática e Psicologia da Educação.

teorias da aprendizagem, do desenvolvimento e as educacio- nais. Destacaram ainda que as contribuições esperadas esti- veram pautadas na compreensão da relação professor-aluno, e na, organização/avaliação dos conteúdos e sua motivação.

Os professores atestaram a importância da Psicologia na for- mação docente como um conhecimento que auxilia sua prá- tica profissional. Entretanto, ressaltaram que a contribuição da Psicologia necessita ser revista em função do conteúdo e da forma como este vem sendo transmitido, frente às ques- tões da teoria, da prática e da relação entre ambas. E, na con- clusão do seu estudo, afirmam:

A inserção das disciplinas de Psicologia nos cursos de graduação em Educação Fí- sica tem localização no espaço e no tem- po frente à construção do conhecimento, dos saberes e da revisão das crenças do educador físico, além das inúmeras pos- sibilidades de intervenção que o professor e o futuro professor podem fazer ao longo de suas práticas docentes. [...] Quanto me- lhor for a compreensão destas implica- ções, maiores serão as possibilidades de o professor atingir os resultados definidos e se satisfazer com eles (IAOCHITE et alii, 2004, p. 156-157).

Complementam afirmando que os estudos realiza- dos voltaram-se para o conteúdo, para o ensino e a forma como esses conteúdos têm sido apropriados pelos discentes nos cursos de formação do professor de Educação Física. Os resultados apontaram para a necessidade de se reformular, tanto os conteúdos, como a forma de trabalhar com eles.

Em pesquisa visando avaliar as contribuições da Psi- cologia da Educação para a formação de educadores infantis, focando especialmente, os conteúdos estudados e sua rela- ção com os demais componentes curriculares, entre outros

aspectos, Lepre (2007) encontrou que essa disciplina super- valorizou a dimensão cognitiva do aluno, em detrimento das dimensões afetivas e sociais. Entretanto, concluiu que a disci- plina é importante para a formação de professores.

Bergamo e Romanowski (2006), em estudo sobre a formação inicial de professores e as contribuições da Psico- logia da Educação, pesquisaram a forma como estão sendo trabalhados os conteúdos dessa disciplina nas instituições de ensino superior, onde é compreendida como fundamental na formação inicial, articulando-se com os demais conheci- mentos metodológicos e práticos.

A pesquisa evidenciou que, na trajetória acadêmica de muitos professores, o ensino da Psicologia da Educação não vem contribuindo, de forma efetiva, para sua formação docente, principalmente por “[...] dois fatores: a) Tempo res- trito destinado ao estudo desse campo do conhecimento no curso de formação inicial. b) Dicotomia entre a teoria e a prática”. Os professores pesquisados reconheceram que, ape- sar das críticas que fizeram aos conteúdos da disciplina e da falta de relação com a prática, em sua formação, os conheci- mentos da Psicologia da Educação são indispensáveis para a compreensão do processo educativo (BERGAMO; ROMA- NOWSKI, 2006, p. 06).

Bergamo e Romanowski (2006, p. 13) referiram o tem- po como um dos fatores que dificultam a apropriação dos conteúdos da disciplina; mas consideram que cabe ao pro- fessor formador otimizar o tempo conduzindo “[...] seus alu- nos a aprender a aprender, a pesquisar, a resolver os proble- mas da prática, a tornarem-se autônomos, a estabelecerem as relações entre seu processo de formação e sua atuação profissional”.

Concluíram que a disciplina tem muitas contribui- ções a prestar, devendo, entretanto, atualizar seus conteúdos e temas, assim como os procedimentos metodológicos com vistas ao melhor aproveitamento na futura atuação do pro- fessor.

Iaochite et alii (2004) e Batista e Azzi (2000), concor- dam com a importância da disciplina Psicologia Educacional na formação docente; mas ressaltam que somente median- te o encontro crítico com outros conhecimentos e áreas será possível uma formação docente que compreenda a multipli- cidade e complexidade do fenômeno educativo.

Em Guerra (2000) também encontramos contribui- ções relevantes para saber como tem sido o ensino da Psico- logia da Educação, como a pesquisa realizada por Caparroz (1992) que,

[...] estudou a disciplina em seis faculda- des particulares do Estado de São Paulo.

Os dados obtidos neste estudo demons- tram que a Psicologia da Educação não está organizada de forma a contribuir para fundamentar a prática pedagógica de futuros professores. A autora apresenta posição favorável aos conhecimentos psi- cológicos na área educacional, mas apon- ta que precisam ser mais bem utilizados (CAPARROZ, 1992 apud GUERRA, 2000, p. 86).

Outras conclusões obtidas por meio dessa pesquisa foram que a disciplina de Psicologia da Educação “[...] é de- sintegrada no que diz respeito a seus conteúdos, estratégias de aula e avaliação” e também que “[...] é desarticulada de outras disciplinas que fazem parte do currículo da formação do (a) professor (a)” (CAPARROZ, 1992 apud ASSUNÇÃO 2002, p. 18).

Em trabalho intitulado “Em busca de um ensino de psicologia significativo para futuros professores”, a constata- ção de Almeida et alii (2003), é que a disciplina tem se con- solidado como teórica, fora de contexto e da realidade edu- cacional, já que não se relaciona com as outras disciplinas pedagógicas. Esta crítica soma-se às discussões que defen- dem a necessidade de os cursos de licenciatura contempla- rem a formação pedagógica.

Os autores fazem e respondem os seguintes questio- namentos:

[...] o que se ensina de Psicologia aos alu- nos nos cursos de formação de professo- res? E como se ensina? Os estudos de Ca- parroz (1992), Branco (1988), Goulart (1985), Ióris (1993), Montenegro (1987), Urt (1989), que tiveram como foco de investigação a Psicologia na formação do professor, mos- tram que estamos ensinando uma Psico- logia abstrata, fragmentada e superficial, além de não ter pontos de contato com a realidade (ALMEIDA et alii, 2003, p. 11).

Com relação ao ensino da Psicologia da Educação, nos cursos de formação de professores, Raposo (2006) com- preende que esta disciplina precisa ser ensinada com a ex- pectativa de superar a apresentação de teorias e conceitos, vinculando-se com a atividade pedagógica e suas dificulda- des, possibilitando que o professor sinta-se motivado a bus- car os conhecimentos possíveis de realização na prática do- cente.

Larocca (2002) entende que, uma das dificuldades no ensino da Psicologia da Educação, é trabalhá-la separada da prática; entende que somente mediante a compreensão da disciplina como unidade dialética de ação e reflexão será

possível propiciar ao licenciado vinculá-la à sua atuação pro- fissional.

Em geral, os estudos apontam para uma situação preocupante com relação ao ensino da Psicologia da Educa- ção nos cursos de formação de professores. Assunção (2002) considera que os resultados das pesquisas sobre a disciplina na formação de professores, realizadas por Cavalcanti (1982), Goulart (1985), Montenegro (1987), Branco (1988), Puttini (1988), no ensino médio e superior, deixam clara a necessida- de de revisão dos procedimentos adotados para seu ensino, dos conteúdos trabalhados e da articulação com outras dis- ciplinas. Além disso, as pesquisas apontam, também, a im- portância de atualização dos mecanismos institucionais e da capacitação dos professores que, como estão, não favorecem o bom ensino dessa disciplina.

Apesar da preocupação diante das dificuldades iden- tificadas em relação ao ensino da Psicologia nas licenciatu- ras, as pesquisas também evidenciam que os conhecimentos psicológicos são considerados indispensáveis à compreensão do processo educativo e, portanto à formação de professores, conforme sintetizam as palavras de Guerra (2003):

Os resultados de estudos já realizados permitem concluir que a disciplina Psi- cologia da Educação também tem repro- duzido as dificuldades encontradas no panorama mais geral da formação docen- te: ênfase nos conteúdos específicos, com desarticulação entre teoria e prática e dis- tanciamento da realidade escolar (GUER- RA, 2003, p. 60).

A autora complementa seu pensamento dizendo que existe a possibilidade de que, pelos motivos identificados, os conhecimentos da Psicologia da Educação para a atuação

docente, não venham merecendo o devido reconhecimento por parte dos alunos e professores que já cursaram a disci- plina, porque, de seu ponto de vista, os conhecimentos, tal como são trabalhados, não atendem às suas necessidades.

Por isso mesmo os professores formadores, também, muitas vezes, manifestam sua insatisfação com os resultados alcan- çados no processo de formação.

Estas informações, somadas às contribuições da Teo- ria Histórico-Cultural, especialmente nos autores Vygotsky (2001) e Davidov (1988b), ajudam a compreender a importân- cia da mediação dos professores formadores. A apropriação de conhecimentos que auxiliem o entendimento do aluno e da sua realidade e do conhecimento a ser ensinado, somente será assegurada por meio de mediações de qualidade. Assim,

“[...] os licenciados também poderiam ter parâmetros para garantir melhor qualidade nas mediações na sua prática do- cente” (GUERRA, 2003, p. 37).

Onde são formados os professores da disciplina de Psicologia da Educação? Nos cursos de licenciatura em Psi- cologia e Pedagogia, mediante um ensino com deficiências, algumas apontadas pelas pesquisas anteriormente citadas.

Portanto, para alterar esse quadro, é necessário investimen- to para a melhoria da qualidade nos cursos de licenciatura, mais especificamente, nos cursos de Psicologia e Pedagogia.

As considerações feitas e os fatos apontados nos di- recionam para a necessidade de repensar a organização do ensino dos conteúdos da disciplina de Psicologia da Educa- ção nos cursos de licenciatura; a forma como têm sido orga- nizados não vem garantindo que sejam apropriados como instrumento do pensamento teórico dos alunos.

Na sequência, dispomo-nos a refletir mais sobre o as- sunto valendo-nos da Teoria Histórico-Cultural na busca de princípios para a organização de um ensino capaz de orien- tar à aprendizagem que promova o desenvolvimento do pensamento teórico.

2. Contribuições da Teoria