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Procedimentos Metodológicos

2. Contribuições da Teoria Histórico-Cultural para a

3.3. Procedimentos Metodológicos

cognitivo dos alunos? Essa questão se de- lineia por dentro do materialismo dialé- tico e ampara-se em referências teóricas como a teoria histórico-cultural, a teoria da atividade, a teoria do ensino desenvol- vimental (FREITAS, 2007, p. 08).

A pesquisa tem as características de uma pesquisa qualitativa que segundo Sampieri, Collado e Lucio (2006, p.

05), “[...] utiliza coleta de dados sem medição numérica para descobrir ou aperfeiçoar questões de pesquisa e pode ou não provar hipóteses em seu processo de interpretação”.

De acordo com Sampieri, Collado e Lucio (2006, p. 07), nesta pesquisa, as questões e hipóteses podem ser desen- volvidas “[...] antes, durante e depois da coleta e análise dos dados” e, frequentemente, servem “[...] para descobrir quais são as questões mais importantes da pesquisa; e, depois, para refiná-las e respondê-las (ou testar hipóteses)”. Levamos em conta que o “[...] processo se move dinamicamente entre os ‘fatos’ e sua interpretação em ambos os sentidos”. Muitas vezes, o resultado final “[...] consiste em compreender um fe- nômeno social complexo. A ênfase não está em medir as va- riáveis envolvidas no fenômeno, mas em entendê-lo”.

A abordagem qualitativa veio ao encontro de nossas necessidades de, ao acompanhar o desenvolvimento do ex- perimento, poder repensar posicionamentos, levantar novas hipóteses e questionamentos, responder algumas perguntas e buscar a compreensão de procedimentos de ensino que propiciam à apropriação de conceitos e desenvolvimento do pensamento.

Orientamo-nos pelas conclusões da Teoria Histórico- -Cultural, que são baseadas no método dialético de investi- gação e compreensão da realidade. Freitas (2007, p. 03) ex-

plica que, “[...] do ponto de vista do materialismo histórico dialético o processo de surgimento e existência de determi- nado fenômeno deve ser investigado tomando-se o seu devir histórico na realidade social concreta”. Hedegaard (2002, p.

214-215), esclarece, com relação ao experimento didático, que

“[...] é uma concretização da afirmação de Vygotsky de que o método genético é um método de pesquisa necessário para investigar a formulação e o desenvolvimento dos aspectos conscientes da relação dos seres humanos com o mundo”.

Orientamos nossas ações pela conhecida afirmação de Vygotsky de que o desenvolvimento humano acontece impul- sionado pela aprendizagem. Assim, entendemos a aprendiza- gem escolar como o resultado de um ensino adequadamente organizado.

O conteúdo do ensino do experimento didático foi a Teoria Behaviorista, um dos conteúdos da disciplina de Psi- cologia da Educação ministrada nos cursos de licenciatu- ra. O fato de este experimento ter como fundamento a Teoria Histórico-Cultural, e trabalhar com o ensino de outra Teoria, pode causar certa estranheza. Nossa opção por este conteú- do, porém, não foi ingênua ou aleatória. 

Buscar princípios norteadores do ensino com vistas ao  desenvolvimento do pensamento teórico não significa admi- tir que toda teoria subsidia um ensino capaz de alcançar tal finalidade. Buscamos organizar um ensino que resulte numa aprendizagem mediante a qual os conceitos se transformem em instrumentos do pensamento dos sujeitos, que possam ultrapassar o imediato, a experiência, a vivência. Para tanto, faz-se necessário que o conteúdo – aqui a Teoria Behavioris- ta – seja compreendido na relação com o contexto histórico,

social e cultural, analisado na relação com outras teorias, ou como diz Vygotsky, seja inserido num sistema de conceitos.

A escolha dos conteúdos nos cursos de licenciatura é realizada considerando as Diretrizes Curriculares para o En- sino Superior, elaborada pelos planejadores curriculares do MEC. Nas IES, elaboram-se os Projetos Políticos Pedagógicos dos cursos e os professores organizam os programas, ade- quando os conteúdos ao perfil do profissional a que se desti- nam, com a aprovação de Colegiados e Departamentos.

O conteúdo do experimento didático está entre os que compõem a grade curricular dos cursos de formação de professores, na disciplina de Psicologia da Educação. Segun- do Paini (2006, p. 209-210), a inclusão desta disciplina, e con- sequentemente de seus conteúdos, está relacionada social- mente, com “[...] a necessidade de subsidiar os educadores com conhecimentos relativos ao desenvolvimento sócio-afe- tivo-cognitivo dos alunos, em suas inter-relações”. A autora complementa afirmando que a contribuição desta disciplina,

[...] consiste em explicitar os pressupostos epistemológicos das teorias da aprendi- zagem aliadas a outras áreas de conheci- mento, a fim de subsidiar a formação de professores, para que, efetivamente, o fu- turo educador possa se colocar a serviço de uma prática escolar contextualizada e histórica (PAINI, 2006, p. 209-210).

O experimento didático foi realizado em cinco encon- tros, totalizando doze horas/aula, tempo disponibilizado na carga horária da disciplina para o conteúdo específico nele trabalhado, o que nos levou à seleção de alguns conceitos da teoria adotada, sendo impossível abordá-la de forma mais abrangente.

Os conceitos da Teoria Behaviorista trabalhados fo- ram: do Behaviorismo Metodológico de Watson, os conceitos de comportamento respondente, estímulo incondicionado e condicionado, resposta incondicionada e condicionada, e condicionamento respondente; do Behaviorismo Radical de Skinner, os conceitos de comportamento operante, estímu- lo reforçador, condicionamento operante, condicionamento por reforçamento positivo e negativo e extinção do compor- tamento condicionado. Esses conceitos foram escolhidos por serem fundamentais possibilitando às acadêmicas interessa- das continuidade e aprofundamento.

Importa destacar que a carga horária utilizada para este ensino na pesquisa corresponde a que se dedica ao en- sino deste conteúdo na disciplina, o que significa que o expe- rimento não foi realizado em condições diferentes da prática cotidiana do professor de Psicologia da Educação.

Analisando a relação entre os diferentes conteúdos desta disciplina, podemos verificar que o estudo da Teoria Behaviorista seguido pelo estudo de outras teorias, contri- bui para situar o discente no contexto do desenvolvimento de uma ciência que estuda os processos de desenvolvimento humano e de ensino aprendizagem; trata-se de um conheci- mento em constante construção, sob influências contextuais do momento.

Paini (2006) pesquisou os conteúdos da disciplina de Psicologia da Educação em cinco universidades paranaenses e verificou que a Teoria Behaviorista estava presente em três universidades e a Epistemologia Genética (Piaget) e a Teoria Histórico-Cultural, em todas as instituições estudadas.

Tomando como referência para compreensão desse percurso rumo ao desenvolvimento científico, nestas diferen- tes teorias, a questão da importância da cultura no desenvol- vimento humano, Lima (1990, p. 12) considera que a cultura é, cada vez mais, valorizada por diferentes teorias. A autora afir- ma que, embora mais tardia na Psicologia norte-americana, a cultura “[...] é uma questão antiga para a Psicologia europeia e soviética. Na obra de Vygotsky, assim como na de Wallon, a Cultura aparece claramente como elemento constitutivo do desenvolvimento do ser humano”. Complementa apontando que algumas abordagens teóricas, “[...] tradicionalmente, não consideram nem o social nem o cultural como de relevância para o desenvolvimento do ser humano”.

Nesta forma de investigação, a coleta dos dados acon- tece ao mesmo tempo em que ocorre o registro e a análise do pensamento dos sujeitos envolvidos. Durante o experimento, fez-se a gravação das falas das acadêmicas e da pesquisadora - gravações foram transcritas e analisadas. O conjunto com- pôs os dados da pesquisa que foram analisados mediante a análise dos conteúdos dos textos escritos pelas acadêmicas e das falas transcritas, buscando identificar os movimentos do pensamento e a apropriação de conceitos pelas acadêmicas.