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M ODALIDADES DE RESCISÃO DO CONTRATO DE TRABALHO DO ATLETA

2.2 RESCISÃO DO CONTRATO DE TRABALHO DO ATLETA PROFISSIONAL

2.2.3 M ODALIDADES DE RESCISÃO DO CONTRATO DE TRABALHO DO ATLETA

A lei 9.615/98 em seu artigo 28, § 2º, e seus incisos, modificado pela Lei 10.672/03, descreve algumas das modalidades específicas da rescisão contratual do atleta profissional de futebol. São elas: o término da vigência do contrato de trabalho desportivo (inciso I); o pagamento da cláusula penal (inciso II); e o inadimplemento salarial de responsabilidade da entidade desportiva empregadora (inciso III).

In casu, a ocorrência destas três hipóteses rescisórias é devido à extinção do instituto do passe, com escopo direcionado ao vínculo então criado entre o atleta e o clube.

Além das três hipóteses, existe ainda a rescisão por justa causa do empregado e por mútuo acordo.

Desta feita, no que se refere as possibilidades específicas de rescisão do contrato de trabalho do atleta de futebol profissional, têm-se: a) pelo término do contrato; b) pelo pagamento da cláusula penal (descumprimento, rompimento e rescisão unilateral); c) por justa causa do empregador; d) por justa causa do empregado; e) por acordo mútuo.

Passa-se, então, a discorrer sobre cada uma dessas modalidades de rescisão contratual do atleta de futebol profissional.

2.2.3.1 Rescisão contratual pelo término do contrato

Observa-se no inciso I, do § 2º do artigo acima indicado, a possibilidade de rescisão pelo fim do contrato por prazo determinado.

É, sem dúvida, a forma mais simples de rescisão, na qual o atleta terá direito as verbas trabalhistas previstas na CLT90.

Por ser o contrato de trabalho do atleta de futebol profissional de natureza provisória, ou seja, a termo, é normal e consensual entre as partes a sabedoria de seu fim após certo interregno de tempo. Nessas condições, é que tal contrato, como regra geral, deve-se extinguir pelo decurso do tempo, caso não haja qualquer modificação da vontade das partes durante a relação contratual.

2.2.3.2 Rescisão contratual pelo pagamento da cláusula penal

O inciso II traz a possibilidade de rescisão contratual pelo pagamento da cláusula penal.

Sem adentrar nas definições pertinentes ao que vem a ser a cláusula penal, até porque ficará reservado a este instituto parte do terceiro capítulo desta monografia, as suas possibilidades (descumprimento, rompimento ou rescisão

90 ZAINAGHI, Domingos Sávio. Os Atletas Profissionais de Futebol no Direito do Trabalho. p.

66.

unilateral do contrato) acontecem em função do eventual inadimplemento da avença por inexecução culposa.

Assim, o contrato poderá ser encerrado com o pagamento da cláusula penal prevista no contrato.

2.2.3.3 Rescisão contratual por justa causa do empregador

A terceira possibilidade de cessação do contrato do atleta de futebol, é decorrente do inadimplemento salarial de responsabilidade do clube.

Prevista no inciso III, § 2º, artigo 28 e artigo 31, ambos da Lei Pelé (Lei n. 9.615/98), essa possibilidade é vista como justa causa, porque advém da mora contumaz do empregador – clube.

O artigo 31 da referida lei indica as conseqüências jurídicas que advirão do atraso de pagamento de salário do atleta de futebol profissional, in verbis:

Art. 31. A entidade de prática desportiva empregadora que estiver com pagamento de salário de atleta profissional em atraso, no todo ou em parte, por período igual ou superior a três meses, terá o contrato de trabalho daquele atleta rescindido, ficando o atleta livre para se transferir para qualquer outra agremiação de mesma modalidade, nacional ou internacional, e exigir a multa rescisória e os haveres devidos.

§ 1º. São entendidos como salário, para efeitos do previsto no caput, o abono de férias, o décimo terceiro salário, as gratificações, os prêmios e demais verbas inclusas no contrato de trabalho.

§ 2º. A mora contumaz será considerada também pelo não recolhimento do FGTS e das contribuições previdenciárias.

§ 3º. Sempre que a rescisão se operar pela aplicação do disposto no caput, a multa rescisória a favor da parte inocente será conhecida pela aplicação do disposto nos arts. 479 e 480 da CLT.

Observa-se que o atraso de 3 (três) meses do salário acarreta a rescisão de contrato de trabalho do atleta, a liberação do atleta para transferir-se para outra entidade desportiva, nacional ou internacional e o direito de exigir multa rescisória e os haveres devidos.

E não é só isso, a falta de recolhimento, no período comum de 3 meses ou mais, do FGTS e INSS também produz efeitos de rescisão.

Sobre o tema, Melo Filho91 aduz:

[...] o inadimplente destas obrigações social e previdenciária – recolhimento do FGTS e INSS – se, igual ou superior a três (3) meses, gerará todas as sanções e conseqüências nefastas para o clube empregador explicitadas no caput do art. 31 desta lei.

Por seu turno, o § 3º do artigo 31 adverte para a pena de multa rescisória aplicada ao empregador.

O referido parágrafo cita os artigos 479 e 480 da CLT como normas aplicativas ao caso concreto. Porém, nesse ponto, ao indicar ambos os artigos, o legislador surgiu em erro, o qual Melo Filho92 explica:

Exsurge desse dispositivo um erro ou “cochilo” manifesto do legislador, pois, a “parte inocente” beneficiária da multa rescisória será sempre o atleta profissional. Com efeito, o caput só cogita de atraso de “pagamento de salário do atleta profissional”, ou seja, a

“parte culpada” por inadimplemento será, invariavelmente, nessa hipótese, a entidade de prática desportiva empregadora daí a impossibilidade desta figurar como “parte inocente”.

E mais adiante continua,

Igualmente equivocada é a menção aos arts. 479 e 480 da CLT, dado que, só teria sentido se o caput do art. 31 da Lei Pelé tivesse cogitado tanto de mora solvendi (atraso por culpa do clube empregador) quanto de mora accipiendi (atraso por culpa do atleta

91 MELO FILHO. Álvaro. Lei Pelé. Comentários à Lei n. 9.615/98. Brasília Jurídica, Brasília, 1998, p. 107.

92 MELO FILHO. Álvaro Filho. Lei Pelé. Comentários à Lei n. 9.615/98. p. 107.

empregado). Como o caput somente previu a mora solvendi (do clube empregador) há de aplicar-se apenas o art. 479 da CLT.

Assim, solucionado a equivocada menção, por parte do legislador, ao artigo 480 da CLT, deve-se aplicar somente o artigo 479 da comentada consolidação para empregar a multa rescisória, que será de 50% de remuneração que o atleta deixou de receber, caso não tivesse ocorrido a rescisão do pacto laboral.

Atenta-se que essa espécie de rescisão confunde-se com a rescisão indireta prevista na consolidação trabalhista (artigo 483, d).

Nesse raciocínio, Melo Filho93 ensina:

A rescisão do contrato de trabalho do atleta, uma vez verificada a mora salarial por período igual ou excedente a um trimestre, tem supedâneo no art. 483, “d”, da CLT, pois a falta de pagamento dos salários devidos ao empregado é uma das formas da despedida indireta a que abordam os juslaboralistas.

Isso posto, nota-se que a intenção do legislador foi impedir o atraso salarial e resguardar a pontualidade no pagamento da retribuição mensal do atleta, ao ponto que estabeleceu dispositivo punitivo no caso de descumprimento.

2.2.3.4 Rescisão contratual por justa causa do empregado

Uma quarta possibilidade de rescisão contratual do atleta de futebol profissional é movida pela justa causa ou culpa deste, sendo as hipóteses elencadas no art. 20 da Lei 6.354/76, a saber: ato de improbidade; grave incontinência de conduta; condenação a pena de reclusão, superior a 2 anos, transitada em julgado; e eliminação imposta pela entidade de direção máxima do futebol nacional ou internacional.

Observa-se que as hipóteses enumeradas como rescisão por justa causa, são indistintas àquelas previstas no artigo 482 da CLT.

93 MELO FILHO. Álvaro. Lei Pelé. Comentários à Lei n. 9.615/98. p. 106.

Nesse contexto, Zainaghi94 afirma:

Esta relação do artigo supra não é exaustiva e sim exemplificativa.

Pode-se até afirmar que é redundante, uma vez que as faltas ali mencionadas estão todas previstas na Consolidação das Leis do trabalho (art. 482).

O ato de improbidade está previsto na alínea a da norma celetizada; a grave incontinência de conduta na alínea b, a condenação criminal e eliminação do futebol estão previstas na alínea d.

Destarte, se são iguais as modalidades de justa causa da CLT, a aplicação das demais hipóteses (art. 482) se torna previsível.

2.2.3.5 Rescisão contratual por mútuo consentimento

Por derradeiro, existe, ainda, a hipótese de rescisão por mútuo acordo, previsto no artigo 21 da lei acima referida, in verbis:

Art. 21. É facultado às partes contratantes, a qualquer tempo, resilir o contrato, mediante documento escrito, que será assinado, de próprio punho, pelo atleta, ou seu responsável legal, quando menor, e 2 (duas) testemunhas.

Esta espécie, já descrita anteriormente por ser hipótese de rescisão contratual dos contratos a termo, é denominada por Gomes e Gottschalk95 como distrato ou distrate e advém do modo de dissolução pelo qual cessa a eficácia do contrato de trabalho pelo mútuo consentimento.

Assim, essas são as possibilidades específicas de rescisão do contrato de trabalho do atleta de futebol profissional, em que pese não serem as únicas no que diz respeito ao instituto da dissolução contratual.

Por força do artigo 28 da Lei 6.354/76, aplica-se, ainda, subsidiariamente as normas gerais da consolidação trabalhista, desde que não incompatíveis com a sua legislação, emergindo, desta forma, uma

94 ZAINAGHI, Domingos Sávio. Os Atletas Profissionais de Futebol no Direito do Trabalho. p.

136.

95 GOMES, Orlando e GOTTSCHALK, Elson. Curso de Direito do Trabalho. p. 334.

multidiversidade de hipóteses para a rescisão contratual do atleta de futebol profissional, dentre as quais, a força maior, a aposentadoria etc.