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S ALÁRIO E R EMUNERAÇÃO DO A TLETA P ROFISSIONAL DE F UTEBOL

2.1 CONTRATO DE TRABALHO DO ATLETA PROFISSIONAL DE FUTEBOL 17

2.1.4 S ALÁRIO E R EMUNERAÇÃO DO A TLETA P ROFISSIONAL DE F UTEBOL

De início, é preciso dizer que salário e remuneração não são sinônimos, em que pese à corriqueira confusão que é feita nesse sentido.

Conforme Godoy, “nem a própria CLT utiliza estas expressões Salário (artigo 457, parágrafo 1º) e Remuneração (artigo 457, caput) sem precisar se o faz como sinônimos”57.

Desta feita, convém, nesse momento, conceituá-los.

Não há conceito de salário na CLT.

A doutrina, por seu turno, ainda não encontrou linhas seguras para tal conceito.

Segundo a teoria da contraprestatividade, o salário é a contraprestação do trabalho na troca que o empregado faz com o empregador, onde aquele fornece sua atividade recebendo deste um valor correspondente.

57 GODOY, Wanderley Junior. O Contrato de Trabalho do Atleta de Futebol Profissional.

Dissertação de Mestrado. p. 68.

Existe, também, a teoria da contraprestação com o contrato de trabalho, onde o empregador paga ao empregado porque a ele subordina por um contrato de trabalho, podendo, a qualquer momento, não utilizá-lo.

Outras são as teorias que explicam e conceituam o salário, algumas até o definindo na esfera da previdência social, porém não é objetivo adentrar em definições longínquas ao tema pretendido.

Assim, o conceito de salário aqui utilizado será o de Nascimento, que o define como “a totalidade das percepções econômicas dos trabalhadores, qualquer que seja a forma ou meio de pagamento, quer retribuam o trabalho efetivo, os períodos de interrupção do contrato e os descansos computáveis na jornada de trabalho”58.

Já em relação a remuneração, desta forma ela é definida por Martins59:

Remuneração é o conjunto de prestações recebidas habitualmente pelo empregado pela prestação de serviços, seja em dinheiro ou em utilidades, provenientes do empregador ou de terceiros, mas decorrentes do contrato de trabalho, de modo a satisfazer suas necessidades básicas e de sua família.

Para Carrion60, remuneração inclui o salário indireto (gorjetas) e o salário direito pago pelo empregador (em dinheiro ou utilidades).

Observa-se que há uma diferença consubstancial entre salário e remuneração. Aquele é a quantia paga diretamente ao empregado do empregador. Esta é a soma de tal quantia mais gorjetas.

Na verdade, o salário nada mais é do que uma parcela da remuneração.

58 NASCIMENTO, Amauri Mascaro. Curso de Direito do Trabalho. p. 779.

59 MARTINS, Sérgio Pinto. Direito do Trabalho. p. 241.

60 CARRION, Valentin. Comentários à consolidação das leis trabalahistas – legislação complementar e jurisprudência. 28ª ed. Saraiva, 2003. p. 456.

No âmbito do contrato de trabalho do atleta de futebol profissional, existem duas peculiaridades referentes à remuneração, a saber.

1. A remuneração prevista na lei do atleta profissional (lei 6.354/76, art. 3º, II) diverge um pouco da norma celetista, ao passo que as gratificações e os prêmios, na referida lei, são considerados remuneração, enquanto que salário é somente a parte fixa previamente pactuada.

Nesse sentido, Zainaghi61 explica:

Não obstante a diferença de alcance da CLT e da Lei n. 6.354/76, pode-se afirmar que o rol desta lei para determinar o que é remuneração, não é exaustivo, e sim exemplificativo. Isto quer dizer que qualquer pagamento que um jogador de futebol receba em virtude do exercício de sua profissão, será remuneração, com os reflexos em todas as demais verbas previstas pela legislação laboral, como, por exemplo, o FGTS e o décimo terceiro salário, excetuando caso da parcela denominada Direito de Arena, e, também, em alguns casos onde empresas exploram a imagem do jogador em comerciais de televisão, revistas e outdoors (...) (grifou-se).

2. A remuneração do atleta de futebol profissional percebe pagamentos específicos à sua atividade profissional, quais sejam, as luvas e os bichos.

Conforme Godoy, o bicho é costumeiramente utilizado no nosso futebol, “quando o Empregador pactua com seus Empregados qual valor será recebido por estes, em caso de vitória, empate, classificação para próxima fase ou até mesmo pela conquista de títulos”62.

No que se refere às luvas, o artigo 12 da Lei n. 6.354/76 assim explica: “Entende-se por luvas a importância paga pelo empregador ao atleta na forma do que for convencionado, pela assinatura do contrato”.

61 ZAINAGUI, Domingos Sávio. Os Atletas Profissionais de Futebol no Direito do Trabalho. p.

62 GODOY, Wanderley Junior. 73. O Contrato de Trabalho do Atleta de Futebol Profissional.

Dissertação de Mestrado. p. 70-71.

Por essas razões, nota-se que a parcela percebida pelo atleta de futebol profissional referente as suas atividades profissionais, além de reunir as verbas trabalhistas tradicionais (FGTS, 13º salário, férias, seguro desemprego), comporta luvas e bichos, formando com o salário o conglomerado denominado remuneração.

No entanto, existem, ainda, categorias de natureza não trabalhista, ou seja, não fazendo parte da remuneração, porém de caráter pecuniário ao atleta. Tais categorias são tratadas na esfera do direito civil, sendo pactuadas em um contrato independente do contrato de trabalho do atleta, a saber: o direito de arena e o contrato de imagem.

O direito de arena inicialmente foi previsto na lei de direitos autorais (5.988/73), e após retirado (Lei 9.610/98), ganhou lugar, primeiro na Lei Zico (lei n. 8.672/93) e posteriormente na Lei Pelé.

Em seu art. 42, a Lei Pelé (lei n. 9.615/98) assim o disciplina:

Art. 12. Às entidades de prática desportiva pertence o direito de negociar, autorizar e proibir a fixação, a transmissão ou a retransmissão de imagem de espetáculo ou eventos desportivos de que participem.

§ 1º. Salvo convenção em contrário, vinte por cento do preço total da autorização, como mínimo, será distribuído, em partes iguais, aos atletas profissionais participantes do espetáculo ou evento.

Para Ezabella63,

Direito de Arena nada mais é do que o direito conferido às entidades de prática desportiva, e não aos atletas, de negociar a transmissão ou retransmissão das imagens de qualquer evento de que participem. Ou seja, as entidades de prática, mais comumente chamadas de clubes, que detêm todos os direitos relativos à imagem coletiva do espetáculo, com a exceção dos flagrantes para fins jornalísticos. Os atletas somente terão direito a um porcentual do que for negociado.

63 EZABELLA, Felipe Legrazie. Direito de Arena. Revista Brasileira de Direito Desportivo. 2003, n. 3, p. 85

Em síntese, o direito de arena é a reprodução física do espetáculo que é reconhecida ao clube, recebendo o atleta um percentual sobre o total negociado.

Já o contrato de imagem, é o contrato de que dispõe sobre a utilização da imagem do atleta pela entidade desportiva.

Isso ocorre, conforme Ambiel e Santos64, porque o uso da imagem tem por objeto a utilização de um bem jurídico, que, além de personalíssimo e inalienável, goza de proteção constitucional, nos termos do art.

5º, incisos V e X, da Carta Magna.

Tal contrato apresenta regras claras e objetivas que especificam, por exemplo: o meio de divulgação, o tempo de exposição, a exclusividade ou não do atleta, dentre outras coisas.

Ressalta-se que o contrato de imagem não necessita ser extinto no momento do encerramento do contrato de trabalho do atleta com o clube, salvo estipulação de cláusula resolutiva que permita.

Por derradeiro, observa-se que tanto o direito de arena quanto o contrato de imagem não podem ser considerados para efeitos trabalhistas, pois não integram a remuneração, de sorte que não incidem para o cálculo de cláusula penal, bem como aos ônus fiscais e parafiscais incidentes sobre o contrato de trabalho.

É bom lembrar, também, que segundo a jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça65, o direito de arena é uma exceção ao direito de imagem, já que a utilização com intuito comercial da imagem do atleta fora do contexto do evento esportivo, não esta por ele (atleta) autorizado, salvo estipulação contrária.

64 AMBIEL, Carlos Eduardo e SANTOS, Walter Godoy Júnior. Relação entre Contrato de Trabalho e Contrato de Licença de Uso de Imagem. Revista Brasileira de Direito Desportivo. 2002, n.

1, p. 51.

65 BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. Agravo Regimental em Agravo de Instrumento n.

141987/SP, da 3ª Turma. Diário Oficial da República Federativa do Brasil, Brasília, DF, 18 mai. 1998 p. 88.

Ante o exposto, denota-se o leque de possibilidades de relações jurídicas que o atleta de futebol profissional possui, incluindo contratos na esfera do direito civil, delongando discussões acirradas sobre a natureza jurídica desses vínculos.