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4 GOVERNANÇA E INOVAÇÃO NA GESTÃO PÚBLICA

4.6. Política de Inovação no Brasil

O grande aspecto positivo da inovação no Brasil é que o país possui uma agência es- pecífica para tratar a respeito do tema que é a Financiadora de Estudos e Projetos (FINEP), empresa pública, criada em 24 de julho de 1967, vinculada ao Ministério de Ciência e Tecno- logia. A FINEP tem como missão promover e financiar a inovação e a pesquisa científica e tecnológica em empresas, universidades, institutos tecnológicos e outras instituições públicas ou privadas.

A Política de Inovação do Brasil, nos últimos anos, teve grandes avanços, culminando com um marco legal fundamentador, principalmente com as denominadas “Lei de Inovação”, de 2004, e “Lei do Bem”, de 2005, com a atuação de várias instituições governamentais e particulares. Conforme declaração do então Presidente da República, Sr. Luiz Inácio Lula da Silva, que disse ser necessário que “as indústrias brasileiras, sobretudo, a pequena e média empresa e a microempresa descubram que somente a inovação é que vai permitir que elas possam competir nesse mundo globalizado”.

De acordo com Matias, Pereira e Kruglianskas (2005), o modelo de desenvolvimento adotado nas últimas décadas no Brasil não vem criando os estímulos e condições para que empresas implementem setores de P&D em sua estrutura.

A Lei nº 10.973, de 2 de dezembro de 2004, regulamentada pelo Decreto n°5.563, de 11 de outubro de 2005, denominada “Lei da Inovação”, reflete a necessidade de o país contar

com dispositivos legais eficientes que contribuam para o delineamento de um cenário favorá- vel ao desenvolvimento científico, tecnológico e ao incentivo à inovação. (BRASIL, 2012j)

O artigo 2° da “Lei de Inovação”, considera inovação a introdução de novidade ou a- perfeiçoamento no ambiente produtivo ou social que resulte em novos produtos, processos ou serviços.

Principais aspectos da Lei 10.973/2004:

Medidas para a construção de ambientes especializados e cooperativos de inovação;

Mecanismos de autorização que estimulem a participação de Instituições Científicas e Tecnológicas (ICT) no processo de inovação;

Medidas de estímulo à inovação nas empresas;

Apoio ao inventor independente;

Autorização para a criação de fundos de incentivo à inovação.

A Lei n° 11.196, de 21 de novembro de 2005, regulamentada pelo Decreto n° 5.798, de junho de 2006, denominada “Lei do Bem”, consolidando os incentivos fiscais que as pes- soas jurídicas podem usufruir de forma automática desde que realizem pesquisa tecnológica e desenvolvimento de inovação tecnológica, sob a responsabilidade e gestão da Secretária de Desenvolvimento Tecnológico e Inovação, do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação.

Incentivos fiscais da “Lei do Bem”:

Isenções e deduções de impostos para compra de máquinas e equipamentos relacionados à inovação e a atividades de exportação;

Deduções relacionadas a gastos em P&D, contratação de pesquisadores e registro de patentes;

Depreciação acelerada de ativos usados em atividades de P&D;

Isenções fiscais para compensar custos de registro e manutenção de patentes e mar- cas registradas no exterior.

A inovação é um importante fator para o desenvolvimento econômico e social do país, favorecendo a exportação, gerando mais empregos, e permitindo que as empresas nacionais enfrentem a concorrência dos produtos importados (INMETRO, 2012c).

A inovação é considerada uma opção estratégica para elevar o patamar de competitivi- dade do país e, desse modo, assegurar o desenvolvimento humano sustentável, traduzindo em

melhora na saúde, educação, renda e na condição geral de todos os níveis da população brasi- leira.

O fato de se estabelecer uma cultura de Inovação, no país, fica explicitado a política de desenvolvimento. Neste universo, o conhecimento é o elemento principal das novas estruturas econômicas que surgem e a Inovação passa a ser o veículo de transformação de conhecimento em riqueza e melhoria da qualidade de vida da sociedade.

4.7. Inovação no Mundo Globalizado

A globalização e os acordos e mecanismos de comércio, Mercosul, Mercado Comum Europeu, Área de Livre Comércio das Américas (ALCA), entre outros, passaram a exigir um modelo de negócios para os quais diversos países não estão estruturados para competir em níveis de conhecimento, inovação, tecnologia e economia. Assim sendo, as empresas que não têm condições de se adequarem ao modelo globalizado acabam sendo excluídas desse merca- do. No passado as empresas competiam em um mercado regional ou nacional, hoje, indepen- dentemente de uma atuação regional, a competição é global. Uma forma de as empresas se prepararem para enfrentar esse desafio global é empregar estratégias de inovação em seu ne- gócio.

Conforme Reis (2004), inovação tecnológica é a introdução, com êxito, no mercado de novos produtos ou tecnologias no processo de produção ou nas próprias organizações.

No mundo globalizado, mercado e consumidor procuram produtos novos, de qualidade e que ofereçam uma relação custo/benefício compatível com a realidade econômica do país. É nesse cenário que se insere a importância da pesquisa em processo de inovação nos produtos, processos ou serviços.

Diante da globalização e aceleração histórica de que somos protagonistas, inovar já é uma necessidade, pois os desafios da inovação devem ser vistos como instrumento moderni- zador da economia.

Os progressos tecnológicos são inseridos através das mudanças nos produtos e nos processos de produção e resultam em uma verdadeira difusão da inovação, revertendo-se em mudanças tecnológicas nos sistemas produtivos e no desenvolvimento das empresas, com isso, identificam-se as dimensões política, econômica e sociocultural das novas tecnologias.

Ao mesmo tempo, observa-se que os processos de inovação são, em muitos aspectos, internacionais. Tecnologia e conhecimento circulam entre as fronteiras, pois empresas nacio-

nais interagem com empresas estrangeiras, transcendem limites, à medida que envolvem transferências internacionais de capital, conhecimento e tecnologia.

Segundo Bessant (2001) a vantagem é resultado do que a empresa conhece e dos pro- cessos através dos quais ela cria e dissemina conhecimento.

Pode-se concluir que, na medida em que a globalização aproxima os povos, necessida- des e culturas, a inovação, associada ao conhecimento e à aprendizagem, ocupa lugar de des- taque na sociedade.

4.8. Inovação no Setor Público

A Inovação, como no setor privado, também traz benefícios ao setor público. Os servi- ços públicos e o governo devem inovar a fim de desenvolver soluções para os problemas, uti- lizar recursos e satisfazer necessidades de maneira mais eficiente.

Conforme o Manual de Oslo (2005, p. 16):

Inovação é importante no setor público. Entretanto, sabe-se muito menos sobre os processos inovadores em setor se não orientados ao mercado. Muito trabalho ainda há de ser feito para estudar a inovação e desenvolver uma metodologia para a coleta de dados sobre inovação no setor público. Esse trabalho deverá servir de base para um manual à parte.

Frente à complexidade pelos diversos interesses, diversidade organizacional e deman- das e restrições relacionadas ao setor público, não há uma sistemática única para classificar as diversas formas com as quais as ações de inovação se apresentam no cenário do setor público.

A inovação é classificada com dimensões distintas, por diversos autores. Como exemplo:

Quanto à natureza;

Quanto ao impacto;

Quanto a níveis.

Segundo Alberti e Bertucci (apud GATTO, 2010, p. 20), a inovação pode ocorrer de diversos modos no setor público. Esses autores distinguem quatro tipos de inovação no âmbi- to do setor público:

Quadro 2 - Os quatro tipos de inovação no setor público

Inovações institucionais Foco na renovação das instituições estabelecidas e/ou criação de novas instituições.

Inovações organizacionais Introdução de novos processos ou técnicas de gerenciamento na adminis- tração pública.

Inovações em processos Foco na melhoria da qualidade dos serviços públicos.

Inovações conceituais Foco na introdução de novas formas de governança (formulação interativa de políticas, participação popular, dentre outras).

Fonte: elaboração da autora

Baker (2002) e Hartley (2005, apud GATTO, 2010, p. 20) acrescentam à lista quatro outros tipos de inovação, conforme tabela a seguir:

Quadro 3 - Tipos de inovação, segundo Baker (2002) e Hartley (2005)

Estratégicas Novas metas e propósitos da organização.

Governança Novas formas de participação da população (conceitual para Alberti e Bertuc- ci, 2006).

Entrega Novas formas de prestar serviços ou de relacionamento com clientes.

Interação de sistemas Novas formas de interagir com outros atores e repositórios de conhecimento.

Fonte: elaboração da autora

Segundo o impacto provocado, Christensen e Laergreid (apud GATTO, 2010, p. 20), classificam as inovações no setor público em dois níveis:

Quadro 4 - Níveis de Inovação no setor público, segundo Christensen e Laergreid (apud SANDAMAS, 2005)

Sustentadoras Mantém a organização em trajetória estabelecida por aprimoramento no desempenho dos sistemas/serviços existentes.

Descontínuas Nova trajetória de desempenho pela introdução de novas dimensões, novos serviços e processos.

Fonte: elaboração da autora

Mulgan e Albury (2003, apud GATTO, 2010, p. 20) classificam a inovação em três níveis:

Quadro 5 - Níveis de Inovação, segundo Mulgan e Albury (2003)

Incremental Pequenas alterações em produtos e serviços

Radical Novos serviços ou formas de prestar serviços, novos processos, sem alterar a dinâmica do setor.

Transformadora/sistêmica Novas estruturas de pessoal, novos tipos organizacionais, Novas relações interorganizações.

Fonte: elaboração da autora

Para garantir que as inovações implementadas não se percam com a troca de liderança no setor público, as mesmas devem ser institucionalizadas, bem como o ambiente que ocorre a inovação, também requer atenção. A integração dos serviços, a formação de parcerias, a descentralização da prestação de serviços e o engajamento dos cidadãos e, principalmente, o aproveitamento das tecnologias de informação e comunicação são alguns dos princípios que encaminham para os processos de inovação no setor público.

De modo geral, a inovação na administração pública resulta em uma resposta única, efetiva e criativa para novos problemas ou resposta para problemas antigos. A retribuição a isso é o reconhecimento público, o qual impacta diretamente na moral dos servidores públicos e estimula a cultura de melhoramento contínuo nos serviços.