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1. Processo do enquadramento

1.2. Aspectos relevantes

1.2.2. Seleção dos parâmetros

Os usos pretendidos possuem requisitos de qualidade que devem ser respeitados. Quanto mais exigente o uso, mais próxima deve ser a água da sua condição de qualidade natural e, quanto menos exigente o uso, mais distante ela poderá ser dessa condição.

As classes (metas de qualidade) para as águas superficiais estão pre- vistas na Resolução Conama nº 357/2005 e, para as águas subterrâneas, na Resolução Conama nº 396/2008. As classes das águas superficiais en- globam um grupo de usos possíveis, caso atendidas, e as classes das águas subterrâneas são definidas em função do uso voltado à preservação de ecossistemas ou da qualidade atual dos aquíferos em razão de alterações antrópicas e exigências de tratamento para atender aos usos pretendidos:

Usos x Classe de Qualidade das Águas Doces Superficiais

Classe especial: a) abastecimento para consumo humano, com desinfecção; b) preservação do equilíbrio natural das comunidades aquáticas; e c) preservação dos ambientes aquáticos em unidades de conserva- ção de proteção integral.

Classe 1: a) abastecimento para consumo humano, após tratamento simplificado; b) proteção das comunidades aquáticas; c) recreação de contato primário, tais como natação, esqui aquático e mergulho;

d) irrigação de hortaliças que são consumidas cruas e de frutas que se desenvolvam rentes ao solo e que sejam ingeridas cruas, sem remoção de película; e e) proteção das comunidades aquáticas em Terras Indígenas.

Classe 2: a) abastecimento para consumo humano, após tratamento convencional; b) proteção das comu- nidades aquáticas; c) recreação de contato primário, tais como natação, esqui aquático e mergulho; d) à irrigação de hortaliças, plantas frutíferas e de parques, jardins, campos de esporte e lazer, com os quais o público possa vir a ter contato direto; e e) aquicultura e à atividade de pesca.

Classe 3: a) abastecimento para consumo humano, após tratamento convencional ou avançado; b) irrigação de culturas arbóreas, cerealíferas e forrageiras; c) pesca amadora; d) recreação de contato secundário; e e) dessedentação de animais.

Classe 4: a) navegação; e b) harmonia paisagística.

(art. 4º da Resolução Conama nº 357/2005)

Usos x Classe de Qualidade das Águas Subterrâneas

I – Classe Especial: águas dos aquíferos, conjunto de aquíferos ou porção desses destinadas à preserva- ção de ecossistemas em unidades de conservação de proteção integral e as que contribuam diretamente para os trechos de corpos de água superficial enquadrados como classe especial.

II – Classe 1: águas dos aquíferos, conjunto de aquíferos ou porção desses, sem alteração de sua qualida- de por atividades antrópicas, e que não exigem tratamento para quaisquer usos preponderantes devido às suas características hidrogeoquímicas naturais;

III – Classe 2: águas dos aquíferos, conjunto de aquuíferos ou porção desses, sem alteração de sua quali- dade por atividades antrópicas, e que podem exigir tratamento adequado, dependendo do uso preponde- rante, devido às suas características hidrogeoquímicas naturais;

IV – Classe 3: águas dos aquíferos, conjunto de aquíferos ou porção desses, com alteração de sua qualida- de por atividades antrópicas, para as quais não é necessário o tratamento em função dessas alterações, mas que podem exigir tratamento adequado, dependendo do uso preponderante, devido às suas caracte- rísticas hidrogeoquímicas naturais;

V – Classe 4: águas dos aquíferos, conjunto de aquíferos ou porção desses, com alteração de sua qualidade por atividades antrópicas, e que somente possam ser utilizadas, sem tratamento, para o uso preponderante menos restritivo; e

VI – Classe 5: águas dos aquíferos, conjunto de aquíferos ou porção desses, que possam estar com alteração de sua qualidade por atividades antrópicas, destinadas a atividades que não têm requisitos de qualidade para uso.

(art. 3º da Resolução Conama nº 396/2008)

Qualidade da água excelente

Qualidade ruim

da água Usos

menos exigentes Usos mais

exigentes

CLASSE ESPECIAL CLASSE 1 CLASSE 2 CLASSE 3 CLASSE 4

Figura 4 - Classes x Usos de Águas Superficiais

Fonte: ANA (2015a)

Cada classe das águas superficiais possui um conjunto de parâmetros (substâncias ou outros indicadores representativos da qualidade de água) associados a limites individuais que podem ser comparados a um “cardá- pio” não taxativo de possibilidades indicativas a serem selecionadas no processo de enquadramento. Os parâmetros selecionados deverão ser aqueles capazes de monitorar os impactos que afetam os usos pretendidos no corpo hídrico (ANA, 2009).

No caso das águas subterrâneas, o “cardápio” não taxativo de parâme- tros com maior possibilidade de ocorrência não está previsto por classes, mas em uma lista anexa à Resolução Conama nº 396/2008, que poderá ser aplicada a todas as classes, com valores máximos permitidos para cada um dos usos considerados preponderantes. O que definirá a classe, com exceção da especial definida em função dos usos, é a condição de alteração antrópica da qualidade do aquífero e necessidade de tratamento para garantir os usos.

Primeiramente, para definir a meta do corpo receptor é necessário identificar, por meio de diagnóstico e prognóstico, os usos atuais e futuros que se pretendem para o corpo hídrico (matriz de usos) e os principais impactos que a bacia sofre e que alteram a qualidade da água (matriz de impacto). É feito o cruzamento da matriz de uso x matriz de impacto e o resultado são os impactos que afetam os usos pretendidos na Bacia para os quais deverão ser selecionados os parâmetros capazes de monitorá-los (PORTO, 2015). Selecionados os parâmetros, definem-se os valores que se pretende manter e/ou alcançar para cada um deles e qual o melhor objetivo de qualidade correspondente nas Resoluções, classe (Anexo 1 – Elaboração das Metas de Qualidade de Água).

A Resolução Conama nº 357/2005 e a Resolução Conama nº 396/2008 não exigem, para a definição do enquadramento do corpo receptor, o cumprimento de todos os parâmetros previstos para cada classe, pois as bacias apresentam diferentes realidades físicas, naturais e de atividades

humanas41. Com efeito, devem ser selecionados parâmetros que possam monitorar os problemas e poluentes da bacia específica (impactos). Em especial em relação ao uso/abastecimento, os parâmetros selecionados devem garantir que água captada não ofereça riscos à saúde do consu- midor42 , sendo possível, inclusive, incluir parâmetros não previstos na atual legislação na definição das metas aplicando-se os princípios da prevenção e precaução43.

A figura do Anexo 2 denominada Parâmetros de Qualidade de Águas e suas Fontes de Poluição identifica alguns impactos e fontes de poluição e os respec- tivos parâmetros capazes de monitorá-los para atender os usos pretendidos.

Como se trata de um instrumento de planejamento, o processo de en- quadramento é um processo contínuo, com feedbacks realizados por meio do monitoramento da qualidade das águas e revisão dos planos, de forma que alterações na qualidade da água para melhor ou pior podem levar à inclusão de novos parâmetros pelo Comitê e/ou diante da alteração das classes. A classe deve sempre buscar a melhoria da qualidade das águas em função da situação real dos corpos d’água.

Enquanto o processo de enquadramento não definir e aprovar as metas, situação de muitas bacias ainda no País, a classe (objetivo de qualidade) considerada para o corpo hídrico é a classe 2, sem quaisquer estudos de usos preponderantes e de especificidades da bacia (art. 42 da Resolução Conama nº 357/2005).